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Nacional de Qualificações e, ainda, definir os perfis profissionais, os referenciais de formação e de

C APÍTULO II – A CONSTRUÇÃO DE LOCAIS DE TRABALHO DIGNOS E SEGUROS

3. T RABALHO RURAL : DA GESTÃO DO RISCO À PREVENÇÃO DOS ACIDENTES

3.2. S ISTEMAS DE GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

3.2.1. S ISTEMAS DE GESTÃO FACULTATIVOS

Os sistemas de gestão facultativos abordam a questão da segurança e saúde no trabalho, através de conselhos e de exemplos relativos aos meios para implementação das medidas da segurança e saúde no trabalho. As matérias de prevenção priorizam o fornecimento de equipamentos de proteção e os comportamentos a adotar para aplicação de normas e procedimentos de segurança, em detrimento da prevenção de riscos logo na fase de conceção. Nestes sistemas de gestão a segurança é favorecida em detrimento da saúde, por assumirem que os problemas de saúde são originados mais por doenças do que por acidentes de trabalho e a participação dos trabalhadores enquadra-se mais no respeito pelos procedimentos e regras de segurança impostas pelas hierarquias do que no contexto de diálogo social (Frick, 2011).

As primeiras versões de sistemas de gestão da segurança, tipo “lost Control”, foram introduzidos pelo International Safety Rating System (ISRS) (ISRS; Bird et Lotus, 1976; Top, 2006, apud Frick, 2011). À semelhança do sistema do ISRS surgiu o programa Five Stars, como um sistema de gestão aplicado por inúmeros empregadores, nomeadamente, na Austrália (NSCA, 1995), na América do Norte (Caw, 2013) e na África do Sul (Eisner et Leger, 1988, apud Frick, 2011).

Aos sistemas iniciais de gestão seguiram-se as propostas internacionais de recomendações, estabelecidas pelas indústrias químicas, relacionadas com a segurança e a saúde no trabalho,

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denominadas Responsible Care. Durante a década de 90 foram surgindo cada vez mais projetos de normas e recomendações no domínio da gestão da segurança e saúde no trabalho (Frick, 2006, 2011) designadamente na Irlanda, Jamaica, Austrália, Nova Zelândia (AS/NZS 484), Países Baixos (5001 NPR), Espanha (UNE 81900), Reino Unido (BS 8800) e Estados Unidos (ANSI-AIHAZ 10) (Darlymple et.al, 1998, apud Frick, 2011). Nos países Anglo-Saxónicos verificou-se uma tendência para implementar sistemas de gestão da segurança e da saúde de base voluntária, mas assente em normas e regulamentos concebidos pelas autoridades competentes em matérias de segurança e de saúde referindo-se, a título exemplificativo, o programa de proteção voluntária (VPP) da OSHA166, aplicado nos Estados Unidos (OSHA, 1989), bem como o sistema de gestão aplicado em Taiwan (Su et.al, 2005).

Em 1996, a Organização Internacional de Normalização (ISO) não conseguiu os requisitos de maioria qualificada para a adoção de uma norma suplementar, relativa aos meios necessários para assegurar a qualidade e a saúde no trabalho, às normas anteriores ISO 9000 (relativa à gestão da qualidade dos produtos) e ISO 14000 (relativa à gestão da qualidade do ambiente). O primeiro fracasso surgiu em 1999 numa tentativa de estabelecer um acordo sobre uma “semi-norma” relativa aos sistemas de gestão, entre 14 organismos nacionais de normalização e gabinetes de auditoria, cumpridos por British Standard Institution (BSI) e Det Norske Veritas (DNV) no Reino Unido e Noruega, respetivamente, seguindo-se um segundo fracasso em 2000 num novo esforço para conseguir um sistema de gestão da segurança à escala mundial.

A ferramenta elaborada pela Occupational Health and Safety Assessment Services (OHSAS 18001)167 fornece os requisitos mínimos para orientação de formação e implementação de sistemas de gestão e certificação para a segurança e saúde ocupacionais através dum conjunto de normas e procedimentos podendo ser parte do sistema de gestão integrado, conjuntamente com a gestão da qualidade e a gestão ambiental. Basicamente a OHSAS 18001 preconiza a elaboração da política de segurança e saúde ocupacional e a definição dos objetivos a alcançar pela organização, com os

166 O Programa de Proteção Voluntária (VPP) foi considerado de interesse para a promoção de condições de segurança e saúde. Foram concebidos guias para as empresas procederem à sua autoavaliação, estabelecerem a sua posição e determinarem as ações e as medidas necessárias à garantia ou à melhoria em termos de segurança e saúde no trabalho.

167 A Associação Portuguesa de Certificação (APCER) entidade de certificação em Portugal, aponta como principais objetivos de aplicação da norma a minimização dos riscos para colaboradores e outras partes interessadas; a melhoria do desempenho e a demonstração de fator de suporte e consolidação da responsabilidade social. Os principais benefícios referidos são a redução de acidentes e doenças profissionais; a melhoria da imagem da organização; a evidência do compromisso para o cumprimento da legislação aplicável; a redução de custos (indemnizações, prémios de seguro, prejuízos resultantes de acidentes, dias de trabalho perdidos; a melhoria da satisfação e motivação dos colaboradores pela promoção e garantia de um ambiente de trabalho seguro e saudável; a abrangência das atividades de prevenção em toda a organização; a redução de taxas de absentismo; e a maior eficácia e pro atividade ao nível do planeamento operacional (OHSAS 18001:2007 / NP 4397:2008 – www.apcer.pt).

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critérios e os pormenores de aplicação e de abrangência a atingir na gestão da segurança e saúde dos trabalhadores. As principais etapas do processo passam pela definição da política, planeamento das atividades (identificação de perigos, avaliação e controlo de riscos), operacionalização das medidas preventivas e corretivas (recursos, funções, responsáveis, competências, informação, formação e consulta, operações de socorro e emergência), monitorização (desempenho, cumprimento da legislação, investigação (de acidentes, incidentes e inconformidades), auditorias e resultados.

A Norma ISO 31000 define os princípios do processo sistemático e lógico de gestão do risco e traça um conjunto de caminhos e de linhas orientadoras para a implementação de práticas de gestão do risco no âmbito da gestão global duma organização, sem descurar que a gestão de riscos deve ser parte integrante dos processos de gestão em todos os níveis da organização. Para potenciar a capacidade de adaptação das organizações a diversos ambientes, na norma ISO 31000 desenvolveu-se a capacidade de identificação de oportunidades e de ameaças. O facto do risco estar indissociavelmente ligado a múltiplas atividades empresariais, nem sempre o objetivo é a sua eliminação mas a capacidade de gestão (Costa, 2011). Para Leitch (2009) a análise de riscos exige um pensamento mais desenvolvido do que o que existe em muitas organizações referindo o autor que os níveis de detalhe podem ser variáveis em função do risco, que deve ser considerada a possibilidade de interdependência dos diferentes riscos e das suas fontes (o que na maioria das situações não é feito, por tendencialmente considerarem os riscos independentes) e ainda, que a avaliação de riscos deve considerar e comunicar confiança para a efetiva promoção da mudança.

Os sindicatos opõem-se a este tipo de normas por serem usualmente elaboradas em gabinetes de auditorias ou em organismos de normalização, dominados por produtores e empregadores, sem a participação de representantes de trabalhadores (Frick, 2011).168 As grandes empresas instaladas em regiões do globo mais desenvolvidas, importadoras de bens e de serviços, impõem para garantia dos seus certificados que aos seus fornecedores, localizados em regiões menos desenvolvidas, respeitem o cumprimento das normas mínimas de segurança e de saúde no trabalho.169

As linhas diretrizes da OIT são também facultativas e preconizam a regulamentação dos sistemas de gestão da segurança e saúde no trabalho, definidas através da participação tripartida, com representantes dos governos, dos empregadores e dos trabalhadores. A OIT emana linhas

168 As OSHAS são o referencial mais difundido a nível internacional sendo, em finais de 2003, aplicados em mais de 70 países e com mais de 3900 certificados, em especial nas grandes empresas internacionais, situando-se a maior parte dos certificados na China, Austrália, Tailândia, Reino Unido, Brasil, Itália, Japão, Irão, Coreia do Norte e Índia (Bebek e Viegas, 2005, apud Frick, 2011). Os programas de responsabilidade social implementados nas multinacionais explicam a grande popularidade das OSHAS nos países menos desenvolvidos, cujas economias são vocacionadas para a exportação.

169 De acordo com artigo publicado por Mathiason, no The Observer, em 11 de junho de 2006, muitos desses certificados não garantem o respeito dos fornecedores pelas normas definidas.

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diretrizes nas convenções que devem servir de modelo oficial a adotar nos países ratificantes, podendo ser ainda utilizadas para a elaboração de sistemas de gestão de empresas privadas e de organizações não-governamentais. Da comparação crítica das normas aplicadas aos sistemas de gestão resultou para Bennet (2002) que as linhas diretrizes da OIT são mais eficazes quanto à participação dos trabalhadores, ao respeito da legislação, à especificação dos elementos constitutivos do sistema de gestão (por limitar a possibilidade do empregador selecionar a norma mais conveniente), à análise destinada à avaliação e à introdução de melhorias no sistema de gestão da segurança e da saúde no trabalho, tornando-as mais coerentes na aplicação dos princípios gerais de prevenção. As intervenções sobre os comportamentos de segurança dos trabalhadores não podem, mesmo em teoria, substituir os sistemas de gestão da segurança e saúde no trabalho.

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