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A necessidade de aplicação da Teoria Geral do Ambiente às situações

2 A IMPORTÂNCIA DA VISÃO HUMANISTA DO MEIO AMBIENTE

3.4 O meio ambiente do trabalho na perspectiva da sociedade ambientalmente

3.4.1 A necessidade de aplicação da Teoria Geral do Ambiente às situações

O meio ambiente - concebido como um direito humano e fundamental e como um dos pilares de sustentação da ordem jurídica -, gera como uma de suas consequências a adoção de uma nova postura frente a institutos que antes já mereciam tutela jurídica, mas que não eram vistos em sua correlação com a temática ambiental, tais como a propriedade, o trabalho, a saúde e a vida dos trabalhadores.457

Revista Brasileira de Epidemiologia. v.6. n.4.São Paulo.dez.2003. Disponível in: <http://www.scielo.br> 454 BARBAGELATA, Héctor Hugo. O particularismo do Direito do Trabalho. Revisão técnica

Irany Ferrai; tradução de Edilson Alkmin Cunha. São Paulo. Ltr, 1996, p. 24-25.

455 PÉREZ Luño, Antonio Enrique. Op. cit., p. 508.

456 PURVIN de Figueiredo, Guilherme José. Op. cit., p. 238. 457 CARDOSO Borges, Roxana. Op. cit., p. 21, 22.

Com efeito, a tutela do meio ambiente laboral deixou de ser aspecto a ser tratado unicamente pelo Direito do Trabalho e em relação àqueles que desempenham suas atividades com vínculo empregatício, para ser reputado como integrante do meio ambiente considerado em sua totalidade.458

Pela primeira vez na história brasileira, o meio ambiente do trabalho como parte integrante do meio ambiente global recebe proteção constitucional adequada. Novos preceitos conduzem ao reestudo do tema, reformulando entendimentos que antes sempre privilegiaram as formas indenizatórias, em sua maioria insuficientes, como o pagamento de adicionais de insalubridade e de periculosidade, como já foi tratado no Capítulo 1 deste estudo.459

Por isso, sua abordagem não mais pode ser feita somente pela ótica do Direito do Trabalho, mas sim tomando como pressuposto a teoria geral do meio ambiente que tem suas raízes na Constituição Federal. Como já mencionado anteriormente, o meio ambiente do trabalho está tutelado de forma explícita pela Constituição Federal através dos artigos 7º incisos XXII, XXIII e XXVIII, 39, parágrafo 3º e 200, incisos II e VIII,

460 além de poder ser extraído da proteção conferida ao meio ambiente global, já que

parte integrante deste.

Dessa forma, o meio ambiente de trabalho deve ser compreendido como a parte do Direito Ambiental que se preocupa com as questões específicas da vida e da saúde dos trabalhadores. Liliano Allodi Rossit assevera que “tudo o que estiver de ligado à sadia qualidade de vida insere-se no conceito de meio ambiente, sendo o meio ambiente de trabalho apenas uma concepção mais específica.”461

458 SOARES, Evanna. Op. cit., p. 177.

459 A questão da proteção tradicional ao meio ambiente do trabalho será feita na segunda parte deste

trabalho.

460 SOARES, Evanna. A Política nacional de saúde e segurança no trabalho e a situação dos

trabalhadores informais. Revista do Ministério Público do Trabalho. Paraíba. n.1, jun. 2005, p. 176.

O Direito Ambiental, que tem sua origem na Constituição, em virtude de sua capacidade atrativa e em face de ter por intuito proporcionar uma sadia qualidade de vida ao homem, acabou por incorporar certas matérias que antes eram tratadas unicamente pelo Direito do Trabalho, tais como as ligadas à saúde e segurança.462

Sob este ponto de vista é que deve ser entendido o direito de trabalhar em um ambiente equilibrado, alçando a dignidade da pessoa humana como parâmetro para tal verificação, para que se atinja, futuramente, uma sociedade ambientalmente equilibrada463 “fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade.”464

A partir desta ótica somente poderá ser reputado como ambiente de trabalho sadio aquele em que a dignidade da pessoa do trabalhador for respeitada acima de tudo e onde não prevalecer nenhuma forma de violência, seja física ou moral.465,466

Essa nova concepção de meio ambiente laboral está intimamente relacionada com os direitos humanos e fundamentais, compreendendo o homem-trabalhador em sua totalidade. Considera, também, como fatores de risco à sua saúde e à sua vida não somente os físicos e biológicos do ambiente, mas, sobretudo, os de ordem psíquica e a interação de todos eles.467

Demais disso, está em consonância com a forma de organização do trabalho típica da sociedade pós-moderna onde a empresa está horizontalizada, compacta,

462 PURVIN de Figueiredo, Guilherme José. Op. cit., p. 59. Neste sentido: Assis Fernandes, Fábio

de. Op. cit., p. 1460; Sá da Rocha, Júlio César de. Op. cit., p. 275.

463 YOSHIDA, Consuelo Yatsuda Moromizato. Op. cit., p. 134. 464 Lei 9.795/99: art. 5º, V.

465 ALKIMIN, Maria Aparecida. Op. cit., p. 47,48.

466 Ibid., p. 110-111. [“Quando nos referimos à expressão violência nas relações de trabalho, não

queremos nos referir apenas às agressões físicas, mas o fenômeno tem uma abrangência bem maior, devendo incluir ameaças, pressões, intimidações, discriminações, abuso, exploração de mão-de-obra etc. (...) pode-se afirmar que a violência nas relações de trabalho pode se caracterizar por três tipos de ações: uso de força física na intenção de causar lesão ou morte; agressão verbal; molestamento, intimidação, discriminações, perseguição que induza o medo, insulto, desestabilização e exclusão do ambiente de trabalho, que podemos denominar de assédio que, por sua vez se divide em sexual e moral.”].

467 BEZERRA Leite, Carlos Henrique. O meio ambiente do trabalho na perspectiva dos direitos

concentrada na sua atividade principal, contando com um número menor de trabalhadores, mas exigindo destes uma polivalência e multifuncionalidade.468 As

atividades intelectuais assumiram posição de relevo na estrutura atual das empresas e a pressão para alcançar metas irreais, o assédio moral e sexual passam a oprimir os trabalhadores. 469

A saúde mental do trabalhador que, no atual estágio da sociedade, deve receber um tratamento especial - haja vista que já se diz que a depressão, o estresse e ansiedade são doenças do século XXI, originadas em grande medida nos ambientes de trabalho -, não é alcançado pelo método tradicional da medicina e higiene do trabalho.470

Salienta-se que tanto o Direito do Trabalho como o Direito Ambiental destinam- se à satisfação das necessidades humanas através da garantia da sadia qualidade de vida do homem, pois este é o destinatário de toda e qualquer norma.471

Todavia, certo é que enquanto o Direito Ambiental preconiza a adoção de medidas que reduzam o risco ao máximo possível, o Direito do Trabalho contenta-se com a adequação do ambiente aos limites de tolerância, o que já fora abordado de forma mais minuciosa no Capítulo 1 deste trabalho.472 A tutela disponibilizada pelo Direito do Trabalho, portanto, é infinitamente mais reduzida do que a proposta pelo Direito Ambiental.473

Como dito anteriormente, a proteção do meio ambiente do trabalho está vinculada diretamente à saúde do trabalhador, razão porque se trata de um direito de

468 PROSCURCIN, Pedro. Compêndio de direito do trabalho: introdução às relações de trabalho em transição à nova era tecnológica. São Paulo: Ltr, 2007, p. 34. ALKIMIN, Maria Aparecida. Op. cit.,

p. 36,37; ANTUNES, Ricardo. Neoliberalismo e a precarização estrutural do trabalho na fase de mundialização do capital. In: SILVA, Alessandro da et. al. Direitos Humanos: essência dos direitos do

trabalho. Op. cit., p. 45.

469 LIMA dos Santos, Ronaldo. Op. cit., p. 66. Neste sentido: BEZERRA Leite, Carlos Henrique.

Op. cit., p. 23.

470 Ibid., p. 66. Neste sentido: BEZERRA Leite, Carlos Henrique. Op. cit., p. 23. 471 PURVIN de Figueiredo, Guilherme José. Op. cit., p.21.

472 Ibid., p. 59. 473 Ibid., p. 59-60.

todos. Apesar de o Direito do Trabalho regulamentar as relações diretas entre empregado e empregador, com natureza de direito privado, as normas de saúde, higiene e segurança não são normas atinentes exclusivamente ao contrato individual de trabalho, pois transpassam a individualidade, lesionando toda a coletividade.

Neste diapasão, Guilherme José Purvin de Figueiredo474 - ao elogiar a opção adotada pela CF/88 no tocante à expressão meio ambiente de trabalho -, assevera que além de esta ser a terminologia utilizada pela OIT em suas Convenções, meio ambiente de trabalho deixa clara a intenção de que não se trate da saúde do trabalhador sob um viés privatístico, mas sim publicístico ou, melhor, coletivo e humanístico.

Frisa-se que sendo unitário o conceito de meio ambiente, não se pode estabelecer divisões isolantes que impeçam ou dificultem a incidência dos inúmeros institutos, princípios e regras gerais de Direito Ambiental em relação a todos os aspectos que o compõem devendo ser aplicados ao denominado meio ambiente do trabalho. Se assim não for estar-se-á criando obstáculos à efetividade desse direito humano e fundamental.

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