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territorial, onde aconteceu o acidente, desde que tenha tido conhecimento no próprio dia da ocorrência.

Caso contrário, a elaboração do inquérito compete ao serviço desconcentrado da área de competência territorial do estabelecimento (ou da sede se inexistirem estabelecimentos) ao qual se referenciam a atividade, o trabalho ou as tarefas que estavam a ser executadas (ACT, 2015a). A comunicação pode também ser efetuada pela participação ao organismo competente por outras entidades, designadamente o Ministério Público, as forças de segurança (GNR, PSP), as entidades que promovam operações de socorro e salvamento de vítimas (Bombeiros, INEM, Hospitais), ou ainda, tomar conhecimento da ocorrência do acidente de trabalho por outras vias, desde o serviço informativo à comunicação social. Na comunicação de acidente de trabalho que evidencie uma situação particularmente grave, deverão ser seguidas as referências especificadas pelo Reporting of Injuries, Diseases and Dangerous Occurrences Regulations (RIDDOR) de Londres (Health and Safety Executive, 2013). A “situação particularmente grave” é considerada a nível da gravidade da lesão e/ou do tipo de “evento que assuma uma situação de particular gravidade” na perspetiva da segurança e saúde no trabalho, mesmo que não provoque vítimas. Assim, e a título exemplificativo devem ser considerados casos de lesão física grave e, por isso, comunicados:

 qualquer fratura à exceção dos dedos das mãos ou dos pés;

 amputação de braço, mão, dedos, perna e pé;

 perda temporária ou permanente da visão;

 lesão na cabeça ou no tronco que provoque danos cerebrais ou danos nos órgãos internos do peito ou abdómen;

 qualquer queimadura (incluindo escaldão) que:

 atinja mais de 10% do corpo; ou

 provoque danos significativos nos olhos, sistema respiratório ou outros órgãos vitais;

 qualquer grau de lesão do couro cabeludo que requeira tratamento hospitalar;

 perda de consciência causada por lesão na cabeça ou asfixia; ou

 qualquer outro dano resultante de trabalhos em espaço confinado que:

 conduza à hipotermia, à hipertermia; ou

 à perda de consciência, que implique necessidade de reanimação.

207 Construção - Decreto-Lei n.º 273/2003, de 29 de outubro, artigo 24.º, n.º 1; pesca - Decreto-Lei n.º 116/97, de 12 de maio, artigo 8.º, n.º 1; indústria extrativa - Decreto-Lei n.º 324/95, de 29 de novembro, artigo 9.º, n.º 1.

208 Quanto aos casos que evidenciem particular gravidade na perspetiva da segurança e saúde no trabalho, mesmo que não provoquem vítimas, devem, a título exemplificativo, ser comunicados:

 colapso, reviramento ou falha dos equipamentos de elevação de cargas das peças ou acessórios de suspensão da carga;

 explosão, colapso ou rebentamento de qualquer recipiente fechado ou das tubagens associadas;

 contacto acidental de instalação ou equipamento com linhas elétricas aéreas;

 curto-circuito ou sobrecarga elétrica que cause fogo ou explosão;

 qualquer explosão involuntária, falha de tiro (em pedreiras, trabalhos de desmonte,...), falha na demolição que não cause o colapso pretendido, projeção de material para além dos limites do local;

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específica pelo que deve ser atendida a legislação geral. No entanto, o acidente que assuma particular gravidade para a segurança e saúde deve ser investigado e analisado pelo empregador de forma a serem identificadas as prováveis falhas do sistema de prevenção, definidas as adequadas medidas preventivas e corretivas e inserido, tanto na informação como na formação aos trabalhadores, o conhecimento retirado, para a eficaz promoção da segurança e da saúde no trabalho.209

A lesão que provoque ausência do trabalho num período até 3 dias, ou que nesse período incapacite o trabalhador de assegurar cabalmente as suas normais funções não deve ser integrada na noção de acidente grave.210 Por este motivo, o acidente de trabalho que não estando inserido nas situações de particular gravidade anteriormente descritas, e do qual resulte lesão que provoque ausência de trabalho num período até 3 dias, não precisa ser comunicado ao organismo competente.

 falha do equipamento de radiografia industrial ou de outros equipamentos que emitam radiações, bem como falha na retoma da sua posição segura após o período pretendido de exposição;

 mau funcionamento de aparelho de respiração quando em uso ou durante a fase de teste imediatamente antes do seu uso;

 falha ou danificação de equipamento de mergulho, aprisionamento de um mergulhador, explosão perto de um mergulhador ou uma ascensão descontrolada;

 colapso total ou parcial de um andaime (incluindo plataformas de trabalho e equipamentos ou estruturas similares);

 colapso total ou parcial de um andaime que esteja instalado perto da água se houver risco de afogamento após a queda;

 falha em equipamento transportador, ou colisão ou descarrilamento inesperado de carros ou comboios;

 ocorrência perigosa em poços, fossas e depósitos;

 ocorrência perigosa em tubagens e canalizações (oleoduto, gasoduto, etc.);

 colisão ou capotamento de camião cisterna que transporte substâncias perigosas, com ou sem libertação de substância ou incêndio;

 incêndio ou libertação de substância perigosa transportada por estrada;

 colapso inesperado de edifício ou estrutura em construção, em alteração ou em demolição;

 colapso de uma parede ou soalho de um local de trabalho;

 explosão ou incêndio que cause a suspensão do trabalho normal por mais de 24 horas;

 libertação repentina e descontrolada de:

 100 quilogramas ou mais de um líquido inflamável;

 10 quilogramas ou mais de um líquido inflamável acima de seu ponto de ebulição; ou

 10 quilogramas ou mais de um gás inflamável; ou

 500 quilogramas destas substâncias se a liberação ocorrer a céu aberto;

 libertação acidental de alguma substância que cause dano à saúde.

209 Em cumprimento do disposto nas alíneas l) e m) do n.º 1 e n.º 2, do art.º 18.º, da Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro, na redação atual.

210 Do confronto do art.º 18º, n.º 1, alínea l), com os art.º 14º, n.º 2, da Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro, na redação atual; art.º 24º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 273/2003, de 29 de outubro; e art.º 10º, n.º 1, alínea e), do Decreto-Lei n.º 102/2000, de 10 de setembro, resulta que em ambas as situações corresponde uma noção que só pode ser considerada distinta pela diferente previsão da própria Lei.

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No entanto, esse acidente deverá ser investigado e analisado pelo serviço de segurança e de saúde da organização, nomeadamente para efeitos de aprendizagem organizacional, devendo conduzir à tomada de medidas preventivas ou mesmo protetoras e à elaboração/alteração de normas e procedimentos de trabalho seguros. Assim, todos os acidentes, quer sejam mortais, graves ou que provoquem ausência de trabalho num período até 3 dias, devem ser investigados e analisados convenientemente para que deles se retire o desejado conhecimento e não sejam somente elaborados relatórios em cumprimento da lei, muitas vezes com carência de conteúdos, de resultados e de medidas preventivas que pouco ou nada contribuem para a eficaz promoção da melhoria das condições de trabalho. Por outro lado, todos os acidentes devem ser inseridos nas estatísticas decorrentes da lei, ou seja, são relevantes para a lista de acidentes de trabalho de que a empresa deve dispor sendo, de acordo com os padrões da OIT, relevantes para integrar o universo de sinistralidade laboral comparável na UE.

A análise do acidente, seja efetuada pela ACT, seja pelo serviço de segurança e saúde (independentemente da modalidade adotada) serve essencialmente para compreender o que esteve na origem do acidente (onde, como e com quem ocorreu), para contribuir para o aprofundamento e a melhoria do conhecimento científico que poderá ajustar os sistemas de prevenção e prevenir, através da aprendizagem organizacional, acidentes futuros, quer em situações semelhantes, quer dissemelhantes. De acordo com Haslam et.al (2005), muitos dos relatórios de acidente apresentam escassez de conteúdos necessitando de ser objeto de análise e investigação mais apurada para que sejam atingidos os objetivos da sua realização.

Para Rivero et.al (2007) a falta de peritos em prevenção de riscos profissionais nos setores agrícola, pecuário e florestal, quer na rede de prevenção privada, quer na própria administração pública, dificulta a colocação em prática de planos de atuação e, assim, a eficácia dos sistemas preventivos. Para além dos recursos humanos e materiais, constitui para a OIT (2006) grande preocupação a formação adequada dos atores no domínio da saúde e da segurança, em especial para setores de atividade que desenvolvam tarefas envolvendo riscos e condicionalismos específicos, como são os setores agrícola, pecuário e florestal. Para esse efeito, torna-se fundamental que os inspetores do trabalho, os técnicos responsáveis pela prevenção de riscos profissionais e outros atores tenham conhecimentos e competências específicos em segurança e saúde no trabalho agrícola, pecuário e florestal em especial em matéria de riscos emergentes associados a novas tecnologias (Comissão Europeia, 2014: 10). A eficácia da inspeção do trabalho e da implementação de adequadas medidas preventivas que permitam a redução do número e da gravidade dos acidentes de trabalho na agricultura, pecuária e floresta depende em grande medida das competências e da capacidade dos inspetores do trabalho211, dos técnicos de prevenção do sistema nacional de

211 A formação inicial ministrada aos inspetores do trabalho é composta por dois momentos formativos distintos: o teórico, com 390 horas, das quais 72 horas pertencem ao módulo específico sobre segurança e saúde no trabalho, e o prático, em contexto de trabalho com 1020 horas, compreendendo visitas inspetivas

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prevenção, bem como da adequada articulação com os agentes da autoridade de segurança rodoviária e com os técnicos responsáveis pelo aconselhamento agrícola e florestal.

Atualmente os maiores desafios dos sistemas da administração e inspeção do trabalho são, nomeadamente, a grande velocidade com que se estão a processar as transformações económicas, institucionais, demográficas e políticas, as mudanças nos modelos produtivos e na organização do trabalho, as alterações nas estruturas e nas relações de emprego, a migração laboral, o deslocamento de empresas, o destacamento de trabalhadores, a externalização da produção e a expansão da economia informal. Para enfrentar estes desafios a administração do trabalho deve adaptar-se, preparar-se e modernizar-se, com a aplicação de métodos de governação e de gestão eficientes e eficazes, e criar alianças tripartidas com instituições e atores, sem nunca negligenciar o respeito pelos valores do Estado de direito, o diálogo social, o interesse público, a democracia, a equidade, responsabilidade e transparência.

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