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Ações judiciais preventivas: suspensão da exigibilidade antes da constituição

3. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

3.3. Pragmática da suspensão da exigibilidade

3.3.3. O juiz:

3.3.3.1. Ações judiciais preventivas: suspensão da exigibilidade antes da constituição

Aqui nossas atenções se voltarão para os casos de ações judiciais com caráter preventivo, ou seja, demandas ajuizadas antes da constituição do crédito tributário.

Em síntese, nesse tópico procuraremos responder a seguinte questão: é

possível suspender a exigibilidade antes da constituição do crédito tributário?

Convém relembrar que dentro das premissas adotadas nesse trabalho, não há obrigação tributária sem crédito tributário. Os avanços no estudo do direito tributário, pautado no aprofundamento de categorias da teoria geral do direito, faz com que as noções de obrigação e crédito sejam necessariamente vistas conjuntamente.

Além disso, dentro da premissa de que o direito é constituído por meio de linguagem competente, não cabe falarmos de obrigação nem crédito tributário sem que haja o ato de produção normativa, seja pelo lançamento do sujeito ativo, seja pelo autolançamento do sujeito passivo.

Dessa forma, gera certo desconforto admitir que é possível ser inserida

norma de suspensão no sistema antes mesmo de haver a norma do crédito. Afinal,

como seria possível suspender algo que sequer existe?

Por conta disso, alguns autores153, que compartilham a premissa de que não há obrigação sem crédito, entendem que não é possível falar de suspensão da exigibilidade do crédito tributário antes de sua constituição.

153 Entre esses autores destacamos EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI: “Sem crédito tributário

lançado ou crédito tributário instrumental constituído não há que se falar em suspensão de exigibilidade. A exigibilidade pressupõe o suporte linguístico-existencial do crédito tributário”. SANTI,

Eurico Marcos Diniz de. Lançamento Tributário. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 144. Em sentido semelhante: “O ato de lançamento tributário, devidamente notificado ao contribuinte, confere existência ao crédito tributário. E o termo de existência não é impedido ou postergado por qualquer das causas suspensivas da exigibilidade do crédito tributário. Pelo contrário: para que possamos falar na suspensão da exigibilidade do crédito tributário é necessário que exista o crédito a ser suspenso. O fato suspensivo da exigibilidade do crédito tributário produz a paralisação da incidência de normas

Contudo, essa conclusão não nos parece ser adequada se considerarmos que o direito positivo opera não somente no campo concreto, mas também no campo abstrato.

Em outras palavras, não é preciso que o crédito exista como norma individual e concreta para que haja outra norma com a finalidade de proibir a conduta de que o sujeito ativo a exija. Isso pode ser feito de forma hipotética, ou seja, por meio de norma abstrata.

Sendo assim, concluímos pela possibilidade de que a norma de

suspensão seja inserida no sistema antes da constituição do crédito. E isso é

possível por meio de norma de suspensão individual e abstrata.

No entanto, ressalvamos que essa conclusão somente faz sentido para algumas das hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, previstas no art. 151 do CTN.

Quando houver moratória (Art. 151, I, do CTN); reclamações ou recursos administrativos (Art. 151, III, do CTN) e parcelamento (Art. 151, VI, do CTN), necessariamente o crédito tributário já deverá estar constituído.

O motivo disso é porque tais providências serão sempre cronologicamente posteriores à constituição do crédito tributário, seja pela autoridade administrativa, seja pelo próprio contribuinte (autolançamento).

Atente-se que a afirmação feita acima é válida mesmo nos casos que a lei que instituir o programa parcelamento prever expressamente a possibilidade de inclusão de créditos constituídos ou não154.

voltadas à efetivação do direito de o sujeito ativo exigir os valores do sujeito passivo.” (grifamos). TOMÉ, Fabiana Del Padre. Exigibilidade do crédito tributário: amplitude e efeitos de sua suspensão. In: Priscila de Souza (coord.). VII Congresso Nacional de Estudos Tributários: Direito Tributário e os conceitos de direito privado. São Paulo: Noeses, 2010, p. 378.

Quando isso ocorre, para que o contribuinte possa incluir os débitos no parcelamento, logicamente terá que constituí-los anteriormente para que esses possam ser devidamente consolidados.

Sendo assim, a questão da possibilidade de suspensão da exigibilidade do crédito tributário anterior a sua constituição se restringe apenas às hipóteses de concessão de liminar em mandado de segurança e em tutela antecipada (Art. 151, incisos IV e V do CTN)155 e no caso de depósito do montante integral (Art. 151, I, do CTN).

O que é interessante notar é que essas três causas de suspensão da exigibilidade somente surgem quando há processo judicial em andamento, ou seja, necessariamente há um juiz lidando com a discussão do suposto crédito tributário.

Ressalte-se que nesses casos, a questão se restringe apenas quando há medida liminar ou depósito no bojo de ação judicial preventiva, ou seja, antes da exigibilidade.

Essas hipóteses serão tratadas em tópicos específicos dentro dos capítulos que abordaremos cada uma dessas causas de suspensão da exigibilidade, para onde remetemos o leitor.

A seguir trataremos de outras questões que envolvem a relação entre o juiz e a norma de suspensão. Estamos falando na forma como esse utente da linguagem jurídica lida com os enunciados prescritivos sobre o tema, especialmente aqueles previstos no Código Tributário Nacional.

Isso porque, além de enumerar as causas da suspensão da exigibilidade do crédito tributário (art. 151), o CTN também traz outras disposições sobre o tema,

§ 1º O disposto neste artigo aplica-se aos créditos constituídos ou não, inscritos ou não em Dívida Ativa da União, mesmo em fase de execução fiscal já ajuizada, inclusive os que foram indevidamente aproveitados na apuração do IPI referidos no caput deste artigo.

155 Devido às semelhanças, os incisos IV e V do art. 151, do CTN serão tratados como se fossem

entre as quais destacamos: (i) exigência de lei para estabelecer hipóteses de suspensão (art. 97, VI); (ii) forma de interpretação das causas de suspensão (art. 111, I) e taxatividade das causas de suspensão (Art. 141).

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