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Vigência como aptidão das normas jurídicas

1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE TEORIA GERAL DO DIREITO

1.7. Validade, Vigência e Eficácia: uma questão relacional

1.7.2. Relação entre as Partes no Todo: vigência e eficácia

1.7.2.2. Vigência como aptidão das normas jurídicas

O conceito de vigência não se confunde com o conceito de validade. Enquanto a validade é uma relação de pertinência entre a norma jurídica e o ordenamento, a vigência é a aptidão que uma norma tem de ser considerada

59 Nas palavras de PAULO DE BARROS CARVALHO: “A eficácia social ou efetividade diz com a

produção das consequências desejadas pelo elaborador das normas, verificando-se toda vez que a conduta prefixada for cumprida pelo destinatário”. Direito Tributário: fundamentos jurídicos da

incidência. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 64.

60 MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Revogação em Matéria Tributária. São Paulo: Noeses, 2005, p.

imperativa61. Temos então que a vigência ocorre nas relações entre as normas

jurídicas no ordenamento.

A noção de vigência está relacionada com a força vinculante da norma, ou seja, a possibilidade jurídica de se exigir determinado comportamento prescrito no enunciado. Em outras palavras, vigência significa a possibilidade de aplicação normativa.

Quanto a isso, é interessante a colocação de TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR, que relaciona o conceito de vigência com o de exigibilidade. Nas palavras do autor: “vigência exprime, pois, exigibilidade de um comportamento, a

qual ocorre a partir de um dado momento e até que a norma seja revogada”62.

Portanto, uma norma vigente é necessariamente uma norma jurídica válida, cuja imperatividade torna os comportamentos prescritos exigíveis. Todavia, a formulação do conceito apresentado pelo autor acima citado merece um pequeno reparo quanto ao tempo de vigência das normas.

No nosso entender a revogação da norma não é a única forma de se retirar sua vigência. A revogação pressupõe que a perda de sua vigência plena, permanecendo a possibilidade de aplicação aos fatos passados, ocorridos dentro do seu intervalo de subsunção. Daí a diferenciação proposta pelo referido autor entre os conceitos de vigência e vigor63.

61 Nas palavras de PAULO DE BARROS CARVALHO: “Viger é ter força para disciplinar, para reger,

para regulamentar as condutas inter-humanas sobre as quais a norma incide, cumprindo, desse modo, seus objetivos finais. É, agora sim, uma propriedade de certas regras jurídicas que estão prontas para propagar efeitos, tão logo aconteçam, no mundo social, os fatos descritos em seus antecedentes”. Direito Tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 62.

62 FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: técnica, decisão, dominação.

São Paulo: Atlas, 2003, p. 198.

63 Nas palavras do autor: “Em geral, a doutrina toma vigor por vigência e vice-versa. Uma leitura

atenta de textos legais exigirá, porém, uma sutil mas importante distinção. (...) O texto relaciona claramente vigência ao aspecto temporal da norma, a qual, no período (de vigência) tem vigor. Ora, o vigor de uma norma tem a ver com a sua imperatividade, com sua força vinculante”. Idem, p. 202.

Ocorre que há casos em que outras normas retiram temporariamente a força vinculante de norma jurídica já inserida no sistema. Esse assunto será aprofundado no item 3.1.2, quando formos examinar se a norma de suspensão atinge a eficácia ou a vigência das normas individuais e concretas do crédito tributário.

O que pretendemos fixar nesse tópico é que a vigência de uma norma está relacionada ao consequente da norma veículo introdutor. Conforme já explicado, a norma veículo introdutor é do tipo geral e concreta, e contém em seu consequente uma obrigação de que toda comunidade obedeça aos enunciados- enunciados da norma introduzida64. Justamente o tempo e o espaço em que essa obrigatoriedade deve ser observada é que chamamos de vigência. Nesse sentido, TÁREK MOYSÉS MOUSSALLEM ensina que “a vigência está conectada ao tempo

inserido no consequente do veículo introdutor”65.

Portanto, podemos falar em vigência das normas introduzidas e das normas introdutoras. Quanto a estas, PAULO DE BARROS CARVALHO66 afirma

que terão sua vigência marcada pelo átimo da própria validade67.

Fazendo interessante distinção entre os efeitos das normas gerais e abstratas e das normas individuais e concretas, AURORA TOMAZINI DE

64 “Basta lembrar que o consequente da norma-veículo introdutor (construído a partir do preâmbulo)

determina a obrigação (O) de a comunidade observar os enunciados-enunciados (p) já inseridos pela enunciação-enunciada no sistema do direito positivo”. MOUSSALLEM, Tárek Moysés. Revogação em

Matéria Tributária. São Paulo: Noeses, 2005, p. 145.

65 Idem, p. 150.

66 “Os veículos introdutores terão sua vigência marcada pelo átimo da própria validade. Nesse caso

específico, vigência e validade são concomitantes e não teria sentido imaginar-se que a regra geral e concreta, operando como instrumento introdutor tivesse de esperar intervalo de tempo para, somente depois, irradiar sua vigência, dado que a finalidade exclusiva de tais normas é inserir na ordem jurídica posta outras normas”. CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 18 ed., São Paulo: Saraiva, 2007, p. 86.

67 Em sentido contrário, TÁREK MOYSÉS MOUSSALLEM entende que: “O atuar como veículo

introdutor e inserir enunciados-enunciados no sistema do direito positivo é tema relativo à validade e não à vigência. A vigência da enunciação-enunciada pode ser protraída ou retrotraída de acordo com o próprio direito positivo. A protração ou retrotração da vigência do veículo introdutor atinge a

obrigação de os sujeitos destinatários observarem os enunciados-enunciados e não a inserção destes últimos no sistema do direito positivo”. Revogação em Matéria Tributária. São Paulo: Noeses,

CARVALHO explica que “as primeiras são produzidas para serem aplicadas e as segundas para serem executadas”68.

Apesar de não mencionado no estudo da autora, cabe destacar que entendemos que as normas individuais e abstratas são produzidas para serem aplicadas, tendo em vista que possuem no seu antecedente uma situação hipotética. Ou seja, falta uma atividade de subsunção em relação à linguagem conotativa do antecedente.

Apenas após a formulação de uma norma concreta com fundamento de validade em norma individual e abstrata é que poderemos falar em execução69. Antes disso a norma somente pode ser aplicada.

Assim, reformulamos o conceito de vigência para dizer que esta se trata de aptidão para que uma norma seja aplicada ou executada. Torna-se, então, possível falar em vigência de todos os tipos de normas em sentido estrito.

Quanto à vigência das normas gerais e abstratas, AURORA TOMAZINI CARVALHO ensina que “em termos sintáticos, posicionamos a data de seu início como critério temporal no antecedente das regras que obrigam sua aplicação70”.

Já em relação às normas individuais e concretas, a autora entende que estas são vigentes no momento em que estiverem aptas a serem exigidas71.

68 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de Teoria Geral do Direito (o Constructivismo Lógico-

Semântico). São Paulo: Noeses, 2009, p. 712.

69 A palavra execução está sendo utilizada em sentido amplo. Não se refere necessariamente à ação

de execução no âmbito de processo judicial.

70 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de Teoria Geral do Direito (o Constructivismo Lógico-

Semântico). São Paulo: Noeses, 2009, p. 713.

71 “As normas individuais e concretas recebem o qualificativo de vigentes assim que aptas a serem

exigidas. Isto ocorre no momento em que ingressam no ordenamento jurídico. Não existe um lapso temporal (como ocorre com as normas gerais e abstratas na vacatio legis) para que elas adquiram tal aptidão. Elas ingressam no sistema já dotadas de vigor”. Idem, p. 713-714.

É certo que a autora reconhece que excepcionalmente as normas individuais e concretas podem estar vinculadas às disposições que postergam sua vigência, citando o exemplo de contratos condicionados temporalmente72.

Contudo, entendemos ser precipitada a conclusão de que, via de regra, as normas individuais e concretas já ingressam vigentes no sistema. Havendo uma exceção, a definição de vigência das normas individuais e concretas deve ser repensada.

Quanto a isso, vislumbramos mais situações de normas individuais e concretas que não possuem aptidão imediata de serem executadas.

Como exemplo, podemos citar a norma individual e concreta que contém o crédito tributário no consequente. Nesse caso, não podemos dizer que a norma está apta a ser imediatamente executada, já que isso somente ocorre após o vencimento, como veremos mais adiante. Ou seja, haveria uma espécie de vacatio legis entre sua inserção no sistema e o vencimento.

Dessa forma, concluímos que a vigência é aptidão de qualquer tipo de norma, seja tornando obrigatória a observância das normas introduzidas (vigência do veículo introdutor), seja tornando obrigatória sua aplicação (normas geral e abstrata ou individual e abstrata); ou ainda possível sua execução (norma individual e concreta).

72 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de Teoria Geral do Direito (o Constructivismo Lógico-

2. CONCEITOS

DOGMÁTICOS

DE

DIREITO

TRIBUTÁRIO:

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