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6 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO E A REPACTUAÇÃO DOS CONTRATOS DE TERCEIRIZAÇÃO DE MÃO-DE-OBRA

6.5 Às Negociações Coletivas aplicada à Terceirização de mão de obra no Brasil

Nesta ideia de flexibilização da relações laborais, o tema da terceirização é talvez um dos mais polêmicos assuntos, o qual divide opiniões entre progressistas e sindicalistas (e/ou conservadores). Como já visto, o Brasil também acompanha esta tendência mundial, pois como também já mencionado, pela histórica fraqueza sindical a força estatal sempre esteve presente na regulação trabalhista, fato que atualmente o brasil ampliou e ratificou a legalidade da terceirização com a edição da lei 13467/2017 e mais especificamente ao serviço público com a edição do decreto n. 9.507/2018.

“A resposta empresarial às privatizações e à abertura comercial dos anos 1990 foi a reestruturação produtiva, com redução de custos e melhoria da qualidade dos produtos, através da diminuição do contingente de mão de obra, de modificações nos métodos produtivos, da terceirização e da redução de estoques. O desemprego chegou a proporções inéditas e a terceirização alcançou amplos setores da produção, intensificando-se com o passar dos anos.[...] O governo estimulou a prática da negociação coletiva, por um lado, condicionando o contrato de trabalho por prazo determinado, o banco de horas e a participação nos lucros e resultados a acordos de negociação coletiva.” (DIAS, 2012, p 15 e 16).

Se contrapondo a ideia de desregulamentação, a questão da flexibilidade está mais associada ao novo modelo das relações de trabalho no interior das empresas, ou seja, está mais ligado a reestruturação produtiva, ou seja, é inevitável em um mundo globalizado e capitalista. Segundo afirma Porto (2012, p. 68) “os novos métodos de organização do trabalho, a automação, a microeletrônica, a terceirização são todos conceitos ligados à noção de flexibilidade tão cara às empresas de hoje.”

“A terceirização é um fenômeno das sociedades capitalistas e, apesar de conservar características gerais que se reproduzem em todos os países nos quais é adotada, apresenta particularidades nas diferentes localidades onde se desenvolve.” (DIEESE, 2012, p. 3)

Como visto, no Brasil, a formação da questão do sindical teve forte interferência do Estado, o cenário muda com a CF/88. Sendo assim, “é certo que a grande conquista para o sindicalismo brasileiro foi a promulgação da CF/88, que segundo a qual o Estado deixou de interferir nas organizações sindicais. E autorizou a sindicalização dos servidores públicos” (VÁLIO, 2016, p. 27). Contudo, a carta magna ainda carrega raízes amargas

advindas da história vivida no cenário autocrático, enfrentado pelo país e o longo processo de rompimento de relações desumanas.

Apesar disso, neste novo contexto, é possível identificar outros aspectos de reações em face das dificuldades de representação do trabalhador, pois a fragilidade de representação sindical está pautada em virtude de fatores que, inclusive alguns, independem da atuação do Estado, tais como: a reestruturação produtiva, terceirização, precarização dos contratos de trabalho, globalização, individualismo dos trabalhadores e das baixas taxas de sindicalização (PORTO, 2012). Pois alguns das fatores estão ligados, justamente às particularidades da economia, que fazem com que o próprio Estado, além dos sindicatos, sigam a dinâmica do mercado, isso claro, se desejam não sucumbir neste cenário competitivo.

Dos fatores relacionados, os quais merecem maior destaque é o do individualismo e da baixa taxa de filiação sindical, pois estes se comportam ora como causa ou ora como consequência da atuação sindical, ou seja a fraqueza sindical pode causar estes problemas, através da desestimulação do indivíduo, mas o enfraquecimento do sindicato pelo estado ao manter por exemplo a unicidade traz como consequência estes fatores, devido a fragmentação das classes trabalhistas e subdivisão destas instituições, fato que se acentua mais ainda com a terceirização.

Isso é corroborado, por exemplo, nos relatos do livro “Terceirização e negociações coletivas”, organizado pela Secretaria de Relações de Trabalho da CUT, o qual engloba além desses assunto, vários outros e de diversos autores. Literalmente, conforme descrito:

“A ação coletiva dos trabalhadores, seja por meio de organizações de representação por empresa ou sindicatos, seria uma forma eficaz de combater os malefícios da terceirização.Entretanto, a soma do formato da terceirização em prática no Brasil – pautada exclusivamente pela redução de custos – com a legislação que regulamenta a organização sindical, acaba por inviabilizar a defesa dos trabalhadores em relação à precarização e às desigualdades no mercado de trabalho. A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) determina como parâmetros para a organização sindical a categoria profissional e a unicidade sindical. Ou seja, a representação por categoria impossibilita a existência de um mesmo sindicato para representar diferentes segmentos da classe trabalhadora, além de permitir apenas um único sindicato da categoria profissional em uma mesma base territorial (unicidade sindical). Estes dois aspectos da organização sindical formam uma estrutura pulverizada e fragmentada, com sindicatos divididos em inúmeras categorias profissionais e

com unidades que chegam ao nível municipal. ” (CUT E DIESEE, 2014, p 152 e 153)

De acordo com Porto (2012, p. 131), “na terceirização, pulveriza-se ainda mais a representação sindical, já que, em regra, há uma série de sindicatos representando cada um deles os trabalhadores de uma empresa terceirizada dentro de um mesmo ambiente de trabalho.”

Em consequência aos fatos, a negociação coletiva e os instrumentos derivados dela aparentemente se mostram prejudicado neste cenário, característico do contexto nacional. Segundo afirma a nota técnica n. 112, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos:

“No Brasil, em particular, onde a negociação coletiva ocorre segundo critérios restritivos, especialmente no que tange aos limites legais de organização e negociação coletiva no âmbito das categorias profissionais, a terceirização representa um sério problema para os trabalhadores. Por esta razão, este tem sido um dos temas candentes das negociações coletivas de trabalho nos últimos anos.”

6.5.1 Negociações coletivas e às contratações públicas

Em síntese a Convenção Coletiva de Trabalho é a ferramenta capaz de formalizar os termos de um acordo entre os sindicatos dos trabalhadores e das empresas de um determinado ramo de atividade comercial. Ou seja, em condição de terceirização de mão-de-obra, o tomador do serviço não faz parte deste processo. Isso é o que afirma por exemplo Neumann (2015, p. 42):

“Trabalhadores terceirizados são regidos em sua relação laboral pela legislação trabalhista em vigor aplicável ao setor privado, e os seus salários e demais vantagens periodicamente renegociados entre os sindicatos e a classe patronal. Desta negociação a Administração Pública contratante não toma assento, ainda que seja parte interessada no processo, uma vez que os custos de qualquer avanço remuneratório serão transferidos aos tomadores dos contratos, entes públicos ou privados”.

Ainda Neumann (2015, p. 42) completa dizendo que desta forma, foge da Administração Pública o controle das despesas realizadas com contratação de mão de obra terceirizada, contabilizadas como “Locação de Mão de Obra”, restando tão somente a possibilidade de reduzir o número de postos de trabalho contratados.

Ou seja, salários são reajustados anualmente através das convenções coletivas de trabalho (CCT´s), e tais reajustes são necessariamente absorvidos pelos contratos administrativos devido à obrigatoriedade de manutenção do equilíbrio econômico-financeiro. (MADELA, 2012 p. 64)

Contudo, é garantida a manutenção do reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos administrativos e, ao final, o impacto financeiro dos índices de reajuste concedidos pelas CCT’s será todo suportado pela tomadora dos serviços, a Administração Pública. (MATOS, 2017, p. 56).

Isso ocorre pois em uma contratação em que envolva terceirização de mão-de-de obra, a remuneração é o principal componente base na formação de preços da contração e qualquer aumento neste item, impacta em todas as outra rubricas existentes no custo efetivo da contratação, inclusive o lucro da contratada. Com isso, ainda segundo Matos (2017, p. 60):

Diante desse cenário, poder-se-ia aventar que não há interesses contrapostos nas Convenções Coletivas de Trabalho dos Sindicatos envolvidos na prestação de serviços de terceirização, uma vez que os ônus pela majoração dos encargos será totalmente suportado pela Administração Pública e a empresa prestadora de serviços ainda verá seu lucro, que estará legitimamente previsto em planilha descritiva de custos como sendo diretamente proporcional aos custos com a mão-de –obra, ser reajustado, por via reflexa, em montantes acima dos índices de inflação.

Particularmente, atrelado ao cenário das contratações públicas, é preciso conhecer os seus efeitos normativos nos contratos firmados pela Administração, há que se averiguar, por exemplo, se a concessão de reajustes salariais está condizente com aos índices inflacionários apurados para o período, pois como consequência lógica, o lucro das empresas é elevado no mesmo percentual dos custos observados no período. (MATOS, 2017).

De acordo com Madela (2012, p. 7) às majorações impactarão diretamente os respectivos contratos administrativos devido ao mecanismo de recomposição do equilíbrio econômico financeiro, aumentando as despesas que, por serem fixadas no orçamento federal, podem não suportar tais acréscimos.

[...] “há nuances que devem ser observadas em toda cadeia de fatos/atos que, ao cabo, se concretizam no deferimento da repactuação e restabelecimento do

reequilíbrio econômico-financeiro do contrato. Há, portanto, que se observar, primeiramente, que a Administração Pública, como tomadora dos serviços prestados, não participa das negociações das Convenções Coletivas de Trabalho”. ( MATOS, 2017, p. 60).

7 ANÁLISE ECONÔMICA DOS ADITIVOS E APOSTILAMENTOS

NOS CONTRATOS DE TERCEIRIZAÇÃO DE MÃO-DE-OBRA DA