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A Basílica de Vicenza

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 147-151)

(projecto de 1545, executado a partir de 1549)

Andrea PALLADIO(1508-1580)

© Dagli Orti.

O

nome de “Basílica”, designa (numa delibera-da evocação do passado romano e delibera-das fun-ções cívicas que a estes edifícios então eram reservadas) o Palácio Comunal de Vicenza. Trata-se de uma construção gótica do século XIII, grande-mente reconstruída durante o século XV e à qual Andrea Palladio iria conferir, a partir de 1545, o aspecto que actualmente apresenta. A nova campa-nha de obras justificava-se pela necessidade de reforçar as paredes do velho edifício, que ameaça-vam ruir devido ao peso da cobertura.

Descrição

Palladio conceberia a sua inter venção sob a forma de uma cintura de fachadas servindo de con-traforte às paredes debilitadas do edifício gótico, divididas em dois pisos correspondentes aos dois andares da construção preexistente. Tomando por modelo o Teatro de Marcelo, em Roma, e a Libreria

de Veneza, que San so vino realizara já partindo da mesma fonte, concebe os novos alçados de modo absolutamente idêntico, estruturados, conforme a

tradição, com base na sobreposição das ordens dórica e iónica e coroadas de uma balaustrada orna-da de estátuas.

As quatro fachadas proporcionam, com efeito, uma sequência rítmica de belíssimo efeito de um mesmo motivo arquitectónico, separado por colunas de ordem gigante, que se repete nos dois pisos e que estaria destinado a converter-se num dos mais popu-lares módulos compositivos da arquitectura europeia do século seguinte: a chamada serlianaou motivo de Palladio, isto é, um arco de volta inteira suportado por colunas, ladeado de vãos rectangulares.

No seu interior oculta-se o primitivo edifício gótico, cujas paredes externas, igualmente moder-nizadas, ornadas de óculos entre colunas adossadas da ordem toscana e rematadas por uma cornija modilhonada, se elevam de um terço acima da nova fachada, coroando o conjunto uma cúpula de chum-bo rematada de estátuas.

Comentário

Palladio publicaria, a partir de 1570, quatro li -vros de arquitectura, com o fim de definir as regras da sua arte e de propagar as suas teorias. São obras

abundantemente ilustradas de gravuras sobre madeira, expondo todo um sistema arquitectónico assente na noção de módulo. Admiráveis de força, proporções e pureza, mas igualmente ricas pela sua variedade, as obras de Palladio constituirão uma verdadeira corrente da arte europeia: o palladianis-mo– e servirão de modelos para os arquitectos dos séculos seguintes.

A Basílica constitui uma das melhores expres-sões desse esforço desenvolvido por Palladio no sentido da sistematização de uma nova ordem, que permitisse resolver as tensões evidenciadas pela arte contemporânea. A indiscutível nobreza e ele-gância dos seus alçados devem-se, na verdade, em boa medida, às proporções rigorosamente clássicas dos diversos elementos arquitectónicos, ideias cen-trais, ambas, da sua arquitectura. Com efeito, é evi-dente o particular relevo outorgado às noções de geometria e de claro-escuro exploradas por Sansovi-no, mas a influência da Libreria, patente na ba laus -trada com estátuas, no majestoso friso e na combi-nação de colunas de diferentes tamanhos, adquire aqui uma sobriedade e uma severa monumentalida-de, que autonomizam a Basílica em relação a qual-quer modelo original.

Jacopo SANSOVINO(1486-1570). A Libreria Marciana, Praça de São Marcos em Veneza. © Scala.

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Gian Lorenzo BERNINI(1598-1680).

Cátedra de S. Pedro, Basílica de S. Pedro. Roma .© Scala.

A

palavra “barroco” nasce na língua portu-guesa (Garcia de Orta, 1563) para desig-nar as pérolas irregulares de origem orien-tal, que se tornarão características da joalharia europeia dos finais do século XVI e ao longo de todo o século XVII. Com o tempo, porém, o seu significado alargar-se-ia, de molde a traduzir os conceitos genéricos de singular, bizarro ou caprichoso, quer se tratasse de um objecto, de um pensamento ou de uma expressão.

O Barroco emergiria, assim, como fenóme-no cultural delimitado, que haveria de marcar a civilização europeia desde os últimos anos do século XVI até cerca de 1760 e o seu impacte seria tão profundo que podemos segui-lo em domínios tão diversos como a literatura, as artes plásticas, o urbanismo, a música, o tea-tro, a liturgia ou a própria festa. Efectivamente, durante estes quase dois séculos, a Europa inteira torna-se barroca e, através dela, boa parte do mundo também. Nesse amplo bote navegam, porém, em simultâneo, países católi-cos e protestantes, monarquias e repúblicas burguesas, além de regiões do mundo dotadas de uma autonomia cultural que seria impossí-vel (senão mesmo indesejáimpossí-vel) sufocar.

Será talvez mais justo falar de “barrocos” do que de Barroco, tão distintas serão as formas e conteúdos que reveste. Mas, em toda a parte, é o mesmo sentido do teatro e da festa que se evi-dencia, o mesmo desejo de estimular a emoção, a mesma vontade de persuadir pela sedução dos sentidos; e todas estas características serão suficientes para fazer dele o último grande estilo eu -ropeu anterior à Revolução Francesa e, portan-to, ao mundo contemporâneo em que vivemos. Um único país se colocará à margem deste processo: a França onde, ao longo do século XVII e enquanto a Monarquia afirma a sua autoridade em todos os domínios da vida na -cio nal, se desenvolve o que poderíamos desig-nar por uma via paralela, marcada pela procu-ra do rigor, de uma harmonia ma jes tosa e por um predomínio da linha recta que a distingue da exuberância cur vilínia do Barroco. Esta particularidade francesa receberia o nome de Classicismo.

Capítulo10

Barroco

e

Classicismo

Pierre PUGET(1620-1694). Perseu libertando Andrómeda(1684). Escultura em mármore de 3,20 m de altura,

executada para os jardins de Versalhes. © Dagli Orti.

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CONTEXTO

Barr

oco e Classicismo

É

em Roma, cidade dos Papas, que o Barroco emerge como fenómeno artístico, em pleno ambiente de reconquista católica, ou de Con-tra-Reforma. Este movimento encontraria o seu ponto de partida e a sua base espiritual no Concí-lio de Trento(1545-63). Este chegava demasiado tarde para reconciliar católicos e protestantes; Lutero havia-o reclamado, no seu tempo, mas as cli-vagens políticas, somando-se às reivindicações reli-giosas, exacerbariam as tensões até à ruptura. A rivalidade entre Francisco I e Carlos V, am bos cató-licos, a adesão à Reformade numerosos príncipes alemães, o rompimento da Inglaterra com a autori-dade pontifícia, incitam o Papa Paulo III (1468--1549) a convocar o concílio, através do qual a Igre-ja Romana iniciaria um processo de profunda reno-vação. Trata-se de recuperar, na medida do possí-vel, o espaço perdido para o protestantismo e, sobretudo, de reforçar a sua influência nas áreas que lhe ha viam permanecido fiéis, entre as quais se in cluíam os territórios ultramarinos de Portugal e Espanha.

Ao contrário do Renascimento e do Manei rismo, movimentos de raiz intelectual, nascidos nos meios humanísticos e, portanto, dificilmente acessíveis ao homem comum, pedia-se agora aos artistas que apoiassem a força e a autoridade da mensagem difundida por uma Igreja militante, exaltando a sua majestade e estimulando a emoção colectiva com vista e cativar o crente pelo deslumbramento dos sentidos. Surgiria, deste modo, uma arte eminente-mente dramática, que opunha à clareza e racionali-dade do universo renascentista um irredutível dina-mismo, deleitando-se nas linhas curvas ou oblíquas, nas torsões espectaculares, nos jogos teatrais de ilu-minação, enfim em tudo quanto pudesse provocar ilusão, surpresa e admiração. O corolário desta ati-tude seria o conceito obra de arte total, onde as diversas especialidades se conjugam com vista à obtenção de um efeito global e em que a riqueza dos materiais (utilizados ou simulados) e as dificul-dades técnicas da realização detêm um papel funda-mental.

O Barroco ficará para a posteridade, como a arte da encenação. Expande-se por uma vastíssima área que engloba, além da Europa, certas partes do Oriente e uma fatia importantíssima do continente americano. No interior deste processo, dilui-se a sua ligação inicial à Reforma Católica, para se con-verter rapidamente numa arte de massas, apta a suscitar a emoção e a fornecer apoio imagético a um discurso ideológico: daí o seu próprio êxito e a sua enorme diversidade.

Com efeito, mais do que de um estilo é, prova-velmente, de um gosto que deveremos falar, expri-Guido RENI(1575-1642), São Sebastião.

Museu do Prado, Madrid. © Artephot/Oronoz.

Fachada da Igreja de Val-de-Grâce, Paris. © Deneux/Agence TOP.

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 147-151)