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Princípio da participação

2 A IMPORTÂNCIA DA VISÃO HUMANISTA DO MEIO AMBIENTE

3.5 Princípios ambientais fundamentais

3.5.5 Princípio da participação

O princípio da participação, também denominado da colaboração598 ou cooperação599 tem respaldo constitucional, no art. 225, caput, o qual convoca à coletividade como um todo - pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado - , a interagirem e envidarem todos os esforços com o fito de proteger e preservar o meio ambiente. Estabelece que não é apenas dever do Estado a proteção e preservação do meio ambiente, mas também dos indivíduos, dos sindicatos, das organizações não- governamentais.600 Participam todos na proteção do ambiente - nele incluído o do

trabalho -. Estão todos, ademais, legitimados para defendê-lo perante as esferas somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade”.

“Art.28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:

I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do artigo referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo artigo;

II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição;

III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1° do artigo mencionado no caput;

IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III;

V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências necessárias à reparação integral do dano”.

597 Neste sentido: ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p.157; PÉREZ Luño, Antonio Enrique.

Op. cit., p. 523.

598 BRUM Vaz, Paulo Afonso. Op. cit., p. 101. [Utiliza o princípio da colaboração como sinônimo

de princípio da participação].

599 MORATO Leite, José Rubens. Op. cit., p. 51.

600 Neste sentido: MELO, Raimundo Simão de. Op. cit., p. 54; PACHECO Fiorillo, Celso Antonio.

Op. cit., p. 44; ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p. 256; MILARÉ, Edis. Op. cit., p. 162; LEITE Sampaio, José Adércio; WOLD, Chris; Fonseca Nardy, Afrânio José. Op. cit., p. 80; BRUM Vaz, Paulo

administrativa ou judicial.601

A participação popular pode operar-se mediante: plebiscito, referendo, audiências públicas, representação em conselhos, iniciativas de leis, entre outros.602 O

Ministério Público, mais recentemente, tem aplicado o princípio da participação popular quando se está diante de questões ambientais. Através de uma amplo debate e com a colaboração dos interessados têm firmado termos de ajustamento de conduta visando a tutela do meio ambiente e da saúde humana.603

Este princípio é corolário do Estado Democrático Social de Direito e é de suma importância na implementação do Estado Ambiental, e para que se alcance uma sociedade mais justa, livre e solidária.604 Pretende que a sociedade como um todo participe e atue na defesa do meio ambiente.605 Já se disse em outro momento que a

crise ambiental é vivenciada por todos e, dada sua extensão e gravidade, deve o Estado contar com a colaboração de todos na tentativa de geri-la. Destarte, por meio da efetiva participação popular, alcança-se a solidariedade.606

O princípio da participação traduz-se, assim, pela imposição de um dever de abstenção de qualquer atitude contrária à preservação do meio ambiente, bem como por um dever de agir positivamente na defesa do ambiente.607

Salienta-se que o fato de a sociedade ser conclamada a participar da defesa e Afonso. Op. cit., p. 101.

601 BRUM Vaz, Paulo Afonso. Op. cit., p. 101.

602 Neste sentido: LEITE Sampaio, José Adércio; WOLD, Chris; Fonseca Nardy, Afrânio José. Op.

cit., p. 80; ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p. 256.

603 ASSIS Rodrigues, Geisa de. A participação da sociedade civil na celebração do termo de

ajustamento de conduta. Meio Ambiente. v.1. Escola Superior do Ministério Público da União. Brasília, 2004, p. 343, 344.

604 ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p. 256.

605 Neste sentido: PACHECO Fiorillo, Celso Antonio. Op. cit., p. 45; ABELHA Rodrigues, Marcelo.

Op. cit., p. 256; BRUM Vaz, Paulo Afonso. Op. cit., p. 101; CERCAL Dalmino Losso, Thais. Princípios da política global do meio ambiente no estatuto da cidade. In: CAMPOS Silva, Bruno et. al. Direito

Ambiental – Enfoques Variados. São Paulo: Lemos & Cruz, 2004, p. 75.

606 Neste sentido: NUNES Lima Bianchi, Patrícia. A (in) eficácia do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado no Brasil. Tese (Doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, 2007,

p. 139; MORATO Leite, José Rubens. Op. cit., p. 88.

proteção do meio ambiente não significa a prescindibilidade do Estado. Ao contrário, este é extremamente importante, pois é o detentor do poder de polícia que deve ser manejado todas as vezes que se estiver diante de uma ofensa ou ameaça ao meio ambiente e à saúde humana.608

Antonio Herman Benjamin609 assinala que correlatamente ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, a Constituição brasileira estabeleceu uma série de encargos ao Estado e à sociedade civil, prescrevendo uma obrigação genérica, de caráter positivo consubstanciada no dever de proteger e preservar o meio ambiente e a de cunho negativo e implícito no caput, do artigo 225 da CF, materializado no dever genérico de não degradar o meio ambiente.

Isso porque a implementação de um Estado sustentável depende de todos e não somente do Poder Público. Seria nas palavras de Cristiane Derani,610 a consagração da

“indissolubilidade entre Estado e sociedade civil”, numa demonstração de que para a resolução dos problemas de cunho social, político e ambiental é preciso a conjunção de esforços de todos.

A participação popular foi agasalhada como o princípio 10 da Declaração dos Princípios do Rio de Janeiro de 1992, nos seguintes termos: “A melhor maneira de tratar questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado às informações relativas ao meio de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar em processos de tomada de decisões. Os Estados devem

608 TÚLIO Vianna, Márcio. Para tornar efetivo o direito ambiental. Revista do Ministério Público.

3. Região. Belo Horizonte. v. 3. 1999, p. 128.

609 HERMAN Benjamin, Antonio. Op. cit., p. 112, 113.

610 DERANI, Cristiane. Meio ambiente ecologicamente equilibrado: direito fundamental e princípio

da atividade econômica. Temas de Direito Ambiental e Urbanístico. Advocacia Pública & Sociedade. Ano II. N. 3. 1998, p. 95. Neste sentido: MORATO Leite, José Rubens. Dano Ambiental: do individual ao

facilitar e estimular a conscientização e a participação pública, colocando a informação à disposição de todos. Deve ser propiciado acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que diz respeito à compensação e reparação de danos”.

Para preservar o meio ambiente laboral, a Constituição Federal, previu a participação dos trabalhadores nos colegiados dos órgãos públicos através do artigo 10 e na empresa por meio do artigo 11.611 A Constituição do Estado de São Paulo, por sua vez, faz referência ao princípio da participação e sua aplicação ao meio ambiente do trabalho no seu artigo 191.612 Neste sentido, também o Código de Saúde do Estado de São Paulo, no parágrafo 1º do artigo 1º 613 e o Código Sanitário no inciso IV do artigo 1º.614

Além disso, pode ser identificado em vários dispositivos contidos na CLT e nas Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego que fixam como dever das empresas, do Estado e dos trabalhadores a participação para que se atinja um meio ambiente do trabalho seguro e adequado.

Apesar de situações isoladas, infelizmente, na maioria dos casos, o princípio da participação é apagado pelo temor da perda do emprego e pelo autoritarismo de muitos coletivo extrapatrimonial. 2. ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

2003, p.88.

611 Constituição Federal de 1988: Art. 10. “É assegurada a participação dos trabalhadores e

empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objetos de discussão e deliberação”.

Art. 11. “Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores”.

612 Constituição do Estado de São Paulo:

Art. 191: “O Estado e os Municípios providenciarão, com a participação da coletividade, a preservação, conservação, defesa, recuperação e melhoria do meio ambiente natural, artificial e do trabalho, atendidas as peculiaridades regionais e locais e em harmonia com o desenvolvimento social e econômico”.

613 Código de Saúde do Estado de São Paulo: Lei complementar n. 791, de 9 de março de 1995.

Art1º, § 1º. “As ações e os serviços de saúde compreendem, isoladamente e no seu conjunto, as iniciativas do Poder Público que tenham por objetivo a promoção, defesa e recuperação da saúde, individual ou coletiva, e serão desenvolvidos pelo Poder Público com o apoio e a vigilância da sociedade, a quem cabe também propor qualquer medida sanitária de interesse coletivo”.

614 Código Sanitário do Estado de São Paulo (Lei n. 10.083/98): Art.1º, IV “publicidade, para

garantir o direito à informação, facilitando seu acesso mediante sistematização, divulgação ampla e motivação dos atos”.

empregadores que por serem proprietários do empreendimento não oportunizam aos trabalhadores a sua participação.

Para que o princípio da participação popular tenha efetividade, depende da verificação de uma consciência ambiental, a qual somente pode ser alcançada por meio da educação e da informação ambiental.615

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