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M ÃO DE OBRA UTILIZADA : DO PRODUTOR E SUA FAMÍLIA AOS TRABALHADORES CONTRATADOS

Eixo 2 Desenvolvimento da prevenção de riscos profissionais nas empresas, como pressuposto de uma

AGRICULTURA , PECUÁRIA E FLORESTA

N. º Indivíduos %

2.2. P RINCIPAIS TRAÇOS E RELAÇÕES SOCIAIS DA SOCIEDADE RURAL

2.2.2. M ÃO DE OBRA UTILIZADA : DO PRODUTOR E SUA FAMÍLIA AOS TRABALHADORES CONTRATADOS

Para este estudo torna-se importante conhecer e caracterizar os produtores agrícolas familiares e a mão de obra utilizada nas explorações, desde a familiar à contratada. O produtor agrícola singular é o produtor agrícola enquanto pessoa física englobando o produtor autónomo e o produtor empresário (englobando-se na definição de produtor agrícola singular os que desenvolvem também atividades pecuárias e florestais) encontrando-se excluídas deste conceito as entidades coletivas, designadamente as sociedades, as cooperativas, as organizações de produtores e o Estado. Relativamente a 1999 registou-se um crescimento de cerca de 8% do número de produtores agrícolas singulares do sexo feminino, representando em 2009 cerca de 31% dos produtores nacionais do continente. De 1999 para 2009 a idade média dos produtores agrícolas subiu cerca de 4 anos (63 anos, ou seja mais 11 anos do que a população agrícola em geral), sendo que a tendência para o envelhecimento foi manifestamente superior nos produtores com 65 ou mais anos que representavam cerca de 49% dos produtores agrícolas enquanto a classe etária com menos de 35 anos representava somente 2%. Apesar do decréscimo significativo os produtores agrícolas singulares do continente manifestam um nível de instrução baixo porquanto ainda existem 22% dos produtores sem qualquer instrução (sendo que 84% dos produtores agrícolas singulares analfabetos têm 65 ou mais anos), 69 % possuem o nível básico (1º ciclo – 53%, 2º e 3º ciclos – 16%), 4% o nível secundário/pós-secundário e 5% o nível superior. Apesar de ter-se assistido a uma ligeira melhoria nos níveis de formação profissional relacionados com a atividade agrícola, cerca de 89% dos produtores possuíam apenas formação exclusivamente prática. Por outro lado, e contrariamente ao que seria de esperar, concluiu-se que os produtores singulares, o agregado doméstico bem como os outros membros da família fora desse agregado, tanto a nível secundário/pós-secundário como a nível superior, frequentaram mais instrução não agrícola do que agrícola/florestal. Em 2009, existiam 11 361 produtores singulares com nível de instrução secundário/pós-secundário (816 agrícola/florestal e 10 545 não agrícola) e 12 338 com nível de instrução superior (2006 agrícola/florestal e 10 332 não agrícola) concentrados nas classes etárias inferiores aos 45 anos de idade.

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O IEEA 2013 concluiu que, relativamente a 2009, os produtores agrícolas singulares continuam a ser maioritariamente homens (68%), mais envelhecidos (idade média nos 64 anos - mais um que em 2009), sendo que mais de 52% tem uma idade igual ou superior a 65 anos (mais 3% que em 2009), continuando a ser os mais idosos da Europa, com pouca escolaridade (70% concluiu o ensino básico e somente cerca de 6% o ensino superior). A formação agrícola dos produtores singulares continua a ser a resultante da sua experiência exclusivamente prática (cerca de 85%) onde somente 14% frequentaram cursos de formação profissional relacionados com a atividade agrícola, pecuária e florestal e apenas 1,4% possuem formação superior na área das ciências agroflorestais. O rendimento doméstico do produtor agrícola continua a ser maioritariamente de origens exteriores à exploração (81%), designadamente de pensões e reformas (65%) sendo apenas 6% os que vivem exclusivamente da atividade agrícola, pecuária e florestal (INE, 2014). Dos produtores agrícolas apenas 21% declararam trabalhar a tempo completo enquanto 51% afirmaram ocupar menos de metade do tempo de trabalho em atividade na exploração, ou seja, são produtores a tempo parcial. Os restantes membros da família participam nas atividades desenvolvidas na exploração maioritariamente a tempo parcial, sendo que a tempo completo apenas trabalham 13% dos cônjuges e 4% dos outros membros da família. Em média cada produtor trabalha 0,54 UTA (aproximadamente 22 horas/semana) enquanto a média da população agrícola situa-se nos 0,37 UTA (cerca de 15 h/semana).

Em suma e de acordo com o perfil desenhado pelo INE com base nos resultados apurados, pode-se caraterizar o produtor agrícola como sendo do sexo masculino, de idade avançada, nível de instrução reduzido, com formação exclusivamente prática, que trabalha cerca de 22 horas/semana, com agregado familiar formado por 3 indivíduos e cujo rendimento continua a provir maioritariamente de pensões e reformas98.

A mão de obra agrícola no continente assenta essencialmente na estrutura familiar uma vez que 80% das tarefas associadas ao trabalho agrícola, pecuário e florestal são desenvolvidas pela mão de obra familiar, nomeadamente pelo produtor cuja atividade representa mais de metade do volume de trabalho (43%), cônjuge (25%) e outros membros (12%). As particularidades e condicionalismos das atividades, designadamente a sazonalidade dos trabalhos, os picos de produção e as condições climatéricas fazem com que haja necessidade de recorrer a mão de obra não familiar, que contribui com os outros 20% do volume de trabalho, composta por trabalhadores permanentes (11%), trabalhadores eventuais (8%), bem como pela mão de obra não contratada

98 Portugal implementou em 2007 uma reforma do sistema de pensões ajustando para os 65 anos a idade da reforma. As principais medidas incluíram o prolongamento do período considerado para o cálculo do valor da pensão de forma a abranger toda a carreira contributiva, desincentivos à reforma antecipada, redução do período transitório, assim como a introdução de fator de sustentabilidade que ajusta automaticamente as prestações à evolução da esperança de vida aos 65 anos (Comissão Europeia, 2012: 3).

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diretamente pelo produtor que apresenta pouca expressividade (1%).99 Os resultados do inquérito à estrutura das explorações apontam no mesmo sentido baseando-se essencialmente a mão de obra na estrutura da população agrícola familiar (76%) enquanto a mão de obra não familiar representa 25% do total (INE, 2014).

A persistência do grupo doméstico – mão de obra familiar - continua a manifestar-se na sociedade rural portuguesa porquanto 83% dos indivíduos pertencentes à população agrícola familiar manifestou ter despendido tempo na atividade na exploração, contribuindo os produtores agrícolas familiares com 45%, os cônjuges com 31% e os restantes membros da família com 24%. O tempo aplicado no desenvolvimento das atividades agrícolas, pecuárias e florestais foi repartido da seguinte forma: 63% abaixo do meio tempo, 22% acima de meio tempo mas inferior a tempo inteiro e 15% de mão de obra agrícola familiar a tempo completo (aumento de 4% relativamente a 2009) (INE, 2011: 98).

Pode afirmar-se que a persistência do grupo doméstico é uma realidade na sociedade rural em Portugal Continental e que a maioria dos produtores e respetivos cônjuges desenvolvem as atividades agrícolas, pecuárias e florestais a tempo parcial, ocupando menos de 50% do tempo de trabalho na exploração e, ainda, que quase 33% dos indivíduos da população agrícola familiar exerciam, em 2009, uma atividade remunerada exterior à exploração (INE, 2011: 99). A população agrícola familiar, formada pelo produtor e pelos membros do seu agregado doméstico, quer tenham trabalhado ou não na exploração, é constituída por 674,6 mil indivíduos, o que representa 7% da população residente em Portugal e corresponde a um decréscimo de 15% relativamente a 2009. Se a maioria dos produtores trabalha a tempo parcial torna-se importante saber que atividades praticam para além da atividade agrícola, pecuária ou florestal bem como em que dias da semana praticam essas atividades, sabendo à partida que existe forte probabilidade de ser praticada aos sábados e domingos, em complemento do rendimento, ou como hobbie, na ocupação de tempos livres. Pela

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