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A ampliação da responsabilidade do poluidor e o manejo da indenização

4 OS DESAFIOS PARA A PROTEÇÃO EFETIVA DA SAÚDE

4.1.3 A ampliação da responsabilidade do poluidor e o manejo da indenização

ambiente laboral.

Tradicionalmente a responsabilidade civil tem como função precípua a reparação de danos. Preocupa-se com a vítima, buscando ao máximo o retorno à situação anterior ao dano, seja através de ressarcimento, seja por uma compensação pecuniária.733

Todavia, diante de lesões a direitos fundamentais, a função reparatória não tem se mostrado eficaz, reclamando a construção de um novo paradigma em matéria de responsabilidade civil que confira importância às funções preventiva e punitiva. É preciso ter em mente que o instituto da responsabilidade civil possui dentre as suas funções, a de prevenir e reparar os danos havidos, bem como a de punir e não somente a

730 Sobre a eficácia dos direitos fundamentais nas relações interprivadas. Ver a respeito:

STEINMETZ, Wilson.VIEIRA de Andrade, José Carlos. Os Direitos, liberdades e garantias no âmbito das relações entre particulares. In: SARLET, Ingo Wolfgang (org.). Constituição, Direitos Fundamentais

e Direito Privado. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003; CANARIS, Claus-Wilhelm. A influência

dos Direitos Fundamentais sobre o Direito Privado na Alemanha. In Constituição, Direitos Fundamentais

e Direito Privado. SARLET, Ingo Wolfgang (org.) Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.

731 Art. 5°, § 1°, da CF 1988: As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm

aplicação imediata.

de reparar os danos.

Como já mencionado ao tratar-se dos princípios da prevenção e precaução, deve- se sempre privilegiar a função preventiva, haja vista que os danos causados ao meio ambiente e à saúde dos trabalhadores são, em sua grande maioria, irreversíveis.

A função punitiva ou pedagógica da responsabilidade civil vem sendo delineada pela doutrina a partir do princípio da dignidade humana.734 Para que se promova a dignidade da pessoa humana, em muitas situações, é necessário impor uma sanção punitiva ao agressor, para que ele seja desencorajado a seguir na prática lesiva.735Pune- se com o escopo de que vários comportamentos anti-sociais sejam desestimulados.736

É medida que se impõe face ao atual estágio da sociedade e na busca pela implementação de uma consciência ambiental a adoção de uma nova concepção sobre as funções da responsabilidade civil. É imprescindível criar uma nova cultura, o que somente será alcançada por meio de um sistema rigoroso de responsabilização que preconize a responsabilidade objetiva, e pelo risco, a solidariedade entre os poluidores, a inversão do ônus da prova em favor do ambiente e da sociedade737 e da função

punitiva da reparação civil.

Uma vez se verificando o dano ambiental trabalhista, é indispensável que o sistema jurídico seja dotado de mecanismos que imponham ao seu causador uma ampla responsabilização,738 buscando a reparação o mais integral possível do bem ambiental (reparação in natura) e a indenização às vítimas.739

733 ANDRADE, André Gustavo Corrêa. Indenização Punitiva. Revista da EMERJ, v.1, n. 1, 1998. 734 ANDRADE, André Gustavo Corrêa. Op. cit. p., 137.

735 ANDRADE, André Gustavo Corrêa. Op. cit. p., 148 736 YOSHIDA, Consuelo Yatsuda Moromizato. Op. cit., p. 143.

737 PACHECO Fiorillo, Celso Antonio. Curso de direito ambiental brasileiro. Op. cit., p.33. MELO,

Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador: responsabilidades legais,

dano material, dano moral, estético. Op. cit., p. 51.

738 Princípio 13: “Os Estados devem elaborar uma legislação nacional concernente à

responsabilidade por danos causados pela poluição e com a finalidade de indenizar as vítimas”.

739 ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p.152; SOUSA Cunhal Sendim, José de. Responsabilidade civil por danos ecológicos. Coimbra: Almedina, 2002. Op. cit., p.19, 20.

Tendo sido o meio ambiente erigido à condição de direito indispensável à sadia

qualidade de vida e que deve ser defendido, nos termos do art.170 da CF/88, não há outra interpretação razoável senão aquela que tende a ampliar seu mecanismo de tutela, facilitando a responsabilização dos poluidores.

No caso do meio ambiente do trabalho, a Constituição Federal contempla no art. 7º, XXVIII regra que faz alusão à responsabilidade subjetiva do empregador em havendo danos à saúde do trabalhador; no parágrafo 3º do art. 225 dispõe que na hipótese de danos ao meio ambiente a responsabilidade há de ser objetiva.

Esta contradição há de ser solucionada com o manejo da técnica de ponderação de interesses mencionada anteriormente, tendo como norte principal o princípio da dignidade da pessoa humana e as conseqüências que advirão à coletividade.740

Deve-se privilegiar a interpretação sistemática da Constituição definindo-se como objetiva a responsabilidade nas hipóteses de lesão ou ameaça de lesão ao meio ambiente laboral. A simples interpretação gramatical e isolada do preconizado pelo art. 7º, XXVIII conduziria inexoravelmente a acatar-se a responsabilidade civil subjetiva.741

Todavia, considerando-se que o meio ambiente do trabalho é uma das facetas do meio ambiente e que tem por objeto a tutela da vida e da saúde dos trabalhadores, não seria razoável fixar regimes de responsabilização distintos aos aspectos que o compõem. Seria incoerente que a Constituição Federal tivesse protegido com mais rigor as violações perpetradas ao meio ambiente natural e artificial - as quais lesionam a vida e a saúde de forma indireta-, do que as realizadas ao meio ambiente laboral, que se

740 MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador: responsabilidades legais, dano material, dano moral, estético. Op. cit., p. 251; Assis Fernandes, Fábio de.

Op. cit., p. 71.

741 MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador: responsabilidades legais, dano material, dano moral, estético. Op. cit., p. 251; Assis Fernandes, Fábio de. Op. cit., p. 64-65.

processam de forma direta à pessoa humana.742

Acrescente-se a isso que o caput, do art.7º preconiza que os direitos por elencados constituem-se em patamares mínimos, não se excluindo outros que aumentem a proteção do trabalhador. Sendo a responsabilidade objetiva uma regra que facilita ao trabalhador comprovar as lesões ou ameaças de lesões, há que ser prestigiada com o escopo de conferir-se a máxima eficácia possível ao direito ao meio ambiente do trabalho equilibrado.743 ,744

Além disso, a responsabilidade objetiva atende mais ao caráter punitivo da responsabilidade civil e deve ser preconizado quando estão em jogo conflitos que atingem diretamente a dignidade do trabalhador, como ocorre nas hipóteses de lesão ao meio ambiente laboral.

Deve-se, portanto, aplicar-se aos danos ocorridos no meio ambiente natural ou artificial a responsabilização objetiva. Registra-se que uma parcela da jurisprudência já vem se posicionando neste sentido, mas é preciso que esta vertente se torne majoritária.

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4.1.4. A extensão da tutela do meio ambiente laboral a todos os trabalhadores.

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