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pequenas e médias empresas; Promover, divulgar e disponibilizar métodos de recolha de dados e

3.4. S INISTRALIDADE : APRENDER PARA PREVENIR

3.4.1. M ODELOS DE CAUSALIDADE DE ACIDENTES

Para Jacinto (2005) um modelo de causalidade de acidentes é uma teoria abstrata que tenta encontrar explicação para a causa do acidente enquanto um método constitui uma ferramenta prática de trabalho utilizada para que seja atingido um fim específico, ou seja, através da sua utilização seja possível encontrar a explicação para a ocorrência e planificar a prevenção de outros acidentes. Segundo Roxo (2009: 45) a identificação e compreensão das causas dos acidentes constitui um domínio determinante para se poder isolar, circunscrever ou eliminar os fatores que os determinam ou que contribuem para que aconteçam e, a partir daí, dispor de referenciais que permitam situar a condução de uma estratégia operacional de intervenção que direcione o conhecimento, as metodologias e os meios mais adequados para a ação preventiva.

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A literatura sobre modelos de análise de acidentes subdivide-os em dois grupos consoante as perspetivas: acidentes “menores e maiores”. De acordo com Areosa (2013) esta dicotomia será mais fictícia do que real uma vez que entre os acidentes “menores e maiores” existem mais semelhanças do que aquilo que a literatura parece dar a entender. Apesar de numa primeira análise os modelos parecerem diferentes, de se poderem aplicar a diferentes tipos de acidentes e de refletirem momentos temporais de conhecimento, não podemos deixar de realçar que, atendendo ao fim a que se destinam, apresentam denominadores comuns, em especial o encontro de causas e explicações do acidente. Incidindo esta investigação em acidentes ocorridos nos setores de atividade económica da agricultura, pecuária e floresta, e atendendo à realidade organizacional e social existente – maioritariamente microempresas - entendeu-se apresentar cronologicamente os principais modelos, pela fundamentação teórica dos métodos utilizados na investigação e análise de acidentes. Cada modelo tem virtudes próprias, especificidades e limites, pelo que não podemos afirmar que um é melhor do que outro, nem tão pouco proceder à fusão num só único modelo (Areosa, 2013). As características e formas de abordagem conferem-lhes vantagens e limitações quanto ao entendimento teórico dos acidentes, à sistematização e fundamentação dos fatores causais e, ainda, à forma como são identificadas e preconizadas as medidas preventivas e corretivas. Os modelos de acidentes influenciam o modo como é encarada a segurança, como são identificados e analisados os fatores de risco e como é mensurado o desempenho (Hovden, Albrechtsen e Herrera, 2008).

A primeira abordagem científica sobre acidentes de trabalho – teoria da propensão individual para o acidente - foi desenvolvida por Greenwood e Woods (1919) e centra-se na observação estatística de sinistros laborais durante um determinado período de tempo. Esta teoria assumia logo à partida que existia uma suscetibilidade individual para o acidente, composta por um conjunto de motivos e de fatores difíceis de separação e medição. Apesar deste modelo ter sofrido evolução, passando a incorporar outras variáveis na investigação, designadamente, idade, género, inteligência, personalidade, fadiga, atitudes, comportamentos e inadaptação, os resultados concluíram que a vulnerabilidade para o acidente estava centrada nas dimensões fisiológica e psicológica do indivíduo, sendo criticado por várias correntes, por considerar o trabalhador como o elo mais fraco do sistema, por basear na disposição biológica particular de certos indivíduos, em certos períodos da sua vida, ou mesmo pela dificuldade em evitar erros próprios da condições humana (Nebot, 2003; Reason, 1990; Almalberti, 1996). Para Areosa (2013), a perspetiva da propensão individual para o acidente tende a culpabilizar a vítima (já penalizada pelas consequências do acidente), podendo ser encarada como um mecanismo de ilusão das causas organizacionais que determinam as condições de trabalho e que permitiram a ocorrência do acidente, bem como de desresponsabilização das organizações e dos respetivos beneficiários dos resultados do trabalho. Dentro das limitações e virtudes deste modelo simplista e, assumindo que a teoria defende que, comparativamente a outros, determinados indivíduos apresentam maiores

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vulnerabilidades e especificidades para sofrer acidentes no desempenho de tarefas similares, a prevenção destes acidentes passaria por não colocar esses indivíduos nessas tarefas.

Surgiram novas formas e perspetivas de olhar para os acidentes que culminaram em novos modelos enquadrados por Hollnagel (2004, 2010), com o devido reconhecimento científico, nas seguintes categorias:

 sequenciais;  epidemiológicos;  sistémicos.

Os modelos sequenciais são os modelos mais simples que identificam as causas específicas e as diferentes relações de causa-efeito que podem levar à ocorrência do acidente, ou seja, o acidente resulta do culminar dum conjunto sequencial de acontecimentos, resultantes de causas específicas, com ligações bem definidas, e segundo uma ordem concreta, tendo com principal objetivo de análise a eliminação ou a contenção das causas que desencadearam o acidente. Nesta categoria enquadram-se as teorias dominó de Heinrich e suas adaptações, em especial a de Bird. A teoria dominó desenvolvida por Heinrich (1931) encontrava-se adaptada à segurança industrial243, e foi

243 Axiomas da segurança industrial ( Heinrich et.al, apud Roxo, 2009 e Areosa, 2013):

1 – a ocorrência de um dano resulta, invariavelmente, de se completar uma sequência de fatores, a última das quais é o próprio acidente. Esse acidente, por seu turno, é normalmente causado ou diretamente possibilitado por atos inseguros de uma pessoa e/ou perigo mecânico ou físico;

2 – a maioria dos acidentes é atribuível a atos inseguros das pessoas;

3 – em média, as pessoas que sofreram uma lesão incapacitante, estiveram próximas de sofrer uma lesão séria em cerca de 300 situações precedentes nas quais cometeram o mesmo ato inseguro (designados por acidentes brancos – não provocaram lesões pessoais mas originaram danos na propriedade);

4 – a severidade do dano é largamente fortuita e a ocorrência do acidente de que resulta um dano é previsível e suscetível de prevenção;

5 – as quatro razões básicas para a ocorrência de atos inseguros (i – atitude imprópria; ii – falta de conhecimentos ou de capacidades; iii – inaptidão física; iv – ambiente mecânico ou físico desadequados) providenciam um guia para a seleção de medidas corretivas apropriadas;

6 – estão disponíveis quatro métodos básicos para a prevenção de acidentes: engenharia (corretiva), persuasão e sensibilização, ajustamento pessoal e disciplina;

7 - os métodos de maior valia na prevenção de acidentes são análogos aos métodos de controlo da qualidade, do custo e da quantidade da produção;

8 – a gestão tem a melhor oportunidade e capacidade para impulsionar a atividade preventiva e, por isso, deve assumir essa responsabilidade;

9 – os supervisores e os capatazes são homens chave na prevenção de acidentes industriais. O seu exercício da arte da supervisão e do controlo do desempenho do trabalhador constitui o fator de maior influência no sucesso da prevenção de acidentes;

10 – a motivação humanitária para a prevenção de acidentes é complementada por dois poderosos fatores económicos: i – o estabelecimento seguro é eficiente do ponto de vista da produtividade e o

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concebida para a realidade de gestão do trabalho característica da época – Taylorismo – resultando o acidente dum conjunto de cinco fatores, representados por uma sequência precisa de cinco peças de dominó, representando: 1 – hereditariedade e ambiente social; 2 – defeitos pessoais; 3 – atos inseguros e/ou perigos mecânicos ou físicos; 4 – acidente; e 5 – dano pessoal. Metaforicamente no modelo proposto por Heinrich, o processo causal do acidente é representado pela sucessiva queda das peças do dominó ou seja, cada fator precedente atuará sequencialmente sobre o seguinte até à ocorrência da lesão, numa ligação causa-efeito bem clara e determinista. À semelhança das peças do dominó, se a queda da primeira peça de dominó irá provocar a queda sequencial das seguintes, a eliminação de um dos fatores evitaria a ocorrência do acidente e a consequente lesão, à semelhança da retirada duma das peças do dominó que evitaria a queda sequencial das peças seguintes (Roxo, 2009). A mobilização de conhecimento científico e a sistematização da informação constitui importante evolução, ao assumir que existe um conjunto sequencial de acontecimentos que provocam o acidente. Assim, segundo Heinrich, os acidentes podem ser evitados se um dos fatores atrás enunciados inibir a sequência dos outros fatores, ou seja, e por recurso à metáfora utilizada, se uma das peças de dominó for retirada ou se for prevenida a sua queda, evitava-se a queda das seguintes e, consequentemente o dano/lesão. Este modelo centra-se essencialmente nos atos inseguros associados ao erro humano ao atribuir a este fator 88% dos acidentes, sendo os restantes repartidos pelas condições inseguras (10%) e pelos acontecimentos fortuitos (2%).244 Nesse sentido, a prevenção dos acidentes deve passar em larga medida pelo controlo dos comportamentos individuais dos trabalhadores (atos inseguros – 3º peça do dominó) passando os métodos preventivos por processos de engenharia, de persuasão e sensibilização, de ajuste pessoal e por um controlo hierárquico e disciplinar (Areosa, 2013: 54).

A teoria dominó sofreu, entre outras, uma atualização introduzida e desenvolvida por Bird (1974) que utilizou similar metáfora sequencialista do dominó, evidenciando um conjunto de cinco fatores explicativos do acidente, representados pela sequência precisa de cinco peças de dominó: 1 – falta de controlo/gestão; 2 – causas básicas/origens; 3 – causas imediatas/sintomas; 4 – acidente/contato; e 5 – danos/perdas. Bird ao introduzir a influência que o sistema de gestão tem na relação determinística da causa-efeito alargou a abrangência do conceito de acidente de forma a abarcar no seu âmbito não só os acidentes que causem lesão mas também aqueles que provoquem desperdícios e ineficiências nas organizações (Roxo, 2004).

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