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Princípio da informação

2 A IMPORTÂNCIA DA VISÃO HUMANISTA DO MEIO AMBIENTE

3.5 Princípios ambientais fundamentais

3.5.6 Princípio da informação

Inspiradas no princípio constitucional da participação popular, verificam-se na legislação infraconstitucional várias regras que têm por escopo conferir concretude ao direito à informação ambiental, como é o caso do parágrafo 3º do artigo 6º, 9º e 10º da Lei 6.938/81 e da Lei 10.257/01.616,617 Alguns Estados brasileiros dispuseram a respeito

do princípio da informação ambiental em suas constituições.618 Também a Lei Federal

dos Agrotóxicos,prevê no seu artigo 7º o dever de informação no que se refere à sua

615 Neste sentido: PACHECO Fiorillo, Celso Antonio. Curso de direito ambiental brasileiro. Op. cit.

p. 45; MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. Op. cit., p. 163; ABELHA Rodrigues, Marcelo. Op. cit., p. 259; MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do

Trabalho e a Saúde do Trabalhador: responsabilidades legais, dano material, dano moral, estético. Op.

cit., p. 54, 55; NUNES Lima Bianchi, Patrícia. Op. cit., p. 138; BENTO Graf, Ana Claúdia. Op. cit., p. 14, 15.

616 Lei 6.938/81: Art. 6o. § 3º: “Os órgãos central, setoriais, seccionais e locais mencionados neste

artigo deverão fornecer os resultados das análises efetuadas e sua fundamentação, quando solicitados por pessoa legitimamente interessada”;

Art 9º -“São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: (...)III - a avaliação de impactos ambientais;

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras”;

Art. 10º - “A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis”.

617 Lei 10.257/01: “Art. 2º - A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das

funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: (...)II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano”.

618 BENTO Graf, Ana Cláudia. Op. cit., p. 25, 26. A respeito das Constituições estaduais que

contemplam o direito à informação ambiental. LEME Machado, Paulo Affonso. Informação e participação – Instrumentos necessários para a implementação do Direito Ambiental. Revista de

utilização, e no artigo 19º 619 a obrigatoriedade de o Poder Público promover

campanhas de esclarecimento e instrução sobre o manuseio seguro dos pesticidas. O direito à informação é um direito subjetivo, previsto no inciso XIV, do artigo 5º da CF/88, configurando-se no direito de alguém exigir de outrem que lhe forneça uma dada informação.620 Ademais, ele assume três instâncias: um direito de informar, um direito de informar-se e um direito de ser informado. Celso Antonio Pacheco Fiorillo,621 aduz que o direito de informar-se é corolário do direito de ser informado, preconizado pelos artigos 220 e 221 da CF/88.

Não é possível defender e preservar o meio ambiente se não forem disponibilizadas para a sociedade em geral as informações de caráter ambiental como contaminações, riscos, acidentes havidos e produtos tóxicos manipulados pelas empresas e postos em circulação no mercado. Embora a legislação brasileira tenha previsto apenas a obrigação do Poder Público, entende-se que tal deve ser exigido também das empresas e organizações não-governamentais e dos meios de comunicação, utilizando-se para tanto todo o arcabouço referente ao Direito Ambiental.622 Isso porque

a informação ambiental deve observar o princípio da publicidade, devendo ser fornecida por qualquer pessoa ou entidade, até mesmo porque não é passível de apropriação.

Tratando-se de meio ambiente do trabalho os princípios da participação, da informação e da educação ambiental estão albergados, explicitamente no Princípio 14 da Convenção 155 da OIT que determina:

619 Lei nº 7.802, de 12 de julho de 1989: Art. 19 - “O Poder Executivo desenvolverá ações de

instrução, divulgação e esclarecimento, que estimulem o uso seguro e eficaz dos agrotóxicos, seus componentes e afins, com o objetivo de reduzir os efeitos prejudiciais para os seres humanos e ao meio ambiente e de prevenir acidentes decorrentes de sua utilização imprópria. Parágrafo único. As empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins, implementarão, em colaboração com o Poder Público, programas educativos e mecanismos de controle e estímulo à devolução das embalagens vazias por parte dos usuários, no prazo de cento e oitenta dias contado da publicação desta Lei”.

620 BENTO Graf, Ana Cláudia. Op. cit., p. 26.

621 PACHECO Fiorillo, Celso Antonio. Curso de direito ambiental brasileiro. Op. cit., p. 46. 622 BENTO Graf, Ana Cláudia. Op. cit., p. 26.

“Medidas deverão ser adotadas no sentido de promover, de maneira conforme à pratica e às condições nacionais, a inclusão das questões de segurança, higiene e meio ambiente de trabalho em todos os níveis, médio e profissional, com o objetivo de satisfazer as necessidades de treinamento de todos os trabalhadores”.

A informação deve ser transmitida durante todas as etapas do trabalho que utilize bens ambientais e não somente quando já se houverem constatado danos ambientais,623 constituindo-se em verdadeiro pressuposto para a que se confira

efetividade aos princípios da precaução e da prevenção, pois sem ela não é concedida a oportunidade de agir-se antecipadamente.624

A Lei Orgânica da Saúde, no inciso V do parágrafo 3º do artigo 6º, trata sobre as atividades que visam proteger a saúde do trabalhador, o direito do trabalhador, sua respectiva entidade sindical e as empresas a serem informadas sobre os riscos de acidente de trabalho, doença profissional e do trabalho, assim como sobre os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional.

O Estado, por meio do Ministério do Trabalho, consoante disposição dos artigos 157 e 158 da CLT, cumpre importante papel de esclarecimento e informação aos empregadores e trabalhadores, devendo, no caso de inobservância das normas atinentes à segurança e medicina do trabalho, aplicar-lhes sanção que pode ser representada desde multas (art.201 da CLT) até a interdição de equipamentos ou até mesmo de um setor, ou do próprio estabelecimento.625

As empresas, de acordo com o disposto no parágrafo 3º do artigo 19 da Lei

623 LEME Machado, Paulo Affonso. Informação e participação – Instrumentos necessários para a

implementação do Direito Ambiental. Op. cit., p. 213.

624 Neste sentido: PASSOS Rezende, June Maria. Op. cit., p. 151; LEME Machado, Paulo Affonso. Direito Ambiental Brasileiro. Op. cit., p. 82; PURVIN de Figueiredo, Guilherme José; TELES da Silva,

Solange. Elementos Balizadores da ação estatal na defesa dos bens ambientais para as presentes e futuras gerações. Temas de Direito Ambiental e Urbanístico. Op. cit., p. 147.

625 MELO, Raimundo Simão de. Direito Ambiental do Trabalho e a Saúde do Trabalhador: responsabilidades legais, dano material, dano moral, estético. Op. cit., p. 54.

8.213/91626 e no artigo 157 da CLT,627 são responsáveis pela educação ambiental e

orientação aos trabalhadores acerca dos riscos ambientais, oferecendo-lhes os treinamentos adequados para o desenvolvimento seguro de suas atividades, informando- os sobre os riscos a que estão submetidos.

Este dispositivo é complementado pelos artigos 182 e 197, que impõem deveres às empresas no sentido de prestar informação adequada acerca de produtos perigosos à saúde humana e que são manejados no ambiente de trabalho.

Neste diapasão, a NR-1 determina aos empregadores a obrigação de informarem aos trabalhadores acerca dos riscos ambientais, bem como sobre os resultados dos exames por eles realizados e das avaliações efetuadas no ambiente de trabalho. Esta norma foi recentemente alterada628 para ampliar a informação e educação no âmbito

empresarial, passando a determinar que seja dada ciência aos empregados acerca das ordens de serviços através de cartazes e meios eletrônicos.

O empregador deve elaborar e implementar o Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais (NR-9 da Portaria nº 3.214/78), possibilitando que os trabalhadores acompanhem a sua constituição, apresentando sugestões e sendo, posteriormente, comunicados sobre os riscos existentes no ambiente de trabalho e de como devem proceder para preveni-los.629

O resultado dos exames médicos realizados pelos trabalhadores (admissional, periódico e demissional) deve ser comunicado aos trabalhadores, nos termos do

626 Lei 8.213/91, art.19, § 3º: “É dever da empresa prestar informações pormenorizadas sobre os

riscos da operação a executar e do produto a manipular”.

627 CLT: “Art. 157 - Cabe às empresas: I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e

medicina do trabalho (...) II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais;”.

628 A Portaria n. 84, de 4 de março de 2009 altera a redação do item 1.7 da Norma Regulamentadora

N- 1.

629 PURVIN de Figueiredo, Guilherme. Direito ambiental e a saúde dos trabalhadores. Op. cit., p.

disposto no parágrafo 5º do artigo 168 da CLT,630 sendo parte do seu direito de ser

informado.

As Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPA) são obrigatórias e têm a tarefa de prevenir os riscos ambientais no trabalho. São integradas por representantes dos empregados e dos empregadores, como dispõe o art. 163 e seguintes da CLT. Dentre as atividades para a prevenção dos riscos ambientais, destacam-se a realização periódica de reuniões e o fornecimento de informações aos trabalhadores sobre segurança e saúde no trabalho, a possibilidade de requisição de informações junto ao empregador, e, ainda, a confecção do Mapa de Riscos, em colaboração com o SESMT por meio do qual se apontarão os agentes nocivos à saúde e à segurança local (NR-5 da Portaria nº 3.214/78).

O Código Sanitário do Estado de São Paulo631 preconiza em seu art.3º que todos

têm o direito de serem informados sobre o seu estado de saúde, as alternativas possíveis de tratamento e a evolução provável do quadro nosológico e, quando for o caso, sobre situações atinentes à saúde coletiva e formas de prevenção de doenças e agravos à saúde, bem como de obter informações e esclarecimentos adequados sobre assuntos pertinentes às ações e aos serviços de saúde. Em verdade, o que se tem presenciado é a submissão da saúde e do meio ambiente aos interesses econômicos de grandes corporações que exportam os riscos de sua atividade para países em desenvolvimento como o Brasil, desconsiderando os direitos humanos, especialmente, os dos trabalhadores.632

Para inúmeros empregadores quanto mais desconhecimento o trabalhador tiver,

630 CLT: artigo, 168, § 5º - “O resultado dos exames médicos, inclusive o exame complementar, será

comunicado ao trabalhador, observados os preceitos da ética médica”.

631 Lei Complementar n. 791, de 9 de março de 1995- Art.3, IV, d e VI.

632 Neste sentido: PASSOS Rezende, June Maria de. Op. cit., p. 162; MARTINS, Antonio

Wanderley. Insalubridade, o labor prestado na indústria do asbesto e da proteção ao meio ambiente. Direito Ambiental em Evolução, n. 3., p.78.

melhor será, pois terá a possibilidade de mais facilmente manipulá-lo e convencê-lo, o que se traduz em menos custos e investimentos em medidas preventivas no ambiente de trabalho. A informação dos riscos existentes nos locais de trabalho, muitas vezes, é conservada privadamente. Demais disso, os treinamentos são realizados de forma breve e superficial para evitar que o trabalhador fique afastado de suas atribuições por muito tempo, o que causa prejuízo à empresa.633 Como se vê, a precaução é negada pela omissão no fornecimento de informações sobre os riscos presentes no local de trabalho e sobre o estado de saúde em que se encontram os trabalhadores.

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