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Classificação das normas com base no fenômeno da incidência

1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE TEORIA GERAL DO DIREITO

1.5. Classificação das normas com base no fenômeno da incidência

A classificação das normas jurídicas com base no fenômeno da incidência parte de dois critérios: (i) abstração/concretude, aplicado ao antecedente normativo; e (ii) generalidade/individualidade, aplicado ao consequente normativo40.

Portanto, o tema da relação entre norma individual e concreta e norma

geral e abstrata passa pela fenomenologia da incidência jurídica, ou aplicação, que

aqui utilizamos como expressões sinônimas, conforme já exposto anteriormente.

Assim, é importante que expliquemos o sentido de cada um desses critérios utilizados na classificação adotada nesse trabalho.

O primeiro ponto que deve ser ressaltado é que essas características são excludentes entre si. Em outras palavras, não é possível que uma norma seja abstrata e concreta ao mesmo tempo. O mesmo vale para as normas gerais e individuais.

Em termos práticos, afirmar que uma norma é abstrata significa necessariamente dizer que ela é não-concreta. Da mesma forma, afirmar que uma norma é geral, significa dizer que ela é não-individual.

Retomando a análise, se o antecedente normativo estiver em linguagem conotativa, estabelecendo critérios para inclusão de elementos em determinado conceito, teremos uma abstração, ou seja, uma possibilidade de ocorrências voltadas para o futuro. Nesses casos, dizemos que a norma é abstrata.

40 Nesse sentido: “Costuma-se referir a generalidade e a individualidade da norma ao quadro de seus

destinatários: geral, aquela que se dirige a um conjunto de sujeitos indeterminados quanto ao número; individual, a que se volta a certo indivíduo ou a grupo identificado de pessoas. Já a abstração e a concretude dizem respeito ao modo como se toma o fato descrito no antecedente”. CARVALHO. Paulo de Barros. Direito Tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 5 ed. São Paulo: Saraiva: 2007, p. 35.

Por outro lado, se os enunciados do antecedente forem denotativos, voltados para o passado, delimitando um acontecimento específico no espaço e no tempo, dizemos que a norma é concreta.

No primeiro caso (abstração), o antecedente normativo é denominado de

hipótese. Já no segundo caso (concretude), o antecedente é chamado de fato jurídico.

No que se refere ao consequente normativo, em sua composição temos o que chamamos de relação jurídica intersubjetiva em sentido estrito. Ou seja, o consequente indica sempre um comportamento modalizado como obrigado (O), proibido (V); ou permitido (P)41. A partir disso que se verifica que essa relação entre sujeitos implica em um direito subjetivo, e um dever jurídico correlato.

Aqui o critério utilizado se verifica na determinação (individualidade) ou indeterminação (generalidade) dos sujeitos que compõem os termos relacionais do consequente.

Se a linguagem for conotativa, apontando critérios para inclusão de sujeitos na classe, temos uma norma geral. Por outro lado, se a linguagem for denotativa, com a especificação de sujeitos individualizados, teremos uma norma

individual.

Em síntese, abstração/concretude se referem ao antecedente; e

generalidade/individualidade se referem ao consequente, conforme ilustrado no

diagrama abaixo:

41 “Somente com o enunciado do consequente da norma individual e concreta é que aparecerá o fato

da relação jurídica, na sua integridade constitutiva, atrelando dois sujeitos (ativo e passivo), em torno de uma prestação submetida ao operador deôntico modalizado (O, V, P)” CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 158.

Pela combina entre si42, concluímos qu estrito, conforme a segui

Abstração V F V F Dessa forma enunciação de normas validade normas gerais e

Por isso não sempre será necessário à vontade humana. Tam todo ato humano é passí

A ocorrência d consequência no mundo relato em linguagem com

42 Deve-se entender da se

individualidade.

natória desses critérios, relembrando qu que existem quatro espécies de normas j uinte tabela de casos possíveis:

Generalidade Espécie

V Norma geral e abstra V Norma geral e concre F Norma individual e abst F Norma individual e conc a, temos que a incidência (ou aplica

s individuais e concretas, que terão co e abstratas.

o é adequado afirmar que a incidência é o ato humano de aplicação. Ou seja, a inc mpouco é adequado dizer que a incidên sível de falhas.

do evento na realidade social não gera, o jurídico. Para produzir efeitos jurídicos, mpetente, ou seja, a norma precisa ser ap

seguinte forma: abstração = não concretude;

que são excludentes jurídicas em sentido rata reta strata ncreta icação) se refere à omo fundamento de é automática, já que cidência não é alheia ência é infalível, pois

a, por si só, qualquer s, é preciso que haja aplicada/incidida.

Porém, para que uma norma seja introduzida no ordenamento jurídico é necessário que outra norma faça isso. Essa norma é o que chamamos de veículo

introdutor, que é sempre do tipo geral e concreta43.

Concreta porque seu antecedente é um fato jurídico, delimitado no espaço e no tempo (enunciação-enunciada). Geral porque no seu consequente há um comando prescrevendo que todos estão obrigados a obedecer aos enunciados prescritivos por ela introduzidos. É a partir desses enunciados prescritivos introduzidos que se constroem as normas jurídicas em sentido estrito que todos estão obrigados a obedecer.

Quanto às normas (em sentido estrito) introduzidas, podemos afirmar que podem ser de qualquer uma das quatro espécies já apontada: geral e abstrata;

individual e concreta; geral e concreta ou individual e abstrata.

Quanto a essas últimas – normas individuais e abstratas -, cabe mencionarmos que o sistema as comporta de forma menos comum. Dentro dos parâmetros aqui estabelecidos, estas possuem no antecedente uma linguagem conotativa (hipótese), e no consequente uma linguagem denotativa (relação jurídica

individualizada).

Essa noção de norma individual e abstrata é de extrema importância para o presente trabalho, e será retomada quando formos tratar de causas de suspensão que ocorrem antes do surgimento da exigibilidade. Especialmente quando falamos de ações judiciais preventivas.

Feitas essas considerações de como as normas jurídicas se manifestam de acordo com o fenômeno da incidência, cabe advertirmos que essa classificação se trata de uma simplificação, e deve ser adotada com algumas ponderações.

43 “Rememoremos que a norma sobre a produção jurídica descreve, em seu antecedente, um agente

competente e o procedimento prescrito pelo ordenamento para a produção normativa e, em seu consequente, prescreve a obrigação de todos respeitarem as disposições inseridas, pelo próprio veículo introdutor, no sistema do direito positivo. Assim, a norma denominada veículo introdutor é da espécie concreta e geral”. MOUSSALLEM, Tárek Moysés. As fontes do direito tributário. 2 ed. São Paulo: Noeses, 2006, p. 127.

Quando falamos que uma norma é abstrata ou concreta, deve ser compreendido que há níveis de abstração. Dito de forma mais simples, é possível afirmar que há normas mais abstratas que outras, da mesma forma que há normas mais concretas que outras.

Se não fosse assim, seria impossível que normas consideradas como individuais e concretas servissem como de fundamento de outras normas. Ou ainda, que normas tidas como gerais e abstratas fossem derivadas de outras normas superiores.

A título de exemplo, consideremos uma sentença judicial, que é classificada como norma individual e concreta. Se essa norma possuísse o nível máximo de concretude, não seria possível que ela fundamentasse o procedimento de execução judicial, por exemplo.

De forma semelhante, se considerarmos uma norma que institui tributo, que é um típico exemplo de norma geral e abstrata, também não poderíamos dizer que ela é derivada da norma de competência tributária prevista na Constituição Federal.

Portanto, o que se pretende afirmar é que a classificação de normas com base em critérios da incidência tem como única finalidade reduzir complexidades. Todavia, se considerada em termos absolutos, ela impede a visualização do fenômeno completo, que é chamado de processo de positivação.

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