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O que suspende a exigibilidade? O pedido ou a homologação?

4. PARCELAMENTO E MORATÓRIA

4.4. O que suspende a exigibilidade? O pedido ou a homologação?

Questão interessante que se colocou em sede de discussão jurisprudencial é sobre o termo inicial da suspensão da exigibilidade pela moratória ou parcelamento. O CTN, ao prescrever a moratória e o parcelamento como causas de suspensão da exigibilidade, trata do assunto de forma genérica, que é como deve ser, afinal seus dispositivos têm natureza de normas gerais de direito tributário, conforme já explicamos no item 3.3.3.2, desse trabalho.

199 Excluímos propositalmente a questão do pagamento parcelado, uma vez que este não guarda

Porém, normalmente os programas de parcelamento envolvem diversas normas que regulamentam o benefício fiscal, como preenchimento de formulários, oferecimento de garantias, análise dos requisitos legais, etc. Em outras palavras, há um verdadeiro procedimento para que o sujeito passivo possa fazer jus ao benefício.

Sendo assim, surge o seguinte questionamento: a partir de quando a exigibilidade do crédito deve ser considerada suspensa? A partir da formalização do pedido, ou a partir da homologação do pedido por parte da Autoridade Fazendária?

Sobre o tema, destacamos que a jurisprudência do STJ se firmou no sentido que o mero pedido de parcelamento pelo contribuinte não é causa de suspensão da exigibilidade. Esta somente ocorre após o deferimento do pedido. Segue abaixo a ementa do REsp 957509/RS , julgado no regime de recursos repetitivos:

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543-C, DO CPC. PROCESSO JUDICIAL TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. PEDIDO DE PARCELAMENTO FISCAL (PAES) PROTOCOLIZADO ANTES DA PROPOSITURA DO EXECUTIVO FISCAL. AUSÊNCIA DE HOMOLOGAÇÃO EXPRESSA OU TÁCITA À ÉPOCA. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO PERFECTIBILIZADA APÓS O AJUIZAMENTO DA DEMANDA. EXTINÇÃO DO FEITO. DESCABIMENTO. SUSPENSÃO DO PROCESSO. CABIMENTO.

1. O parcelamento fiscal, concedido na forma e condição estabelecidas em lei específica, é causa suspensiva da exigibilidade do crédito tributário, à luz do disposto no artigo 151, VI, do CTN.

2. Consequentemente, a produção de efeitos suspensivos da

exigibilidade do crédito tributário, advindos do parcelamento, condiciona-se à homologação expressa ou tácita do pedido formulado pelo contribuinte junto ao Fisco (Precedentes das Turmas de Direito

Público: REsp 911.360/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 18.03.2008, DJe 04.03.2009; REsp 608.149/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 09.11.2004, DJ 29.11.2004; (REsp 430.585/RS, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 03.08.2004, DJ 20.09.2004; e REsp 427.358/RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 27.08.2002, DJ 16.09.2002).

(...)

10. Recurso especial provido, determinando-se a suspensão (e não a extinção) da demanda executiva fiscal. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008.

(REsp 957509/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/08/2010, DJe 25/08/2010) (Destacamos)

Ao analisar a íntegra do julgado acima, percebe-se que sua fundamentação basicamente faz remissão a precedentes. Entre esses precedentes, destacamos o REsp 911.360/RS, que em seu fundamento pontua que o parcelamento tem seus requisitos estabelecidos pela legislação, que deve ser interpretada “literalmente”, nos termos do art. 111, I do CTN. Além disso, argumenta que apenas após a validação pela Fazenda é que o parcelamento deve ser considerado efetivado.

Apesar de longo, consideramos relevante citar trechos do referido acórdão, com a finalidade de compreender os fundamentos que levaram o STJ a entender dessa forma:

O parcelamento tem os seus requisitos e formalidades estabelecidos na legislação tributária. A menos que esta preveja em sentido contrário, a mera formalização de opção ou requerimento para adesão não implica imediata suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Cabe relembrar, a respeito, que o art. 111, I, do CTN textualmente determina seja restritiva a interpretação sobre a legislação concernente à suspensão do crédito tributário.

Nem poderia ser de outra forma, dado que somente após a conferência e

validação pela autoridade administrativa, a respeito da observância dos requisitos estipulados na legislação que disciplina o parcelamento de créditos tributários, é que o parcelamento pode ser efetivado.

Ademais, parcelamentos como o de que tratam os autos são oferecidos a inúmeros contribuintes, supondo-se que milhares tenham sido os que, diariamente, formalizaram requerimentos, sendo razoável a concessão de prazo mínimo para a autoridade competente examinar o atendimento das condições estabelecidas200. (Destacamos)

O que é interessante notar é que pela fundamentação adotada, o STJ entende ser possível que a lei prescreva norma no sentido que os efeitos do parcelamento surjam a partir do pedido efetuado pelo sujeito passivo. Caso não haja essa regra específica, só há parcelamento quando houver o deferimento pela autoridade administrativa.

Sendo assim, o mero pedido de parcelamento não serve como antecedente da norma de suspensão. Só há antecedente quando há a homologação do pedido. Em outras palavras, enquanto pendente de análise, a Fazenda Pública

200 REsp 911360/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em

pode ajuizar a ação de execução fiscal, recusar a emissão de certidão positiva com efeito de negativa, e inscrever o débito no CADIN.

Além disso, a interpretação feita pelo STJ pode ser compreendida a partir da definição proposta por PAULO DE BARROS CARVALHO, já anteriormente citada no primeiro item desse capítulo, que caracteriza a moratória como uma “convenção

das partes” 201.

Portanto, a moratória - e o parcelamento, por força do Art. 155-A, §2º, do CTN - possuem um caráter sinalagmático, ou seja, para sua caracterização é necessário um mútuo consentimento entre sujeito passivo e sujeito ativo.

Por conta disso, o simples pedido feito pelo sujeito passivo não tem por si só o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário. O pedido constitui em linguagem competente apenas o consentimento do sujeito passivo. O consentimento do sujeito ativo, que é vinculado aos requisitos legais, somente surge com o deferimento, ou seja, com a homologação do pedido.

Portanto, concordamos com o entendimento consolidado na jurisprudência do STJ, pois a norma de suspensão somente surge ao final do procedimento iniciado com o pedido do sujeito passivo. E o final desse procedimento é justamente o deferimento da autoridade homologando o pedido do sujeito passivo.

Logo, pelo simples pedido de parcelamento não há paralisação do processo de positivação, podendo o sujeito ativo ajuizar a execução fiscal, bem como negar certidão de regularidade fiscal e inscrever o débito no CADIN. Além disso, o pedido não paralisa o prazo prescricional, pois nesse caso a norma de

suspensão ainda não foi inserida no sistema.

Contudo, é comum que os programas de parcelamento prescrevam como requisito para a adesão que o sujeito passivo apresente termo de confissão

irrevogável e irretratável de dívida. No próximo tópico analisaremos quais são os

efeitos dessa confissão.

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