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Possibilidade de inscrição em dívida ativa

3. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

3.3. Pragmática da suspensão da exigibilidade

3.3.2. O sujeito ativo:

3.3.2.2. Possibilidade de inscrição em dívida ativa

Questão interessante se coloca acerca da possibilidade de a administração pública poder inscrever em dívida ativa créditos tributários com a exigibilidade suspensa.

Primeiramente, cabe destacar que a inscrição em dívida ativa se trata de formalização de título executivo extrajudicial143 em que a Fazenda Pública apura a legalidade do ato que constituiu o crédito tributário, além de sua certeza e liquidez, nos termos do art. 2º, §3º da Lei de Execuções Fiscais:

§ 3º - A inscrição, que se constitui no ato de controle administrativo da

legalidade, será feita pelo órgão competente para apurar a liquidez e certeza do crédito e suspenderá a prescrição, para todos os efeitos de

direito, por 180 dias, ou até a distribuição da execução fiscal, se esta ocorrer antes de findo aquele prazo. (Destacamos).

Trata-se, portanto, de expediente de controle de legalidade interno da própria administração pública, que faz, inclusive, com que a gestão do crédito tributário constituído altere a competência administrativa entre órgãos do próprio ente tributante.

141 Nesse sentido: “(...), pensamos que, se a autoridade judicial emite uma ordem proibindo o agente

administrativo de realizar o ato de lançamento tributário, tal medida configura um desvio de poder do magistrado”. PIMENTA, Marcos Rogério Lyrio. A suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Dissertação de mestrado PUC/SP. 2001, p. 209.

142 “A ação de consignação em pagamento representa a consagração, pelo direito positivo, do

princípio pelo qual a instituição de um dever jurídico pressupõe o direito de cumpri-lo. A Filosofia do Direito vê nessa imanência ingênita do direito embutido no dever jurídico um obstáculo intransponível à possibilidade teórica da escravidão absoluta, pois, ainda que suprimíssemos todos os direitos de uma pessoa, ao menos um haveria de remanescer: o direito de cumprir todos os seus deveres”. CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 18 ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 491.

Em outras palavras, a competência para responder sobre o crédito tributário passa do órgão que constituiu o crédito (Receita Federal, no âmbito da União Federal), para o órgão que tem competência para ajuizar a execução fiscal (PGFN, no âmbito da União Federal).

A questão que se coloca aqui é se a norma de suspensão tem o condão de impedir que o sujeito ativo promova a inscrição em dívida ativa.

Quanto a isso, há autores que entendem que a inscrição em dívida ativa não pode ser feita acaso esteja pendente uma das causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Nesse sentido, entendem PAULO DE BARROS CARVALHO144 e DANIEL MONTEIRO PEIXOTO145.

Esse parece ser também o entendimento majoritário na jurisprudência no âmbito do STJ146:

RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. ART. 151 DO CTN. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. IMPOSSIBILIDADE DE O FISCO REALIZAR ATOS TENDENTES À SUA COBRANÇA, MAS NÃO DE PROMOVER SEU LANÇAMENTO. ERESP 572.603/PR. RECURSO DESPROVIDO.

1. O art. 151, IV, do CTN, determina que o crédito tributário terá sua exigibilidade suspensa havendo a concessão de medida liminar em mandado de segurança. Assim, o Fisco fica impedido de realizar atos

tendentes à sua cobrança, tais como inscrevê-lo em dívida ativa ou

ajuizar execução fiscal, mas não lhe é vedado promover o lançamento desse crédito.

(...)

(REsp 736.040/RS, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/05/2007, DJ 11/06/2007, p. 268). (Destacamos)

144 Nesse sentido, destacamos o entendimento de PAULO DE BARROS CARVALHO: “Esgotados os

trâmites administrativos, pela inexistência de recursos procedimentais que possam atender a novas iniciativas do sujeito passivo, e não havendo medida judicial que suspenda a exigibilidade do crédito tributário, chegou a hora de a Fazenda Pública praticar quem sabe o mais importante ato de controle de legalidade sobre a constituição do crédito tributário: o ato de apuração e de inscrição do débito no livro de registro da dívida pública.” (grifamos). Curso de direito tributário. 18. ed. São Paulo: Editora Saraiva , 2007, p. 556.

145 “A norma de desempenho para a inscrição em dívida ativa possui um antecedente abstrato (motivo

legal) com um conjunto de critérios aptos a identificar o motivo para a prática do ato, (...). O motivo legal possui os seguintes critérios: (...) (4) não ocorrência das causas suspensivas da exigibilidade enumeradas nos incisos do art. 151 do CTN”. PEIXOTO, Daniel Monteiro. Competência

Administrativa na Aplicação do Direito Tributário. São Paulo: Quartier Latin, 2006, p. 253.

146 Em sentido semelhante: REsp 21.960/SP, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS,

Todavia, apesar do posicionamento acima apontado, entendemos que não há qualquer óbice para que se realize a inscrição em dívida ativa de crédito com exigibilidade suspensa, desde que essa informação conste no ato da inscrição e que não haja qualquer óbice para que o sujeito passivo obtenha Certidão Positiva com Efeitos de Negativa – CPEN.

Na verdade não compreendemos a inscrição em dívida ativa como ato de cobrança em sentido estrito. Não há qualquer previsão legal para que o sujeito passivo seja notificado da realização da inscrição em dívida ativa. Muito menos há possibilidade de o sujeito passivo se opor administrativamente a sua realização.

O controle de legalidade aqui não se confunde com o contencioso administrativo tributário, que será analisado no Capítulo 6 desse trabalho. Não há notificação do ato, não há contraditório, nem ampla defesa. Há apenas a alteração de competência entre órgãos da mesma pessoa jurídica de direito público.

Dentro do processo comunicacional de cobrança do crédito tributário, é preciso que haja emissão e recepção da mensagem. Como não há instrumentos formais de recepção pelo sujeito que está sendo cobrado, não podemos classificar o ato de inscrição em dívida ativa como ato de cobrança.

Nesse caso, a comunicação é apenas interna, ou seja, entre órgãos da própria administração pública. E a finalidade dele é de apenas alterar a competência entre órgãos administrativos e fazer o controle interno de legalidade da constituição do crédito tributário. Em outras palavras, o ato de inscrição em dívida ativa é unilateral.

Por certo que este é condição necessária para ajuizamento da ação de execução fiscal para a cobrança judicial do crédito tributário. É isso que confere sua exequibilidade147. Sem título não há execução. Logo, não se trata de ato dispensável.

147 “A inscrição na dívida ativa configura ato de controle administrativo de legalidade, realizado para

apurar a liquidez e a certeza do crédito tributário. Mediante essa providência, a Fazenda Pública constitui, unilateralmente, o título executivo que servirá de base para a cobrança judicial dos valores

Porém, o entendimento que adotamos é que isso não quer dizer que o ato de inscrição em dívida possa ser considerado como ato de cobrança em sentido estrito. Ele é formado unilateralmente e não há notificação e possibilidade de impugnação pelo sujeito passivo.

A única ressalva que deve ser feita em relação a isso diz respeito à causa de suspensão prevista no inciso III do art. 151 do CTN. Isso porque o ato de inscrição em dívida ativa somente deve ser realizado após o exaurimento da discussão do crédito tributário na esfera administrativa. Não faz sentido formar o título executivo extrajudicial durante o contencioso administrativo tributário.

Portanto, para as demais causas de suspensão da exigibilidade, entendemos que é possível que o crédito seja inscrito em dívida ativa, desde que tal informação conste no termo de inscrição e não impeça que o sujeito passivo obtenha a CPEN, que possui os mesmos efeitos da Certidão Negativa de Débitos, prevista no art. 205 do CTN.

Deve-se atentar que quando a norma de suspensão surge após a inscrição em dívida ativa esta não é cancelada. Apenas passa-se a constar no termo de inscrição a informação de que há suspensão da exigibilidade. Dessa forma, não vemos como razoável que se impeça a inscrição do crédito constando a suspensão quando essa ocorrer antes.

Feitas essas considerações, passaremos a tratar da interferência da

norma de suspensão da exigibilidade no prazo prescricional da Fazenda para

execução do crédito tributário.

não pagos à Fazenda Pública. Tem inicio, aí, a exequibilidade do crédito tributário, quer dizer, a possibilidade de o crédito tributário vir a ser exigido mediante processo de execução fiscal.” TOMÉ, Fabiana Del Padre. Exigibilidade do crédito tributário: amplitude e efeitos de sua suspensão. In: Priscila de Souza (coord.). VII Congresso Nacional de Estudos Tributários: Direito Tributário e os conceitos de direito privado. São Paulo: Noeses, 2010, p. 376.

3.3.2.3. Impossibilidade de ajuizamento de cobrança judicial

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