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Relação entre moratória e parcelamento

4. PARCELAMENTO E MORATÓRIA

4.3. Relação entre moratória e parcelamento

A finalidade desse tópico é sintetizar o que foi exposto nos dois tópicos anteriores, respondendo objetivamente a seguinte questão: o parcelamento é

espécie de moratória?

Conforme já exposto anteriormente, dentro das premissas adotadas, a palavra “parcelamento” pode indicar tanto uma espécie de moratória como uma causa autônoma da suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Esse é o entendimento de CHRISTINE MENDONÇA196, que adotamos na íntegra.

Contudo, cabe registrar que a questão é controversa na doutrina e na jurisprudência.

Por exemplo, para HUGO DE BRITO MACHADO197, a inclusão no inciso VI do art. 151, CTN, “é mais uma inovação inteiramente inútil porque o parcelamento

nada mais é do que uma modalidade de moratória”. De forma semelhante,

LUCIANO AMARO198 também entende que “o parcelamento nada mais é do que

uma modalidade de moratória”.

196 MENDONÇA, Christine. O regime jurídico do programa de recuperação fiscal – Refis:

parcelamento stricto sensu, in: VERGUEIRO, Guilherme Von Müller Lessa (Coord.). Refis, aspectos

jurídicos relevantes. São Paulo: Edipro, 2001.

197 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 33 ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 192. 198 AMARO, Luciano da Silva. Direito tributário brasileiro. 11 Ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2005, p.

A questão também foi debatida na jurisprudência. Conforme se verifica no trecho da ementa abaixo, o STJ já proferiu decisão no sentido de que o parcelamento se trata de espécie de moratória:

TRIBUTÁRIO. COMPENSAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE A FOLHA DE SALÁRIOS. REMUNERAÇÃO A AUTÔNOMOS E ADMINISTRADORES. CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO PARCELADO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES.

(...)

4. Analisando-se a sistemática do CTN, tem-se o seguinte raciocínio: parcelamento como obtido pela embargante é modalidade de moratória (art. 152 e segs.); a moratória suspende a exigibilidade do crédito tributário;

a certidão de que conste a suspensão do crédito tributário equipara-se 'ou tem os mesmos efeitos', à CND (art. 206, c/c o art. 205) culminando na inarredável conclusão, que se aplica ao caso em apreço, de que quem obteve parcelamento de seus débitos tem direito à obtenção de certidão, nos termos do art. 206, do CTN.

(...)

7. Embargos de Divergência providos.

(EREsp 137388/RS, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 23/09/1998, DJ 23/11/1998, p. 113) (Destacamos)

Contudo, algumas observações devem ser feitas sobre essa decisão acima citada.

Em primeiro lugar, destaca-se que a decisão é anterior à edição da LC 104/2001. Logo, de fato nessa época não havia previsão legal de parcelamento em sentido estrito como causa de suspensão da exigibilidade. Antes do advento da LC 104/2001 somente poderíamos falar de moratória parcelada, que realmente é uma espécie de moratória.

Em segundo lugar, a fundamentação não afasta a possibilidade de existir o parcelamento em sentido estrito. Isso fica claro quando o julgador utiliza a expressão destacada: “parcelamento como obtido pela embargante”, que denota a conclusão que naquele caso particular seria caso de moratória parcelada.

No entanto, há no STJ decisões proferidas após o advento da LC 104/2001, afirmando que o parcelamento é espécie de moratória, sem indicar a possibilidade de existência de parcelamento em sentido estrito. A título de exemplo, segue abaixo a seguinte ementa:

TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. INSS. EXIGÊNCIA DE GARANTIA PARA EXPEDIÇÃO DE CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO. CRÉDITO SUSPENSO. PARCELAMENTO REGULAR. DIREITO DO CONTRIBUINTE À CERTIDÃO POSITIVA COM EFEITOS DE NEGATIVA.

1. "O parcelamento, que é espécie de moratória, suspende a exigibilidade do crédito tributário (CTN, art. 151, I e VI). Tendo ele sido

deferido independentemente de outorga de garantia, e estando o devedor cumprindo regularmente as prestações assumidas, não pode o Fisco negar o fornecimento da certidão positiva com efeitos de negativa" (Precedente: Resp nº 833.350/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 07.08.2006). 2. A existência de débito tributário, ainda que objeto de regular parcelamento, não dá ao contribuinte o direito de obtenção de Certidão Negativa de Débito (CTN, art. 205). Nessa situação, a certidão a ser expedida é a prevista no art. 206 do CTN – positiva com efeitos de negativa (REsp 716785/CE, 2ª T., Min. Castro Meira, DJ 07.11.2005).

3. Recurso especial a que se dá parcial provimento.

(REsp 703.245/CE, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/02/2008, DJe 03/03/2008) (Destacamos)

Pela leitura desse julgado, nota-se que ao indicar conjuntamente os incisos I e VI do art. 151 do CTN, o julgador parece corroborar o entendimento de que o ordenamento jurídico somente contém a hipótese de moratória parcelada, implicitamente refutando a hipótese de parcelamento em sentido estrito.

No entanto, é curioso notar que o próprio STJ, antes mesmo da edição da LC 104/2001, já tenha proferido decisão no sentido de que existe a figura do

parcelamento em sentido estrito, ou seja, que não se trata apenas de uma espécie

de moratória. Segue abaixo ementa que demonstra esse entendimento:

RECURSO ESPECIAL - MANDADO DE SEGURANÇA - ICMS - PARCELAMENTO E MORATÓRIA - DIFERENCIAÇÃO - LEI ESTADUAL DE SÃO PAULO N.º 6374/89, ART. 100 - OFENSA AO ART. 97, VI DO CTN.

I - O parcelamento do débito tributário é admitido como uma dilatação do prazo de pagamento de dívida vencida. Não quer isto significar que seja uma moratória, que prorroga, ou adia o vencimento da dívida, no parcelamento, incluem-se os encargos, enquanto na moratória não se cuida deles, exatamente porque não ocorre o vencimento.

(...)

(REsp 259985/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/08/2000, DJ 11/09/2000, p. 248) (Destacamos)

Inclusive, conforme se verifica no trecho destacado acima, o critério utilizado para caracterizar o parcelamento foi a incidência de encargos, enquanto na moratória isso não ocorreria porque não ocorre o vencimento, no mesmo sentido que argumentamos no tópico anterior.

Sendo assim, conforme já nos posicionamos ao longo desse capítulo, e respondendo objetivamente o questionamento proposto nesse tópico, o entendimento adotado é de que o parcelamento pode ser ou não uma espécie de moratória. Isso dependerá da observação das características de cada caso.

Em outras palavras, quando se refere à palavra “parcelamento” pode-se estar falando de moratória parcelada ou de parcelamento em sentido estrito. E os dois critérios que diferenciam essas figuras são os seguintes: (i) incidência de encargos financeiros sobre os valores das parcelas; e (ii) obrigatoriedade na fixação de prazo de duração do benefício199.

Na moratória parcelada não deve estar previsto o primeiro critério, mas deve estar previsto o segundo. Já no parcelamento em sentido estrito deve estar previsto o primeiro critério, mas não necessariamente haverá o segundo.

De qualquer forma, por conta do disposto no art. 155-A, §2º, do CTN, que determina a aplicação subsidiária das regras da moratória ao parcelamento, essas duas figuras podem ser estudadas conjuntamente, uma vez que possuem diversos pontos de conexão.

Por conta disso, passaremos a dispor no próximo tópico acerca dos efeitos da anulação do benefício, especialmente no que se refere à interferência no prazo prescricional.

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