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Há tempos estamos observando que o interesse eleitoral está se esvaziando. Vai indo ao inverso dos princípios da República, quando, as disputas eram públicas e as promessas rígidos deveres; aqueles que assumiam os poderes deviam ser de fato coerentes, mas o tempo os deixou indiferentes; hoje governam para os seus próprios prazeres.

Para a esquerda, o sufrágio universal era bem visto pela Internacional; a Segunda, no final do século dezenove. Pelos textos possível é que se comprove, que os socialistas após tantas desgraças, organizados em partidos de massas, tornaram-se astutos e maduros, Engels disse, que o processo tornar-se-ia lento, chato, porém infinitamente mais seguro.

Estava certo e equivocado. Porque a política tem dois lados, ou pelo menos deveria ter. Se um atacasse, o outro, ao se defender, em tese, atacaria, e às disputas entre as classes cresceria, que a repressão não poderia conter. Os dominantes incapazes de manter, o Estado e a dominação, entregariam, mesmo com objeção, as estruturas históricas do poder.

Houveram muitas disputas acirradas, entre os homens, força privilegiada, pois as mulheres não podiam votar. Em nossa pátria isso só veio a se dar, no Estado Novo quando os políticos se misturaram ao povo e as disputas entre as classes decaíram, sempre que os pobres organizados reagiram, reprimiram; e o processo lento e chato, passou a ser atrativo e correlato, ao carnaval onde as massas se inseriram.

Mais tarde veio a televisão, era o início de uma nova arrumação, onde a promessa passou a ser a referência. Os candidatos disputando as preferências, passaram a usar os argumentos, e as eleições com menor acirramento, tornaram-se palanques de discursos, onde se elege quem tem fartos recursos e, o princípio se inverteu, agora é chato e lento.

Hoje a política é prometer. Dizer que irá fazer sem ninguém a se propor cobrar. Perdeu-se o hábito de consultar e debater com as grandes multidões. Comícios, programas de rádios e televisões, são a essência desta nostalgia. Perdeu-se o senso da democracia, pois o lado do povo já não fala, assiste, resiste e cala, a espera de que venham as melhorias.

Vivemos o tempo da política da aparência. Os que disputam não formam a consciência, e os que votam não controlam os eleitos. O eleitor já não é mais o sujeito, tornou-se objeto de uso descartado. É atraído até ficar do lado, de um escroque que gerirá o capital, e foi assim que o processo eleitoral virou um grande negócio no mercado.

E o processo que seria lento, chato e mais seguro, perdeu o brilho, ficou escuro e por si só não oferece solução. Os lados partidários misturaram-se numa só opção, porém, não quer dizer que não haja ganhadores. Derrotados são os eleitores, que acreditam na passividade, enquanto votam, a violência e sua perversidade, elimina sonhos e sonhadores.

É preciso ter dois lados na política. Caso contrário ela deixa de ser crítica. Mas não os lados da situação e oposição; estas, dependendo da ocasião, se diluem como o sal na água que sequer muda de cor. Os lados do explorado e do explorador que não disputam apenas uma eleição, mas o direito a fazer de uma nação, a potência da solidariedade, porque democracia de verdade, só se conhece com a revolução.

Os dois lados, como nos séculos passados ainda existem. Por certo há os que desistem e se aliam ao lado oposto. Estes fazem a política só por gosto e não por ideologia. É verdade que após a tormenta vem a calmaria! Mas o contrário também é verdadeiro; e será entre raios e aguaceiros, que surgirá a velha democracia. E a República será pública, mas tão púbica que haverá votações todos

Cartas de Amor Nº 179

À IRONIA

Há tempos que vemos dia após dia, tudo se deformar, até a ironia. Na antiga Grécia, Sócrates, a usava como um método de estudo, onde questionava tudo. Posteriormente ela foi perdendo esta vertente e se tornou uma enganação, uma maneira de dizer sim, quando é não, e o contrário quando a questão é exigente.

Marx foi a fundo no conceito da ironia e o empregou na análise da mercadoria. Disse ele, após o mistério decifrado, que são os pés dos homens que levam os objetos ao mercado. Lá chegando, ganham vida e utopia, pois os homens já não controlam as suas fantasias, são apenas os seus representantes, que falam, negociam, calculam e concorrem com seus gestos e movimentos extravagantes.

Cínica é a mercadoria de nascença, disse Marx, é um grande engano pensar que ao homem ela pertença. Quer apenas emprestados, os seus sentidos para aguçar a percepção. Desta maneira o trabalho cria a alienação, pois, não é o homem que ao ter progresso, domina o processo, mas o processo que domina o homem em toda a produção.

De forma serena e muito calma, Marx ainda disse que a mercadoria tem corpo e alma por isso dialoga e aceita ser trocada. É envolvida nesta caminhada, por mistérios, sutilezas e argúcias teológicas, apostólicas, não que elas sejam crentes ou católicas, mas possuem um espírito superior, é o feitiço que se faz dominador, toma as pessoas tornando-as egoístas e sempre mais diabólicas.

Este feitiço cruel e interesseiro surge quando a mercadoria quer trocar-se por dinheiro. As pessoas vagam o dia inteiro a procura de uma oferta mais em conta. No final, se convencem, mandam abrir uma conta e penduram a dívida no enfadonho crediário; então se embrenham no calvário, para vender outra mercadoria humana, a força de trabalho, que, nesta relação profana, alimenta o feitiço mercenário.

Mas o pior de tudo é que a mercadoria, não ficou só na economia, adentrou para a esfera da política. Compram-se votos e mandatos, isto significa, que os compromissos deixam de ser contratos. A ironia na voz dos artefatos torna-se promessa passageira. Colocam-se em fileiras, como nas prateleiras iluminadas nas casas comerciais. Foi assim que os processos eleitorais se igualaram ao que são as grandes feiras.

A mercadoria é então o candidato, que precisa de consumidores. Ele tem preço, número de série, som e cores, para atrair na grande promoção. Quem vota, forma a seleção que deverá ir ao paraíso. São as “argúcias teológicas” que fazem de forma melancólica o eleitor voltar na próxima eleição, crente que irá reverter o prejuízo.

Para que não fiquemos cabisbaixos e confusos, Marx falou que há no objeto também um valor de uso, é quando este não vira mercadoria. Mas já são poucos hoje em dia. Concluímos então que a ironia está na forma de representação; quem escolhe é o cidadão para alguém representá-lo à revelia. Depois de eleito não o vê, nem opina, é a ironia, daquilo que virou a tal democracia.

Então a eleição nas mãos da burguesia, se assemelha a uma galeria, um comércio, uma ceva, onde o eleitor, ingênuo ou astuto, gasta tempo para escolher um dos produtos, que, embala, paga, mas não leva.

Cartas de amor Nº 180 AO APRENDIZADO

Este ano o frio do inverno foi mais rigoroso, ocupou todos os dias da estação e, ameaça entrar sem compaixão na primavera. As árvores desfolhadas estão à espera para soltar os brotos. São tempos arredios e revoltos, que perderam o equilíbrio sobre a terra.

As folhas caem no inverno devido ao aprendizado, que as plantas fizeram no passado. Sempre que, antecedia a fria estação, elas cuidavam da depilação. Devia ser o contrário, aumentar o número de folhas para servirem de agasalho! Ocorre que (embora branca e leve), acumulando-se sobre as plantas a delicada neve, com seu peso rachava os belos galhos.

Assim sendo quando a estação fria se despedia, as árvores quase sem energias, não conseguiam se reabilitar. Por isso aprenderam que ao se desfolhar, assim exercitavam a resistência. Mudavam completamente de aparência, para que os ventos e a neve não as pudessem desgalhar.

Do ambiente das velhas estações, podemos tecer comparações, e perceber que nas relações sociais, elas são quase iguais. Há, porém, algumas diferenças; às vezes elas se tornam tão extensas que parecem não acabarem mais. São os tempos difíceis em que o Estado e os capitais, na história impõem suas sentenças.

Há alguns anos sentimos que a esperança ficou um pouco fria; perdeu o vigor da rebeldia como se o tempo houvesse se voltado contra os sonhadores. São impressões senhoras e senhores; as energias estão apenas recolhidas, esperam a primavera prometida, para surgir com novas folhas e muitas flores.

Como nos galhos, a esperança parece desfolhada; não é nada! É apenas a estação que se alongou com suas contrariedades. E o inverno com sua crueldade, ataca as forças que mantêm os galhos vivos, mas estes resistem combativos, que nem o vento inimigo os toca nem balança, apenas esfria a esperança, mas eles continuam fortes e altivos.

No inverno há também galhos que secam, são aqueles que geralmente pecam nas outras estações. Não se preparam para as duras condições que terão de enfrentar logo em seguida; alguns racham outros perdem a vida, e há os que fingem enfrentar as previsões, mas sabem que nas próximas estações, não brotarão, devido às imprudências cometidas.

Na política então, também temos estações! Os tempos frios recalcam as emoções e tornam mais lento o crescimento. Mas o inverno, embora seja rígido e cruento, cumpre também o papel de limpar as impurezas; testa nos sonhos todas as incertezas para que elas não atrapalhem os novos acontecimentos.

Somos hoje como os galhos desfolhados, conscientes de que o tempo é reservado para o inverno sem mudanças. Nos que lutam está guardada a esperança que alimenta a energia da primavera. Ela virá nos campos e nas serras, nas cidades e nas cumeeiras das habitações, e surgirão das grandes multidões, as folhas e as flores de uma nova era.

Acredite! O inverno não é só dor e castigo, nele se cultiva o trigo que servirá de alimento nas outras estações. Folhas caídas são as concessões, que as árvores frondosas se obrigam a fazer; isto não significa se render, mas um momento de renovação. Se agora estamos no inverno da revolução, é tempo de cuidar e de aprender.

Aprender e se preparar. Compreender e interpretar no frio as contradições. Ele também tem suas frustrações, por não poder eliminar totalmente as forças resistentes. A primavera é a prova mais candente, de que a esperança vence as decepções.

Cartas de Amor Nº 181

No documento COLETÂNEA CARTAS DE AMOR completa Junho 2006 (páginas 183-186)