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O entrave imposto pela globalização econômica

Os números oficiais de acidentes do trabalho e doenças profissionais demonstram que o Brasil enfrenta atualmente inúmeras barreiras para que se confira efetividade aos direitos humanos e fundamentais. Tal situação pode ser atribuída ao desmantelamento do Estado ocasionado pelo fenômeno da globalização econômica152 e do neoliberalismo – fator de ordem externa -153 bem como a aspectos de cunho cultural atinentes aos atores sociais envolvidos com as relações de trabalho no Brasil – fator

151 ALBUQUERQUE de Oliveira, Paulo Rogério. Op. cit., p. 8-9.

152 FARIA, José Eduardo. Declaração Universal de Direitos Humanos: Um conqüentenário à luz da

globalização econômica. Revista da CEJ. v. 2, n. 6, set./dez. 1998, p. 1-3. Disponível em: <http://www2.cjf.jus.br/ojs2/index.php/cej/article/view/162/250>. Acesso em 14 nov. 2008. Neste sentido: MEDEIROS Neto, Xisto Tiago de. A questão da ineficácia social da Constituição e os novos rumos da atuação do Poder Judiciário. Revista do Ministério Público do Trabalho, Rio Grande do Norte, n.7, jul. 2007. p. 14-15.

interno - que acabam por conduzir a uma hermenêutica constitucional ineficaz.154

No que se refere à globalização, esta não é uma realidade somente brasileira.155

A globalização se constitui em entrave mundial para a implementação dos direitos humanos e fundamentais, haja vista o enfraquecimento do Estado e o poder desfrutado pelo capital internacional. Os direitos humanos e fundamentais, especialmente dos trabalhadores, passaram a ser reputados, de uma maneira geral, como custos sociais que impedem e dificultam a competitividade das empresas.156

É por isso, que se diz que os direitos humanos e fundamentais atravessam um momento de crise, pois se constatou que não basta somente ter direitos no plano jurídico e abstrato, é preciso concretizá-los.157 José Eduardo Faria, no mesmo sentido de Joaquín Herrera Flores, ao refletir sobre as condições a partir das quais houve a consagração no plano internacional da Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 1948, e as que se vivenciam atualmente, anota que a globalização econômica teve um efeito desagregador das estruturas estatais e, por conseguinte, ocasionou a “desconstitucionalização” de vários direitos fundamentais. O mercado passa a ser o agente que regulamenta a vida de todos.

As conquistas obtidas pelos trabalhadores após fortes embates históricos pretendem serem substituídas pela “liberdade”, a partir da qual o mercado se encarregará de selecionar quem irá trabalhar e ditará como o trabalho será feito. O Estado passa a relegar as políticas de emprego, conferindo mais poderes ao capital em detrimento dos direitos humanos fundamentais, o que se configura em violação à

154 Ibid., p. 18.

155 PIOVESAN, Flávia. Desafios da ordem Internacional contemporânea. In: PIOVESAN, Flávia.

(coord.). Direitos Humanos. Curitiba: Juruá, 2006.p. 27.

156 HERRERA Flores, Joaquín. Los Derechos Humanos: una visión crítica. p. 26. Disponível em:

<http:/www.fiadh.org/descargas/losderechoshumanos_unavisioncritica.pdf>. Acesso em 15 out. 2008, p. 22.

157 RABOSSI, Eduardo. El fenómeno de los derechos humanos y la posibilidad de un nuevo

paradigma teorico. Revista del Centro de Estudios Constitucionales. n. 3 May./agos. 1989. Disponível em <http: /www.dialnet.unirioja.es > . Acesso em 7 nov. 2008, p. 342.

dignidade da pessoa humana, ante a ausência de postos de trabalho acessíveis pela grande massa da população.

É neste contexto de desemprego estrutural e de exclusão social, 158 marcado pela

força do capital e dos agentes econômicos, que a regulamentação estatal rígida existente acerca do trabalho humano começaa ser posta em xeque159. Ganha coro mundial um discurso essencialmente econômico que prega a desregulamentação e a flexibilização das normas trabalhistas160, ao argumento de que elas seriam arcaicas e que deveriam ceder espaço a um novo tipo de regramento, com características mais liberais até mesmo para que se gerassem mais empregos.161

Os sindicatos - que pouco têm atuado na busca por melhores condições de trabalho, focando sua atuação mais no aspecto monetário -, acabam aceitando nas negociações coletivas a flexibilização de normas de saúde e segurança.162

Incentivando a flexibilização de normas de ordem pública atinentes à saúde e segurança dos trabalhadores e, em contrariedade com o disposto no art. 71, § 3º, da CLT, tem-se a Portaria MTE 42, de 28 de março de 2007, que dispõe acerca dos pressupostos para a redução de intervalo intrajornada. Em seu art. 1º prescreve que: “O intervalo para repouso ou alimentação de que trata o art. 71 da CLT poderá ser reduzido por convenção ou acordo coletivo de trabalho, devidamente aprovado em assembléia geral, desde que: I – os empregados não estejam submetidos a regime de trabalho prorrogado;

158 ANTUNES, Ricardo. Neoliberalismo e a precarização estrutural do trabalho na fase de

mundialização do capital. In: SILVA, Alessandro da; SOUTO Maior, Jorge Luiz In: SILVA, Alessandro da et. al. Direitos Humanos: essência dos direitos do trabalho. São Paulo: Ltr, 2007. p. 38, 39; SAYÃO Romita, Arion. Globalização da Economia e Direito do Trabalho. São Paulo: Ltr, 1997.p.45-46.

159 ALKIMIN, Maria Aparecida. Violência na Relação de Trabalho e a Proteção à Personalidade do Trabalhador. Curitiba: Juruá, 2008. p. 30-31.

160 SAYÃO Romita, Arion. Globalização da Economia e Direito do Trabalho. São Paulo. Ltr, 1997,

p.54.

161 Neste sentido: MONTEIRO de Brito Filho, José Cláudio. Trabalho Decente: análise jurídica da exploração, trabalho forçado e outras formas de trabalho indigno. São Paulo: LTR, 2004, p. 25,56;

ALKIMIN, Maria Aparecida. Op. cit., p.28; SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais e relações

privadas. 2.ed. Lumen Juris: Rio de Janeiro, 2006. p. 28; OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Op. cit., p.

151.

e II – o estabelecimento empregador atenda às exigências concernentes à organização dos refeitórios e demais normas regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho”.

Destaca-se que o próprio Tribunal Superior do Trabalho em que, pese ter assentado por meio da Orientação Jurisprudencial nº 342163 a impossibilidade de

flexibilização do intervalo intrajornada tem permitido a redução, em alguns casos, como o dos trabalhadores em transporte coletivo, o que acaba criando precedentes neste sentido. Justifica tal possibilidade argumentando que em razão de a atividade ser itinerante não é viável a manutenção de refeitório. 164

Todo o esforço histórico que acabou contemplando a necessidade de proteção da vida e da saúde daqueles que trabalham é desconsiderado pelo modelo econômico- político atual, que também prejudica severamente a efetivação dos demais direitos humanos e fundamentais. Conseqüentemente, coloca-se o homem em uma condição de vulnerabilidade absoluta, expondo a sua vida, a sua saúde e, em última análise, a sua dignidade a ambientes de trabalho prejudiciais.165, 166

Diante do exposto, conclui-se, em suma, que a ineficácia social do direito ao meio ambiente laboral equilibrado e da proteção à integridade física e psíquica dos trabalhadores é decorrência de inúmeras causas decorrentes de atitudes e diversos fatores sociais envolvidos na relação de trabalho, pautadas na concepção tradicional de meio ambiente laboral. Os números elevados de acidentes e doenças do trabalho indicam a necessidade de alteração do paradigma economicista e privatístico da saúde Escola Superior do Ministério Público da União. Brasília, 2004, p. 88.

163 Orientação Jurisprudencial 342 da SBDI-I do TST: “Intervalo intrajornada para repouso e

alimentação. Não concessão ou redução. Previsão em norma coletiva. Validade. É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantido por norma de ordem pública. Art. 71 da CLT; art. 7º, XXII, da CF/1988, infenso à negociação coletiva”.

164 TST, 4ª Turma, RR 204/2004-072-02-00.5, Rel. Min. Barros Levenhagen; TST, SDC, ROAA -

45/2005-000-24-00.6, Rel. Min. Ives Gandra Martins Filho, DJ 03.08.2007.

165 Neste sentido: MONTEIRO de Brito Filho, José Cláudio. Op. cit.p. 26; GOSDAL, Thereza

Cristina. Dignidade do trabalhador: um conceito construído sob o paradigma do trabalho decente e da

do trabalhador, para o humanista e holístico, que prioriza a promoção da saúde do trabalhador e de sua dignidade.

166 Ibid., p. 26.

2 A IMPORTÂNCIA DA VISÃO HUMANISTA DO MEIO AMBIENTE DO

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