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C APÍTULO I – A CIDENTES DE TRABALHO : ENQUADRAMENTO POLÍTICO E CONTEXTOS SOCIAIS

1. ENQUADRAMENTO POLÍTICO: ORIENTAÇÕES POLÍTICAS E REGULAMENTAÇÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

Assentando a presente investigação na análise dos acidentes ocorridos no trabalho desenvolvido nos setores de atividade económica da agricultura, produção animal e floresta torna-se fundamental estudar e compreender as orientações políticas e a regulamentação sobre segurança e saúde no trabalho. Nesse sentido, investigaram-se a nível internacional as convenções da OIT, a nível comunitário as diretivas, os planos e as estratégias europeias e a nível nacional a legislação, os planos e as estratégias nacionais, bem como a sua aplicação aos setores agrícola, pecuário e florestal. A forma como evoluíram, foram transpostas e aplicadas as orientações políticas e as regulamentações de segurança e saúde nos locais de trabalho mereceu, nesta investigação, uma atenção pormenorizada pela importância que representa na melhoria das condições do trabalho nestes setores.

1.1.POLÍTICA INTERNACIONAL PARA A SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO –CONVENÇÕES DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

Desde longa data que a segurança e saúde no trabalho encontra espaço na aprendizagem profissional onde, até à revolução francesa, a organização do trabalho desenvolvido em cada arte e ofício estabelecia ligação entre trabalho e prevenção. A revolução industrial permitiu a transição para novos processos produtivos, saindo de métodos de produção artesanal para produção mecanizada, com a introdução de novas tecnologias, processos e matérias-primas. Segundo Dwyer (1991) havia, por um lado, a necessidade de prevenir o potencial contestatário que ameaçava a ordem social da época e, por outro, de reduzir os custos da sinistralidade, assegurando para isso melhores condições de trabalho, de forma a potenciar aumentos de produtividade. Durante o século XIX registou-se a tomada de consciência de que o trabalho poderia provocar danos nos trabalhadores tendo-se adotado medidas de proteção nas situações de trabalho mais penosas e de exposição a maiores riscos, em especial com a utilização de mão de obra infantil e com o excesso de jornada de trabalho. No entanto, as primeiras abordagens à segurança e saúde foram desenvolvidas durante o século XIX, início do século XX, com a implementação do taylorismo, tendo-se assistido ao controlo das condições de trabalho, através da criação de corpos de inspetores do trabalho4 nas atividades de maior risco, especialmente nas minas e nas áreas de maior

4 Em Inglaterra (1833), em França (1850), na Alemanha (1870), em Itália (1870) e em Espanha (1880) (IDICT, 2001).

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repercussão na vida dos trabalhadores, designadamente a duração do trabalho, o trabalho de menores e de mulheres. O grande impulso da segurança e saúde a nível internacional surgiu com a criação da Organização Internacional do Trabalho, em 1919, que previa a obrigação dos países subscritores constituírem serviços de inspeção, passando a dar-se assim uma atenção muito especial à “dimensão humana do trabalho” especialmente a relacionada com “o lugar que o trabalho ocupa na vida das pessoas como fonte de bem-estar, de segurança e de identidade e, ainda, como via que conduz ao progresso e ao desenvolvimento social e económico”, aplicável em todos os níveis de desenvolvimento e a todos os setores de atividade, tanto na economia formal como na informal, procurando permitir que cada pessoa ganhe a vida de maneira digna e segura (IDICT, 2001). A OIT foi a instituição pioneira na promoção da melhoria das condições do trabalho, nomeadamente com as orientações políticas e a regulamentação emanadas das suas Convenções que, quando subscritas passam a ter aplicação nos países aderentes. Para além do seu pioneirismo na SST é de realçar que as condições de trabalho na agricultura5 constituíram as primeiras preocupações da OIT.

Qualquer política de prevenção no mundo laboral pode ter uma gama muito variada de sentidos, desde as relações laborais à segurança e saúde dos trabalhadores, ou mesmo ao emprego com vista à inclusão social. A prevenção no contexto das condições do trabalho e a missão das inspeções do trabalho na prossecução desse objetivo são referidas nas principais Convenções Internacionais da OIT.6 Estes instrumentos atribuem aos serviços de inspeção, para além das

5 Para a OIT o termo agricultura abrange as atividades agrícolas e florestais desenvolvidas nas explorações agrícolas, incluindo a produção vegetal, as atividades florestais, a criação de animais e de insetos, a transformação primária dos produtos agrícolas e animais pelo explorador, ou em seu nome, bem como a utilização e a manutenção de máquinas, equipamentos, aparelhos, ferramentas e instalações agrícolas, incluindo qualquer procedimento, armazenamento, operação ou transporte efetuada numa exploração agrícola que estejam diretamente relacionados com a produção agrícola, não abrangendo a agricultura de subsistência, os processos industriais que utilizam produtos agrícolas como matérias-primas e os serviços com eles relacionados e a exploração industrial das florestas.

6 A primeira Convenção da OIT, de 1919, foi relativa à duração do trabalho, tendo sido ratificada para Portugal, através do Decreto n.º 15 361, de 3 de abril de 1928. De entre as convenções seguintes destacam- se as que promovem a segurança e saúde dos trabalhadores, nomeadamente nos setores de atividade da agricultura, produção animal e floresta:

- Convenção n.º 11, de 1919, relativa ao direito de associação e coligação dos trabalhadores agrícolas – ratificada através da Lei n.º 41/77, de 18 de junho;

- Convenção n.º 12, de 1921, relativa à reparação de acidentes de trabalho na agricultura – ratificada pelo Decreto n.º 42.874, de 15 de março de 1960;

- Convenção n.º 17, de 1925, relativa à reparação dos acidentes de trabalho – ratificada pelo Decreto n.º 16.586, de 9 de março de 1929;

- Convenção n.º 18, de 1925, relativa à reparação das doenças profissionais – ratificada pelo Decreto n.º 16.587, de 9 de março de 1929;

- Convenção n.º 81, de 1947, relativa à inspeção do trabalho – ratificada pelo Decreto-Lei n.º 44.148, de 6 de janeiro de 1962;

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principais funções de inspeção relacionadas com a aplicação da legislação laboral, que intrinsecamente já apresentam cariz preventivo, um importante papel de prevenção, designadamente, nas inspeções de novas instalações, materiais ou substâncias e processos e métodos de trabalho e, ainda, na prevenção de acidentes e de doenças profissionais. De entre as várias convenções, a OIT estabeleceu convenções específicas para os setores de atividade da agricultura, pecuária e florestas, pelas especificidades e condicionalismos dos trabalhos desenvolvidos, que trazem enormes desafios à prevenção de riscos profissionais (Convenções n.º 11, de 1919; n.º 12, de 1921; n.º 129, de 1947; e 184, de 2001).

As pequenas e médias empresas, por serem a maior fonte de novos empregos nas últimas décadas (OIT, 2012; 7), os trabalhadores independentes e a economia informal, onde “uma proporção significativa da população economicamente ativa no mundo trabalha e ganha o seu sustento”, devem ser alvo de atenção especial, por não possuírem ou desfrutarem de acesso muito limitado aos principais recursos de desenvolvimento (OIT, 2012; 2), designadamente os relativos à segurança e saúde dos trabalhadores. O trabalho digno e seguro aparece assim como pedra angular das políticas económicas e socias promovidas pela OIT. Visando melhorar a vida das pessoas desempregadas ou cujo emprego não produz remuneração suficiente, a OIT definiu o seu programa de trabalho decente, adotado através do Pacto Mundial para o emprego, assente em 4 objetivos estratégicos - emprego, proteção social, diálogo social, e promoção dos direitos do trabalho - indissociáveis, interrelacionados e que se reforçam mutuamente, em resposta à crise económica e financeira mundial e à agitação social derivada do desemprego, especialmente o jovem, bem como à crescente sensação de injustiça e de indignidade humana (OIT, 2012).

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