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O PAPEL DA SOCIEDADE E CIDADANIA NA PREVENÇÃO DOS ACIDENTES

acompanhadas por tutor, nos mais variados setores de atividade, nomeadamente nos setores agrícola,

3.3.2. O PAPEL DA SOCIEDADE E CIDADANIA NA PREVENÇÃO DOS ACIDENTES

O sistema de aconselhamento constitui um importante instrumento do primeiro pilar da Política Agrícola Comum (PAC), por contribuir, designadamente, para o melhor cumprimento das normas aplicáveis às explorações agrícolas, com impactos positivos a diversos níveis, cuja implementação é obrigatória para os Estados-Membros, sendo de adesão voluntária para todos os agricultores e produtores, independentemente de serem beneficiários de apoios no âmbito da PAC. Inicialmente foi criado o Sistema de Aconselhamento Agrícola (SAA)212, corporizado por serviços de aconselhamento agrícola, destinados a pessoas singulares ou coletivas que desenvolviam a atividade agrícola, e que visava fundamentalmente consciencializar e ajudar os agricultores a cumprirem as normas de uma agricultura sustentável, designadamente as relativas à condicionalidade, definidas no anexo II do Regulamento (CE) nº 73/2009 do Conselho, de 19 de janeiro.

O Sistema de Aconselhamento Agrícola teve por objetivo auxiliar e consciencializar os aderentes para o cumprimento dos requisitos legais relativos ao princípio da condicionalidade213 - “Semear conhecimento para produzir com sustentabilidade” -, nomeadamente nas áreas temáticas do ambiente, da saúde pública, das boas condições agrícolas e ambientais e, ainda, na área temática da segurança no trabalho. O trabalho desenvolvido pelos técnicos das organizações do sistema de aconselhamento agrícola complementou o trabalho dos inspetores do trabalho e das forças militares, tanto nas instalações das empresas como nas estradas portuguesas. Foram reconhecidas pela

212 O sistema de Aconselhamento Agrícola (SAA) foi criado pela Portaria n.º 353/2008, de 8 de maio, para efeitos do disposto no Regulamento (CE) n.º 1782/2003, do Conselho, de 29 de setembro.

213 No âmbito da PAC a condicionalidade pretende garantir que o agricultor, em todas as atividades agrícolas da exploração, cumpre uma série de requisitos nos domínios do ambiente, da saúde pública, saúde animal e fitossanidade e do bem-estar dos animais, além do cumprimento das boas condições agrícolas e ambientais. Em caso de incumprimento são reduzidos ou mesmo excluídos os apoios aos agricultores.

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Autoridade Nacional de Gestão do Sistema de Aconselhamento Agrícola (DGADR) 179 entidades, com cobertura a nível de Portugal Continental214, cuja equipa técnica efetuava o esclarecimento personalizado aos agricultores, tanto nas instalações das organizações como nas explorações agrícolas aquando das visitas efetuadas. De um modo geral, realiza-se pela entidade reconhecida visita à exploração agrícola, efetua-se diagnóstico preliminar, identificam-se os requisitos legais e as situações irregulares e propõem-se as medidas preventivas e corretivas. A entidade reconhecida permite o melhor acesso do agricultor à informação e às orientações prestadas pela Administração Pública, nomeadamente as relacionadas com SST, quer por emissão de alertas, quer pelo desenvolvimento de ações de informação/sensibilização no âmbito de campanhas, bem como a identificação de situações de incumprimento e a respetiva proposta de regularização. Este trabalho permite uma maior e melhor divulgação das obrigações legais em termos de SST, nomeadamente a necessidade de organização de serviços de SST, a utilização de instrumentos de aplicação legislativa, a gestão dos riscos associados às principais tarefas, o cumprimento de normas e procedimentos de trabalho seguros, a informação e formação de agricultores. Os técnicos responsáveis pelo aconselhamento agrícola devem, para esse efeito, ser detentores de informação e de formação para o desempenho dessa missão, no caso em apreço, terem conhecimentos relativos às obrigações legais e competências na área temática da segurança e saúde no trabalho agrícola, nomeadamente quanto à aplicação dos princípios gerais de prevenção e das normas específicas para a mecanização agrícola.215

214 Entidades (e respetivas entidades constituintes por si lideradas): Associação de Agricultores de Trás-os- Montes (AATM), Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), Associação Nacional dos Pequenos e Médios Agricultores (ANPEMA), Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (AGROBIO), Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo (ATEVA), Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (CONFAGRI), Confederação Nacional dos Jovens Agricultores e do Desenvolvimento Rural (CNJ), Federação da Agricultura de Trás-os-Montes e Alto Douro (FATA).

215 Indicadores de referência: 1 – desenvolver processos de avaliação de riscos profissionais; 2 – conceber e aconselhar a programação e o desenvolvimento de medidas de prevenção e de proteção; 3 -promover a informação e a formação dos agricultores, dos seus trabalhadores, dos trabalhadores sazonais e demais intervenientes nos locais de trabalho; 4 -desenvolver as relações da empresa com os organismos da rede de prevenção. O aconselhamento agrícola estende-se ainda a orientações relativas à aquisição de tratores agrícolas importados no estado de usados (documentação exigida, articulação necessária com IMT e DGADR, e alertas para erros mais comuns cometidos com as importações de tratores e de máquinas agrícolas, nomeadamente de tratores não homologados em Portugal, sem estruturas de proteção contra o risco de reviramento, com número de série distinto do emitido na fatura e de marcas não introduzidas no mercado nacional) e de tratores e máquinas agrícolas novas (documentação exigida: manual de instruções em português, marcação CE e declaração de conformidade) (www.confagri.pt, consulado em 2016.09.24).

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Em 2016 salienta-se a introdução da componente florestal no sistema de aconselhamento, que passa a designar-se Sistema de Aconselhamento Agrícola e Florestal (SAAF)216. No âmbito das competências atribuídas à Autoridade Nacional de Gestão (DGADR) desenvolve-se novo processo de reconhecimento das entidades prestadoras do serviço de aconselhamento agrícola e florestal, disponibilizando-se as normas técnicas de procedimento para efeitos de reconhecimento das entidades prestadoras do Serviço de Aconselhamento Agrícola e Florestal, integrando-se, assim, os aspetos inovadores consagrados no Regulamento n.º 1306/2013, do Parlamento Europeu e do Conselho. Com o novo SAAF alarga-se o aconselhamento aos setores de atividade agrícola, pecuária e florestal, contemplando-se novas áreas temáticas, tais como as práticas benéficas para o clima, a manutenção da superfície explorada, as medidas a nível da exploração previstas nos programas de desenvolvimento rural e, ainda, a qualificação e formação regular dos conselheiros, que poderão ser enquadradas nos instrumentos de financiamento da UE217, a fim de garantir a eficiência e a qualidade do sistema. Assim, a partir de 2016 o SAAF passou a contemplar as seguintes áreas temáticas:

 condicionalidade;

 segurança no trabalho, que abrange as normas definidas na legislação comunitária e nacional relevante aplicável;

 utilização sustentável de produtos fitofarmacêuticos;

práticas agrícolas benéficas para o clima e o ambiente (Greening);  manutenção da superfície agrícola;

 medidas de proteção à qualidade da água;

 medidas ao nível da exploração agrícola ou florestal.

A articulação e o trabalho conjunto entre os organismos do poder central (ACT, DGS, ANSR, DGADR, DGAV e ICNF) e o sistema de aconselhamento agrícola (organizações de produtores dos representantes de empregadores) potenciam importantes sinergias para a promoção de locais de trabalho dignos e seguros e, dessa forma, para a redução da sinistralidade, designadamente no desenho e implementação de campanhas de segurança e saúde que, para além da informação e

216 O sistema de Aconselhamento Agrícola e Florestal (SAAF) foi criado pela Portaria n.º 151/2016, de 25 de maio. O presente diploma procura garantir a articulação com esse âmbito, introduzir a componente florestal no sistema de aconselhamento, abrir o reconhecimento como entidades prestadores de serviços de aconselhamento a pessoas coletivas de natureza pública e privada, estabelecer as regras do procedimento tendo em vista o reconhecimento das entidades prestadoras do serviço de aconselhamento, bem como as relativas ao acompanhamento das entidades reconhecidas.

217 O sistema de aconselhamento pode ser objeto de financiamento através da medida «Serviços de aconselhamento» prevista no Regulamento (UE) n.º 1305/2013, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de dezembro, traduzida no Programa do Desenvolvimento Rural do Continente (PDR 2020) na ação 2.2, «Aconselhamento», integrada na medida 2, «Conhecimento».

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formação dos produtores agrícolas e florestais, devem também considerar a possibilidade de atribuir competências em segurança e saúde no trabalho aos técnicos responsáveis pelo serviço de aconselhamento agrícola e florestal. Quando questionado sobre a intervenção da ACT218 face à sinistralidade típica nos setores agrícola, pecuário e florestal, o Inspetor Geral, Eng.º Pedro Nuno Pimenta Braz, referiu:

A forma de intervenção mais adequada será a materializada pelo desenvolvimento de campanhas envolvendo parceiros sociais e institucionais que abranjam componente de informação/sensibilização e visitas inspetivas a locais de trabalho. Se as campanhas forem direcionadas às áreas geográficas, às causas e circunstâncias, ao tipo de empresas e aos trabalhadores envolvidos nos acidentes, podem constituir uma boa forma de promover o cumprimento da legislação em matéria de segurança e saúde no trabalho, de divulgar boas práticas, nomeadamente pelo envolvimento dos diferentes atores da segurança e saúde, de dinamizar as redes preventivas, tanto a nível local, regional e nacional e, assim, reduzir os acidentes e as doenças associadas ao trabalho.

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