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CAPÍTULO 6. Discursos acerca da menopausa na Maria

2. Campos discursivos em torno da menopausa

2.4. A construção social da menopausa como um problema de saúde

2.4.4. Menopausa a fase crítica doença ou nem por isso?

No próprio discurso masculino sobre o feminino esteve sempre presente, implícita ou explicitamente, a visão médica da mulher débil, frágil e eterna doente. Aliás, desde Hipócrates que tal era defendido (citado por Jacques Le Goff, 1985).

Esta rotulagem prosseguiu e, hoje, apesar de se tentar desconstruir essa visão/representação do feminino, ainda surge com muita força, sendo notório no discurso praticado pela revista Maria em relação à menopausa. Em grande parte dos artigos predomina a condição de eterna doente, psicologicamente instável e, daí, presa fácil para a psicose, neurose ou ―doença dos nervos‖, que discutimos na secção anterior.

A construção da menopausa como doença é sugerida em algumas notícias pelo recurso a termos como sintomas e pode ser observada em inúmeros artigos editados. Intitulado

Idade crítica, o texto transcrito é um exemplo claro dessa construção discursiva:

Muitas vezes, de facto, as mulheres consideram como início da menopausa os primeiros sintomas dos ―anos críticos‖ (geralmente perto dos 40 anos), outras vezes o desaparecimento das próprias regras. Os sintomas podem requerer, às vezes, a intervenção do médico. Quando? Se o fluxo menstrual se prolonga por mais de duas semanas; se volta três semanas depois do precedente; se aparecem ciclos irregulares com breves interrupções ou hemorragias e coágulos de sangue; se tem perdas de sangue entre um ciclo e outro; se a menstruação reaparece ao fim de seis meses ou mais de interrupção. Outros sintomas: a irritação da parede vaginal; o médico deverá saber se as relações sexuais são dolorosas, se no fim destas se

154 registam perdas de sangue, se sente prurido na vagina e se tem corrimentos. O

especialista deverá ser consultado só se se verificarem estes fenómenos: pequenas perdas de urina depois de ter tossido, rido ou ter feito qualquer esforço; vontade de urinar muito frequente, em pequenas quantidades, às vezes, acompanhada de ardor. (Maria, nº 19 de 21- 27 Mar/79, Fich 3B)

A referência à intervenção do médico e o especialista deverá ser consultado remete-nos para o campo médico (já analisado no ponto 2.4.) que, associado à expressão os

sintomas podem requerer, se focaliza, implicitamente, na concepção da menopausa como

doença. No entanto, as expressões às vezes e só se se verificarem introduzem aqui uma certa contradição, assumindo que pode não constituir um problema de saúde; logo, poderá não necessitar da intervenção médica. Apesar de tudo, retoma a construção social de doença ao listar um sem-número de sintomas.

Numa outra notícia, cujo título é O papel do marido na menopausa feminina, esta associação é mais rígida e intransigente, tal como podemos verificar:

Não vamos aqui alongar-se com explicações sobre o mecanismo da menopausa, todo sabemos que o completo e perfeito equilíbrio hormonal do corpo da mulher se desintegra, tal como grande parte das suas funções orgânicas e até das funções psíquicas. Sim, é um período verdadeiramente duro, diremos até cruel, no ciclo da vida do sexo feminino. Mulheres seguras, activas, alegres, auto-confiantes transformam-se repentinamente em neuróticas, nervosas, pessoas constantemente exaustas, infelizes, introvertidas, piegas e até hipocondríacas.

Se experimentarem afrontamentos, tremuras e ataques de nervos a situação agrava- se, há as que correm para o médico solicitando exames, testes, análises, medicamentos; (Maria, nº 75 de 16-22 Abr/80, Fich 11A)

Os cáusticos adjectivos neuróticas, nervosas, pessoas constantemente exaustas,

infelizes, introvertidas, piegas e até hipocondríacas reforçam a negatividade desta fase da

vida da mulher, aqui construída como uma madwoman, e ainda a forte associação à histeria pela aplicação da expressão ataque de nervos. São os termos exames, testes, análises, e

medicamentos que consubstanciam o posicionamento de doença e, com a aplicação do

termo desintegra, assume-se ser o período verdadeiramente duro e cruel.

Também no fragmento seguinte é possível observar o pendor médico-discursivo para ultrapassar esta fase difícil:

… pode causar muitas alterações a nível físico, como afrontamentos, suores frios, palpitações, vertigens, etc. (…)

A altura da menopausa é uma fase difícil para muitas mulheres pois, por um lado, têm algumas manifestações fisiológicas (afrontamentos, etc) que as incomodam. (Maria, nº 431 de 11-17 Fev/87, Fich 12B)

155 Podemos analisar que causar muitas alterações, à semelhança do que vem sendo construído pela revista, reforça o carácter patológico por destaque dos sintomas a nível

físico: afrontamentos, suores frios, palpitações, vertigens. Aliás, para dar a ideia de

realmente ser uma panóplia de consequências infindáveis, podemos visualizar a introdução de um etc.

No entanto, observa-se uma contradição entre a divulgação dos sintomas físicos infindáveis e a referência a algumas manifestações fisiológicas (…) que incomodam. Portanto, percebemos que, afinal, podem não ser assim tantas e muito menos infindáveis, tratando-se apenas de algo incomodativo. Neste ponto estamos perante o que consideramos ser uma ambivalência discursiva, que oscila entre ―o ser doença‖ ou ―nem por isso‖.

O desfilar de doenças e seus agravamentos, perturbações e sintomas, assim como a advertência para a procura de um médico como método preventivo17, remete a menopausa para o campo da fase crítica, ou, diríamos até, para o campo da patologia feminina em função da idade, tal como podemos observar no fragmento seguinte:

Numa mulher que foi sempre saudável e activa, a menopausa, não traz consigo, frequentemente, qualquer sintoma desagradável, apenas ligeiras perturbações que em nada afectam a vida da mulher. (…) Mesmo assintomática ou quase sem sintomas, a menopausa pode em certas mulheres causar perturbações, particularmente em consequência da sua falta de informação, e mais ainda em consequência dum grande número de ideias falsas que a este respeito foi adquirindo pela vida fora.

(…) Também sucede que certas doenças crónicas se podem agravar na menopausa, em consequência do desequilíbrio circulatório e nervoso verificado por essa altura. A mulher deve estar prevenida desta eventualidade e pedir conselho ao médico. (…) Na maioria dos casos, os afrontamentos situam-se a meio caminho entre os dois extremos: crises de afogueamento limitadas à cara, pescoço e peito, acompanhadas de suores não muito abundantes e às vezes dores de cabeça. (Maria, Nº 439 de 08-14 Abr/87, Fich 15D).

Do exposto, percebemos que frequentemente surge como ponto de inflexão para a não exclusão do factor doença, sendo feita a passagem para evocar a possibilidade de algumas mulheres, mesmo as sempre saudável[eis] e activa[s], e ainda as assintomática[s] ou quase

sem sintomas, virem a manifestar qualquer sintoma desagradável ou até mesmo

17 Fazendo pressupor que a busca de informação mais correcta está aí presente, ocultando a existência de outros profissionais de saúde, por um lado, e, por outro, generalizando que todos os médicos possuem capacidades para orientar correctamente a mulher.

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perturbações. Logo, pese embora a fase a atravessar, as doenças crónicas podem

agravar-se, o que torna o quadro ainda mais patológico e desconcertante.

Porém, existe um pronome indefinido qualquer para tentar desvalorizar os sintomas e que pode ser entendido como uma aproximação à negação da menopausa como doença, já que também recorre a um apenas para reforçar esta desvalorização. Mas a contradição surge quando o conceito de benignidade é afastado pela aplicação dos termos mesmo e pode à menopausa, considerada assintomática e quase sem sintomas, onde nem a ressalva em

certas mulheres afasta a hipótese de as perturbações surgirem.

Falta de informação e ideias feitas são expressões colocadas como as grandes

responsáveis pelo indiciamento da presença de perturbações mas que, mais uma vez, parecem afastar-se da associação menopausa-doença, só que o contexto dilui esta intenção. Assim sendo, é visível a presença de um discurso médico normativo e hegemónico, posicionando a mulher como doente, a quem o surgimento da menopausa provoca agravamento do seu estado, à semelhança do que é descrito por Barbre (2003) sobre o discurso médico, praticado no séc. XIX, acerca das mulheres.

Apesar de uma aparente regularidade discursiva, inúmeros são os desacordos e as contradições presentes. Primeiramente, quando se afirma que, para uma mulher sempre

saudável e activa, a menopausa, não traz consigo, frequentemente, qualquer sintoma desagradável, apenas ligeiras perturbações que em nada afectam a vida da mulher. E mais

adiante, quando se afirma que mesmo assintomática ou quase sem sintomas; a menopausa

pode em certas mulheres causar perturbações; ou, ainda, quando se menciona também sucede que certas doenças crónicas se podem agravar na menopausa; para que as considere na sua justa medida e não deixe de procurar o médico; o nervosismo é frequente; a insónia também é frequente; não raras as dores de cabeça, as vertigens, dores nas articulações, palpitações por crises isoladas e sem causa aparente, incontinência de urinas, prisão de ventre, etc. São, assim, visíveis posicionamentos polarizantes no continuum saúde–doença na mulher menopáusica.

Encontramos no excerto seguinte o que, à primeira vista, nos parece ser um discurso emancipatório, quer sob o ponto de vista da concepção da doença, quer sob o ponto de vista da libertação feminina para o mundo social e de participação no exterior, fora do domínio doméstico:

157 A menopausa, inúmeras vezes, pede a atenção do médico, mas pede sempre a

atenção da própria mulher. Vejamos:

- Cada vez é menor o número de mulheres que manifestam grandes perturbações na menopausa, independentemente de qualquer tratamento hormonal. Não podemos deixar de relacionar este acontecimento com as profundas alterações processadas no modo de vida actual, em que a mulher saiu dos seus limites restritos do lar para um ingresso activo na vida comunitária. Novas preocupações, novas responsabilidades, novos interesses, desviam a sua atenção «interior» do seu próprio corpo e funções orgânicas para o mundo exterior. Passam a ligar menos importância a pequenos acontecimentos naturais que antes constituíam um pólo de atracção para as suas preocupações, uma atitude psíquica enormemente favorável ao exagero de certas perturbações da menopausa.

É claro que na menopausa continua a existir a deficiência estrogénica; mas o factor psíquico tem muita importância na modulação das manifestações a que a deficiência estrogénica dá lugar. É como se, de certo modo e até certo ponto, sentindo que a mulher já não lhe liga uma grande importância, a menopausa considerasse que não vale a pena entrar em cena espectacularmente, passando a agir nos limites do orgânico e do bioquímico.

Isto não quer dizer que a mulher na menopausa, incomodada por afrontamentos verdadeiramente incómodos, com insónias, com palpitações frequentes, enfim, com manifestações que não lhe deixam nem livre nem proveitosa a sua actividade habitual, não ligue a menor importância ao que nela acontece. Pelo contrário, deve consultar o médico.

O que ela não deve, e insisto neste ponto, é alimentar ideias falsas a respeito da menopausa e fazer dela um bicho de sete cabeças. (Maria, Nº 439 de 08-14 Abr/87, Fich 15 G)

É o ponto nodal pede a atenção que nos orienta para a valorização da menopausa como problema para o qual é necessário estarem alerta médico e mulher. Também o advérbio

sempre centra a mulher num dos aspectos da sua vida, a menopausa, e entrega-lhe o que é

dela, seja no sentido de a mulher o aceitar, seja para a instigar a cuidar de si, no que aparenta ser a valorização das suas capacidades e o distanciamento do discurso centrado na mulher como ser frágil.

Com o recurso à construção frásica menor o número, o autor pretende minimizar o acometimento menopausa como problema/doença, fazendo a associação à expressão

grandes perturbações, constituindo-se uma negação da grave afectação a todas as

mulheres.

Para desvalorizar a influência das alterações hormonais ocorridas, colocando para segundo plano a THS e, em primeiro plano, a componente psicológica da mulher, surge o advérbio de modo independentemente, sendo este ponto fulcral para a compreensão da mulher como ser mais emocional, mas que o autor entende ser empurrada para a

158 racionalização por influência do modo de vida actual. Se, por um lado, é claro diminui o carácter ―inofensivo‖ da menopausa e contraria o campo discursivo das alterações hormonais como não responsáveis pelas perturbações ocorridas, pois elas existem, independentemente da sua maior ou menor valorização, por outro lado, os pontos nodais

atitude psíquica e factor psíquico apontam para a grande componente emocional,

convencionada como constituinte da personalidade de todas as mulheres, que, para além de lábil, é concorrente da razão, com desvantagem para esta última. Assim se deixa transparecer um discurso convencional e normativo que inclui na feminilidade uma personalidade cuja atitude psíquica [é] enormemente favorável ao exagero.

O convencionalismo pode ser inferido a partir do não dito, que direcciona para a concepção de que a mulher fútil, não produtiva, tem tendência a exacerbar as manifestações ocorridas na menopausa. Dá a entender que a mulher doméstica é, de certa forma, fútil, é uma mulher com muita disponibilidade de tempo, sendo a não ocupação o factor responsável por certas formas de histeria ou de hipocondria. É o que se subentende do que está dito: Novas preocupações, novas responsabilidades, novos interesses, desviam a sua

atenção “interior” do seu próprio corpo e funções orgânicas para o mundo exterior. Passam a ligar menos importância a pequenos acontecimentos naturais que antes constituíam um pólo de atracção para as suas preocupações, uma atitude psíquica enormemente favorável ao exagero de certas perturbações da menopausa.

Este excerto constitui, ainda, um aparente discurso de desprendimento do absolutismo benéfico do recurso à THS e consequente necessidade, e imperativo, de vigilância médica. Mas tal culmina precisamente no oposto, quando afirma: Isto não quer dizer que a mulher

(…) não ligue a menor importância ao que nela acontece. Pelo contrário, deve consultar o médico.

Existe uma flutuação de significados na concretização da realidade das alterações ocorridas, fazendo-se a ponte entre o [se] na menopausa continua a existir a deficiência

estrogénica, [então, há] manifestações a que a deficiência estrogénica dá lugar, e a frase a mulher já não lhe liga uma grande importância. Tal implica que a própria menopausa,

dotada de capacidade de raciocínio a ponto de meditar, se exprima com um não vale a pena

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bioquímico. Assim, mais uma vez, a mulher perde o carácter de sujeito e controlo do seu

estado de saúde/doença, constituindo-se a menopausa como sujeito.

Ou seja, entre o controle psicológico das manifestações ocorridas e a existência destas por reais alterações hormonais, há uma flutuação do significado atribuído à força/peso de ambas em função da interferência nas actividades desempenhadas pelas mulheres. É o que sobressai da ressalva: Isto não quer dizer que a mulher na menopausa, incomodada por

afrontamentos verdadeiramente incómodos, com insónias, com palpitações frequentes, enfim, com manifestações que não lhe deixam nem livre nem proveitosa a sua actividade habitual.

Na mesma linha, a de um optimismo que se pretende fazer crer, encontramos uma prática discursiva da menopausa-doença no seguinte excerto, que, mais adiante, iremos analisar sob o ponto de vista da THS como uma mais-valia para a saúde das mulheres:

Em grande parte devido à divulgação dos meios de comunicação social, ao ensino, aos preconceitos e ao exemplo de outros familiares que consideram a menopausa e os seus desconfortos como naturais e inevitáveis, muitas mulheres encaram ainda hoje essa alteração como algo por que se tem de passar para a qual não existe tratamento. Por outro lado, a atitude ainda pouco compreensiva da profissão médica, encoraja as mulheres a considerarem a menopausa com receio e depressão. Algumas mulheres passam pela menopausa sem sequer se aperceberem de que isso está a suceder.

O dr Elia, da Maternidade de Rotschild de Paris, através de um inquérito que realizou sobre os aspectos médicos, sociais e afectivos da menopausa concluiu que 70 por cento das mulheres francesas encararam a menopausa como o ―princípio do fim‖. (Maria, nº 504 de 06 a 12 Jul/88, Fich 31B)

A expressão sem sequer se aperceberem surge como uma alternativa a todo um rol de distúrbios associados à menopausa, mas que perde força por estar inserida num contexto de apelo à medicalização da menopausa. Assim, a expressão “o princípio do fim” dá mais evidência ao carácter destrutivo desta fase, onde o desfecho negativo é exaltado e colocado em oposição ao meramente mencionado como tranquilo e de desfecho positivo.

Este artigo pauta-se por contra-sensos face à divulgação da menopausa como um bicho

de sete cabeças, por parte dos media, dos amigos/familiares e médicos. Coloca os media

como responsáveis pela divulgação da naturalização e inevitabilidade das manifestações perniciosas da menopausa, quando, na realidade, verificamos, ao longo desta análise, precisamente o oposto. Coloca os médicos como responsáveis pela inculcação de medos e mitificação da menopausa como ―fase crítica‖, quando, na realidade, várias vezes a revista

160 faz essa orientação e aconselha a consulta médica. Exclui, ainda, a possibilidade de as manifestações surgirem em todas as mulheres, mas apela à adesão da THS, fazendo a colagem, ainda que indirecta, ao conceito de doença, deixando cair por terra o ―nem por isso‖, relativizador da menopausa como doença ou síndrome, ao afirmar que muitas

mulheres encaram ainda hoje essa alteração como algo por que se tem de passar para a qual não existe tratamento.

Numa outra notícia, cujo título é Crise da Menopausa e o subtítulo As mudanças do

climatério, encontramos um discurso desafiador da normatividade, vezes sem conta

imprimida em diferentes artigos já analisados:

Este processo fisiológico prolonga-se durante anos e o seu início e término ocorre em idades muito variáveis.

(…) Nem todas as mulheres sofrem os sintomas da menopausa: 60 por cento não chega a experimentar qualquer incómodo físico ou emocional. Muito simplesmente, um dia deixam de ser menstruadas e as mudanças físicas operam-se lentamente. (Maria, nº 509, de 10 a 16 Agos/88, Fich 32C)

Este será o excerto que mais se aproxima do enquadramento da menopausa como doença ou nem por isso, apesar de o ponto nodal sofrem estar presente, cuja associação, já explorada, assinala o sofrimento como constituinte da condição feminina ad eternum. Esta concepção, que tem uma raiz religiosa e ainda cultural, herdada do fatalismo e do ―messianismo português‖, como responsáveis pelo ―determinismo de um destino cego‖ (Martins, 2007: 252), coloca, na generalidade, todos os portugueses como povo sofredor, saudosista e triste, e assenta, em particular, nas mulheres como as grandes sofredoras. Este dirigismo sociocultural é também o responsável pela opressão social feminina que se viveu no Estado salazarista e que prosseguiu, ainda muito vincado, na atitude social sobre e das mulheres pós-25 de Abril de 1974, tendo-se prolongado até aos anos 80 (Vicente, 1987).

No entanto, é na expressão transtornos físicos, como alternativa a sintomas, que o/a autor/a revela um afastamento desta concepção menopausa-doença e, ao afirmar nem todas, promove a dissociação do conceito de patologia, dando abertura à interpretação ao estilo do ―nem por isso‖. Reforçado pelo enunciado não chega a experimentar, afasta-se, por conseguinte, a imagem de que todas as mulheres atravessam esta fase de forma crítica. E é com um muito simplesmente e com a caracterização temporal prolonga-se durante anos que a normatividade discursiva é desafiada, já que se opõe à prática frequente da definição do processo como quase relâmpago e muito complexo.

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A colectânea patológica perimenopausa

A menopausa é encarada, pela comunidade científica/médica e pela sociedade, como uma agravante a todo o processo de envelhecimento e considerada como responsável por um conjunto de doenças que se manifestam mais exacerbadamente neste período. É pelo desfilar de um interminável número de problemas, distúrbios e doenças que entendemos ser importante destacar essa ―antologia patológica‖. Assim, num destacável sobre a menopausa e num outro sobre a osteoporose, cujo subtítulo é Osteoporose Primitiva, são feitas as seguintes observações:

A insónia também é frequente, e não raras as dores de cabeça, as vertigens, dores nas articulações, palpitações por crises isoladas e sem causa aparente, incontinência de urinas, prisão de ventre, etc. (Maria, Nº 439 de 08-14 Abr/87, Fich 15E).

Além disso, o médico terá de pensar no futuro da mulher que, depois da menopausa, pode ficar exposta a situações indesejáveis, como a osteoporose, a atrofia dos epitélios (em particular do epitélio vaginal e na uretra), a arteriosclerose, etc. (Maria, Nº 439 de 08-14 Abr/87, Fich 15F)

É tipicamente representada pela osteoporose, da mulher depois da menopausa, período em que a redução da massa óssea é mais acentuada na mulher do que no homem. Isto não quer dizer que toda a mulher pós-menopausica sofra de osteoporose-doença. A rarefacção dos ossos é um processo normal nesta idade, e só tem carácter patológico se ultrapassar certos limites. (…) A doença evolui quase sempre por períodos de exacerbação das dores e de acalmia, mas é preciso