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3 IMPREVISIBILIDADE E INCOMPLETUDE CONTRATUAL 1 Teoria jurídica versus teoria econômica

3.2 Teoria jurídica de imprevisão

3.2.1 teoria da imprevisão versus teoria da quebra da base do negócio jurídico

De acordo com Silva (2016, p. 7) a Teoria da Imprevisão não é a única a dar fundamento à revisão contratual, mas coexiste com diversas outras teorias, dentre as quais se destaca a teoria da quebra da base objetiva do contrato.

A teoria da base do negócio jurídica foi desenvolvida por Paul Oertmann em 1921, no entanto, foi amplamente remodelada por Karl Larenz. Em resumo, sobre o trabalho de Paul Oertmann, cabe destacar que:

Partindo da Pressuposição, Paul Oertmann, em 1921, reformulou a teoria de Windscheid e desenvolveu a chamada Teoria da Base do Negócio Jurídico, por meio do qual pretendeu corrigir os dois maiores equívocos do seu antecessor. Paul Oertmann se propôs a elucidar, em sua teoria, a distinção entre a pressuposição e os motivos, além de ter o mérito de desconsiderar a pressuposição unilateral. [...] O exemplo dado pelo próprio Paul Oertmann demonstra que essa teoria também falhou na tentativa de solucionar o problema de alterações supervenientes, na medida em que instituiu uma base demasiadamente subjetiva, da qual estaria a depender todo o negócio. Outro ponto a ser considerado como deficiente na teoria de Paul Oertmann reside no fato de que a representação mental deve ser conhecida na sua integridade e não repelida pela outra parte, exigindo-se uma atitude de insurgência do declaratário, sob pena de a representação comunicada integrar o negócio jurídico. [...] Pelas razões acima expostas, entende-se que a teoria de Paul Oertmann é a Teoria da Base Subjetiva do Negócio Jurídico. [...] para Paul Oertmann, o contrato deveria ser mantido da forma como as partes o imaginaram. Ocorre que geralmente as partes não atentaram para determinadas situações, de que sequer chegaram a cogitar, [...] (NOVAIS, 2010, p. 52-54).

Então para sistematizar este entendimento, emerge o jurista Larenz que teve papel crucial na reestruturação desta teoria, com os seus trabalhos sobre o assunto, dentre eles se destaca a obra Base do negócio jurídico e cumprimento dos contratos . Ele buscou construir

uma teoria que seja completa (daí já se destaca dos antecessores) e adequada para solucionar os problemas decorrentes de um contrato cujas circunstâncias tenham sofrido alteração superveniente.

O mérito de Larenz foi haver sistematizado a teoria da base do negócio em suas duas acepções diferentes, ou seja, a base subjetiva, como a determinação da vontade de uma ou ambas as partes, como “representação mental” existente ao concluir o negócio que tenha influído fortemente na formação dos motivos, e a base objetiva do negócio, enquanto “complexo de sentido inteligível”, isto é, o “conjunto de circunstâncias cuja existência ou persistência pressupõe

devidamente o contrato, sabendo ou não os contratantes, pois, não sendo assim, não se alcançaria o fim do contrato. (FRANTZ, 2007, p. 47).

Há remotos estudos de que a teoria tem raízes inglesas , porém é fato que esta foi amplamente difundida no direito alemão com estes dois autores, de certo modo, a teoria da quebra da base objetiva é aquela segundo a qual basta o rompimento da equivalência entre as prestações ou a frustração da finalidade do contrato para admitir sua revisão, não sendo necessário cogitar-se de imprevisibilidade do fato. (SILVA, 2016).

No Brasil, esta teoria é atribuída nas relações em favor do consumidor, por isso está disciplinada no código de defesa do consumidor, No entanto, nem sempre foi assim ainda durante o plano “Cruzado I”, a jurisprudência concedeu muitos decisões em desfavor do consumidor decorrente em questões relacionadas a inflação da época.

A teoria era largamente aplicada, por exemplo, aos contratos imobiliários celebrados quando a moeda de curso forçado era o “Cruzado I”, em um contexto no qual o sistema financeiro no Brasil era caracterizado pela instabilidade da moeda e pela forte intervenção estatal na tentativa de conter a inflação. Em repetidos julgados ficou assentada a tese de que a inflação existente em momento posterior ao surgimento do plano “Cruzado I”, por ser fato totalmente imprevisível e que fugia da álea normal dos negócios jurídicos, sendo capaz de alterar a base objetiva dos negócios celebrados. [...] Interessante notar que, em primeiro lugar, a teoria da quebra da base objetiva, no direito brasileiro, fora reconhecida em desfavor do consumidor, fenômeno que se inverteu com o surgimento do CDC. (SILVA, 2016, p. 575)

Desta forma, depreende da citação que no brasil esta teoria está disciplinada no Código de Defesa do Consumidor, segundo a doutrina isso está especificado no artigo 6 o ,

inciso V, o qual diz que: São direitos básicos do consumidor, dentre outras, a modificação

das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas .

Observa-se que no caso desta teoria, os requisito básico é que o fato seja superveniente e excessivamente oneroso, dispensando então a questão da imprevisibilidade, fato que a difere da teoria da imprevisão. Sobre isso, o STJ disciplina:

DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. HIPÓTESE DE

INAPLICABILIDADE DA TEORIA DA BASE OBJETIVA OU DA BASE DO NEGÓCIO JURÍDICO.

A teoria da base objetiva ou da base do negócio jurídico tem sua aplicação restrita às relações jurídicas de consumo, não sendo aplicável às contratuais puramente civis. A teoria da base objetiva difere da teoria da imprevisão por prescindir da imprevisibilidade de fato que determine oneração excessiva de um

dos contratantes. Pela leitura do art. 6°, V, do CDC, basta a superveniência de fato que determine desequilíbrio na relação contratual diferida ou continuada para que seja possível a postulação de sua revisão ou resolução, em virtude da incidência da teoria da base objetiva. [...] Nesse contexto, a intervenção judicial se daria nos casos em que o contrato fosse atingido por fatos que comprometessem as circunstâncias intrínsecas à formulação do vínculo contratual, ou seja, sua base objetiva. Em que pese sua relevante inovação, a referida teoria, ao dispensar, em especial, o requisito de imprevisibilidade, foi acolhida em nosso ordenamento apenas para as relações de consumo, que demandam especial proteção. [...] Por fim, destaque-se que, no tocante às relações contratuais puramente civis, quer dizer, ao desamparo das normas protetivas do CDC, a adoção da teoria da base objetiva, a fim de determinar a revisão de contratos, poderia, em decorrência da autuação jurisdicional, impor indesejáveis prejuízos reversos àquele que teria, em tese, algum benefício com a superveniência de fatos que atinjam a base do negócio. REsp 1.321.614-SP , Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/12/2014, DJe 3/3/2015.

Por fim, cabe destacar a importäncia de se observar que também que até nesta teoria, o ordenamento jurídico se preocupa com a questão da revisão contratual como regra a problemas contratuais, mas também permite a resolução em casos extremos. Sobre isso, no mesmo texto, o STJ descreve:

[...]De outro modo, a teoria da quebra da base objetiva poderia ser invocada para revisão ou resolução de qualquer contrato no qual haja modificação das circunstâncias iniciais, ainda que previsíveis, comprometendo em especial o princípio pacta sunt servanda e, por conseguinte, a segurança jurídica. [...] REsp 1.321.614-SP , Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/12/2014, DJe 3/3/2015.

3.3 Teoria econômica dos contratos incompletos versus contratos