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Peter Paul R UBENS (1577-1640), Pinacoteca de Munique

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 173-179)

© Blauel/Gnamm-Artothek.

Q

uando da sua estadia em Itália, entre 1600 e 1608, Rubens assimilou as lições dos mestres italianos e, em contacto com Ticiano e Veronese, adquiriu uma extraordinária mestria técnica. De Itália traz, de resto, o gosto pelas grandes telas, no que divergiria das realizações dos seus predecessores flamengos,

caracte-rizadas pelas pequenas dimensões. Entre 1610 e 1618, porém, a arte de Rubens sofre uma evolução. Ao longo destes anos, com efeito, liber tar-se-á progressivamente de tudo quanto é acessório, para al -cançar uma arte verdadeiramente monumental. Tem 40 anos quando realiza O Rapto das filhas de Leucipo.

Rubens exalta as cores pondo em relação as complementares: os vermelhos carmim e o verme-lhão dos mantos respondem aos verdes da paisa-gem; o amarelo dourado do panejamento abandona-do em primeiro plano constitui a réplica das cores azuis do céu.

Comentário

Qualquer que seja o tema tratado por Rubens, a sua tradução pictórica reflecte sempre uma espanto-sa energia e uma exaltada sensualidade. Este pintor tem a arte de tornar a mitologia tão viva e tão presen-te como os retratos dos seus conpresen-temporâneos, com-pondo um hino à alegria e à glória da vida, num estilo lírico, expressão do maravilhoso sopro barroco.

O tema

Esta grande tela (2,09 x 2,28 m), narra o episó-dio do rapto das duas princesas Febe e Hilaíra, filhas do Rei da Tessália, pelos deuses gémeos Cas-tor e Polux, nascidos dos amores de Leda com Zeus, que a cortejara sob a forma de cisne.

Rubens decidiu pôr em cena poucas persona-gens. Renuncia, assim, à escolta dos jovens, bem como às servidoras das filhas do Rei, para mostrar apenas quatro figuras, estreitamente imbrincadas com os dois cavalos. Dois amores seguram discreta-mente as montadas pelo freio e as personagens são colocadas diante de um fundo de paisagem domina-do por um vasto céu.

A composição

Todos os elementos se fundem num movimento geral inscrito numa composição circular, onde as massas se confrontam ao longo de uma grande dia-gonal dinâmica (esquema 1). Uma das donzelas, em baixo, ao lado direito, parece querer resistir ao rapto. Na verdade, arcos de círculos concêntricos de centro em C, situado na extremidade da sua mão direita, afirmam este movimento de resistência. Formando um contraste, um feixe de linhas rectas parte do centro da tela, divergindo para o alto e esta disposição alcança evocar o apelo do amor exprimi-do pela atitude da segunda princesa.

Rubens assenta, aliás, a sua composição sobre um conjunto de curvas e contra-curvas (esquema 2). Dois eixos curvilínios cruzam-se para ligar as diferentes personagens e produzir um único movi-mento contínuo, de espírito completamente barroco e todos os outros elementos do quadro se enca-deiam segundo este mesmo princípio de curva em S, criando um percurso ininterrupto. Enfim, para acentuar o efeito de rapto, decide colocar a linha do horizonte muito baixa.

A arte do nu

Rubens afirma-se como o pintor do nu feminino, retomando este tema em numerosas obras e a nudez dos corpos das duas princesas oferece-se abertamente à nossa contemplação. As suas cores quentes, de tonalidades nacaradas, acentuam esta força sensual e as cores sombrias dos dois ho -mens, tal como as dos cavalos empinados, fazem ressaltar a frescura da pele das duas irmãs. Este contraste reforça os jogos de luz sobre as carnes róseas e os cavalos dourados e o sublinhado ver-melho nas sombras mais leves dá a impressão de uma viva circulação sanguínia. De resto, o pintor tiraria o maior proveito da sua forma de pintar, em que justapõe pinceladas rápidas e leves para confe-rir gradações aos seus opulentos nus. Acentua ainda as zonas luminosas através de vírgulas ou gotas de cor e imprime ao pincel um movimento de torção que lhe permite acompanhar as redondezas da musculatura.

© Blauel/Gnamm – Artothek. Esquema 1

Esquema 2

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O Transparenteda Catedral de Toledo, Espanha. © Artephot/Oronoz.

A

estética que hoje designamos pela palavra Rococó tem o seu período áureo entre os anos 1720-60. Não emergiu, porém, consciente de si mesma e apoiada num sólido suporte teórico, como ocorrera com o Renas -cimento ou o Barroco. Nem, tão pouco, surgiu como uma assumida revolta contra as normas que regiam o período anterior, como se tinha verificado com o Maneirismo. Antes evoluiu naturalmente do contexto barroco, desligando--se dele insensivelmente.

De início, caracterizou o novo estilo a divul-gação, na decoração de interiores, do motivo decorativo da rocalha– isto é, a imitação de grutas, conchas e concreções – designação que os seus detractores deformaram em rococó, impondo-lhe assim um sentido pejorativo. Com essa atitude, todavia e ainda que involuntaria-mente, reconheciam a existência na arte con-temporânea de uma vasta série de realizações participantes de um gosto comum e que poderemos reconhecer não apenas em toda a Euro -pa mas, uma vez mais, na América central e meridional, onde Espanha e Por tugal pos-suíam os seus vastíssimos domínios.

Não é fácil sistematizar aquilo que entende-mos por Rococó já que, à ênfase e solenidade do Barroco e do Classicismo ele opõe, justa-mente, a sua irreverência criadora. Mas é certo que, ao menos na origem, reflecte um distanciamento do homem setecentista em relação aos valores que haviam norteado a sociedade da centúria anterior, preparando assim a dissolução do Antigo Regime que a Revolução Francesa precipitará.

Imbuído do espírito de fraternidade univer-sal e do cepticismo que caracteriza o Século das Luzes, o Rococó define-se pela irreverên-cia, pelo gosto da intimidade e pelo repúdio da teatralidade que havia dominado a cultura do Barroco. Nesse sentido, talvez o seu traço mais peculiar seja uma irreprimível alegria que irá despoletar uma criatividade intensa em todos os domínios da arte que contribuem para o bem-estar, entre os quais ocupam o primeiro plano as chamadas artes decorativas.

Capítulo 11

O Rococó

Jacques de LAJOUE(1686-1761). Biombo. Óleo sobre papel colado em tela (1735). Petit Palais, Paris. © Hubert Josse.

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CONTEXTO

O Rococó

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ão deixa de ser curioso que seja a França o país em que o Rococó se manifestou primei-ramente. Ao rígido cerimonial do século de Luís XIV sucedera a intimidade galantedo Re -gente e a majestade imponente de Versalhes abor-rece agora a elite ilustrada ou frívola que se congre-ga nos elecongre-gantes salões dos hôtelsparisienses. No momento em que o controlo abranda sob a pressão da conjuntura, a sensibilidade barroca volta a emergir, com roupagens renovadas e ao serviço de ou -tros ideais.

O Rococó será, num primeiro momento, acima de tudo um novo tipo de ornamento, caracterizado por uma caprichosa fantasia e por um acentuado gosto pela assimetria, que irrompe pelo interior dessas residências onde vive uma sociedade mun-dana e espirituosa, amante da ousadia, do exotis-moe da natureza. Este estilo leve e refinado, pare-ce particularmente adequado à evolução sofrida por essas mesmas moradias, cujas dependências se tornam mais reduzidas e têm agora designações precisas: pequenos salões, boudoires, salas de banho. Nos países onde o Barroco predomina, o Germain BOFFRAND(1667-1754).

Salão da Princesa de Soubise Palácio de Soubise, Paris. © Hubert Josse.

Matthäus Daniel PÖPPELMANN(1662-1736).

Pavilhão do Zwinger de Dresda. Alemanha. © Champollion/TOP.

A intimidade e a festa

Salão Gasparinido Palácio Real de Madrid, Espanha. © Oronoz/Artephot.

François de COUVILLIÉS(1695-1768),

decoração do Teatro da Residência em Munique. © Werner Neumeister, Munique.

Rococó insinua-se de forma ainda mais discreta, transformando do interior e até esvaziá-la por com-pleto de sentido, essa ar te monumental onde o aspecto cenográfico detinha uma importância tão determinante.

O Barroco durara cem anos, durante os quais foram perdendo a importância inicial as ideias que lhe subjaziam: os problemas religiosos, a primazia da igreja Romana, deixam de estar na primeira linha das preocupações, cedendo lugar aos debates filo-sóficosou políticos. Será na arquitectura privada que o Rococó encontrará ensejo para a realização de boa parte das suas melhores criações.

Os novos ideais de tolerânciae de liberdade opõem-se ao desejo de surpreender e de se impor que havia presidido à arte do século XVII, fosse ela barroca ou clássica, tal como se opõem, de resto, à própria ideia de uma revolução na arte. O Rococó fará a sua aparição como simples inovação decorati-va, alargando-se depois, paulatinamente, a todos os domínios do criação artística.

Na Alemanha, porém, converter-se-á rapidamen-te num verdadeiro estilo arquirapidamen-tectónico, responsá-vel por grandiosos monumentos civis ou religiosos. Surgirá então como importação francesa e como desenvolvimento lógico do tardo-Barroco.

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O Rococó

CARACTERÍSTICAS E DIFUSÃO

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 173-179)