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Princípio do poluidor-pagador e/ou da responsabilização

2 A IMPORTÂNCIA DA VISÃO HUMANISTA DO MEIO AMBIENTE

3.5 Princípios ambientais fundamentais

3.5.4 Princípio do poluidor-pagador e/ou da responsabilização

Alguns autores identificam o princípio da responsabilização com o do poluidor- pagador, como é o caso de Celso Antonio Pacheco Fiorillo Édis Milaré, Antonio Herman Benjamin, Cristiane Derani, José Adércio Leite Sampaio, Chris Wold, Afrânio José Fonseca Nardy, Annelise Monteiro Steigleder, Raimundo Simão de Mello. 571

José Rubens Morato Leite,572 por seu turno, apoiado em lições de José Joaquim Gomes Canotilho e de Maria Alexandra de Aragão, aduz que há diferenças entre os dois princípios, sendo o da responsabilização mais amplo que o do poluidor-pagador e contendo uma faceta não exclusivamente econômica. Tem finalidade mais sancionatória do que solidarista. Assim também se posicionam Marcelo Rodrigues Abelha, Paulo de para o ambiente de trabalho.

570 PURVIN de Figueiredo, Guilherme. Op. cit.,p. 61.

571 Neste sentido: PACHECO Fiorillo, Celso Antonio. Op. cit., p. 32; MILARÉ, Edis. Op. cit., p.

163; HERMAN Benjamin, Antonio. O princípio do poluidor-pagador e a reparação do dano ambiental. In: HERMAN Benjamin, Antonio (Coord.) Dano ambiental: prevenção, reparação e repressão. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 1995, p. 226; DERANI, Cristiane. Op. cit., p. 143; LEITE Sampaio, José Adércio; WOLD, Chris; Fonseca Nardy, Afrânio José. Op. cit., p.74; MONTEIRO Steigleder, Annelise. Op. cit., p. 192. MELO, Raimundo Simão de. Op. cit.,p. 51; SÁ da Rocha, Júlio César. Op. cit., p. 286.

Bessa Antunes e Paulo Affonso Leme Machado.573 Esta distinção não será adotada para

os fins deste estudo, por razões didáticas.

A expressão “poluidor pagador” surgiu nas manifestações estudantis dos anos 60,574 mas foi consagrada internacionalmente pela OCDE - Organização para a

Cooperação e Desenvolvimento Econômico no ano 1972,575 na Recomendação do Conselho sobre os princípios orientadores relativos aos aspectos econômicos internacionais das políticas ambientais. Consagrou-se como princípio em 1987 com o Ato Único Europeu ao Tratado de Roma, que introduziu uma maneira explícita a política ambiental comunitária, nos seus artigos 130R a 130T.576

No ano 1992, na Declaração do Rio de Janeiro, o princípio do poluidor-pagador foi contemplado como princípio 16 enunciando:577

Princípio 16: “As autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar distorções no comércio e nos investimentos internacionais.”

No âmbito do direito brasileiro, esse sistema de responsabilização do poluidor tem as suas linhas delineadas pelo parágrafo 3º do artigo 225 da Constituição Federal,578

o qual prescreve que aquele que causar dano ao meio ambiente poderá ser responsabilizado administrativa, civil e penalmente. E, em nível infraconstitucional, 572 MORATO Leite, José Rubens. Op. cit., p. 55.

573 Neste sentido: ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p.152; LEME Machado, Paulo Affonso. Princípios Gerais de Direito Ambiental Internacional e a Política Ambiental brasileira. In: HERMAN

Benjamin, Antonio. (coord.) Dano ambiental: prevenção, reparação e repressão. São Paulo: Rt, 1995, p.403-404; BESSA Antunes, Paulo de. Op. cit., p. 39, 40.

574 ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p.138.

575 Neste sentido: HERMAN Benjamin, Antonio. Op. cit., p. 227; ABELHA Rodrigues, Marcelo.

Op. cit., p.139; STOCCO Betiol, Luciana. Potencial e limites da responsabilidade civil como mecanismo

econômico de proteção ao meio ambiente. Dissertação (Mestrado em Direito) Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo - PUC/SP, 2008, p.70.

576 ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p.146, 147. 577 LEME Machado, Paulo Affonso . Op. cit., p. 404. 578 Constituição Federal de 1988:

Art.225, § 3º - “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.

pelo inciso VII do art. 4° da Lei n° 6.938/81, figurando como objetivo da Política Nacional do Meio Ambiente a “imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”.

O princípio do poluidor-pagador, juntamente com os princípios da prevenção, da precaução e do desenvolvimento sustentável constituem as molas mestras do Direito Ambiental.579 Por isso, é que o princípio da responsabilidade ou do poluidor-pagador deve ser interpretado juntamente com os princípios mencionados nos itens anteriores, compreendendo-se no instituto da responsabilidade civil, uma forma de prevenir e evitar o dano ambiental e não apenas de reparar.580

De acordo com este princípio, o poluidor deve suportar os custos do desenvolvimento das medidas de prevenção, reparação e repressão da poluição, evidenciando que além de incidir com o intuito de responsabilizar o causador do dano ambiental, apresenta uma função cautelar e de controle preventivo ambiental.581A partir

dele busca-se fazer com que o custo da poluição não configure prática compensatória para a atividade econômica, sendo mais vantajoso a adoção de medidas de caráter preventivo.582

Maria Alexandra de Aragão583 adverte que deve ser reputado como poluidor aquele que tem poderes para influenciar nas decisões a partir das quais se origina o dano

579 Neste sentido: PACHECO Fiorillo, Celso Antonio. Op. cit., p. 32; MELO, Raimundo Simão de.

Op. cit., p. 51; STOCCO Betiol, Luciana. Op. cit., p.142, 143; MONTEIRO Steigleder, Annelise. Op. cit., p. 194; MILARÉ, Édis. Op. cit., p. 164. HERMAN Benjamin, Antonio. Op. cit., p. 227.

580 Neste sentido: ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p.137; HERMAN Benjamin, Antonio.

Op. cit., p. 227; MONTEIRO Steigleder, Annelise. Op. cit., p. 193; LEME Machado, Paulo Affonso. Op. cit., p. 59; BRUM Vaz, Paulo Afonso. O Direito Ambiental e os Agrotóxicos. Porto Alegre. Livraria do Advogado. 2006. p.99; SOUSA Cunhal Sendim, José de. Responsabilidade civil por danos ecológicos. Coimbra: Almedina, 2002, p.19; YOSHIDA, Consuelo Yatsuda Moromizato. Op. cit., p. 116; ASSIS Fernandes, Fábio de. Op. cit., p. 62.

581 Neste sentido: HERMAN Benjamin, Antonio. Op. cit., p. 228, 229; MONTEIRO, Steigleder,

Annelise. Op. cit., p. 194.

582 HERMAN Benjamin, Antonio. Op. cit., p. 236.

583 SOUSA Aragão, Maria Alexandra de. O princípio do poluidor-pagador: pedra angular da

ambiental e que tem a possibilidade de optar ou não pelo manejo de medidas precaucionais e preventivas.

É sabido que todo processo produtivo, além de seu objetivo-fim, gera efeitos secundários desta atividade, os quais podem ser positivos ou negativos. São conhecidas como externalidades positivas se trouxerem benefícios, como é o caso do lucro, ou externalidades negativas, se implicarem custos adicionais, como por exemplo, a poluição.584 As externalidades negativas são recebidas pela sociedade, ao contrário do lucro, que é percebido somente pelo empreendedor.585

É em razão desta “privatização do lucro e socialização das perdas”586 - princípio basilar do capitalismo -,587 que o princípio do poluidor pagador, preconiza que os custos resultantes dos danos ambientais devem ser internalizados, levados em conta pelo produtor, de forma que as externalidades negativas (no caso, a poluição) não venham a ser arcadas pela sociedade como um todo.588 Isso quer dizer que o repasse dos custos

impostos para prevenção ou reparação dos danos ambientais pode ser repassada pelo empreendedor ao comprador de seus produtos ou ao usuário de seus serviços, mas não àqueles que deles não se beneficiariam.589

No caso do Direito do Trabalho, tais custos não podem ser repassados aos empregados, porquanto além de serem hipossuficientes os riscos da atividade correm por conta do empregador, conforme disposto no artigo 2º da CLT.590 Neste sentido é o artigo 21 da Convenção 155 da OIT.591

Op. cit., p. 61.

584 Neste sentido: MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 163, 164; HERMAN Benjamin, Antonio. Op. cit., p.

228, 229; DERANI, Cristiane. Op. cit., p. 142, 143; ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p.142.

585 DERANI, Cristiane. Op. cit.,p. 143. 586 DERANI, Cristiane. Op. cit.,p. 143.

587 YOSHIDA, Consuelo Yatsuda Moromizato. Op. cit., p. 139. 588 BESSA Antunes, Paulo de. Op. cit., p. 40.

589 LEME Machado, Paulo Affonso. Op. cit., p. 60.

590 CLT: “Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os

riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço”.

É dele o dever de custear as despesas necessárias para oferecer aos trabalhadores um meio ambiente do trabalho adequado e saudável.592

Para viabilizar a concretização do princípio do poluidor-pagador, o Brasil adotou o sistema da tríplice responsabilização em caso de dano ou de ameaça de dano ambiental, de forma cumulativa e não excludente. Salienta-se que não há bis in idem na previsão de medidas sancionatórias de cunho administrativo, civil e penal, porquanto as esferas são independentes entre si e a natureza das sanções é distinta.593,594

Ocorre que a complexidade da sociedade e a necessidade de impedir que determinados comportamentos anti-sociais aconteçam, fez com que a doutrina percebesse que atualmente não há mais uma separação rígida entre a responsabilidade penal, civil e administrativa. Todas exercem as funções que antes eram estanques e atribuídas a cada uma das esferas de forma independente, utilizando-se de instrumentos que lhes são próprios. Nesse sentido é a opinião de Marcelo Abelha Rodrigues, Consuelo Yoshida e Luciana Stocco Betiol.595

O direito penal além de ocupar-se com a repressão do ofensor, também se preocupa com a efetiva reparação do dano, como se vislumbra da análise dos arts. 20, 27 e 28 da Lei de crimes ambientais.596

implicar nenhum ônus financeiro para os trabalhadores”.

592 ASSIS Fernandes, Fábio de. Op. cit., p. 109.

593 Lei 9.605/98: Art.1º: “as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente são punidas com

sanções administrativas, civis e penais, na forma desta lei. Parágrafo único: As sanções administrativas, civis e penais poderão cumular-se, sendo independentes entre si”.

594 Neste sentido: ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p.157; PACHECO Fiorillo, Celso

Antonio. Op. cit., p.33; MORATO Leite, José Rubens. Op. cit., p. 136-137; YOSHIDA, Consuelo Yatsuda Moromizato. Op. cit., p. 114.

595 Neste sentido: ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p.157; YOSHIDA, Consuelo Yatsuda

Moromizato. Op. cit., p. 143-145; STOCCO Betiol, Luciana. Op. cit., p.145, 146.

596 Lei 9.605/98: “Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor

mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente.

Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá efetuar-se pelo valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido”.

“Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995,

Certo é que a responsabilização ambiental pretende ser efetiva, independentemente da esfera em que se desencadeia a sanção, já que todas buscam recuperar, na medida do possível, o bem degradado - aqui se incluindo a saúde do trabalhador-, e promover a educação ambiental, através das medidas punitivas.597

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