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PARTE I – R EFERENCIAL TEÓRICO

2.2 A Violência no contexto escolar

2.2.3 A convivência na escola

De acordo com a pesquisa de Torres et al. (2013) a maioria dos estudantes (57,6%) considerava que era sempre bem tratada, ou quase sempre, pelos colegas. Somente 7,2% afirmaram que sempre ou quase sempre se sentiram humilhados por provocações; pouco mais de 8% admitiram conflitos com professores, diretores e coordenadores, sendo que 11,1% disseram haver algum conflito com colegas. Não houve uma conceituação precisa de “conflito” na pesquisa.

Tais dados são confirmados pela pesquisa PeNSE (BRASIL, 2013), sendo que 62,8% das alunas do 9º ano do ensino fundamental declararam ter sido bem tratadas por seus colegas. Entre os meninos, o percentual foi de 52%. Também a pesquisa “Bullying escolar no Brasil” (FISCHER, 2010) apresenta que os estudantes em geral se sentem bem nas escolas:

Tabela 4 - Como estudantes se sentem no ambiente escolar

Como se sente Nunca Às vezes Sempre Em branco Total

Acolhido 12,7% 40,8% 43,3% 3,2% 100% Amado 9,3% 38,7% 49,3% 2,8% 100% Angustiado 50,2% 43,6% 3,2% 3,0% 100% Bem 4,8% 36,1% 56,8% 2,3% 100% Com medo 57,5% 36,3% 3,2% 3,1% 100% Excluído 57,8% 33,5% 5,7% 3,0% 100% Humilhado 69,0% 26,0% 2,6% 2,3% 100% Maltratado 70,3% 23,8% 2,7% 3,2% 100% Sozinho 54,9% 38,8% 4,0% 2,4% 100% Fonte: Fischer (2010, p. 22-23)

Assim, um sentimento permanente de humilhação, solidão, exclusão e de maus tratos é baixo em comparação aos bons sentimentos, o que não significa que não ocorram “às vezes” nem a inexistência de violência subjetiva no ambiente escolar.

A pesquisa PeNSE (BRASIL, 2013) também indicou que 7,3% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental teriam se envolvido, nos 30 dias que a antecederam, em brigas com armas brancas, sendo que há prevalência de estudantes das escolas públicas (7,6%) em relação às escolas privadas (6,2%). Essa diferença se repete quanto ao Distrito Federal, no qual 8,2% dos estudantes se envolveram em brigas com armas brancas, sendo 8,7% nas escolas públicas e 7% nas escolas particulares.

Quanto a brigas com armas de fogo: 6,4% dos estudantes brasileiros no 9º ano do ensino fundamental teriam se envolvido nos 30 dias que antecederam a pesquisa. No Distrito Federal, esse percentual é de 7,9%, acima da média nacional, sendo 8,8% dos estudantes de escolas públicas e 5,5% dos estudantes de escolas particulares.

Nos 12 meses anteriores à pesquisa 10,3% dos alunos teriam sido “seriamente feridos” uma ou mais vezes, não havendo, contudo, uma conceituação dessa percepção. Em

relação à dependência administrativa, foram 10,6% nas escolas públicas e 8,8% nas escolas privadas. No Distrito Federal, o percentual foi 9,2%, sem diferenças entre os tipos de escola.

Já na pesquisa “Bullying escolar no Brasil” (FISCHER, 2010, p. 02), que aplicou questionário em 5.168 alunos e realizou 14 “grupos focais com 55 alunos, 14 pais/responsáveis e 64 técnicos, professores ou gestores de escolas localizadas nas capitais pesquisadas” em escolas públicas e privadas localizadas em capitais ou municípios do interior de todas as regiões geográficas do país, 70% da amostra que responderam haver presenciado cenas de agressão entre colegas durante o ano escolar de 2009. Enquanto isso, 30% declararam haver vivido ao menos uma situação violenta no mesmo período.

Mas um dos temas que mais tem chamado a atenção na mídia é o termo

bullying, ou intimidação por pares. Conforme Fischer (2010, p. 04) trata-se do conjunto de

atitudes e ações de maus tratos entre colegas ocorridas com frequência superior a três vezes durante o ano letivo. Nesse sentido, possui como características a repetição e uma relação desigual de poder entre quem faz e quem sofre o ato. Para a pesquisa PeNSE ele é:

[...] comportamentos com diversos níveis de violência, que vão desde chateações inoportunas ou hostis até fatos francamente agressivos, sob forma verbal ou não, intencionais e repetidas, sem motivação aparente, provocados por um ou mais alunos em relação a outros, causando dor, angústia, exclusão, humilhação, discriminação, entre outras sensações. [...] Trata-se de situações em que se constatam relações de poder assimétricas entre agente(s) e vítima(s), nas quais se tem dificuldade de defesa (BRASIL, 2013, p. 70).

Diante disso, pode-se considerar que o bullying envolve como elementos:

a. uma situação de maus tratos;

b. direcionada a uma vítima específica;

c. duradoura;

d. dentro de uma relação assimétrica de poder.

O bullying é um fenômeno mundial, a ponto de a pesquisa Healthy Behavior in

School Aged - HBSC estimar que 13% dos alunos com 11 anos sofrerem por, no mínimo,

duas vezes nos dois meses anteriores à pesquisa (CURRIE et al., 2012).

No Brasil, de acordo com Fischer (2010, p. 02) ele teria sido praticado e sofrido por 10% dos pesquisados, sendo mais frequente entre adolescentes de 11 a 15 anos de idade e no 6º ano do ensino fundamental.

Mais de 34,5% da amostra de vítimas do sexo masculino foram vítimas de maus tratos ao menos uma vez no ano anterior, sendo 12,5% vítimas de bullying. Nesse sentido, cabe esclarecer que a pesquisa diferencia bullying de maus tratos em relação à frequência das ações, ou seja, o conjunto de ações é o mesmo, mas para o bullying é

necessária uma frequência mínima de 03 vezes, ao passo que já são considerados maus tratos ações que ocorram mesmo 01 ou 02 vezes.

O fenômeno do bullying tem predominância na região Sudeste, com 15,5% de vítimas, sendo seguida pela região Centro-Oeste (11,7%), Sul (8,4%); Norte (6,2%) e região Nordeste (5,4%). Em relação ao Centro-Oeste, no entanto, cabe esclarecer que a pesquisa foi realizada apenas em Brasília, Brazlândia e Samambaia.

Ao ser relacionar aos agressores, tem-se que, no Brasil, 10% da amostra de alunos afirmam ter praticado bullying ao passo que 29% afirma ter praticado, alguma vez, maus tratos. O Distrito Federal (Centro-Oeste) lidera esse ranking, com 14% da amostra declarando haver praticado bullying (FISCHER, 2010). Em relação às vítimas, a Tabela 5 mostra os casos de bullying e maus tratos por região e duração:

Tabela 5 - Vitimização de bullying e maus tratos, por frequência, duração e região.

Fonte: FISCHER, 2010, p. 25.

Parece que nem sempre há motivos ou razão para sofrer ou praticar o bullying. É o que revelou a pesquisa ao mostrar que 12,97% dos estudantes entrevistados informaram não saber o motivo para o assédio. Os demais consideram como motivações para os maus tratos: desejo de popularidade dos autores (16,84%); brincadeiras (11,59%); desejo de dominação dos autores (9,49%); autores são mais fortes (9%); ausência de reação das vítimas (8,16%); porque a vítima é diferente (6,78%); ausência de punição (6,52%); autores se sentem provocados (4,98%) e ainda porque a vítima merece (3,73%) (FISCHER, 2010).

Além disso, o bullying é minimizado tanto por professores e gestores, quanto pelos estudantes e pais. Como a maioria dos casos refere-se a agressões verbais praticadas por um aluno contra outro, as ações são consideradas normais entre adolescentes e crianças.

Em relação aos gestores e professores, a pesquisa indica que eles não consideram o problema como sua responsabilidade nem como parte da função escolar, havendo, por outro lado, a responsabilização da família. Um dos dados que demonstram a negligência escolar em relação ao bullying é justamente o fato de que ele ocorre às claras, em

locais sob supervisão de professores, gestores e demais funcionários, ou seja, na sala de aula, com ou sem a presença de professor, nos pátios de recreios e corredores escolares, tal como indica a Tabela 6 a seguir:

Tabela 6 - Espaço de manifestação do bullying

Fonte: FISCHER, 2010, p. 40.

No que se refere aos pais, criticam a escola, os professores e os gestores quanto à falta de punição de agressores e de proteção às vítimas, de forma que:

Comparando-se as ênfases dos discursos de pais e professores, parece haver uma situação em que cada um destes grupos esta “jogando” para o outro a responsabilidade de evitar episódios de maus tratos no ambiente escolar. Diferentemente dos professores e gestores, que só assumiram a responsabilidade da escola após serem questionados sobre isso, os pais sinalizaram de forma espontânea a sua própria responsabilidade por tais ocorrências. Percebe-se, no entanto, que quando estimulados à reflexão, professores e gestores foram capazes de perceber o papel da escola no desenvolvimento e/ou na manutenção de comportamentos violentos (FISCHER, 2010, p. 35).

Assim, em relação ao bullying a pesquisa evidenciou ainda que não há ações de prevenção, controle ou correção e a escola não se mostra preparada para administrar adequadamente tais situações. Contudo, ele tende a ser apenas o primeiro passo em direção a ações mais violentas, sinalizando a importância de seu enfrentamento e da busca de prevenção. Ademais, a pesquisa indica que vítimas ou autores tendem a perder o interesse em estudar, o que se relaciona a pesquisas sobre consequências da violência no contexto escolar.

As violências no contexto escolar não se referem apenas aos alunos, mas também englobam os adultos, isto é, professores, gestores e demais funcionários escolares. A violência simbólica realizada é perpetrada por tais atores.

Contudo, salta aos olhos o fato de violência no contexto escolar ser centrada no comportamento do aluno. Essa percepção já foi dada por Blaya (2002) e, no Brasil, por Scarlato e Silva (2011), conforme tópico anterior, onde quase 92% dos trabalhos acadêmicos

sobre o tema, no período de 2001 a 2009, centram-se na violência dos estudantes. Apesar disso, ao analisar as pesquisas sobre o tema, Scarlato e Silva concluem que:

[...] professores/as de diferentes estados brasileiros, diferentes gêneros, diferentes níveis de ensino, que ministram diferentes disciplinas, em sua maioria, cometem violência contra seus/as alunos/as em sala de aula. Além disso, eles/as acreditam na legitimidade de seus atos (SCARLATO e SILVA, 2011, p.10).

Um dos trabalhos sobre a violência psicológica realizada por professores é o de Koehler (2003), com a participação de 516 alunos de escolas públicas e privadas da Bahia. A autora concluiu que tal violência é uma realidade do cotidiano escolar ao estar presente na vida de 94,6% da amostra, sendo que 94% dos alunos são da rede pública e 96% da rede particular. Nesse sentido, a violência se consubstancia em atos como gritar (32,8%), humilhar os alunos (28,1%) e fazer comparações depreciando (16,6%).

A atuação do professor e da escola como um todo tem o condão de influenciar a vida dos estudantes do lado de fora do contexto escolar, suas perspectivas de trabalho. Assim, sua atuação é essencial para o desenvolvimento da convivência na escola, no desenvolvimento do clima escolar e, com isso, de formas tanto de prevenção como de gerenciamento da violência presente.