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A extensão da tutela do meio ambiente laboral a todos os trabalhadores

4 OS DESAFIOS PARA A PROTEÇÃO EFETIVA DA SAÚDE

4.1.4 A extensão da tutela do meio ambiente laboral a todos os trabalhadores

parte do meio ambiente global, bem como diante do fato de ser considerado direito fundamental de todos – e tomando-se como base que a interpretação deve enfatizar a

742 ASSIS Fernandes, Fábio de. Op. cit., p. 64.

743 MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador: responsabilidades legais, dano material, dano moral, estético. Op. cit., p. 274; Assis Fernandes, Fábio de.

Op. cit., p. 65.

744 Em sentido contrário: BARBOSA Garcia, Gustavo Filipe. Op. cit., p. 43-52; SADY, João José.

Op. cit., p. 146-149. Pugnando pela aplicação da responsabilidade subjetiva em alguns casos e pela objetiva em outros se tem o posicionamento de Fábio Goulart Villela. GOULART Villela, Fábio. Responsabilidade do Empregador no acidente de trabalho. Revista Ltr, 70, jul. 2006, p. 841.

745 TRT 12a Região – RO 00823-2005-029-12-00-4 -b Ac. 06443/2007 – 1a T. - Rel. Juíza Viviane

Colucci – DJSC 16.05.2007; TRT 15a Região – RO 1106-2005-077-15-00-7 – (52803/06) – 10a C. - Rel. Juiz José Antonio Pancotti – DOESP 10.11.2006 – p. 65.

máxima eficácia do direito –, não há como entendê-lo como direito unicamente dos empregados.

A característica da universalidade e indivisibilidade dos direitos fundamentais impõe a sua extensão a todos os que trabalham, independentemente da forma como isso ocorre (informais, autônomos, estagiários), até mesmo porque o seu objetivo é a tutela da vida e da saúde; direitos indiscutivelmente pertencentes a todos.746 Os direitos fundamentais assentam-se sobre uma determinada base de valores e não podem ser dela descontextualizados como meras abstrações.747

Como direito difuso, é direito de todos aqueles que trabalham, exercerem suas atividades em local seguro e adequado.748 Evanna Soares749 adverte que se não se perceber o meio ambiente do trabalho sadio como direito de todos, mas apenas dos empregados acabar-se-á criando “uma sub-categoria de trabalhadores, que pode adoecer, acidentar-se e até morrer em serviço”, o que é inaceitável em um Estado Constitucional do Ambiente.

Adotando-se os postulados da nova Hermenêutica Constitucional chega-se à conclusão de que o direito ao meio ambiente laboral sadio e equilibrado não é privilégio apenas dos que desenvolvem suas funções sob o vínculo empregatício, mas de todos os que trabalham. Há a proteção ao trabalho sem adjetivos.

A própria norma constitucional em seu parágrafo 3º do art. 39 que trata das normas aplicáveis aos servidores públicos estatutários, indica que se deve observar o disposto no inciso XXII do art.7º que prevê o direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança, abrindo espaço para a

746 Neste sentido: SOARES, Evanna. Ação ambiental trabalhista. Op. cit., p. 87, 88; OLIVEIRA

Sabino, Marcos; RODRIGUES Corrêa Filho, Heleno; LORENZ, Vera Regina. Op. cit., p. 198; João Carlos Teixeira. “A legislação de saúde do trabalhador aplicável e vigente no Brasil”. Disponível em: <http://www.pgt.mpt.gov.br/pgtgc/objeto/texto/impressao.wsp?tmp.estilo=&tmp.area=324&tmp.texto=89 3>. Acesso em: 10.09.2008.

aplicação das Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho no setor público. A Convenção nº 155 da OIT, no seu artigo 3º prescreve que o termo "trabalhadores" alberga também os funcionários públicos. Neste sentido há a disposição da Convenção nº 161 da OIT que prescreve em seu artigo 3º que "Todo Membro se compromete a instituir, progressivamente, serviços de saúde no trabalho para todos os trabalhadores, entre os quais se contam os do setor público, e os cooperantes das cooperativas de produção, em todos os ramos da atividade econômica e em todas as empresas (...)". Ademais, a Lei n° 8.112/90750 que traça as regras aplicáveis aos servidores públicos estatutários preconiza expressamente o direito ao meio ambiente laboral sadio e equilibrado.

Com base nisso, o Ministério Público do Trabalho751 entende que possui

atribuição para atuar nos casos envolvendo o direito ao meio ambiente do trabalho e os servidores públicos. Ressalta-se que há algumas decisões judiciais neste sentido, tendo o STF se manifestado assim recentemente na Reclamação nº 3303-1, ajuizada pelo Estado do Piauí.752

748 LIMA dos Santos, Ronaldo. Op. cit., p. 59.

749 SOARES, Evanna. Ação ambiental trabalhista. Op. cit., p. 83, 84.

750 Lei 8.112/90: “Art. 185. Os benefícios do Plano de Seguridade Social do servidor compreendem:

I – quanto ao servidor: (...) h) garantia de condições individuais e ambientais de trabalho satisfatórias.”

751 O Ministério Público do Trabalho entende que possui atribuição e, portanto, legitimidade para

atuar nos casos envolvendo servidores da administração pública, o que está expresso na Orientação n.7 da Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho, criada pela Portaria PGT nº 410, de 14 de outubro de 2003in verbis: “7) ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ATUAÇÃO NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO. O Ministério Público do Trabalho possui legitimidade para exigir o cumprimento, pela Administração Pública direta e indireta, das normas laborais relativas à higiene, segurança e saúde, inclusive quando previstas nas normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego, por se tratarem de direitos sociais dos servidores, ainda que exclusivamente estatutários.”. A alteração de posicionamento do MPT está calcada nos seguintes fundamentos: Os fundamentos para a alteração são: os termos da Declaração Universal dos Direitos do Homem; as Convenções Internacionais 155 e 161 da Organização Internacional do Trabalho – OIT; os artigos 1º, incisos III e IV; 5º, caput, incisos III e XXIII e parágrafos 1º e 2º; 6º; 7º, inciso XXII; 37, caput e parágrafo 6º; 39, parágrafo 3º; 170; 196; 200, inciso VIII; 201, inciso I; e 225 da Constituição da República; a jurisprudência e Súmula 736 emanadas da Suprema Corte; a Lei Complementar nº 75/93, artigos 83, inciso XII e 84, incisos II, III; os artigos 68, 185, 186, 211, 212, 213 e 214 da Lei nº 8.112/90; bem como os artigos 154 a 159 consolidados e as diversas disposições das normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego.

Entretanto, a interpretação clássica de que o meio ambiente laboral sadio e equilibrado é direito apenas dos empregados ainda é dominante e precisa ser substituída por esta visão mais ampla e abrangente, de modo a possibilitar que um número elevado de trabalhadores seja alcançado pelo sistema de proteção do meio ambiente laboral.

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