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A primeira arte românica

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 72-75)

Esta denominação designa o conjunto de expe-riências e novas criações que se efectuam, a partir dos finais do século X, na Europa Ocidental.

A Arquitectura: o ponto de irradiação da pri-meira arquitectura românica situa-se na faixa Sul do antigo Império Carolíngio, da Itália do Norte à parte setentrional de Espanha, passando pelo Sul da Fran -ça. No interior desta área geográfica desta cam-se os centros lombardos e catalães.

Os edifícios apresentam um plano simples, de uma a três naves terminadas por uma ábside, que tende a tornar-se mais complexo no decurso do século XI. O objectivo dos arquitectos é agora o de cuidar o aparelho da alvenaria. A arquitectura apre-senta-se, desse modo, sob a forma de pequenos edi-fícios, construídos em blocos regulares e este res-surgimento da arte de talhar e aparelhar a pedra, perdida desde o fim da Antiguidade, revelar-se-á fundamental para a realização dos progressos técni-cos ulteriores.

Uma das preocupações dos construtores diz res-peito à cobertura dos edifícios, onde se esforçam por substituir o vigamento de madeira, facilmente infla-mável, pelo abobadamento de pedra. Deste modo se inicia um processo de coberturas de pedra por algu-mas partes do templo, como ábsides ou galilés, onde a utilização da abóbada se tornava mais fácil de reali-zar, ainda que, como naigreja de Saint-Martin du Canigu*, na Cata lunha, construtores mais audaciosos a consigam estender a todo o edifício.

Arte românica. Igreja de S. Miguel de Hildesheim,Alemanha. Início do séc. XI.© Dagli Orti.

Saint-Martin du Conigou, Pirinéus Orientais. © Rosine Mazin/Agence TOP. Plano de uma igreja romana.

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CARACTERÍSTICAS E DIFUSÃO

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omânica

Esta modificação no sistema de cobertura, dá lugar a uma importante reflexão sobre os elementos de suporte. Os pilares monolíticos são substituídos por pilares cruciformes, suportando colunas ou pilas-tras embebidas, que segmentam a elevação interior do edifício. Esta preocupação de ritmar a elevação das paredes encontra-se na ornamentação exterior, animada por um sistema de arcaturas cegas separa-das por bansepara-das verticais salientes. Por vezes, algu-mas aberturas, ainda que modestas, surgem também na parte superior dos muros*.

A escultura: para ornar os pontos de articula-ção da arquitectura, fazem a sua apariarticula-ção os primei-ros ensaios de escultura monumental, no interior sobre os capitéis e, no exterior, em relevos esculpi-dos ou incisos. Esta escultura, fortemente inspirada nas artes decorativas, desenvolve-se em representa-ções frustres e desorganizadas e as suas manifesta-ções são ainda raras e tímidas, como em Saint--Génis-des-Fontaines*. A partir da segunda metade do século XI, aparecem capitéis cujo estilo e organi-zação são já perfeitamente românicos.

As artes menores: o domínio da pintura de manuscritos tem um papel capital na génese da arte românica. Algumas escolas de iluminura produzem obras cujo carácter românico é perceptível desde o início do século XI e revelar-se-ão importantíssimos os centros do Sul da Inglaterra e os pintores moçárabes do Norte da Espanha. O românico mani fes -ta-se pelo recurso a empastes de cores, pelo desen-volvimento de um estilo relativamente ingénuo, vivo e narrativo e por uma iconografia em que se mistu-ram a abstracção e a realidade. A preocupação dos artistas não é mais a de criar efeitos ilusionísticos, mas a de preencher ao máximo o espaço disponível.

A segunda arte românica

A arte românica atinge a sua plena maturidade no início do século XII, difundindo-se graças ao desen-volvimento do comércio e das rotas de peregrinação. Fachadadaigreja de São Felisbertode Tournus (Borgonha).

Decoração de influência lombarda © Photo Jean Bernard.

Baixo-relevodo lintel do portal da igreja de Saint-Génis-des -Fontaines(séc. X). © Jean-Paul Garcin – Diaf.

Cobertura em madeirada igreja de Santo Estevão de Vignory, Haute-Marne. © Martin Guiliou/Explorer.

Abóbada de berço( Saint-Savin-sur-Gartempe). © Dagli Orti.

Abóbada de berço quebrado(Abadia de Fontenay). © Alain Rivière-Lecœur/TOP.

Abóbada de arestas(Santa Maria Madalena de Vezelay). © Dagli Orti O plano basilical em cruz latina, que apresenta

um desenvolvimento notável na capela-mor e no transepto, domina, tanto para responder às necessi-dades litúrgicas como, no caso dos edifícios maiores, ao aumento da frequência de peregrinos. Con -tudo, na linha do primeiro românico, as pesquisas sobre os sistemas de cobertura e, mais especifica-mente, de cobertura em pedra – questão de funda-mental relevância, uma vez que é ela que determina a elevação do edifício –, têm a primazia.

A cobertura de madeira* suportada por pilares, que permite rasgar nas paredes dos edifícios amplas aberturas, conserva-se dominante no Sacro Império, na Itália meridional e nas regiões vizinhas, tal como na Normandia e em Inglaterra. No resto da Europa expande-se a cobertura de pedra, estendida ao con-junto do edifício. Três tipos de cobertura lítica são utilizados: a abóbada de berço, a abóbada de arestas* e a cúpula*. A primeira é constituída por um meio cilin-dro de pedra repousando sobre as paredes da nave. Em certos edifícios, arcos duplos apoiados sobre pilares ajudam a sustentar a abóbada, formando assim tramos. Quando a abóbada é de volta inteira, os seus impulsos efectuam-se horizontalmente e, quando de berço quebradoos impulsos são descarre-gados na vertical para a base das paredes, sendo o sistema de equilíbrio destes impulsos a ditar a eleva-ção do edifício.

Diversas soluções são adoptadas. Uma das pri-meiras consiste em reforçar as paredes da nave através de contrafortes muito espessos. Uma alter-nativa consiste em construir, sobre as naves late-rais, tribunas cegas que sustentam as paredes da nave na sua parte alta. A iluminação dos edifícios efectua-se, através das naves laterais e a elevação interior é de dois andares(grandes arcadas e tribu-nas). Este mesmo sistema pode ser utilizado para lançar uma abóbada em berço quebrado. Neste caso, uma vez que se deslocam para baixo os pon-tos de descarga, a parte superior das paredes pode ser rasgada de aberturas sobre as tribunas. A

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CARACTERÍSTICAS E DIFUSÃO

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omânica

Igrejada Abadia de Fontevraultonde se observa a sucessão de cúpulas. Maine-et-Loire.

© Hervé Champollion/Agence TOP.

Claustroda igreja de São Pedro de Moissac. Fim do séc. XI

© Dagli Orti.

nação da nave efectua-se directamente e a sua ele-vação é em três andares(grandes arcadas, tribunas e janelas altas), solução largamente adoptada na Borgonha.

A abóbada de arestas apresenta-se sob a forma de duas abóbadas de berço cortando-se em ângulo recto. O essencial dos seus impulsos exerce-se sobre os pilares de ângulo, podendo as paredes dos edifí-cios ser largamente providas de aberturas. Quanto à cúpula, é frequentemente utilizada para cobrir o cru-zeiro do transepto, a fim de conferir magnificência a esse espaço. De modo mais surpreendente usa-se por vezes na cobertura de todo o edifício. Trata-se de

abóbadas de cúpulas* e este sistema de cobertura dificulta a organização de naves laterais. Em contra-partida, repousando unicamente sobre os maciços pilares angulares, permite a iluminação directa da nave.

O interior de uma igreja românica era, na origem, resplandecente de cores, fossem elas as das pinturas que recobriam as paredes, fossem as das próprias esculturas, também elas coloridas. O seu estilo era simples e sem minúcia, alimentando-se em numero-sas fontes (paleocristãs, carolíngias, germânicas, bizantinas, orientais e muçulmanas) e a iconografia privilegia temas simbólicos, evocando um mundo imaginário e monstruoso, correspondente às concep-ções religiosas de então.

A função da escultura românica é, aliás, subli-nhar os pontos chave da arquitectura: capitéis e cor-nijas no interior, portais e tímpanos no exterior. O quadro necessariamente arquitectónico em que se inscreve esta escultura constitui um elemento constrangedor, obrigando os artistas a contorcer as formas esculpidas a fim de as circunscrever ao espaço que lhes é destinado. É o que se designa por “lei do quadro”.

No que respeita às artes decorativas, estas liber -tam-se em grande parte da função áulica até então preponderante, recor rendo agora a materiais menos dispendiosos e abrangendo uma mais ampla clientela, em que se destaca, naturalmente, a Igreja. Alimentam-se das fontes dispersas já evocadas para e decoração interior, caracterizando-se igualmente por uma iconografia fortemente marcada pela pre-sença de elementos fantásticos, reproduzidos num estilo vivo e narrativo, mas realizam importantes progressos técnicos, como é o caso do esmalte alveolado (cloisonné). A pintura de manuscritos, em particular, avulta como um sector especialmente dinâmico e a sua produção aumenta com a generali-zação do emprego do livro nos meios monásticos, que ti nham o apanágio da sua realização.

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 72-75)