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Os países da Europa do Norte e do Centro

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 164-167)

Na Europa Central, a difusão do Barroco foi atrasada até à segunda metade do século XVII pela Guerra dos Trinta Anos. No período que se seguiu, especialmente nos anos que vão de 1680 a 1750, a arquitectura italiana encontraria aí um acolhimento entusiástico, desenvolvendo-se uma estética apara-tosa que irá fundir-se, depois, com o Rococó.

A uma primeira geração de italianos e franceses responsáveis pela introdução do novo gosto, como Fran cesco Caratti, autor do magnífico Palácio Cer-ninde Praga – onde os pilares, talhados em ponta de diamante, respiram uma espantosa monumenta-lidade –, segue-se uma geração brilhante de artistas locais, de que um dos mais notáveis seria Fischer von Erlach (1656-1723), cuja obra evidenciaria a marca da sua longa estadia italiana. Autor da Igreja de S. Carlos Borromeu*, onde utiliza a planta elípti-ca, é igualmente o responsável pelo Palácio de Schönbrunn* em Viena, construção impregnada de classicismo do tipo francês. Mais exuberante, Johann Lukas von Hildebrandt(1668-1745) faria prova no Belveder Superior de um grande sentido de ar ticulação de volumes, aliando a inspiração francesa a uma riqueza plástica à italiana.

Ao Norte, a Suécia e a Dinamarca desenvolvem uma arquitectura cortesã, de que um dos melhores exemplares seria o Palácio Real de Estocolmo(1688) de Nicomedes Tessin, versão livre do projecto de Bernini para o Louvre, enquanto a Rússia se abre igualmente à arte barroca e à cultura ocidental com a viragem para o século XVIII. Na nova capital, São Petersburgo, riscada pelo francês Alexan dre Leblond, erguer-se-ão magníficas construções, numa mescla de Barroco italo-francês tingido do forte colorido russo, como a Igreja de Smolny, o

Palácio de Inverno* ou o de Tsárskoye Seló, riscados todos pelo italiano Rastrelli(1700-1771).

Pelo contrário, diversos factores se opunham à introdução do Barroco em Inglaterra – o tradicional repúdio por tudo quanto viesse de Roma e por todas as eventuais influências papistas, as reticências em aceitar uma Monarquia absoluta, o próprio tempera-mento inglês -, ainda que esta tendência não tenha estado completamente ausente, como ilustram as diversas igrejas construídas por Nicholas Hawks-moor (1661-1736). Mas o melhor pretexto para a introdução do Barroco seria o grande incêndio de Londres, em 1666. Christopher Wren(1632-1723) seria então encarregado de riscar os planos da City

Palácio de Schõnbrunn(1695). Viena. Áustria. © J. Ch. Pratt. D. Pries - DIAF.

Fachada do Palácio de Invernoem São Petersburgo. © Rapho.

Anton VANDYCK(1599-1641), Carlos I de Inglaterra. Museu do Louvre, Paris.

© Dagli Orti.

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DIFFUSÃO

Barr

oco e Classicismo

Peter LELY, Duas Damas da Família Lake Tate Gallery, Londres.

© E. T. Archive.

Casa das Corporaçõesna Grand Place de Bruxelas. © Wojtek Buss/Rapho.

e da gigantesca Catedral de S Paulo(1675), o que fez baseando-se nas experiências urbanísticas do Barroco europeu. Contudo, o puritanismo anglicano dificultava a aceitação de um gosto demasiado emo-tivo, na tradição italiana, pelo que, mais uma vez, estamos em presença de um classicismo à fran-cesa, ainda que com características vincadamente autóctones.

Na Flandres católica, o Barroco meridional, favo-recido pela união política com a Espanha e pela actuação dos Jesuítas, que o difundiam com a Con -tra-Reforma, implantou-se rapidamente, vindo, uma vez mais, a elaborar uma original síntese com a resis-tente tradição tardo-gótica. As consequências mais brilhantes desse processo foram a Iqreia de S. Carlos Borromeu de Antuérpia, dos jesuítas Aiguillon e Huyssens e a de S. Miguel de Lovaina, do padre Guilherme Van Hees(1601-1690), na qual a pode-rosa estrutura se alia harmoniosamente ao dinamis-mo da decoração. Reconstruído a partir de 1695, o notável conjunto urbano da Grand Place de Bruxelas* atesta como o verticalismo gótico e a decoração fla-mejante revivem sob as formas barrocas.

A Flandres e a Holanda seriam os centros pro-dutores de uma parte da melhor pintura da época, na qual transparece uma alegria e uma tranquilida-de tranquilida-de espírito nascidas da prosperidatranquilida-de e do ambiente cultural que o comércio favorecia. Tudo isto se sente na obra de Peter Paul Rubens* (1577-1640), o mais famoso pintor europeu deste período, onde a força, a exuberância e a sensualida-de, ser vidas por um colorido poderosíssimo, se aliam a um profundo sentimento religioso, em telas como A Ereccão da Cruzou A Adoração dos Magos.

O seu discípulo Antoon Van Dyck, que passa-ria parte da vida em Inglaterra, beneficiapassa-ria das van-tagens de uma viagem a Itália, que lhe deu a

Johannes VERMEER, dito VERMEERDEDELFT(1632-1675), Rapariga lendo uma carta diante de uma janela aberta(1658). Dresden Staatliche Kunstsammlungen. © Artephot/Artothek. cer Ticiano e os venezianos. Adquiriria uma paleta

refinadíssima, que colocaria ao serviço do retrato, como nos magníficos que realizou de numerosas figuras da corte inglesa, em particular de Carlos I*. Peter Lely, seu sucessor, continuaria a tradição do retrato inglês, que iria desabrochar nos séculos XVIII e XIX, no qual introduziria uma sensualidade que faltava ao mestre.

A sociedade holandesa encontraria um dos seus melhores cronistas em Franz Halls, em cujas obras perpassam um humor e um hedonismo muito particulares. São geralmente retratos individuais ou de grupo, figurando burgueses ostentando a sua sólida riqueza, impregnados de um forte realismo, como em O Banquete dos Oficiais* ou As Regentes do Hospício dos Velhos. Outro notável pintor seria Vermeer*, em cujas telas as qualidades estéticas da luz ocupam o lugar central e cujo expressionismo de forte contenção se encontra patente em quadros como A Leiteira(1660) ou A Rendilheira.

O maior génio da pintura holandesa seria Rem-brandt(1606-1669), igualmente notável gravador. Três grandes retratos colectivos marcam a sua car-reira: A Lição de Anatomia (1632), que o tornou famoso; A Ronda da Noite(1642), que assinala uma mudança na sua forma de pintar, doravante mais sombria e interiorizada; enfim Os Síndicos dos Tece-lões(1662), que pinta no fim da vida, no mo mento em que morre a sua última companheira. Um jogo densíssimo de claro-escuro e uma extraordinária paleta, simultaneamente quente e sombria, ligam-no inegavelmente ao mundo do Barroco; porém, como todo o génio, não cabe nas fronteiras de um estilo e as suas telas desenvolvem uma riqueza formal, um poder de síntese e uma captação psicológica das personagens que só seriam recuperados pela arte ocidental nos finais do século XIX.

Frans HALS(1580-1666), Banquete dos Oficiais de S. Jorge, Frans Hals Museum, Haarlem, Países-Baixos. © Lessing/Magnum.

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ANÁLISE DA OBRA

No documento DA ARTE HISTÓRIA (páginas 164-167)