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A decoração interior, testemunho de um quotidiano refinado

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 48-53)

A decoração ocupa um lugar de primeiro plano na arte romana e a sua pintura mural* é-nos bem conhecida graças aos vestígios de cidades como Pompeia, que nos permitem determinar-lhe a evolu-ção a partir do século II a.C.. Esta seria, para maior clareza, dividida em quatro períodos estilísticos (os quatro estilos pompeianos), ao longo dos quais os artistas ora produzem decorações ilusionísticas de teor arquitectónico, ora, recriam ambientes imagi-nários, inspirados nas decorações dos teatros, ora realizam painéis enquadrados por elementos deco-rativos, ora, enfim, apresentam arquitecturas imagi-nárias e misteriosas. O mosaico é uma componente essencial da decoração arquitectónica e destina-se a cobrir tanto a superfície do chão como a das pare-des. Pode ser realizado segundo duas grandes téc-nicas. A primeira, reservada a uma clientela refina-da, denomina-se opus vermiculatum e emprega ladrilhos muito finos, numa técnica de grande minú-cia, que permite mesmo reproduzir quadros pinta-dos. Inversamente, a técnica do opus tesselatum uti-liza ladrilhos de maiores dimensões, favorecendo a rapidez da execução. Por esse motivo, é também mais amplamente difundida e valoriza as caracterís-ticas decorativas mais próprias do mosaico, privile-giando os motivos geométricos.

Pormenor da Coluna TrajanaTrês relevos mostrando, em baixo, o meandro do Danúbio e os episódios da campanha contra os Dácios. © Dagli Orti.

Frescos da casa dos Vettii em Pompeia.. © Dagli Orti.

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ANÁLISE DE OBRA

O Anfiteatro Flávio: o Coliseu

(cerca de 70-80 d.C.) Roma

© Dagli Orti.

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anfiteatro Flávio ergue-se no espaço de um lago artificial criado para o prazer de Nero nos jardins da Domus Áurea. Os três Impe-radores Flávios inter vêm na construção do edifí-cio: o primeiro, Vespasiano, inicia o estaleiro em 70; seu filho, Tito, inaugura o monumento em 80 e Domiciano, a partir de 81, termina os trabalhos. Este anfiteatro, o mais vasto jamais realizado e que servia ao Imperador para oferecer ao maior núme-ro possível dos seus súbditos espectáculos que iam do combate de gladiadores às representações tea-trais de grandes efeitos cénicos, tomaria o nome de Coliseu cerca do século VIII da nossa era, numa alusão à estátua “colossal” de Nero que se erguia nas proximidades.

Descrição

O termo anfiteatrodescreve o edifício: trata-se de dois teatros justapostos de molde a formar uma arena circular, à qual, para aumentar a sua capacida-de, se conferiu uma forma elíptica. A dimensão exterior é de 188 por 156 m; a da arena de 86 por 54 m e a altura total de 48,50 m. A fachada é constituí-da por três ordens de arcaconstituí-das sobrepostas, coroa-das de um quarto piso em forma de ático rasgado de janelas. Estas arcadas evitam o aspecto desgra-cioso que resultaria de uma parede cega de grandes dimensões e permitem dirigir os impulsos de modo a evitar os riscos de fissuração provocados pela enorme massa de alvenaria.

Oitenta arcos cobrem a totalidade do perímetro do Coliseu. Os pilares que os separam, construídos em travertino, têm uma largura de 2,40 m por uma profundidade de 2,70 m. Cada pilar encontra-se adornado de uma meia coluna em estilo dórico (tos-cano) no 1º nível, em estilo iónico no 2º nível e em estilo coríntio no 3º. O ático plano que coroa as três ordens de arcadas é igualmente ritmado de pilas-tras coríntias.

Em cada extremidade dos dois eixos da elipse abre-se uma porta. Estas entradas principais dão acesso directo à arena. Porém, a fim de permitir a circulação das 50 000 pessoas que podia conter o Coliseu, organizou-se um conjunto de corredores concêntricos correndo em cada nível sob as banca-das e escabanca-das interiores que ligavam cada andar segundo eixos radiais.

Uma sequência de consolos a meio do andar superior suportava um conjunto de mastros de uma dezena de metros. Estes, atravessando a saliência da cornija, serviam para estender um toldo que pro-tegia as bancadas dos ardores do sol, ainda que o modo de funcionamento desta gigantesca tela per-maneça difícil de compreender.

Uma capa de argamassa recobria a maior parte da arena, enquanto a restante superfície se encon-trava provida de um sobrado amovível, a fim de per-mitir o aparecimento de elementos de decoração. Sob a arena, corredores e celas abrigavam os “ser-viços” necessários aos jogos.

Comentário

As três ordens sobrepostas de colunas, coloca-das contra as paredes entre as arcacoloca-das, não têm qualquer utilidade funcional. Não constituem mais do que uma ornamentação típica da arquitectura romana.

Contrariamente ao processo construtivo dos teatros helénicos, sempre adossados sobre uma colina, o anfiteatro do Coliseu, erguido sobre um terreno plano, constitui uma inovação caracteristi-camente romana. A mestria dos arquitectos mani-festa-se, aliás, no emprego diferenciado dos mate-riais: betão à base de lava para as fundações, de tufo para as partes a que se exigia menos esforço e de pedra-pomes para as abóbadas a que era neces-sário conferir leveza.

As fundações, de mais de 6 m, estabelecidas num local pantanoso, bem como as soluções encon-tradas para permitir o escoamento das águas, ates-tam o domínio técnico dos engenheiros romanos. Prodígio de capacidade de organização de espaços, o Coliseu permanece como a expressão monumen-tal de um certo aspecto da grandeza romana. E con-verter-se-á numa referência para todos os arquitec-tos que, a partir do Renascimento, se inspirarão na sua fachada onde, pela primeira vez, se sobrepõem num único conjunto as três ordens arquitectónicas -dórica, iónica e coríntia.

Interior do Coliseu© Dagli Orti.

Plano do Coliseu. Desenho de O. Grötze segundo F. Rakob Escadas do Coliseu. Desenho de J.-P. Penin segundo F. Rakob. 038-051.qxd:MInerva 10/11/07 11:12 Page 49

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ANÁLISE DE OBRA

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O Panteão de Adriano (118-128 d.C.), Roma

© Scala.

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templo seria dedicado desde a origem a todos os deuses, o que justifica o nome que não tardaram a conferir-lhe. Entre 118 e 128, o Imperador Adriano empreende a reconstrução do monumento, construído por Agripa de 27 a 25 a. C. e desaparecido quando de um incêndio.

Descrição

O Panteão constitui o maior espaço cupulado da Antiguidade, com um diâmetro de 150 pés romanos (43,30 m).

Métodos tradicionais muito simples foram desen-volvidos para a construção da cúpula: no interior de uma cofragem em madeira, comprimiu-se cascalho e argamassa em camadas horizontais, retirando o molde após um tempo conveniente de secagem.

A cúpula repousa, assim, sobre paredes particu-larmente resistentes. Os impulsos são desviados

verticalmente por um sistema de arcos de sustenta-ção dissimulados nas paredes do cilindro, por detrás dos pilares adossados, e duas colunas delimi-tam o espaço de cada nicho disposto entre os ele-mentos de sustentação. A calote esférica começa a meia altura do espaço interior e este nível é visível do exterior pela presença de uma cornija que cir-cunda todo o edifício. Os 145 caixotões da cúpula, dispostos em cinco fieiras horizontais, cujo tama-nho diminui com uma regularidade matemática, dirigem o olhar em ascensão para o grande óculo (8,92 m de diâmetro) situado no topo.

O desenho do pavimento, em mármore policro-mo, restaurado no século XIX, apresenta o mesmo repertório de círculos e quadrados que a cúpula e retoma as linhas de fuga dos seus caixotões. Estu-que e incrustações de mármore conferem ao inte-rior da cela um aspecto de extrema magnificência.

Interior da cúpula do Panteão

© E. Lessing/Magnum.

Corte do Panteão. Desenho de O. Grötze segundo F. Rakob. Segundo W. L. Mac Donald.

Comentário

A arquitectura grega era concebida para ser vista do exterior. O povo reunia-se em torno do altar situado defronte do templo, para assistir ao sacrifí-cio litúrgico. Inversamente, os romanos criariam com o Panteão um universo interior, onde os fiéis se reuniam para comunicar com os deuses, isolan-do-se do mundo exterior. Mais tarde, os edifícios cristãos retomarão esta nova concepção de espaço fechado.

As articulações da arquitectura do Panteão cor-respondem a motivos simbólicos e a necessidades culturais. O edifício, dedicado às divindades do pan-teão celeste, simboliza através da cúpula, outrora decorada de estrelas, a própria abóbada celeste. A grande abertura central, que constitui a única fonte de iluminação, evoca o astro solar. O raio luminoso que passa por esta abertura, descreve toda a circun-ferência do cilindro segundo a rotação da terra. Em torno da cela, a disposição dos nichos e das edícu-las sobre eixos orientados segundo os pontos car-diais, demonstra que as estátuas dos deuses eram colocadas em locais simbólicos determinados pelos augures. Deste modo o cosmos inteiro entrava em relação com este espaço fechado destinado a tornar sensível a imagem do universo.

O Panteão compõe-se de três partes distintas:

O átrio, com as suas oito colunas coríntias sobrepujadas de um alto frontão, denuncia o carácter sagrado da construção. Por detrás, duas fieiras de quatro colunas constituem um vestíbulo aberto.

A zona de transiçãosequência do átrio. Rectangular, constitui uma espécie de prónau que permite aceder à cela do templo pela antiga porta em bronze.

A cela, após o espaço rectilínio do vestíbulo. Surpreende-nos pelo seu desenho circular. Pela conjunção do cilindro e da cúpula, a cons-trução parece aprisionar uma esfera e o olhar sente-se irresistivel-mente atraído pela evidência desta composição que produz um movi-mento giratório

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CIVILIZAÇÃO CRETENSE CIVILIZAÇÃO MICÉNICA

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 48-53)