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Pluralidade da arte românica

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 75-79)

O desenvolvimento da ar te românica experi-menta variações regionais e cronológicas muito importantes. É fundamental seguir a disparidade de formas que esta arte reveste nas diferentes regiões do Ocidente. A explicação da diversidade românica

baseada apenas em cortes regionais afigura-se arbi-trária, já que, sendo enorme a liberdade dos artis-tas, muitas obras incluídas num dado âmbito geo-gráfico escapam às linhas gerais da ar te dessa região.

A Borgonha* constitui um dos centros mais dinâmicos no desenvolvimento da arte românica e conhece o seu apogeu na primeira parte do século XII. De uma harmonia e elegância particulares, a arquitectura borgonhesa é marcada pelo exemplo da igreja de Cluny III, terminada nos fins do século XI e cuja elevação em três andares lhe confere uma enorme leveza. A escultura românica é caracteriza-da pelo acentuado apego ao alongamento caracteriza-das for-mas, por um tratamento cheio de vitalidade dos panejamentos e por um notável sentido da narração e do pitoresco. Cluny e Cister constituirão os gran-des pólos de influência da iluminura borgonhesa. Nos inícios do século XII, sob o abadessado do inglês Etienne Harding, as oficinas cistercienses recebem importantes influências anglo-saxónicas, adoptando um estilo vivo e variado, característico da arte românica.

A escultura românica entronca na linhagem da oficina de Gilduin, activo no fim do século XI e que reinterpreta na pedra modelos de marfim e de ouri-vesaria, de estilo mais sofisticado do que a escola borgonhesa e de uma grande leveza. O Limousin experimenta um desenvolvimento precoce e fulgu-rante no campo da esmaltagem alveolada sobre cobre, caracterizando-se pelo emprego de cores vivas.

Arte românica da Borgonha. Lintel do portal Norte da Catedral de Autun. Séc. XII. A Tentacão de Eva, relevo atribuído a Gislebertus. Museu Rolin, Autun.

© Dagli Orti.

Arte românica da Borgonha. Tímpano da basílica de Santa Maria Madalena, Vézelay. Séc. XII. Pormenor de Cristo com os Apóstolos © Dagli Orti.

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CARACTERÍSTICAS E DIFUSÃO

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omânica

Arte românica do Languedoque. Reverso do portal da igreja de Souillac. O Profeta Isaías

© Champollion/Agence TOP.

Arte românico da Normandia. Igreja da Trindadeem Caen. © P. Hinous/Agence TOP.

A ar te normanda*, que se estende desde o século XI sobre a Normandia francesa e a Ingla -terra, beneficia da estabilidade política e de um importante mecenato. A amplidão dos seus progra-mas favorece a utilização da cobertura em madeira, que perdura pelo século XII. Os edifícios norman-dos apresentam, em regra, uma elevação em três andares. Quando recorre à cobertura de pedra, uti-liza abóbadas de arestas formando cruzamentos de ogivas que prefiguram o gótico. No exterior destes edifícios predominam fachadas harmoniosas de duas torres. A vastidão desta arquitectura deixa pouco espaço à escultura e a decoração interior é constituída por moldurações ornadas de motivos singelos.

Quanto ao Sacro Império*, permanece, em todos os domínios, fortemente preso aos modelos otonianos. Com algumas excepções, será necessá-rio aguardar pelo século XIII para o ver aderir, no seu conjunto, às inovações românicas. A arquitectu-ra mostarquitectu-ra-se, assim, particularmente conservadoarquitectu-ra, ainda que, como na catedral imperial de Espira, uma cobertura de pedra substitua, desde os inícios do século XII, o tecto de madeira. Como na região normanda, para não sacrificar a amplidão do edifí-cio, os arquitectos recorrem preferencialmente à abóbada de arestas e estes edifícios, sóbrios e maci-ços, não se abrem à escultura monumental antes do fim do século XIII.

No século XII, a região do Mosa constitui, porém, o cenário de um impressionante desenvolvi-mento da metalurgia do cobre e derivados (bronze, latão). A arte muito classicizante do ourives Renier de Hug influencia a produção das artes menores durante todo o século.

A Itália* permanece fortemente ligada ao seu fundo cultural antigo, que imprime à sua arte um certo conservadorismo. Pela sua posição geográfi-ca, recebe numerosas influências: do Sacro Império, ao Norte, da arte românica, a Oeste, de Bizâncio, a Este. Neste contexto, a adopção das for-mas românicas efectua-se com uma disparidade considerável. A arquitectura, fiel à tradição, separa baptistério e campanário da igreja propriamente dita e o desenvolvimento da decoração exterior dá lugar ao nascimento de paredes de arcaturas cegas que impõem aos templos uma verdadeira fachada dupla. Sob a influência da arquitectura germânica, a Itália do Norte desenvolve um românico evoluído, enquanto a Lombardia se mantém ligada ao primei-ro primei-românico. Não obstante, generalizam-se as coberturas de pedra nestas regiões, ao passo que a Itália meridional, mais presa à tradição paleocristã, preconiza edifícios de planta basilical, simples e cobertos de madeira.

No campo da escultura, artistas como Wilifredo de Modena imprimem, desde o início do século XII, um sopro novo, inserindo elementos români-cos. Esta renovação não lhe retira, contudo, a sua fidelidade aos modelos antigos, visível

mente na organização dos drapeados e o gosto ita-liano expande-se largamente na Provença, onde a escultura se integra, sobre as fachadas, em pórticos em forma de arco de triunfo. Por sua vez, a região formada pela Itália do Sul e pela Sicília, verdadeira encruzilhada de influências bizantinas, muçulmanas e românicas (a partir da chegada dos normandos, em 1130), produz uma arte muito original. A arqui-tectura é aí particularmente ecléctica e as constru-ções, geralmente de grande amplidão, oferecem uma decoração interior sumptuosa e colorida, onde se mesclam moçárabes muçulmanos, mosaicos bizantinos e capitéis românicos.

Também a ar te hispânica recebe influências variadas: ao Sul da cultura muçulmana; nas regiões setentrionais de arte românica, trazida pelos cruza-dos e divulgada ao longo cruza-dos caminhos de peregri-nação, e que se fundirá aí com formas da primeira arte românica, saídas do fundo cultural visigótico. No sector da iluminura, porém, a Espanha perma-nece muito activa, apresentando, sob a influência da arte muçulmana, uma estilização e um grafismo muito característicos.

A Europa Oriental (Polónia ou Hungria), por último, não possuindo tradições culturais cristãs, recebe sucessivamente influências poderosas vin-das do Ocidente, da Itália, de França e do Sacro Império, as últimas das quais se revelarão predomi-nantes.

Arte românica da Alemanha. Cabeceira da catedral de Espira. fim do séc. XI. © Dagli Orti.

Arte românica da Itália. O Campo dos Milagresem Pisa: baptistério, catedral e torre inclinada. © R. G. Everts/Rapho.

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ANÁLISE DE OBRA

Inicial do livro de Kells (fim do século VII)

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 75-79)