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CAPÍTULO 5. Metodologia

2. Objecto de estudo e os passos metodológicos

2.2. A concretização da análise do discurso

O percurso sistematizado ao longo desta pesquisa diz respeito à concretização do desenho metodológico elaborado.

Em cumprimento da planificação de recolha do corpus de análise, procedemos ao pedido de permissão à editora da revista Maria, a Impala, para aceder ao seu arquivo, onde se encontram depositadas todas as revistas desde o início da sua edição, em Novembro de 1978. Após a autorização e disponibilização do serviço de arquivo para a busca do material de análise, fizemos uma inventariação de todas as revistas editadas correspondentes aos anos 1978/1979/1980 e 1987/1988. Estes períodos foram aleatoriamente seleccionados, tendo apenas como requisito pertencerem editorialmente a duas décadas diferentes.

Inventariaram-se e analisaram-se 217 revistas Maria, da primeira à última página, percorrendo todas as secções que a compõem e inclusive as páginas alusivas à publicidade, tendo-se extraído 32 artigos, que foram transcritos e pré-analisados (ver anexo II).

O quadro de pré-análise, para além da transcrição total ou parcial de todos os artigos/notícias encontrados, contém observações consideradas pertinentes para o estudo e que se reportam não só à referência de alguns títulos de artigos que marcam uma determinada época, como também à associação de imagens e/ou fotografias aos textos, mudanças no aspecto gráfico da revista que tenham surgido, entre outros.

Esta visualização da organização da revista, das secções que abordam a menopausa, dos temas associados, e outros temas abordados pela revista, em articulação com a contextualização histórica das diferentes décadas estudadas – dos finais dos anos 70, ou seja, na proximidade do pós-25 de Abril, até aos finais da década de 1980 – tem por objectivo dar a perceber se ocorreu mudança no discurso sobre a menopausa e, em caso afirmativo, que mudanças discursivas se processaram.

Foi, ainda, construído um quadro-resumo com a caracterização dos artigos e a existência de temas associados (ver mais adiante no ponto 1.1, do capítulo da análise) para

87 uma melhor visualização da preponderância do objecto de estudo em relação aos outros assuntos, bem como, sistematizar de acordo com a extensão do texto editado. Esta caracterização teve, então, como base a classificação da extensão das notícias em função do número de páginas ocupado na secção, ou seja, da seguinte forma: notícia constituída por apenas alguns parágrafos, não ocupando uma página inteira, seria classificada como ―pequeno artigo‖; texto ocupando uma página inteira, com ou sem associação de imagens, seria ―artigo de 1 página‖; no caso de ocupar duas páginas, era designado por ―artigo de duas páginas‖; com três ou mais páginas era remetido para ―artigo de três ou mais páginas‖, tal como o nome indica; já os textos extraídos das cartas de leitoras/es e respectivas respostas foram denominados de ―cartas de leitoras/es‖; quando em associação a outros temas, optámos por classificar como ―artigos associados‖; finalmente, os textos retirados dos destacáveis/coleccionáveis eram colocados sob a nomenclatura ―artigos destacáveis‖, podendo estar ou não associados a outros temas.

Uma outra grelha foi elaborada, para se proceder à análise do discurso das diferentes notícias, a partir de um conjunto de critérios inseridos num documento que designámos de ―Ficha de Notícia‖ (Ficha nº x, ver anexo III). O objectivo era facilitar o agrupamento, identificação e categorização, bem como a aplicação da análise do discurso aos fragmentos do texto. A Ficha de Notícia é constituída por uma tabela contendo os seguintes parâmetros: o tema para que remete o excerto do artigo (entendido por nós como os campos discursivos emergentes da análise); o número e data da revista; o tipo de artigo (de acordo com a classificação do quadro-resumo); o título e subtítulo da notícia; o lead; o corpo ou fragmento da notícia ao qual nos reportamos e transcrição de fragmentos de texto ou da sua totalidade; e um espaço para assinalar a presença de fotografias e/ou imagens associadas, caso existam.

Ainda como constituinte desta ficha, a análise do discurso é esquematizada tendo por base o que pretendemos evidenciar como pontos nodais, estruturas discursivas, intertextualidades/interdiscursividades e os campos discursivos, baseando-nos no enquadramento feito para a análise do discurso.

Procedeu-se à análise do discurso dos 32 artigos transcritos e pré-analisados, correspondentes ao total de artigos publicados nas revistas consultadas das décadas de 1970 até 1988, de acordo com os critérios estipulados para a sua inclusão na análise. Importa,

88 neste ponto, justificar a opção de analisar dois anos por cada década, pois tínhamos consciência de que fazê-lo em profundidade, ao longo de 33 anos de edição e num tão grande volume de revistas, se tornaria demasiado exaustivo.

Consideramos, pois, ser possível com esta análise aceder às representações sociais da menopausa, na época balizada, já que a pesquisa nos meios de comunicação social, nomeadamente na imprensa, nos oferece conteúdos discursivos tradutores das preocupações, interesses e tendências de desenvolvimentos temáticos à luz dessas mesmas representações. E só uma prática analítica consistente destes meios permite perceber se houve, e em caso afirmativo, quais foram, as mudanças de discurso ocorridas ao longo dos tempos, o que, neste caso específico, se coaduna com o tipo de abordagem e/ou (re)trato da menopausa, numa das revistas femininas de publicação semanal com maior tiragem em Portugal.

De facto, e de acordo com os dados retirados do site http://www.marktest.pt/ (Fevereiro, 2010), em relação à ―Evolução Trimestral da Audiência Média de Publicações Especializadas‖, e reportando-nos apenas ao primeiro trimestre de cada ano analisado, no período de 1996 a 2008, é notória a diferença entre a percentagem de leitores/as da revista

Maria, comparativamente com outras, como a Guia ou a Mulher Moderna, tal como

podemos visualizar na seguinte tabela:

Anos Revistas 1996 (%) 1997 (%) 1998 (%) 1999 (%) 2000 (%) 2001 (%) 2002 (%) 2003 (%) 2004 (%) 2005 (%) 2006 (%) 2007 (%) 2008 (%) Ana - - 1,9 2,3 2,3 2,5 3,1 0,9 2,6 2,1 1,8 2,6 2,2 Guia 2,3 3,8 2,9 2,6 1,9 1,5 1,6 1,5 - - - - - Maria 8,2 12,4 11,1 10,1 9,2 9,0 8,0 8,7 7,6 7,0 7,3 7,9 7,5 Mariana - - - 0,6 - - - Mulher Moderna 1,9 3,0 2,2 1,7 1,8 1,6 1,6 1,4 1,5 1,1 0,9 1,2 1,0 Telenovelas - - - 4,6 4,4 3,6 4,2 3,5 3,3 3,1 3,4 3,1 3,3

89 TABELA I: Distribuição, em percentagem (%), das leitoras(es) de diferentes revistas femininas semanais, ao longo dos anos.

A revista Maria ocupa, ao longo destes anos, o top das mais ―requisitadas‖, e mesmo com o surgimento de novas revistas, tal como a Telenovelas e a Ana, mantém-se no primeiro lugar das revistas femininas semanais mais lidas em Portugal, apesar do pequeno decréscimo sofrido. Lamentavelmente, não dispomos de dados anteriores a 1996.

Também a APCT (Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação) funciona como barómetro das oscilações do mercado, fornecendo dados acerca das tiragens e circulação das revistas em Portugal. Após consulta, em Fevereiro de 2010, dos dados disponíveis no site http://www.apct.pt/homepage_00.aspx?indice=1, foi possível verificar que, mais uma vez, a revista Maria ocupa a liderança em comparação com outras (Ana,

Mulher Moderna, Telenovelas, por exemplo), com valores de circulação oscilando entre

260.076 (no primeiro trimestre de 2006) e 226.833 (no primeiro trimestre de 2008) e valores de tiragem variando entre os 297.417 e os 276.577 (primeiro trimestre de 2006 e de 2008, respectivamente). Comparativamente, a revista que apresenta valores inferiores é a

Telenovelas, cuja circulação e tiragem, no primeiro trimestre de 2006, foi de 114.126 e

143.231, respectivamente, e que em 2008 apresentou uma circulação de 94.696 e uma tiragem de 119.115, para o mesmo trimestre.

Estes dados, apesar de não se reportarem às épocas por nós analisadas, constituem-se como demonstrativo da expressão que a revista Maria tem em Portugal e acreditamos ter sido assim em anos anteriores.