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estabelecimento inseguro é ineficiente; ii – o custo direto, para o empregador, resultante do pagamento das

3.4.2 M ÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO

Apresentados de forma sumária os modelos teóricos de acidentes passamos agora para os métodos de investigação e análise de acidentes cuja seleção deve ser adequada à atividade e à realidade das condições de trabalho para garantir a eficaz seleção e aplicação das medidas preventivas e corretivas.251 A este propósito deixamos um exemplo concreto relativo à inadequada aplicação de modelo concetual no setor de atividade da construção civil que deverá merecer adequada reflexão nesta investigação. Segundo Trinquet (1996, apud Roxo, 2009) a principal razão para a ineficácia da prevenção dos acidentes na construção civil em França, residia na aplicação do modelo tradicional, baseado numa sequência linear de identificação de fatores de risco, de caraterização do risco e de definição das medidas de proteção. Segundo este autor o modelo tradicional mostrou-se insuficiente para acompanhar a evolução das condições do trabalho no setor, identificando as principais limitações nos domínios dos perigos mecânicos ou físicos e dos atos inseguros. A aplicação mecânica desse modelo nesse setor de atividade não permitiu ultrapassar as dificuldades resultantes da grande variabilidade das situações de trabalho e dos desafios criados pelas recentes mutações e, ainda, da atividade concreta e singular dos atores da segurança e saúde e da forma como estes se relacionam e apropriem da rede preventiva, quer a nível interno quer externo. De entre os métodos de investigação e análise de acidentes optou-se por efetuar a descrição do método/processo RIAAT por ser um método com capital científico português, ser utilizado pelo organismo com competências na matéria, por fazer cumprir com a legislação, utilizar a codificação das estatísticas europeias de acidentes de trabalho e permitir a inserção da aprendizagem organizacional no processo produtivo. Em Portugal o RIAAT – Registo, Investigação e Análise de Acidentes de Trabalho constitui um processo que possui um modelo de acidentes de trabalho embutido – modelo de acidente organizacional proposto por Reason. O processo RIAAT (figura 3.6) integra o ciclo completo da informação do acidente de trabalho, desde o registo à aprendizagem organizacional, constituindo uma ferramenta valiosa para o registo e para a aplicação do método, bem como para o cumprimento dos requisitos legais. Durante a aplicação do processo é acrescentado valor porquanto de um acontecimento inesperado e acidental (input – acidente de trabalho) é esperado como output a melhoria contínua na organização, nomeadamente pela proposta de medidas/barreiras preventivas (Jacinto et.al, 2010).

251 De entre os mais utilizados na investigação e análise de acidentes destacam-se os seguintes métodos: Arvore de Causas (INRS) http://www.inrs.fr/), o Investigating Accidents and Incidents ‐ Manual do Utilizador - Guidance HSG245 (HSE, 1995) (http://www.hsebooks.com/Books/), 3CA (Control Change

Cause Analysis) ‐ Manual do Utilizador publicado pelo NRI (http://ww.nri.eu.com), WAIT (Work

Accidents Investigation Technique) ‐ Análise de Acidentes de Trabalho (http://www.dashofer.pt), RIAAT – Registo, Investigação e Análise de Acidentes de Trabalho (http://www.mar.ist.utl.pt/captar/).

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Figura 3. 6 Ilustração do processo RIAAT

Fonte: adaptado de Jacinto et.al (2010)

Da apreciação do processo pode referir-se que o RIAAT envolve 4 atividades principais: Parte I - o registo dos dados do acidente, contendo informação atinente ao sinistrado, ao acidente e à lesão que, ao integrar a metodologia das Estatísticas Europeias de Acidentes de Trabalho (EEAT) permite, por harmonização das variáveis, a análise comparativa entre as estatísticas de acidentes de trabalho e facilita a correspondência à notificação oficial enviada para as entidades legalmente autorizadas, para as quais o empregador tenha transferido a responsabilidade pela reparação do acidente de trabalho (seguradora);252

Parte II - a investigação e a análise constituem passos importantes do processo, por permitirem identificar e registar as causas relevantes e os fatores que para elas contribuíram. Enquanto os fatores podem ser mensuráveis e objetivos, a interpretação das causas e das falhas que provocaram o acidente (falhas ativas) e também das que facilitaram a sua ocorrência (falhas passivas) é subjetiva. Para o efeito, recomenda-se a realização prévia de entrevistas, nomeadamente às vítimas (acidente de trabalho graves), às testemunhas, às chefias, aos responsáveis de segurança e saúde que, apesar do elevado cariz subjetivo, permitem a recolha de informação valiosa à decisão do nível de investigação a realizar, em função dos custos, uma vez que nem todos os acidentes oferecem oportunidade de aprendizagem. Nesse sentido o método propõe 3 níveis de decisão: básico, médio e aprofundado.253Nesta fase do processo são investigados e analisados os fatores individuais contributivos (FIC), os fatores do local de trabalho (FLT) e os fatores organizacionais e de gestão (FOG) com o objetivo de serem estabelecidos para cada fator as medidas/barreiras

252 Da análise do instrumento proposto neste processo (impresso) verifica-se que na parte I – Registo – são codificadas, de acordo com a metodologia EEAT, as seguintes variáveis: do sinistrado – idade, sexo, nacionalidade, profissão, situação profissional; do acidente: hora, data, tipo de local, desvio, agente material do desvio, contato – modalidade da lesão, agente material da modalidade da lesão; da lesão: tipo de lesão, parte do corpo atingida e dias perdidos. O registo deve ser assinado pelo empregador ou seu representante, sinistrado e responsável de segurança e saúde no trabalho.

253 O método RIAAT propõe uma árvore de decisão para o nível de investigação, podendo assim serem definidos 3 níveis de investigação: básico (acidente que provoque lesão ligeira/ superficial, sem ausência ao trabalho e com baixo potencial de aprendizagem – somente parte I e III), médio (acidente que provoque lesão ligeira/ superficial, sem ausência ao trabalho mas com alto potencial de aprendizagem ou acidente que provoque ausência ao trabalho e com baixo potencial de aprendizagem – ajustar parte II às necessidades) e aprofundado (acidente que provoque ausência ao trabalho e com alto potencial de aprendizagem ou acidente mortal ou grave com alto potencial de aprendizagem – processo completo).

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preventivas adequadas a evitar acontecimentos futuros, tanto em situações semelhantes como dissemelhantes. Para efeito de codificação a autora do processo RIAAT adaptou o esquema de classificação do método WAIT – Work Accidents Investigation Tecnhnique (Jacinto, 2005). Com o intuito de verificar se as falhas identificadas podem ser consideradas incumprimentos ou omissões e, ainda, sinalizar as necessidades de correções ou mesmo de esclarecimentos às entidades fiscalizadoras, o processo dispõe de uma seção relativa aos fatores legais, que visa assegurar o cumprimento dos requisitos previstos na legislação aplicável. De acordo com o proposto na árvore de decisão, o processo ajusta-se ao cumprimento da obrigação legal relativa aos acidentes de trabalho de que resulte a morte ou a lesão grave do trabalhador mas deixa algumas dúvidas quanto aos acidentes que assumam particular gravidade somente na perspetiva da segurança e que não provoquem lesão efetiva no trabalhador. Em nossa opinião, e atendendo ao alto potencial de aprendizagem, estes acidentes devem ser considerados num nível de investigação aprofundado, de forma a cumprir com a legislação de SST; 254

Parte III - a definição de um plano de ação, que visa corrigir e melhorar fatos da organização para evitar acontecimentos futuros. Esta parte do processo envolve duas etapas: verificação da avaliação de riscos, para assegurar se a avaliação de riscos efetuada está completa ou se necessita de melhoria/revisão, nomeadamente quanto à identificação dos perigos e à análise dos riscos associados, e estabelecimento do plano de ação adequado à realidade técnica, económica e social da organização, na medida do razoavelmente praticável, onde serão definidas quais as ações específicas, quem as implementa, quanto custam e, ainda a sua priorização e calendarização de implementação, de forma a prevenir ou controlar as falhas ativas e latentes;255

254 Os fatores individuais contributivos (FIC) foram adaptados de Hollnagel e seguem a taxonomia proposta por Reason (1990) que, por serem mutuamente exclusivos apenas permitem a aplicação de um código para o ato inseguro: erro (deslizes/lapsos ou enganos) ou violação. Com os fatores do local de trabalho (FLT) pretende-se identificar quais os que, de forma direta ou indireta, possam ter contribuído para o acontecimento em análise e encontrar as adequadas medidas/barreiras preventivas. Tal como afirmado por Reason (1997) as falhas latentes são as mais difíceis de detetar, uma vez que isoladamente apresentam uma probabilidade reduzida para provocar o acidente de trabalho. Os fatores organizacionais e de gestão (FOG) pretendem identificar as fraquezas organizacionais e de gestão que possam ter facilitado, quer os fatores individuais contributivos, quer os fatores do local de trabalho anteriormente referidos. Os FOG permitem verificar a existência de deficiências e insuficiências, desde a gestão de topo, a procedimentos e regras, a fatores técnicos, à formação e competência e ainda, aos fatores específicos de segurança e saúde, possibilitando a definição de caminhos ou ajustes no sistema que permitam a melhoria da gestão da segurança, bem como o seu controlo e monitorização, de forma a satisfazer o cumprimento da legislação de SST. A investigação e análise devem ser assinadas pelo investigador e revisor ou líder da equipa de investigação e análise.

255 Por aplicação do princípio ALARP – As Low As Reasonably Practicable – para redução do risco a um ponto tão baixo quanto o praticável ou por consideração da sugestão HSE - Health and Safety Executive – para implementação de um plano SMART – Specific, Agreed, Realistic and Timescaled (Jacinto et.al,

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Parte IV – o conhecimento resultante da investigação e análise efetuada na parte II é inserido no processo preventivo da organização e disseminado através da aprendizagem organizacional. Com as duas tarefas principais “lições aprendidas/discussão” e “disseminação/difusão” pretende-se que o conhecimento produzido, resultante da análise do “problema-solução” seja disponibilizado, discutido e utilizado, de forma a trazer à organização um valor acrescentado. A aprendizagem organizacional em matéria de SST constitui o verdadeiro valor acrescentado do processo que contribui para a melhoria contínua. O conhecimento extraído deve ser aplicado na implementação/ajuste das políticas de gestão da segurança e no desenvolvimento de estratégias, que promovam mudanças, nomeadamente na organização e na gestão, nos locais de trabalho e nos comportamentos e práticas, tanto das chefias como dos trabalhadores. O processo prevê uma etapa para definição dos públicos-alvo e escolha dos melhores meios e canais de comunicação para divulgação da aprendizagem, tanto no interior como no exterior da organização, para prevenção de futuros acidentes.256

Uma das questões pertinentes a colocar é a seguinte: sabendo que a maioria dos modelos apresentados tem já estudada a eficácia em determinados setores de atividade, designadamente o método RIAAT, baseado no modelo dos acidentes organizacionais de Reason, cuja aplicação está estudada para a indústria, que método e modelo a aplicar nos setores de atividade económica da agricultura, produção animal e silvicultura?

3.5.SÍNTESE

Para a construção de locais de trabalho dignos e seguros nos setores de atividade económica da agricultura, pecuária e floresta torna-se fundamental compreender as características, especificidades e condicionalismos onde são desenvolvidas as tarefas, nomeadamente, organizativas, ambientais, humanas e técnicas. Apresentados as características, especificidades e condicionalismos passou-se à análise dos fatores de risco profissional associados aos trabalhos desenvolvidos, tendo-se para o efeito apresentado exemplos de tarefas e de riscos a que os trabalhadores ficam expostos. De entre os riscos destacou-se pela importância e magnitude nos índices de sinistralidade os riscos associados à utilização de tratores e de máquinas agrícolas e florestais. As opções legislativas, tanto a europeia como a nacional, poderão também ter contribuído como fator de risco, nomeadamente quanto à ausência de legislação específica para a agricultura, pecuária e floresta e à obrigatoriedade

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