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Esta hipótese “ Exatamente por ser previsível ou suportável é considerado risco inerente ao negócio, não merecendo nenhum pedido de

5 EQUILÍBRIO ECONÔMICO FINANCEIRO DO CONTRATO

5.2 Institutos do equilíbrio econômico financeiro

4.1.9. Esta hipótese “ Exatamente por ser previsível ou suportável é considerado risco inerente ao negócio, não merecendo nenhum pedido de

alteração contratual, pois cabe ao empresário adotar medidas para gerenciar eventuais atividades deficitárias. Contudo, nada impede que a lei ou o contrato contemple a possibilidade de recomposição dessas ocorrências .

No caso de estar prevista, a efetivação do reajuste será mera execução de condição pactuada, e não alteração” (grifo nosso)

Com base no entendimento do referido acórdão, o qual acata em seu bojo a contribuição da doutrina de Maria Helena Diniz, pode-se se perceber o posicionamento do tribunal e da doutrina fazem com que se afaste a possibilidade de confusão interpretativa, pois é possível concluir que o que o trecho art 65, inciso II, alínea “d”, texto não se refere ao gênero equilíbrio econômico financeiro como gênero, e sim tão somente ao institutos da revisão, o que não dá abertura para outros institutos.

Outra dúvida recai no entendimento de que o trecho descrito “ configurando álea econômica extraordinária e extracontratual ”, se aplicaria a todo o dispositivo, fato que neste caso afastaria outros institutos que tem característica de álea ordinária ou contratual, ou por outro lado, também poderia ser entendido aplicado apenas aos casos de força maior, caso fortuito, fato do príncipe (os quais já são em sua natureza imprevisíveis), que neste caso não atribuiria o mérito do texto à apenas um instituto, e sim como uma descrição mais clara do princípio equilíbrio econômico-financeiro. A título de exemplo, pode-se observar abaixo o entendimento do STJ, o que já é o entendimento pacificado em várias cortes, inclusive no STF.

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATO

ADMINISTRATIVO. DISSÍDIO COLETIVO QUE PROVOCA AUMENTO SALARIAL. REVISÃO CONTRATUAL.

EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO. FATO PREVISÍVEL.

NÃO-INCIDÊNCIA DO ART. 65, INC. II, ALÍNEA "D", DA LEI N. 8.666/93. ÁLEA ECONÔMICA QUE NÃO SE DESCARACTERIZA PELA RETROATIVIDADE.

1. É pacífico o entendimento desta Corte Superior no sentido de que eventual aumento de salário proveniente de dissídio coletivo não autoriza a revisão o contrato administrativo para fins de reequilíbrio econômico-financeiro, uma vez que não se trata de fato imprevisível - o que afasta, portanto, a incidência do art. 65, inc. II, "d", da Lei n. 8.666/93. Precedentes.

2. A retroatividade do dissídio coletivo em relação aos contratos administrativos não o descaracteriza como pura e simples álea econômica.

3. Agravo regimental não provido.

(STJ, AgRg no REsp 957.999/PE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 22/06/2010, DJe 05/08/2010).

É possível aferir que das decisões prolatadas a orientação de que o reajuste trabalhista não é um evento aleatório, sendo o impacto nos preços do empregador mero reajuste inflacionário e que o reajuste salarial é um evento de consequências calculáveis recaindo no dever de cuidado da própria atividade empresarial, ou seja, configura álea ordinária inapta a ensejar o reequilíbrio econômico-financeiro do contrato administrativo. (PINHEIRO, 2013).

Desta forma, o gestor deve sempre estar atento às circunstâncias para classificação do fato ao seu respectivo instituto, pois esta análise é que vai subsidiá-lo na tomada de decisão e na atuação e/ou formalização jurídico processual no contrato.

Revisão das cláusulas contratuais (recomposição ou reequilíbrio de preços) de ser feita a partir de um amplo exame de circunstâncias que condicionam a execução do contrato”, sendo que a parte interessada necessita provar “(a) a relevância da circunstância para a execução do contrato, (b) a alteração dessa circunstância e (c) a imprevisibilidade da alteração das circunstâncias ou a impossibilidade de evitar a concretização dos efeitos modificadores da execução do contrato (JUSTEN FILHO, 1994 apud MELO 2010, p. 73).

De maneira mais técnica e interpretativa do diploma legal, Matos (2017, p. 36) completa este entendimento:

Consoante apregoado pelo diploma legal, há que se preencher os requisitos trazidos pelo normativo com o intuito de se lastrear um pedido de revisão baseado na teoria da imprevisão, ou seja, mister se faz a ocorrência de um evento cujas consequências para seu saneamento geram repercussões econômicas, como por exemplo:

a) fato excepcional, pela sua natureza e amplitude;

b) fato imprevisível ou, se previsível, de consequências incalculáveis, independente da vontade dos contratantes;

c) fato determinante da inexequibilidade ou que torne muito mais oneroso o

cumprimento do contrato pela repercussão sobre a equação

econômico-financeira inicialmente pactuada.

. Mas, a vida do gestor não é fácil como parece, pois estes argumento poderiam ser confrontados na prática ao trazer um simples caso prático, como por exemplo, quando analisada a situação do aumento da tarifa de ônibus de um determinado município, que pode impactar um determinado contrato de mão de obra, pois em uma simples análise o caso se trata de fato do príncipe ( ou seja, álea extraordinária com certa imprevisibilidade de quanto custará e quando ocorrerá ), mas ao mesmo tempo pode ser um fato suportável ao contrato (álea normal), pois a sua não concessão imediata em geral não causaria uma inexecução contratual . Eis a dúvida, se trata de um reajuste por índice ou repactuação, mesmo indo contra a sua classificação, ou adotaria o instituto da revisão indo contra a sua essência?

A jurisprudência nacional, em sua maioria, vem adotando o posicionamento de que se trata de álea ordinária, ou seja, é oriundo do risco normal do negócio jurídico portanto

não gera desequilíbrio econômico financeiro, devendo tão somente ser reajustado utilizando se como remédio o instituto da repactuação uma vez que afasta possibilidade de utilização de reajuste em sentido estrito, pois não se utiliza de índices específicos ou setoriais, ou revisão por respaldar em fato do príncipe.

5.2.3 Reajuste (em sentido Lato Sensu)

O reajuste (em sentido lato) é um instituto que deriva do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos e que tem raízes na lei de licitações e contratos 8.666/93, explícito em seus art.

40, XI (este talvez mais ligado à sua derivação strictu sensu ); art 57, III; e art. 65, § 8° :

Art. 40. O edital [...] e indicará, obrigatoriamente, o seguinte: [...]

XI - critério de reajuste , que deverá retratar a variação efetiva do custo de produção, admitida a adoção de índices específicos ou setoriais , desde a data prevista para apresentação da proposta, ou do orçamento a que essa proposta se referir, até a data do adimplemento de cada parcela; (grifo nosso)

Art. 55. São cláusulas necessárias em todo contrato as que estabeleçam: [...]

III - o preço e as condições de pagamento, o s critérios, data-base e periodicidade do reajustamento de preços , os critérios de atualização monetária entre a data do adimplemento das obrigações e a do efetivo pagamento; (grifo

nosso)

Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as devidas justificativas, nos seguintes casos:

§ 8 o A variação do valor contratual para fazer face ao reajuste de preços

previsto no próprio contrato, as atualizações, compensações ou penalizações financeiras decorrentes das condições de pagamento nele previstas, bem como o empenho de dotações orçamentárias suplementares até o limite do seu valor corrigido, não caracterizam alteração do mesmo, podendo ser registrados por simples apostila, dispensando a celebração de aditamento.(grifo do nosso).

Mas ainda, alguns poucos autores afirmam que o reajuste também tem respaldo, neste caso implicitamente, em artigos relacionados à outros instrumentos, tais como a correção monetária, sendo este (sub) espécie daquele. Mas, isto não deve prosperar, neste

momento, já que a maioria dos autores não entendem desta forma. Então, cabe destacar que, neste trabalho, optou-se por não classificá-las desta forma, ou seja, preferiu organizar como um instituto à parte, no entanto, para fins didático esta diferença será melhor detalhada no tópico do instituto de “correção monetária”

Por outro lado, já é quase pacificado o entendimento que o termo repactuação é uma sub-espécie de reajuste, no entanto, a explicação para isso não está respaldada pela lei de licitações e sim em decretos, normas infralegais específicas de órgãos competentes e a jurisprudência nacional, fato que será visto mais adiante.

Mas para fins didático cabe ressaltar o entendimento de Morais 2017, que diz: “e, ao que nos parece, a repactuação de preços não foi editada pelo Decreto n° 2.271/97 como uma figura autônoma, mas sim como uma espécie de reajuste de preços, a qual, ao invés de utilizar-se da aplicação de índices de preços, considera tão-somente a efetiva alteração dos custos contratuais”. Já nas palavras de Hely lopes de Meireles e José Emmanuel Burle Filho (2016), reajuste é :

Reajustamento contratual de preços e de tarifas é a medida convencionada entre as partes contratantes para evitar que, em razão das elevações do mercado, da desvalorização da moeda ou do aumento geral de salários no período de execução do contrato administrativo, venha a romper-se o equilíbrio financeiro do ajuste. [...] O reajustamento ou reajuste de preços e tarifas é conduta contratual autorizada por lei para corrigir os efeitos ruinosos da inflação. Não é decorrência da imprevisão das partes; ao contrário, é previsão de uma realidade existente, diante da qual o legislador pátrio, institucionalizou o reajustamento dos valores (art. 55, III, e 65§ 8°). (MEIRELLES e BURLE FILHO, 2016).

Desta forma, a partir destes entendimento, é possível inferir que o reajuste é um instituto do equilíbrio econômico financeiro, e se comporta como gênero, quando analisado em seu sentido amplo (lato sensu). Ele é utilizado para recompor a variação efetiva do custo de produção, o qual se divide em duas espécies: Reajuste de preços por índices (strictu sensu) e repactuação.

Contudo, o reajuste de preços aplica diretamente índices de preços, recaindo genericamente sobre os contratos administrativos, a repactuação de preços aplica-se exclusivamente aos contratos administrativos de serviços contínuos, podendo considerar

tão-somente a efetiva alteração dos custos contratuais, através de sua demonstração pela comparação entre planilhas de preços e custos inerentes à contratação. (MORAIS, 2003)

Esclarecido isso, antes de adentrar nestas espécies em específico, cabe ressaltar que no dispositivo legal do reajuste em sentido amplo, de certa forma exigem a previsão editalícia ou contratual.

Mas, como já afirmado por de Marçal Justen Filho, em citações anteriores em que o direito à manutenção equilíbrio econômico-financeiro da contratação não deriva de cláusula contratual nem de previsão no ato convocatório, pois tem “Tem raiz constitucional”, ele ainda completa que: “portanto, a ausência de previsão ou de autorização é irrelevante. São inconstitucionais todos os dispositivos legais e regulamentares que pretendem condicionar a sua concessão de reajustes de preços, recomposição de preços, correção monetária a uma previsão no ato convocatório ou no contrato.” (JUSTEN FILHO, 2004).

Sobre isso, existe inclusive manifestação do TCU a respeito disso. Segundo descrito no Acordão 313/2002 - Plenário:

31. Observo, ainda, que o princípio da vinculação ao Edital não pode impedir o