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5. DEPÓSITO DO MONTANTE INTEGRAL

5.4. Efeito do depósito não integral

No tópico anterior definimos que o depósito como causa de suspensão da exigibilidade deve ser realizado em seu montante integral. E por montante integral deve-se compreender aquele valor que o sujeito ativo entende como devido na data em que o depósito for realizado.

Assim, o objetivo desse tópico é analisar qual é o efeito de depósito não integral.

Conforme explicado no item 2.2 desse trabalho, o CTN atribui à expressão “obrigação principal” aquela que tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária (Art. 113, §1º). Além disso, também definimos que não há obrigação sem crédito tributário, uma vez que este é componente daquela.

Dessa forma, ao se referir a “crédito tributário”, o CTN não pretende que o objeto da cobrança seja apenas o valor referente a tributo. Dentro dessa expressão se encontram todos os valores decorrentes de atualização monetária, juros e multas.

Contudo, na prática tributária se observa que o cálculo do montante

integral do crédito tributário é de alta complexidade, especialmente em relação à

aplicação das normas que envolvem a correção monetária e juros.

Diante dessa complexidade, é comum que o sujeito passivo se equivoque e efetue depósito inferior ao que o sujeito ativo entende como devido.

É dentro desse contexto que se pretende analisar o efeito do depósito tido como não integral. Ou seja, quando há equívoco na atualização do débito, e o sujeito passivo efetua o depósito do montante que acreditava que o Fisco consideraria como correto.

Em outras palavras, o questionamento que se busca aqui responder é o seguinte: nesses casos, o Fisco está autorizado a promover atos de cobrança do

Primeiramente deve ser estabelecido aqui que o depósito a menor, independentemente da causa disso, não suspende a exigibilidade do crédito tributário. Portanto, se não está integralmente depositado, o sujeito passivo não tem direito à emissão de Certidão Positiva com Efeito de Negativa - CPEN.

Contudo, não nos parece razoável que o Fisco desconsidere o montante parcialmente depositado, e prossiga com a cobrança do valor total.

O crédito tributário não é algo monolítico, cujo valor se estabiliza ao longo do tempo. Pelo contrário, seu valor sofre constante atualização, diante de um emaranhado de enunciados prescritivos que regulamentam a incidência de correção monetária, juros e multas. A título de exemplo, podemos citar a legislação de ICMS do Estado de São Paulo, que prevê a incidência de juros de mora ao dia242.

Portanto, diante da complexidade na aferição do montante integral do crédito tributário, o entendimento que adotamos é o mesmo de MARIA LEONOR LEITE VIEIRA243, no sentido que o sujeito ativo apenas pode prosseguir com atos de

cobrança sobre o valor da diferença entre o que entende devido e o valor depositado.

Dessa forma, a conclusão é de que, apesar de o art. 151, II do CTN prescrever que a suspensão da exigibilidade do crédito somente ocorre com o depósito do montante integral, não afastamos a possibilidade de suspender apenas

parte do crédito tributário.

No entanto, conforme já afirmamos anteriormente, essa situação não garante ao sujeito passivo a expedição de certidão de regularidade fiscal, uma vez que isso pressupõe que não haja qualquer débito em aberto.

242 Art. 96, §1º da Lei Estadual nº 6.374/89, com alteração pela Lei nº 13.918/2009.

243 “Entendo que não pode a Fazenda Pública, (...), propor execução fiscal para exigir o pagamento

da totalidade que compreende devida (...). O que pode é ela propor ação para cobrar a diferença entre X e X-1, pois que, se a ação proposta pelo sujeito passivo, no caso o autor, for julgada improcedente, aquele depósito será convertido em renda e satisfeito o crédito em sua totalidade, somando-se os dois valores – de um e outro processo”. VIEIRA, Maria Leonor Leite. A Suspensão da

Quanto a esse tema, é interessante citar o precedente do TJMG, que garantiu a obtenção da certidão positiva com efeitos de negativa, mesmo considerando o valor depositado como não integral, sob o fundamento que não seria razoável prejudicar o desempenho das atividades do contribuinte, uma vez que a diferença se referia apenas à incidência mensal de juros e correção monetária sobre o valor principal.

Segue abaixo trechos do acórdão que demonstram os fundamentos utilizados, bem como sua ementa:

Cumpre ressaltar que a diferença entre os valores se refere tão somente à incidência mensal de juros e correção monetária sobre o valor principal do crédito, que, como visto fora depositado judicialmente pelo agravado. Não se olvide, outrossim, o bom senso jurídico, que deve prevalecer, em obediência ao princípio da razoabilidade que norteia a atividade processual moderna, no sentido de que a medida possa ser revista, quando modificado os estados de fato ou de direito no processo principal.

AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO FISCAL - OBTENÇÃO DE CERTIDÃO POSITIVA COM EFEITOS DE NEGATIVA - DEPÓSITO NÃO INTEGRAL DO VALOR PRINCIPAL- POSSIBILIDADE NO CASO CONCRETO. No caso concreto e específico, não obstante a diferença entre o valor depositado e montante atualizado da dívida, levando-se em conta o elevado valor do débito tributário - R$ 579.717,49 (f.161, TJ), a estrita observância do dispositivo legal aplicável tornaria inviável o desempenho das atividades da empresa executada.

(Agravo de Instrumento 1.0518.08.143867-4/001, Relator(a): Des.(a) Geraldo Augusto , 1ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 07/07/2009, publicação da súmula em 17/07/2009)

Apesar de não concordarmos com a decisão acima, uma vez que não deveria ser conferida a certidão de regularidade fiscal ao contribuinte, ela é emblemática por demonstrar que o erro de cálculo em relação à atualização da incidência mensal de juros e correção monetária não é suficiente para desconsiderar o montante depositado.

Nesses casos, o contribuinte poderia ter sido intimado para complementar o valor do depósito e, caso não o fizesse, o Fisco deveria promover a execução fiscal em relação apenas à diferença244.

Não fosse esse o entendimento, o efeito do depósito parcial seria a não suspensão da exigibilidade do crédito tributário e, consequentemente, a possibilidade de que o sujeito passivo efetue o levantamento do depósito mesmo antes do trânsito em julgado da ação.

Apesar de ser esse o entendimento de alguns autores, como se verá mais adiante, o tema será aprofundado no item 5.6 desse capítulo, quando analisaremos a questão do levantamento do valor depositado pelo sujeito passivo.

A seguir passaremos a tratar dos casos em que o depósito é realizado no âmbito de ação judicial preventiva, ou seja, antes da constituição do crédito tributário.

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