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preventivas e de proteção necessárias, com possibilidade de monitorização do trabalho desenvolvido

(http://www.oiraproject.eu).

197 Para os setores em estudo aponta-se, a título exemplificativo, a Resolução da Assembleia da República n.º 139/2010, de 20 de dezembro, que recomendou ao Governo 5 medidas e ações para “Reduzir a sinistralidade do trator e reduzir os acidentes mortais no meio rural”. Medidas: 1 - Campanhas de alerta e sensibilização; 2 - Programa de renovação e reequipamento das explorações agrícolas; 3 - Programa de formação e aconselhamento; 4 - Campanha de rastreio e acompanhamento médico de condutores e ajudantes; 5 - Programa de informação e prevenção de outros acidentes. A recomendação dirigiu-se às seguintes instituições: Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas que deve assumir a tutela e direção, cabendo aos seus serviços [Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) e direções regionais de agricultura (DRA)], em articulação com serviços de outros ministérios, casos do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social [Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT)/Higiene, Segurança e Saúde no Trabalho] e Ministério da Saúde, a concretização e acompanhamento das diversas medidas e ações. No âmbito das medidas 1 e 5 a ACT, através do diálogo tripartido entre a administração do Estado, representantes dos trabalhadores e de empregadores do meio rural desenvolveu uma campanha com vista à redução da sinistralidade nos setores agrícola, pecuário e florestal.

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pelas condições de trabalho, podendo, em situações específicas ser necessário implementar inspeções especializadas e adaptadas aos setores de atividade, às realidades locais e regionais e aos métodos de trabalho onde sejam aplicadas. De seguida especifica-se a forma como o Estado impõe a Lei na construção de locais de trabalho dignos e seguros.

3.3. DA IMPOSIÇÃO DAS ORIENTAÇÕES POLÍTICAS À CONSTRUÇÃO DE LOCAIS DE TRABALHO DIGNOS E SEGUROS

As inspeções do trabalho, conjuntamente com outros sistemas inspetivos e outros organismos públicos e privados, desempenham funções indispensáveis na regularização de aspetos essenciais do mercado de trabalho e contribuem para que o Estado assegure o quadro global da política de prevenção de riscos profissionais e de promoção do bem-estar no trabalho, promova a qualidade de vida no trabalho e a competitividade das empresas e contribua para a redução dos fatores de risco de acidentes e de doenças associadas ao trabalho. Os princípios essenciais da organização e das atividades dos sistemas de inspeção do trabalho estão consagrados nas convenções da OIT atrás enumeradas que constituem os principais pilares para os objetivos das inspeções do trabalho e concorrem para a garantia e a melhoria das condições do trabalho ao:

- assegurar a aplicação dos referenciais normativos reguladores das condições do trabalho; - prestar aos empregadores e aos trabalhadores as informações e os conselhos técnicos sobre a forma mais adequada para respeitar as condições de trabalho;

- propor as medidas convenientes relativamente a situações cuja regulamentação seja insuficiente ou mesmo inexistente.

Regra geral a inspeção do trabalho encontra-se integrada no sistema geral de administração do trabalho, sob a tutela do Ministério do Trabalho podendo os serviços estar organizados de forma diferente nos Estados-Membros da OIT, em função das decisões políticas, da legislação nacional, das funções atribuídas à inspeção, nomeadamente as respeitantes às atividades de prevenção, conselho e controlo, sendo que a maioria das inspeções combina conselhos e sanções (OIT, 2006). Segundo a Comissão Europeia (2014) muitas vezes as empresas e os trabalhadores tomam conhecimento da legislação de SST aquando da visita do inspetor do trabalho, do técnico de prevenção de riscos profissionais ou do técnico da organização de produtores, o que revela insuficiências do sistema de informação e de sensibilização. Para além destas funções, as convenções da OIT permitem que as inspeções do trabalho exerçam outras funções acessórias, desde que não constituam obstáculo ao exercício das funções principais, nem afetem a autoridade e a imparcialidade dos inspetores.

Na europa seguem-se essencialmente dois modelos de inspeção: o modelo tipo generalista, seguido de um modo geral pelos países do Sul da Europa (Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia) e o modelo especialista aplicado nos países do Norte da Europa (Finlândia, Noruega e

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Suécia)

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No Reino Unido a inspeção do trabalho para a agricultura assume programa específico na estratégia de segurança e saúde (HSE, 2004). Enquanto o modelo de carácter especialista consagra a sua atividade quase exclusivamente ao domínio da segurança e saúde no trabalho, o modelo generalista abrange para além deste o domínio das relações laborais (ACT, 2013a). Está comprovado que o cumprimento das obrigações legais e das medidas de controlo tomadas pelos diferentes organismos, incluindo a Autoridade para as Condições do Trabalho, a DGS, a Guarda Nacional Republicana (GNR), a Polícia de Segurança Pública (PSP), a DGADR, a DGAV, o ICNF, continuam a ser os principais impulsionadores da gestão da saúde e da segurança no trabalho na maioria dos estabelecimentos, conforme o relatório do observatório europeu dos riscos (ESENER, 2010). O melhor controlo do cumprimento da legislação em matéria de SST pelos inspetores do trabalho dos Estados-Membros constitui um dos objetivos do quadro estratégico da UE para a saúde e segurança no trabalho 2014-2020. Na UE existem cerca de 20 000 inspetores do trabalho, correspondendo a um rácio de cerca de um inspetor por cada 9.000 trabalhadores, que realizam cerca de 1,5 milhões de inspeções por ano sendo, por isso, o seu trabalho fundamental para a promoção do cumprimento da legislação, sem constituir obstáculo à atividade empresarial (Comissão Europeia, 2014: 9). Para o cumprimento deste objetivo é fundamental o aconselhamento emanado do CARIT, responsável por realizar o levantamento dos recursos das inspeções do trabalho, avaliar a capacidade de desempenho de funções e o programa de intercâmbio de experiências, boas práticas e formações, bem como, de avaliar a eficácia das sanções e das coimas administrativas impostas pelos Estados-Membros. A título exemplificativo pode referir-se que no work group Machex do CARIT são debatidos pelos representantes dos Estados-Membros os problemas existentes com a aplicação dos instrumentos legislativos, apresentadas as boas práticas e soluções de resolução encontradas. Na agenda de trabalhos o tema dos acidentes com máquinas e equipamentos de trabalho é central, sendo analisados e debatidos muitos exemplos práticos de acidentes com tratores e máquinas agrícolas e florestais, analisadas as causas e circunstâncias de ocorrência e encontradas as soluções mais adequadas para a garantia da SST, em cumprimento das diretivas específicas198.

Os diferentes regulamentos europeus, e consequente transposição para legislação nacional, apontam a sinistralidade rodoviária como um importante flagelo necessário combater em todos os Estados-Membros, designadamente em Portugal, encontrando-se essa competência atribuída à ANSR que desenvolve estudos da sinistralidade rodoviária e promove as adequadas medidas de prevenção muitas vezes materializadas em campanhas de combate à sinistralidade rodoviária nas estradas nacionais. Apesar dos indicadores de sinistralidade rodoviária apontarem para uma

198 Diretiva 2009/104/CE, relativa às prescrições mínimas de segurança e de saúde para a utilização pelos trabalhadores de equipamentos de trabalho no trabalho; Diretiva 2006/42/CE, relativa às máquinas; e Diretiva 2003/37/CE, de 26 de maio, relativa à homologação de tratores, seus reboques e máquinas intermutáveis rebocadas, e dos sistemas, componentes e unidades técnicas destes veículos.

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evolução bastante positiva ao longo dos últimos anos verifica-se no entanto que existem determinadas tipologias de veículos, nomeadamente nos tratores, onde não se confirmam melhorias na mesma ordem de grandeza.199

A investigação de acidentes de viação é atribuída aos núcleos de investigação criminal de acidentes de viação da GNR a quem compete realizar a investigação, com vista à identificação dos autores e ao apuramento das causas dos sinistros rodoviários e fornecer os elementos objetivos para a realização da justiça, combatendo-se, assim, o sentimento de impunidade nos crimes resultantes de acidentes de viação. Atendendo a que todos os acidentes de viação devem ser investigados torna- se fundamental a recolha de dados com rigor e homogeneidade, nomeadamente a realizada com o instrumento Boletim Estatístico de Acidentes de Viação (BEAV), que possibilita alimentar o sistema de estudo científico do fenómeno da sinistralidade rodoviária e produzir informação operacional para identificar as causas e criar as estratégicas para a tomada de medidas preventivas imprescindíveis ao combate do fenómeno da sinistralidade rodoviária (Leal, 2008). Para que sejam atingidos os objetivos da investigação do acidente os profissionais devem ser detentores de meios, conhecimentos e competências específicas para o efeito, nomeadamente os relacionados com a utilização dos tratores.

A sinistralidade com tratores nas estradas nacionais constitui para a ANSR um problema grave que importa combater, nomeadamente pelo desenvolvimento de ações de sensibilização concretizadas através de reuniões de esclarecimento com agricultores e produtores florestais (ANSR, 2013). O trabalho de informação e educação tem-se desenvolvido com a intervenção dos Núcleos de Programas Especiais dos Destacamentos Territoriais da GNR e associações do setor agrícola, pecuário e florestal, desde 2010, muito em especial nas regiões que registam maior número de acidentes, com distribuição de folhetos200 pela população-alvo fornecendo-se informação relativa à prevenção dos acidentes e educando-se os seus operadores.

A nível comunitário os regulamentos do Parlamento e do Conselho Europeu promovem a implementação de sistemas de aconselhamento agrícola e florestal integrando diferentes áreas temáticas de conhecimento que, apesar de adesão voluntária, permitem a maior consciencialização dos produtores para as relações que existem entre os fluxos de matérias, os processos agrícolas, pecuários e florestais e as normas e requisitos relativos ao princípio da condicionalidade. Os regulamentos têm alargado o âmbito de abrangência integrando novas áreas temáticas,

199 Segundo a ANSR no primeiro semestre de 2016 registaram-se 42 vítimas mortais resultantes de acidentes com tratores representando cerca de 70% do número de vítimas de 2015.

200 De entre os folhetos da ANSR destaca-se, pela linguagem e ilustração, o folheto PARA (P – Pensar; A – Aprender; R – Refletir; A – Agir) segurança rodoviária – tratores agrícolas: conduza com segurança. A informação do folheto envolveu a participação da ACT, ANAFRE – Associação Nacional de Freguesias, CNA - Confederação Nacional da Agricultura, CONFAGRI - Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal, CA - Caixas de Crédito Agrícola, GNR, PSP, DGADR, Governos Civis e FECO – Associação de Cartoonistas de Portugal.

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nomeadamente as práticas benéficas para o clima, ambiente e qualidade da água, a instalação de jovens agricultores, a conservação da natureza, a defesa da floresta, a manutenção da superfície agrícola e a segurança e saúde no trabalho. Compete à DGADR, do Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, a implementação e a gestão do sistema de aconselhamento agrícola e florestal bem como a monitorização, o acompanhamento e a avaliação do seu funcionamento. O serviço de aconselhamento agrícola ou florestal é um serviço técnico especializado prestado por uma entidade reconhecida, que abrange o diagnóstico e análise dos problemas concretos e oportunidades de uma exploração agrícola, pecuária ou florestal e a elaboração de um plano de ação com as recomendações a implementar, destacando-se pela importância para o presente estudo a área temática da segurança e saúde no trabalho. Por ser um serviço com grande proximidade ao meio rural, com uma implementação geográfica em todo o território nacional e, ainda, por ser desenvolvido pelos técnicos das associações de produtores, deve o sistema de aconselhamento agrícola e florestal ser potenciado, nomeadamente com a formação adequada dos consultores em SST, para que a área temática da segurança e saúde contribua para a redução do número de acidentes, bem como para a minimização das consequências dos que não puderem ser evitados.

A participação das diferentes entidades, designadamente as do poder central do Estado (ACT, ANSR, DGADR, DGAV e ICNF) em campanhas de sensibilização e de inspeção aos locais de trabalho, às máquinas e equipamentos agrícolas e florestais, em parceria com representantes de trabalhadores e de empregadores, organizações de produtores (com os técnicos de aconselhamento agrícola e florestal), prestadores de serviços de segurança e saúde (com os técnicos de prevenção e os médicos do trabalho) e outras entidades (nomeadamente câmaras, juntas de freguesia, instituições religiosas, fabricantes e seus representantes, organismos de normalização, centros tecnológicos e centros de formação) constituem fortes pilares para a criação da rede nacional de prevenção de acidentes a nível nacional.

3.3.1.O PAPEL DO ESTADO NA PREVENÇÃO DOS ACIDENTES

Em Portugal o organismo com competência na prevenção de acidentes de trabalho e na inspeção dos locais de trabalho é a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT)201 que tem por missão a promoção da melhoria das condições do trabalho, dispondo em 2015 nos seus quadros de cerca de 50 técnicos superiores da área da prevenção e de 308 inspetores do trabalho. O rácio de um inspetor por cada 14.600 trabalhadores202 é inferior ao rácio preconizado pela OIT para as economias de

201 Cfr. Decreto Regulamentar n.º 47/2012, de 31 de julho.

202 Segundo a fonte do INE, em 2014, a população empregada era composta por 4.499.500 trabalhadores que desenvolviam atividade em 1.119.447 empresas e 888.500 trabalhadores por conta própria. Foram

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mercado industrializadas (OIT, 2006), não sendo suficiente para o exercício das suas funções, situação agravada com a tendência decrescente do número de inspetores203. De acordo com o quadro normativo português, impende ao organismo a quem foram cometidas competências preventivas e inspetivas às condições do trabalho, a promoção da segurança e saúde, o controlo do cumprimento da legislação, e a responsabilidade de informação aos empregadores e seus representantes e aos trabalhadores e seus representantes sobre o cumprimento da legislação e, sempre que seja caso disso, a aplicação das sanções correspondentes ao seu incumprimento, sem prejuízo de competências específicas de outras entidades.

A ocorrência de acidentes de trabalho e de doenças profissionais constituem indicadores significativos que indiciam a existência de disfunções nas medidas preventivas aplicadas nos locais de trabalho e nas suas envolventes. As atividades e poderes dos inspetores do trabalho204 compreendem, entre outras, a realização de inquéritos em caso de acidente de trabalho mortal ou que evidencie situação particularmente grave205, com vista ao desenvolvimento de medidas de prevenção adequadas aos locais de trabalho. À incumbência do organismo competente corresponde o dever legal do empregador comunicar o acidente mortal, bem como aquele que evidencie uma situação de lesão física grave.206 Apesar de existirem setores de atividade económica207 aos quais é

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