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Princípio da prevenção

2 A IMPORTÂNCIA DA VISÃO HUMANISTA DO MEIO AMBIENTE

3.5 Princípios ambientais fundamentais

3.5.3 Princípio da prevenção

O princípio da prevenção554 foi previsto inicialmente no artigo 2º da Lei nº 6.938

de 31.8.1981,555 que dispôs sobre a necessidade de prevenção quanto à degradação ambiental, de modo a garantir a qualidade ambiental e a dignidade humana. Adquiriu status constitucional, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, através de menção expressa no caput do artigo 225, segundo o qual incumbe ao Poder Público e à coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente equilibrado para as presentes e futuras gerações.556 É princípio que permeia todo o Direito Ambiental, protegendo o ambiente antes mesmo da consumação do dano557.

A prevenção, assim como a precaução, está ligada à idéia de que quase sempre os danos ambientais são irreversíveis, havendo que se priorizar a adoção de medidas

cautelar, há dois princípios que desaconselham o referendum à cautelar: o princípio da precaução, que busca evitar riscos ou danos à saúde e ao meio ambiente para gerações presentes; e o princípio da prevenção, que tem a mesma finalidade para gerações futuras. Nesse caso, portanto, o periculum in mora é invertido e a plausibilidade do direito também contraindica o referendum a cautelar. Senhor Presidente, portanto, pedindo todas as vênias, acompanho a dissidência e também não referendo a cautelar.” ( ADI 3.937-MC Rel. Min. Marco Aurélio, voto do Min. Carlos Britto, julgamento em 4-6-08, DJE de 10-10- 08)

552 Neste sentido: PASSOS Rezende, June Maria. Op. cit., p. 42; LEME Machado, Paulo Affonso.

Op. cit., p. 86.

553 ALBUQUERQUE, Letícia. Op. cit., p. 88.

554 LEME Machado, Paulo Affonso. Op. cit., p.351-352.

555 Lei 6.938/81: “Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a

preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:”

556 Neste sentido: ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p. 149; PACHECO Fiorillo, Celso

Antonio. Curso de direito ambiental brasileiro. Op. cit., p. 43.

antecipatórias. Por certo, ambos têm por escopo prevenir a ocorrência da degradação ambiental, mas não são idênticos, guardando algumas diferenças entre si.

O princípio da precaução implica um agir anterior ao do princípio da prevenção, já que preconiza um atuar mesmo diante da incerteza científica relativa ao potencial lesivo de certa atividade. O que existe é unicamente a probabilidade de que ocorram riscos sérios à saúde humana e ao meio ambiente. Destarte, ainda que incertos e abstratos os riscos, a precaução requer cuidados em face deles.558

Já o princípio da prevenção tem sua base de incidência calcada na certeza de que determinada atividade desencadeia certos riscos à saúde humana e ao meio ambiente e, assim, sinaliza no sentido da adoção de medidas que possam neutralizá-los. Aqui os riscos são certos, concretos.

A CF/88 em sintonia com o disposto no art. 225 e 200, VIII, consagrou no inciso

XXII, do art.7º o direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança. Além disso, o parágrafo 2º do artigo 5º da CF/88, garante a inserção de normas que visem à proteção e à preservação da saúde dos trabalhadores.559

Certamente, o ideal seria a eliminação dos riscos no ambiente de trabalho, o que, todavia, não é possível, pois o risco é inerente a uma série de atividades consideradas essenciais para a sociedade.560 Sendo assim, há que se buscar ao máximo a mitigação desses riscos no ambiente de trabalho, de modo que não exponham a risco a saúde e a vida do trabalhador.

Assim também dispõe a Convenção nº 155 da OIT, incorporada no ordenamento jurídico pátrio pelo Decreto Legislativo nº 2 de 1992. O seu artigo 13 é ilustrativo ao

558 Neste sentido: VIRGÍLIO Veiga Rios, Aurélio. Op. cit., p. 375; TELES da Silva, Solange. Op.

cit., p. 83.

559 ALLODI Rossit, Liliana. Op. cit., p. 150.

preconizar que:

“Deverão ser adotadas medidas de conformidade com a legislação e a prática nacional a fim de assegurar que aquelas pessoas que projetam, fabricam, importam, fornecem ou cedem, sob qualquer título, maquinário, equipamentos ou substâncias para uso profissional:

a) tenham certeza, na medida do razoável e possível, de que o maquinário, os equipamentos ou as substâncias em questão não implicará perigo algum para a segurança e a saúde das pessoas que fizerem uso correto dos mesmos; b) facilitem informações sobre a instalação e utilização corretas do maquinário e dos equipamentos e sobre o uso correto de substâncias, sobre os riscos apresentados pelas máquinas e os materiais, e sobre as características perigosas das substâncias químicas, dos agentes ou dos produtos físicos ou biológicos, assim como instruções sobre a forma de prevenir os riscos conhecidos;

c) façam estudos e pesquisas, ou se mantenham a par de qualquer outra forma, da evolução dos conhecimentos científicos e técnicos necessários para cumprir com as obrigações expostas nos itens a) e b) do presente artigo”.

Neste contexto, os artigos 155 e 200 da CLT assumem grande relevância, vez que atribuem ao Ministério do Trabalho a incumbência de estabelecer normas, ante as peculiaridades de cada atividade ou setor de trabalho, com a participação tripartite, ou seja: com a participação do governo, dos trabalhadores e dos empregadores.561

A partir dos mencionados dispositivos é que teve origem a Portaria n° 3.214/78, elaborando as normas regulamentadoras, que segundo Sebastião Geraldo de Oliveira562 “têm eficácia jurídica equiparada à da lei ordinária, devendo o empregador adotar todas as precauções para o seu devido cumprimento.”563

O sistema trabalhista está dotado de vários institutos de caráter preventivo e precaucional em relação aos riscos ambientais, dentre os quais se podem citar: Embargo e interdição (arts. 160 e seguintes da CLT e NR-3 da Portaria nº 3.214/78), greve ambiental,564 as Comissões Internas de Prevenção de Acidentes – CIPA (art.10, II, a, do

561 MELO, Raimundo Simão de. Op. cit., p. 40. 562 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Op. cit. p.1439.

563 ALLODI Rossit, Liliana. Op. cit., p. 149. [“As Normas Regulamentadoras, aprovadas pela

portaria n.3.214/78, indicam os padrões que devem ser seguidos pelos empregadores e têm como objetivo a adequação do meio ambiente de trabalho. (...) Trata-se de conveniente instrumento preventivo]”.

564 Neste sentido: MELO, Raimundo Simão de. Op. cit., p.98. PACHECO Fiorillo, Celso Antonio.

ADCT e art. 163 da CLT), Equipamentos de proteção individual e coletiva (art.166 da CLT), Inspeção prévia (NR-2 da Portaria nº 3.214/78), Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT)- (NR-4 da Portaria nº 3.214/78), Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO (NR-7 da Portaria nº 3.214/78), Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais (NR-9 da Portaria nº 3.214/78).565,566,567

Salienta-se que as medidas de proteção coletivas são medidas preventivas muito mais eficientes que os equipamentos de proteção individuais, fato este enaltecido pela NR-09, no item 9.3.5 que trata “Das medidas de controle”.

A Constituição do Estado de São Paulo prevê no parágrafo 1º do art.229, a possibilidade de o sindicato da categoria ou representante por ela designado requerer a interdição de máquina, setor de serviço ou de todo o ambiente de trabalho quando se estiver diante de exposição da vida e da saúde de trabalhadores a risco iminente de dano. Além disso, no parágrafo 2º autorizou o trabalhador a interromper suas atividades, quando estiver desempenhando suas funções sob risco grave. Tal possibilidade também está prevista no artigo 13 da Convenção 155 da OIT.568,569

565 Além das mencionadas Normas Regulamentadoras citam-se as seguintes: NR-8 – Edificações;

NR-9 – Programa de Prevenção e Riscos Ambientais (PPRA); NR-10 – Instalações e serviços em eletricidade; NR-11 – Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais; NR-12 – Máquinas e Equipamentos; NR-13 – Caldeiras e vasos de pressão; NR-14 – Fornos; NR-15 – Atividades e operações insalubres; NR-16 – Atividades e operações perigosas; NR-17 – Ergonomia; NR-18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção; NR-19 – Explosivos; NR-20 – Líquidos, combustíveis e inflamáveis; NR-21 – Trabalho a céu aberto; NR-22 – Trabalhos subterrâneos; NR-23 – Proteção contra incêndios; NR-24 – Condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho; NR-25 – Resíduos industriais; NR-26 – Sinalização de segurança; NR-27 – Registro de profissional do Técnico de Segurança do Trabalho no Ministério do Trabalho; NR-28 – Fiscalização e penalidades; NR- 29 – Segurança e Saúde no Trabalho Portuário; NR-30 – Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário; NRR-1 – Disposições Gerais; NRR-2 - Serviços Especializados em Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural (SEPART); NRR-3 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho Rural (CIPART); NRR-4 – Equipamentos de Proteção Individual (EPI); NRR-5 – Produtos químicos.

566 MELO, Raimundo Simão de. Op. cit., p.91-134, para aprofundar sobre os institutos de cunho

preventivo.

567

Neste sentido: MONTEIRO de Barros, Alice. Op. cit., p.1060; Melo, Raimundo Simão de. Op. cit., p. 91-134.

568 Neste sentido: PACHECO Fiorillo, Celso Antonio. Op. cit., p. 327-328; PURVIN de Figueiredo,

Guilherme. Op. cit., p. 61.

Tanto o princípio da precaução quanto o da prevenção estão em harmonia com os princípios protetivo e da continuidade, que orientam o Direito do Trabalho. Através de uma interpretação conjunta permitem concluir que caberá ao empreendedor tomar todas as medidas necessárias para prevenir e eliminar, ao máximo possível, os riscos no ambiente de trabalho.

A continuidade do contrato de trabalho não pode fazer com que o trabalhador fique exposto aos riscos laborais durante longo período de tempo, comprometendo a sua saúde e, em muitos casos, a sua vida. É nesse sentido, também, que devem ser compreendidas as Convenções da OIT sobre meio ambiente de trabalho e saúde dos trabalhadores, bem como as demais normas que tratam do assunto.570

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