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o mosaico e o fresco

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 63-69)

A arte bizantina, seduzida pelos jogos de cores, preconiza, para a decoração monumental, o emprego do mosaico*, seguido de perto pelo fresco. De -sempenham um papel similar e têm idêntica evolu-ção. Tendo por primordial função a edificação dos fiéis, o seu programa iconográfico é fortemente regulamentado pela Igreja. Os numerosos testemu-nhos de mosaicos permitem constatar que desde o século VI estes adquirem a sua originalidade em relação ao mosaico paleocristão. Basta comparar, em Ravena, os mosaicos do fim do século V com os que ornam as construções da Idade de Ouro de Jus-tiniano, para verificar que os ambientes naturalistas da Alta Antiguidade, dão lugar a cenas solenes, evo-luindo sobre deslumbrantes fundos de ouro, que serão as da generalidade dos mosaicos bizantinos. O fim em vista não é mais o de representar o real, mas de colocar o fiel em contacto directo com o universo espiritual. Ao mesmo mundo pertencem os câ -nones hieráticos das personagens e cada período de renovação artística (sob os Macedónios, os Comenos ou os Paleólogos) assistirá ao retorno a um câ non antigo, cada vez mais esbelto e alongado. A partir do

séc. VII, a questão iconoclasta entrava a criação de imagens religiosas, ainda que este período de empo-brecimento artístico não deixe de propiciar uma reflexão profunda sobre a função exacta destas ima-gens.

Desde os meados do século IX desenvolve-se um programa iconogrâfico muito estrito, que associa a organização da decoração interior à significação sim-bólica de cada parte da igreja. Ao centro da cúpula, que simboliza o céu divino, entroniza-se o Cristo Pan-tocrator*.A calote da ábside é reservada à represen-tação da Virgem, orante ou segurando o Menino sobre os joelhos; na parte anterior da ábside figu-ra-se a representação da hetimasia(trono vazio pre-parado na previsão da vinda de Cristo quando do jul-gamento final), enquanto o rasto do santuário é reservado à representação de santas personagens. Esta ordem estrita fixa-se ao mesmo tempo que se impõe o plano da igreja em cruz grega, ao qual se encontra intimamente ligada. Ao longo dos últi-mos séculos do Império, o últi-mosaico, luxuoso por excelência, torna-se muito dispendioso e tende a ser substituído pelo fresco. Este último, dotado de maior ductilidade, oferece atitudes mais espontâ-neas, que chegam mesmo, por vezes, ao ponto de representar a expressão dos sentimentos humanos.

Os ícones

Contrariamente à acepção usual, o ícone não é unicamente uma imagem pintada sobre um painel de madeira. É, antes de tudo, uma imagem sagrada transportável, que pode recorrer tanto às técnicas da pintura como do mosaico, da ourivesaria ou da esmaltagem. Móveis, permitem a propagação da arte bizantina, nomeadamente nos países eslavos que, convertidos à ortodoxia, respeitam o carácter sagrado destas imagens. As escolas russas* mais famosas foram as de Novgorod e de Moscovo (que conta, nomeadamente, o grande mestre Andreï Roublev). Desde o século XIV e após a queda do Império Bi zantino, são elas que perpetuam a tradi-ção do ícone.

Do século V datam os ícones mais antigos actualmente conservados e provenientes do Egipto. Repro duzem exclusivamente retratos de santas per-sonagens, derivados da tradição funerária copta. Dotado por vezes de um carácter milagroso, o ícone de retrato perdura no mundo bizantino, mas o seu estilo, muito conservador, quase não variará. Uma outra categoria, a dos ícones de cenas, cujos mais antigos exemplos não são anteriores ao século XII, apresenta iconografia e evolução estilística simila-res às da pintura monumental.

Os objectos de arte são representativos do luxo e do refinamento do mundo bizantino e os materiais preciosos (mar fim, ourivesaria, esmaltes, seda) tiveram aí grande utilização. Pilhados em grande número pelos cruzados e mais tarde pelos turcos, constituiriam um factor essencial de propagação da arte bizantina no mundo medieval.

Cristo Pantocrator, Capela Palatina, Palermo. © Scala.

A “Virgem de Vladimir”. Ícone bizantino pintado no séc. XII. © Novosti.

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ANÁLISE DA OBRA

A arte paleocristã e a arte bizantina

Os mosaicos da igreja de S. Vital (c. 547)

O Imperador Justiniano e a Imperatriz Teodora, Ravena.

A Imperatriz Teodorarodeada da sua Corte. © Dagli Orti.

grada. À direita do monarca, os dignitários da Corte e a guarda armada personificam o poder terrestre; à sua esquerda, o arcebispo Maximiano e o clero evo-cam o poder espiritual. Os dois diáconos transpor-tam um incensório e um evangeliário ornado de pedrarias.

Sobre a parede oposta, a Imperatriz Teodora faz correspondência com Justiniano. Esta antiga dançari-na, que se exibia nas tabernas das docas, revê-se agora no seu diadema e nas suas pedrarias. Oferece a imagem de uma Rainha de um poder abstracto, de um fausto quase inumano, encarnando o poder abso-luto. Acompanhada do seu séquito, dispõe-se a pene-trar na igreja. Os três Reis Magos bordados na orla do seu manto, sugerem um acto de doação e, com efeito, sustenta entre as mãos um cálice para o vinho eucarístico que vem oferecer à igreja de S. Vital.

A

conquista da Itália pelos imperadores

bizanti-nos na primeira metade do século VI reforça o papel de Ravena. O Imperador Justiniano dota a cidade de novas igrejas, que constituirão teste-munhos no Ocidente da arte bizantina. Entre estas, a de São Vital, consagrada em 547, apresenta uma estrutura exterior severa, que contrasta fortemente com o esplendor do interior, onde se mesclam os mármores preciosos e os admiráveis mosaicos.

Descrição

Ao longo das paredes da ábside resplandecem os dois mosaicos que representam, à esquerda o Impe-rador Justiniano e, à direita, a Imperatriz Teodora.

O Imperador, a fronte cingida pela coroa, segura nas mãos uma patena em ouro para a hóstia

A técnica

Para realizar um mosaico, reúnem-se pequenos cubos irregulares ditos “tesselas”, em mármore, pedra, pasta de vidro, terracota, etc., que se justa-põem de forma a compor uma decoração e que se fixam com argamassa. Uma folha de ouro recobre algumas tesselas utilizadas para os fundos e

ele-mentos em nácar servem para realçar o esplendor dos ornatos do casal imperial.

A inclinação variável das tesselas em relação à super fície da parede capta o reflexo maior ou menor da luz, o que confere um aspecto espelhado à superfície do mosaico e torna as cores mais inten-sas que as da pintura.

Comentário

Os mosaicos tornam-se elementos complemen-tares da arquitectura e parecem fazer desaparecer o peso da alvenaria. O esplendor cromático destes dois painéis não tem em vista a obtenção de efeitos realistas, antes procura dissolver a materialidade dos corpos numa composição que emana uma aura inequívoca de sacralidade.

Sobre um fundo dourado, reservado, como nos ícones, à representação do mundo divino, as

perso-nagens surgem de frente, com o sua austera rigidez e rostos orgulhosamente impassíveis. Os seus olhos imensos fixam o espectador com um olhar hipnótico. Apenas o movimento de um drapeado ou o gesto discreto de uma mão suavizam este hieráti-co ritual. As personagens, representadas sem som-bra, sem relevo, num mundo extra-temporal, pare-cem flutuar no espaço. Os soberanos, Justiniano e Teodora, representantes de Deus sobre a terra, usam uma auréola, símbolo da simbiose da Igreja e do Estado no Império Bizantino.

A Imperatriz Teodora (pormenor). © Dagli Orti. 0 Imperador Justi-niano e a sua Corte. © Dagli Orti. 054-065.qxd:MInerva 10/11/07 11:25 Page 65

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Tímpano do portal Oeste da igreja de Conques(séc. XII), Aveyron. O Julgamento Final(pormenor): Cristo rodeado de anjos e, em baixo, a entrada do inferno e do paraíso.

© Dagli Orti.

E

m linguística, o termo “românico” aplica-se às línguas de origem latina que constituí-ram os idiomas modernos nos países que foram romanizados. Desde o século XIX, porém, é geralmente adoptado para designar a arte que se desenvolve no Ocidente após a dis-solução do Império Carolíngio.

Não obstante, é com a arte carolíngia que encetamos este capítulo, pois ela marca, nos alvores do século IX, a primeira ruptura com as artes germânicas, operando uma renovação artística que marcara o Ocidente de forma duradoura.

De facto, a derrocada do Império Caro -língio, nos finais do século IX, sob o impacte de novas invasões, quebra profundamente a unidade ocidental. Em redor do ano mil, con-tudo, afastadas as invasões e estabilizadas as fronteiras, o Ocidente cristão encontra um novo equilíbrio e o processo do seu desenvolvi-mento artístico apresenta então duas faces: uma constituída pelo Sacro Império, onde se expande uma ar te imperial relativamente homogénea, e outra pelo resto do Ocidente, onde, pela mesma época, se efectuam expe-riências inovadoras e variadas, que constitui-rão a génese da arte românica

A arte românica entra, assim, no seu perío-do de maturação ao longo da segunda metade do século XI, para atingir no século XII o apo-geu. Todavia e ainda que se desenvolva sobre uma base única, que lhe definiu a direcção fundamental, este ciclo artístico, expressão de uma sociedade profundamente religiosa, rural e fragmentada, exprime-se segundo uma imen-sa diversidade de formas. E, quando se esgota, na segunda metade do século XIII, o Gótico encontra-se já em fase de expansão, há quase um século, em grande número de cidades da Europa Ocidental.

Capítulo 5

A arte

românica

Apocalipse de Saint-Sever. Miniatura do séc. XI. Biblioteca Nacional, Paris. © biblioteca Nacional.

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CONTEXTO

A arte r

omânica

N

o ano 800, em Roma, Carlos Magnorecebe a coroa imperial das mãos do Papa. Através deste gesto, altamente simbólico, o soberano afirma-se como herdeiro do Império universal, romano e cristão.

Pela primeira vez após a queda do Império Romano, o Ocidente encontra-se unido sob uma mesma e única autoridade política e a Igrejasurge como o elemento aglutinador deste império de mil facetas. Com o Papa, Carlos Magno reforma a litur-gia e as instituições clericais e, reunindo na sua cor te er uditos vindos de todo o Império, con -verte-se no promotor da primeira renovação intelec-tual do Ocidente após a queda do Império Romano. Nos domínios da arte, da escrita e da vida espiri-tual, este renascimento manifesta-se por um retor-no voluntário aos modelos antigos. Após a morte de Carlos Magno, o Império entra em desagregação, ainda que este declínio não chegue para entravar o prestígio da cultura carolíngia.

Enfim, após uma breve restauração imperial nos últimos anos do reinado de Carlos o Calvo, à morte deste, em 877, as novas invasões húngaras, vikings e sarracenas acabam de desmantelar os restos do Império Carolíngio.

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 63-69)