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O RGANIZAÇÃO TERRITORIAL DA PREVENÇÃO : E STADO , SOCIEDADE E CIDADANIA

Nacional de Qualificações e, ainda, definir os perfis profissionais, os referenciais de formação e de

C APÍTULO II – A CONSTRUÇÃO DE LOCAIS DE TRABALHO DIGNOS E SEGUROS

3. T RABALHO RURAL : DA GESTÃO DO RISCO À PREVENÇÃO DOS ACIDENTES

3.2. S ISTEMAS DE GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

3.2.3. O RGANIZAÇÃO TERRITORIAL DA PREVENÇÃO : E STADO , SOCIEDADE E CIDADANIA

As políticas de segurança e saúde no trabalho atrás expostas, tanto internacionais (Convenções da OIT) como europeias (Diretivas da UE), influenciaram marcadamente o enquadramento normativo português, com especial relevância para o duplo enquadramento jurídico conferido às políticas de SST: públicas e de empresa (Cabral, 2012).

No respeitante às políticas públicas, que seguiram as principais diretrizes das Convenções da OIT, em especial a Convenção n.º 155, compete ao Estado estabelecer e desenvolver as políticas nacionais de SST e os sistemas que permitam a execução dessas mesmas políticas, nomeadamente através da evolução do quadro legislativo, do controlo inspetivo da sua aplicação, do serviço informativo prestado tanto a empregadores como a trabalhadores, do incentivo à pesquisa e investigação científica e da divulgação e inserção do conhecimento produzido no sistema educativo

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e formativo. Ainda no âmbito das políticas públicas, a Diretiva-quadro 89/391/CEE, de 12 de junho estabelece que cada Estado-Membro deve promover políticas públicas que assegurem a produção de instrumentos legislativos que fomentem locais de trabalho seguros e saudáveis, cuja execução prática deverá ser remetida à Comissão Europeia através de relatório efetuado para monitorização da sua aplicação, assegurando, de acordo com o estabelecido no art.º 59.º da CRP, o direito à prestação do trabalho em condições de segurança e saúde a todos os trabalhadores.

As políticas de empresa fomentam o desenvolvimento de sistemas de prevenção de riscos profissionais para todos os trabalhadores, de todos os setores de atividade, públicos e privados, bem como a cooperação com outras organizações que laborem no mesmo local de trabalho, fomentando a adequada informação, formação e participação dos trabalhadores, conforme linhas orientadoras das convenções da OIT. De acordo com as políticas de empresa, compete aos empregadores a obrigação de assegurar as condições em todos os aspetos relacionados com o trabalho que possibilitem aos trabalhadores a prestação do trabalho em condições dignas e seguras, conforme estipulado na Diretiva Quadro, no Código do Trabalho e no Regime Jurídico da Promoção da Segurança e Saúde no Trabalho171.

A obrigação da prevenção encontra-se referida por várias instituições, em diversas normas e regulamentos que permitem diferentes particularidades jurídicas.172 Pode afirmar-se que a segurança

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Art.º 281.º e 282.º do Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro. As obrigações legais dos empregadores decorrentes da aplicação das políticas de empresa encontram-se regulamentadas na Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro, na redação atual, nomeadamente na seção II - Princípios gerais e sistema de prevenção de riscos profissionais - regulamenta o plano de desenvolvimento das políticas públicas de segurança e saúde no trabalho (arts 5º a 14º) designadamente quanto: aos princípios gerais, ao desenvolvimento do sistema nacional de prevenção de riscos profissionais, à definição de políticas nacionais, coordenação e avaliação de resultados, à consulta e participação, à educação, formação e informação para a segurança e para a saúde no trabalho, à investigação e formação especializada, à normalização, ao licenciamento e autorização de laboração, à segurança de máquinas e equipamentos de trabalho e à inspeção das condições de trabalho.

172 A nível internacional, a Convenção n.º 155 da OIT apesar de não estar prevista a definição do conceito de prevenção encontra-se, na alínea e) do seu art.º 3.º a extensão do conceito de saúde em relação com o trabalho, ao serem incluídos os elementos físicos e mentais que possam afetar a saúde diretamente relacionados com a segurança e higiene no trabalho e no n.º 2 do seu art.º 4.º que refere que os princípios da política nacional devem ter como objetivo “a prevenção dos acidentes e dos perigos para a saúde resultantes do trabalho…”. A nível comunitário, a Diretiva-quadro 89/391/CEE, de 12 de junho, define o conceito de prevenção no seu art.º 3º- Como “o conjunto das disposições ou medidas tomadas ou previstas em todas as fases da atividade da empresa, tendo em vista evitar ou diminuir os riscos profissionais”. A nível nacional, o Código do Trabalho estabelece no art.º 281.º, que “o empregador deve assegurar aos trabalhadores condições de segurança e saúde em todos os aspetos relacionados com o trabalho, aplicando as medidas necessárias tendo em conta os princípios gerais de prevenção”, enquanto a Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro, na redação atual, estabelece a regulamentação do CT, definindo, na sua alínea i), do art.º 4.º, prevenção como “o conjunto de políticas e programas públicos, bem como disposições ou medidas

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e saúde no trabalho é um direito complexo que resulta do desenvolvimento de um conjunto de ações com natureza jurídica particular e privada, subordinadas a um interesse geral e público. Assim, a obrigação da prevenção baseia-se num dever público (Estado) e numa obrigação privada (empresa), abrangendo diversas dimensões e sujeita a diferentes tutelas (Pimpão, 2011). A natureza da obrigação de prevenção deve assumir uma visão mista, uma vez que resulta simultaneamente duma relação jurídica de natureza contratual civil (o contrato de trabalho) e de um bem jurídico que reveste interesse público (o direito à vida e à saúde) donde se concluiu que a segurança e a saúde do trabalhador devem ser entendidas como um bem desenvolvido plenamente no contexto de uma relação jurídica particular e privada subordinado ao interesse geral e público. A natureza jurídica da obrigação da prevenção encontra ainda outras facetas controversas nomeadamente quanto à aproximação dos princípios da prevenção e da precaução. Na União Europeia têm sido desenvolvidas normas jurídicas que visam fomentar a prevenção em dois domínios fundamentais: o social (dirigidas aos empregadores) e o de mercado (dirigidas aos agentes económicos). Enquanto as normas sociais apontam para a harmonização ao estabelecerem as prescrições mínimas de segurança e saúde no trabalho, no âmbito das obrigações legais de prevenção de riscos profissionais atribuídas aos empregadores, as normas de mercado estabelecem as exigências essenciais, no âmbito dos requisitos legais de prevenção de riscos a observar nos produtos a colocar no mercado, atribuídos aos fabricantes e seus mandatários, tendo em conta a segurança das pessoas, dos seus bens e do ambiente. A implementação das normas, nos domínios social e de mercado, permite que sejam desenvolvidas importantes ações de autorregulação na empresa, decorrentes das obrigações atribuídas quer aos fabricantes (prevenção pela segurança intrínseca) quer aos empregadores (prevenção através do cumprimento das prescrições mínimas), que concorrem conjuntamente para a implementação de sistemas de prevenção de riscos profissionais (Cabral, 2012).

Portugal seguiu um sistema de gestão da segurança e da saúde no trabalho obrigatória, tendo por base o cumprimento das obrigações legais, aplicável a todos os empregadores, aos fabricantes e seus mandatários, sujeito a inspeções do Estado, tendo como objetivo a eliminação e minimização dos riscos e a proteção dos trabalhadores face ao risco das tarefas desenvolvidas nas diferentes atividades económicas. Compete ao Estado Português o papel de assegurar o direito dos trabalhadores portugueses à prestação de trabalho em condições de higiene, segurança e saúde, conforme consagrado na Constituição da República Portuguesa. Conforme anteriormente referido o acordo de segurança, higiene e saúde no trabalho, estabelecido em 1991, constituiu o principal marco histórico da segurança e saúde no trabalho em Portugal. Na sequência do acordo o legislador transpôs para o direito interno a Diretiva-Quadro 89/391/CEE, de 12 de junho, através do Decreto- Lei n.º 441/91, de 14 de novembro, estabelecendo-se assim o Estado como o regulador do direito

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