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Semântica da suspensão da exigibilidade

3. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

3.2. Semântica da suspensão da exigibilidade

Nesse tópico adentraremos no campo semântico, com a finalidade de compreender e construir o significado dos vocábulos “suspensão”, “exigibilidade” e, consequentemente, da expressão “suspensão da exigibilidade”.

116 FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: técnica, decisão, dominação.

3.2.1. Que é “exigibilidade”?

O vocábulo “exigibilidade” tem como origem a cópula do radical “exig-” com o sufixo “-bilidade”117. Sendo assim, podemos começar o estudo da semântica do vocábulo “exigibilidade” pelo verbo “exigir”.

O verbo “exigir” denota o ato de requerer, reivindicar, impor, ordenar algo em face de alguém118. Por sua vez, a cópula do radical com o sufixo “-bilidade” transforma a palavra em substantivo e indica a ideia acessória de possibilidade de ser exigido.

Juridicamente, podemos dizer que exigibilidade se refere à possibilidade de a autoridade administrativa exercer coercitivamente seu direito subjetivo de cobrança do crédito tributário, ou seja, o exercício de seu direito de ação perante o Poder Judiciário.

Sendo isso considerado, aparece a seguinte dúvida: quando surge a exigibilidade do crédito tributário?

Para PAULO DE BARROS CARVALHO119 a exigibilidade surge com a

constituição do crédito, ou seja, na produção da norma individual e concreta pela Administração Pública (lançamento) ou pelo particular (autolançamento).

Por outro lado, para outros autores, como ALBERTO XAVIER120, JOSÉ

SOUTO MAIOR BORGES121 e FABIANA DEL PADRE TOMÉ122, a exigibilidade

somente surge com o vencimento do tributo.

117 Conforme ensina Evanildo Bechara, morfemas são a unidade mínima dotada de significação que

integra a palavra. Os morfemas são de dois tipos: (i) radical e (ii) afixos. Por sua vez, os afixos podem ser (i) prefixos, (ii) sufixos, e (iii) interfixos. Os sufixos são aqueles que se localizam após o radical, e tem como função formar uma nova palavra, emprestando ao radical uma ideia acessória e marcar a categoria gramática (substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, etc). BECHARA, Evanildo. Gramática

Escolar da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 494-498.

118 Conforme verbete do iDicionário online Aulete www.aulete.uol.com.br. Acessado em 09/09/2013 119 “Com a celebração do ato jurídico administrativo, constituidor da pretensão, afloram os elementos

básicos que tornam possível a exigência: (...). Feito isso, começa o período de exigibilidade”.CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 18 ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 454.

Como entendemos que a exigibilidade é a possibilidade de a Administração Pública exigir coercitivamente seu direito de receber o tributo, a posição aqui adotada será de que esta somente surge com o vencimento, que é o critério temporal da perinorma da regra-matriz de incidência tributária.

Nota-se, portanto, que a exigibilidade não surge com a constituição do crédito tributário. Isso porque, a inserção de norma individual e concreta no sistema não é suficiente para que a Fazenda Pública exerça seu direito subjetivo perante o Poder Judiciário.

Para isso deve ocorrer o prazo para pagamento, ou seja, o vencimento da obrigação. E o vencimento da obrigação não está na regra-matriz de incidência tributária, mas no critério temporal da sua respectiva perinorma.

Sendo assim, considerando a estrutura completa da norma jurídica, apresentada no item 1.3 desse trabalho, a exigibilidade do crédito tributário significa a vigência da perinorma do crédito tributário. Somente com o surgimento dos requisitos necessários para sua aplicação é que podemos falar em crédito exigível.

Podemos então definir como exigibilidade a possibilidade de o crédito tributário ser executado, isso é, ser efetuada a sua cobrança perante o Poder

120 “Antes do vencimento, a obrigação pode ser cumprida, mas não exigida”. XAVIER, Alberto. Do

lançamento: teoria geral do ato, do procedimento e do processo tributário. Rio de Janeiro: Forense,

1997, p. 425.

121 “(...) sendo a obrigação tributária uma obrigação a prazo, é este e não o lançamento, que

determina sua exigibilidade”. BORGES, José Souto Maior. Lançamento tributário. 2 ed. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 170.

122 “(...), a exigibilidade não surge lógica e cronologicamente no mesmo instante em que o ato

administrativo passa a existir no ordenamento: para que o sujeito ativo possa tomar as providências necessárias à cobrança do crédito tributário é imprescindível que se tenha operado o vencimento da prestação tributária. Somente quando concretizado esse fator estará o Fisco habilitado a cobrar o crédito tributário, mediante inscrição do débito na Dívida Ativa e o consequente ajuizamento da execução fiscal.”. TOMÉ, Fabiana Del Padre. Exigibilidade do crédito tributário: amplitude e efeitos de

sua suspensão. In: Priscila de Souza (coord.). VII Congresso Nacional de Estudos Tributários: Direito

Judiciário123. E isso somente ocorre após seu vencimento, ou seja, a partir do critério

temporal da perinorma da regra-matriz de incidência tributária.

A seguir passaremos a analisar o significado do vocábulo “suspensão”.

3.2.2. Que é “suspensão”?

O vocábulo “suspensão”, largamente utilizado no direito positivo, está intimamente relacionado à noção de tempo. Nesse sentido é que se fala em suspensão de prazos.

Além disso, a palavra “suspensão” também está relacionada à noção de procedimento, ou seja, como efeito que interfere no andamento de um desencadeamento de atos. Porém, mesmo nesse sentido, “suspensão” também está relacionada à noção de tempo, pois todo procedimento se desenvolve ao longo de determinado lapso temporal.

Tradicionalmente, diz-se que há diferença entre a interrupção e a

suspensão, principalmente no que se refere à interferência na contagem de prazos.

No primeiro caso, o prazo volta a ser contado integralmente quando cessa a causa que lhe deu origem. Já no segundo caso, a contagem é do tempo que ainda faltava, considerando o tempo decorrido antes da causa suspensiva124.

123 Como se verá mais adiante, não consideramos a inscrição em dívida ativa um ato de cobrança,

mas apenas um ato de controle de legalidade interno e de formação do título executivo extrajudicial. Além disso, a inscrição em dívida ativa é ato que dispensa a notificação do sujeito passivo, seja formalizada unilateralmente. Por esses motivos consideramos que do ponto de vista do sujeito passivo, após o vencimento o próximo ato de cobrança será o ajuizamento da ação de execução fiscal.

124 “A diferença entre suspensão e interrupção é comumente referida quando se trata da contagem de

prazos: considere-se que exista uma prazo de 3 anos para que um sujeito exerça um direito e este prazo seja interrompido após 2 anos; cessada a razão para a interrupção, o prazo de 3 anos recomeça do início; se fosse o caso de suspensão de prazo, uma vez cessada a causa da suspensão, restaria apenas um ano para o exercício daquele direito. Noutras palavras: a suspensão causa um vácuo temporal na relação jurídica, cessada a causa da suspensão, retoma-se a relação jurídca do ponto em que estava anteriormente”. SHOUERI, Luis Eduardo. Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 574.

Já no que diz respeito a procedimento, o vocábulo “suspensão” traz a ideia de paralisação provisória do encadeamento de atos. Ou seja, proíbe-se a edição dos atos subsequentes após o ato que declara a suspensão do procedimento.

Feitas essas considerações sobre as noções de exigibilidade e

suspensão, já estamos aptos a atribuir o significado da expressão suspensão da exigibilidade.

3.2.3. Definição de “suspensão da exigibilidade”

Conforme expusemos acima, a exigibilidade está relacionada à possibilidade de cobrança do crédito tributário pela autoridade administrativa, que somente surge após o vencimento do crédito tributário. Isso quer dizer a possibilidade de aplicação coercitiva da perinorma e norma secundária, que é o mesmo que falar em sua vigência.

Já a suspensão nada mais é do que fato jurídico que tem como efeito paralisar o encadeamento de atos praticados pelo sujeito ativo, que fica proibido de provocar o próximo ato subsequente. Em outras palavras, a noção de suspensão está relacionada com a noção de tempo e procedimento.

Então, para que a autoridade administrativa possa cobrar o crédito tributário é preciso que ela observe dois aspectos: (i) tempo e (ii) procedimento.

O tempo para exercício da cobrança judicial do crédito tributário está relacionado com o prazo prescricional. Temos então que isso diz respeito à forma que o sujeito ativo da obrigação tributária deve agir perante a norma de suspensão. Esse tema será tratado no item 3.3.2.3.

Em relação ao aspecto do procedimento da cobrança, podemos dizer o tema se relaciona com a “vida” do crédito tributário, conforme explicado no item 2.2.2.

Dessa forma, considerando a cobrança sob o aspecto de procedimento, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário teria como efeito impedir o prosseguimento de uma fase para a outra.

E isso ocorre com a proibição de execução da perinorma e da norma

secundária da norma do crédito. Essa proibição consiste na retirada de vigência

dessas duas, uma vez que elas perdem a aptidão de serem aplicadas.

Em outras palavras a suspensão da exigibilidade significa a inserção da

norma de suspensão, que tem como finalidade retirar da vigência da perinorma e

norma secundária, ambas ligadas à endonorma da norma de crédito. É a partir da retirada da vigência da perinorma e norma secundária que surge a paralisação do processo de positivação.

Além disso, nessa paralisação se verificam quais as condutas que devem ser praticadas por cada um dos utentes da linguagem quando se deparam com a

norma de suspensão. Essa análise atinge o nível da pragmática da suspensão da

exigibilidade.

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