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AOS MOVIMENTOS SOCIAIS

No documento COLETÂNEA CARTAS DE AMOR completa Junho 2006 (páginas 188-190)

Há tempos em que lados diferentes pensam a ser iguais, vencem aqueles que sabem sonhar mais.

Conta uma lenda simples e bela que uma mariposa ao voar por uma ruela, olhou sem querer para o infinito e avistou o brilho de uma estrela, distante, inatingível, mas límpido e tão bonito.

Voltou rapidamente para casa, batendo livremente suas asas e com palavra cheias de calor, revelou para a sua mãe que tinha descoberto um grande amor.

Disse a mãe à Cinderela que as estrelas não tinham sido feitas para ela; e que esta procurasse algo mais afim; lâmpada de um poste, um abajur ou coisa assim.

Nada tirou da mariposa a decisão que se propôs a romper a escuridão. Todos os dias ao anoitecer, iniciava seu vôo e, até já não poder, voltava lentamente; no dia seguinte fazia tudo novamente.

Os dias eram longos e insuportáveis, cheios de sofrimento, pois com a claridade não podia ver com facilidade a luz da estrela descer do firmamento.

As noites eram belas. Mal escurecia lá ia ela sempre na mesma direção. A cada vôo sempre mais subia, cansava, mas cheia de alegria, voltava sempre no início das manhãs.

A mãe ao vê-la se punha a aconselhar, não entendia como poderia amar algo que não conseguiria alcançar. Dizia: “seja como suas irmãs e companheiras que batem suas asas de forma tão faceira, nos lustres das mansões. Acabe com suas ilusões e deixe de pensar estas besteiras”.

Por algum tentou em vão enganar o coração. Pensava em outras atrações; outros amores. Ocupava o tempo com mil e um labores que martirizavam suas vontades. Mas era impossível, sempre ao iniciar das tardes, chegavam as fortes emoções e então renasciam violentamente todas as paixões.

Noite após noite voava o mais alto possível, até que um dia, a terra onde vivia, de onde estava ficou quase invisível. Parou e começou a observar como eram lindas as luzes abaixo colocadas, viu o oceano, a terra e as lavouras emendadas, as casas, as cidades, pessoas, aves e insetos, e então descobriu que a estrela lá no teto, era tão bela porque havia alguém do solo para admirá-la.

Dessa maneira demorou ainda alguns dias para voltar e ficar em companhia daquelas que ainda não tinham aprendido a observar que o que vale na vida é sonhar e partir em busca do sonhado, há aqueles que estão acomodados, mas também quem não se deixa convencer e, acredita que existe em cada ser um universo brilhante e estrelado.

Enquanto muitos abandonam as utopias, os movimentos com sua frágil rebeldia igual às mariposas giram e avançam em uma direção. Há claridade apesar da escuridão, elas estão além do imediato, é preciso acreditar que os artefatos produzidos pelo capital, podem fazer de uma eleição um carnaval, mas com certeza não deterão o natal, o alvorecer revolução.

É esta a crença que anima os movimentos, que, com as luzes presas no firmamento, está a causa, os valores e o humanismo, onde a exploração do imperialismo tombará de uma só vez em toda o espaço, e a humanidade fará com seus pedaços o palco para aclamar o socialismo.

Cartas de Amor Nº 184

AO ARREPENDIMENTO

Quando o peixe olhar para a margem e perceber que ela avançou e comeu o rio, perceberá que é hora de partir, e com o pouco de água ainda a vagar, tentará, descer, chegar ao mar.

Quando o homem cabisbaixo, sem sorrir, perceber que não pode mais fugir das próprias armadilhas, sem amigos, sociedade nem família e consigo tiver que dialogar; dirá a si que o tempo se esgotou, que de nada valeu acumular. O ouro não tem vida, a pedra é preciosa, mas está endurecida, não serve para alimentar.

E a garganta seca de saliva, o resto de pão ainda na gengiva, suplicando por água para se remover. Os cabelos desgrenhados repelindo o chapéu, o olho azul da cor do céu já não verá a civilização, mas a barbárie atuando como história, sem respeitar memórias.

Quando a árvore olhar o fogo e perceber que ele avança aos saltos, deixando a terra escura como asfalto, murchará lentamente a semente. Não deixará que ela se despenque e tente fecundar na terra. Será o controle da natalidade que as plantas farão como na sociedade se mutilam as mulheres, viver já não será servir, as espécies perderão o direito sagrado de se reproduzir.

Quando os pássaros avistarem a fumaça abandonarão os ninhos e voarão no infinito do céu até acharem uma ilha onde o homem não habita. Lá não haverá esgoto e nem palafitas, apenas um esconderijo, sem a espécie humana, um grande regozijo.

Quando os macacos não tiverem mais comida eles invadirão as casas, assaltarão as despensas e as cozinhas, “mijarão” sobre o sofá da sala para dizer que um tronco seria suficiente para sentar e namorar.

Quando os jacarés virem os peixes mortos devido a água envenenada, tomarão os campos e as estradas e comerão a carne que não puder correr. Tornar-se-ão espertos como as cobras e esperarão as vítimas desorientadas; dormirão nas irregularidades das calçadas, dispostos a matar e a morrer.

Quando o calor tomar a terra e elevar a temperatura; as folhas ressecarem como em uma fritura, os urubus com sua cor escura terão que trabalhar à noite na limpeza pública e muita coisa deixarão sem recolher. Então as ruas vão feder que não se poderá mais transitar, aí então de nada adiantará, todos os poderes e a República.

Quando o ar condicionado e o ventilador já não puderem refrescar o ambiente, os gatos e os cães por terem o sangue quente, tomarão as salas e os escritórios; as moscas e as baratas, os laboratórios; os ratos, os armazéns vazios e os galpões. Ninguém conseguirá dormir, ficarão acordados dia e noite. Os pensamentos como açoites farão uma revisão total e a conclusão será que o capital dominou as consciências que se deixaram levar pelas competições e concorrências.

Então agarrado às suas culpas, já será tarde para pedir desculpas pois, as espécies já terão se despedido. E com o espírito ainda mais ferido o ser humano irá então perceber, que o seu magnífico poder é limitado; somente inventa sobre o que está inventado, combina os elementos que estão descombinados e, cairá em prantos de tristeza, ao ver que nada poderá fazer sem a natureza.

Antes que morra a última esperança é preciso se encher de confiança e dizer como será aquilo que vai ser. É tempo cuidar e proteger, enfrentar o poder e dizer Não! Se a humanidade fez a civilização, terá que descobrir com se proteger.

Cartas de Amor Nº 185

No documento COLETÂNEA CARTAS DE AMOR completa Junho 2006 (páginas 188-190)