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PARTE III – A NÁLISE DOS D ADOS E C ONCLUSÃO

6.7 Etapas, metas, impactos e dificuldades

Conforme consta no capítulo 5, o resumo da implementação do “Projeto Estudar em Paz” foi dividido em quatro fases, a partir das etapas mencionadas por Beleza (2012). Essas fases não são sequenciais, nem simultâneas, elas vão acontecendo ao longo do ano nas escolas atendidas, conforme o desenvolvimento das atividades, sendo aqui apresentadas em sequência apenas para fins didáticos. Eu as chamei de fase de conhecimento, de curso de mediação, de instituição do núcleo e de sensibilização.

A fase de conhecimento engloba o mapeamento da realidade da escola e da comunidade ao redor bem como da sua “rede social pública e privada”, identificando-se as necessidades e recursos. Além disso, seriam feitas ações de sensibilização junto aos atores escolares para divulgar o “Projeto Estudar em Paz” e suas potencialidades. A partir das

principalmente informal, que ocorre em reuniões com os professores, orientadores e coordenadores da própria escola. É o levantamento das demandas da escola.

Em relação ao mapeamento de rede, que engloba a fase de conhecimento, não houve menções a essa atividade na escola pesquisada. De fato, tanto Furtado (2011) quanto Beleza (2012) e Carneiro (2014) quanto os relatórios apresentados no capítulo 5, consideram que esse é um ponto crítico do “Projeto Estudar em Paz”, seja em razão de suas próprias questões estruturais (ausência de pessoal, de financiamento) ou da estrutura das instituições mapeadas. Tal percepção também foi encontrada no relato a seguir:

A gente precisa ter mais pessoas pra fazer o mapeamento da rede assistencial que a gente reputa da maior importância, mapear essa rede social, integrar a escola nessa rede. Precisamos de alunos pra fazer isso. Nós não temos apoio. E aí é um objetivo que a gente não consegue cumprir, infelizmente. A gente consegue cumprir com uma instituição: vai lá no CRAS [centro de referência de assistência social], conhece a coordenadora, ela se dispõe a ir na escola, conversar com os professores e não damos andamento porque falta gente pra continuar trabalhando nesse mapeamento (Miriam. Participante do Projeto).

A segunda e a terceira fases de desenvolvimento das etapas do “Projeto Estudar em Paz” referem-se aos cursos de formação e à instituição de um núcleo de mediação. Além dessa, ainda é prevista a última etapa, sensibilização, direcionada às ações de manutenção acompanhamento dos mediadores formados, avaliações e divulgação de resultados.

O objetivo dessas fases, em especial das fases dois e três, são estimular o pensamento crítico acerca de mediação social, conflitos e violências no contexto escolar; fomentar na escola pesquisada práticas socioeducativas pautadas na cultura de paz e de direitos humanos, justiça, democracia e cidadania e incentivar junto aos diferentes segmentos sociais a incorporação da prática da mediação como instrumento de diálogo,de participação e de transformação pessoal e social.

Na delimitação temporal da presente pesquisa, ou seja, de 2010 a 2013, houve a prevalência de curso de formação em mediação social para os estudantes. Para os docentes, foi realizado apenas um curso, no início de 2013. Não houve formação para os demais membros da comunidade, ao contrário do previsto nos objetivos específicos do “Projeto Estudar em Paz” e presente entre os eixos da mediação social (FRANÇA, 2011).

Com isso, verifica-se que, na prática, trata-se de um projeto de mediação por pares (HEREDIA, 2008. BOLDINE e CRAWFORD, 1998) e não de enfoque global, ao contrário do previsto em seus documentos.

O ingresso no curso de formação normalmente é voluntário. Há a divulgação nas salas de aula ou convite por amigos já mediadores. Os relatos abaixo apresentam a predominância de divulgação em sala de aula:

Eles passaram na sala perguntando se agente queria fazer (Ana. Estudante).

Passaram as mulheres em cada sala e quem quiser participar vai lá falar com elas (Carla. Estudante).

Foi o professor que falou que tava tendo, aí eu fiquei sabendo e eu me inscrevi (Sandra. Estudante).

Eu fui fazer porque a irmã da minha amiga fez e gostou. Nós duas fizemos (Joana. Estudante).

A minha irmã já fazia e me chamou. Eu soube através dela (Maria. Estudante).

Apesar disso, em 2013, na escola pesquisada, foi escolhida uma turma específica para participar do curso de formação, de forma que todos os estudantes da turma passaram pelo curso. Conforme Margarida, estudante, a turma foi “escolhida” e todo mundo fez. Ainda que Margarida desconheça o motivo dessa escolha, ela se deu porque essa classe é considerada mais “difícil” pelos profissionais da escola:

São tudo doidos, parecem tudo atrapalhado aqueles meninos [...] Eu pensei que podia fazer essa mediação com o pessoal da aceleração, uns que são os que dão mais trabalho, e foi justamente isso o que eles fizeram (Paulo. Profissional da escola). Tem-se a visão de que as classes de aceleração são mais problemáticas porque são aqueles alunos que são repetentes de vários anos. [O curso esse ano] Começou com esses alunos (Cristóvão. Profissional da escola).

Na verdade, essa turma é uma turma difícil, vamos dizer assim. É uma turma muito difícil. Tentamos implementar esse projeto com ela para ver se a gente conseguia, sei lá, alguma melhora (Luciana. Profissional da escola).

Com isso, verifica-se que houve, ao menos nessa turma de 2013, um processo de “estigmatização” dos estudantes que participaram do curso de formação em mediação social. Os participantes eram os alunos “mais problemáticos, mais difíceis” a partir da visão dos profissionais da escola, sendo objetivo do curso efetuar maior controle sobre eles. A participação foi, então, involuntária. No entanto, a pesquisa não verificou a versão dos participantes do “Projeto Estudar em Paz” quanto a esse processo.

Apesar da pesquisa não poder apresentar dados definitivos quanto a isso, a forma como a escolha se deu pode justificar a percepção negativa dos profissionais da escola quanto aos resultados no ano de 2013 bem como dos próprios estudantes quanto ao fato de que o curso “não adiantou para todos”. Isso porque, conforme visto no decorrer deste trabalho, a percepção negativa foi principalmente quanto ao ano de 2013, o que indica a

importância de que a mediação não seja uma proposta obrigatória nem curricular nas escolas, mas uma proposta de autonomia e de escolha dos próprios estudantes.

Ainda em relação ao curso, cabe esclarecer que a proposta pedagógica do “Projeto Estudar em Paz” envolve uma metodologia dialógica, com dinâmicas, “brincadeiras”, nas palavras dos estudantes, participativa e colaborativa. Tal metodologia permite o diálogo entre todos, o que foi percebido pelos estudantes:

Tinha as dinâmicas também que eram bem legais. Conversar também com os professores era legal (Carla. Estudante).

A gente falava dos conflitos, de como agir, a gente fez umas brincadeiras também, fazia cartaz, um monte de coisa. Foi bom porque a gente ficava todo mundo junto e tentava ajudar os outros também. A gente falava de tudo (Sandra. Estudante). Era Legal. Tinha brincadeiras que fazia rir e se divertir muito. A gente falava sobre a gente, sobre o governo, sobre o que ele podia fazer no dia a dia (Flávio. Estudante). Tinha as brincadeiras. A gente brincava muito. Era o que eu mais gostava (Marcos. Estudante).

Processos cooperativos e dialógicos, baseados na participação dos estudantes em atividades e dinâmicas de grupo e na partilha de experiências, melhoram a socialização como um todo (SANCHES, 2005. ORTEGA; DEL REY, 2002. DAMIANI, 2008), pois, quando os diversos pontos de vista são expressos e ouvidos, há uma relativização do próprio ponto de vista, o reconhecimento do outro e a superação do egocentrismo. Daí tal metodologia ser comum em projetos de mediação (HEREDIA, 2008. BOWDINE; CRAWFORD, 19998. JARES, 2002, 2007).

No grupo focal também chamou atenção dos estudantes a forma de tratamento dos participantes do “Projeto Estudar em Paz”, resumida aqui na fala de Maria, estudante:

Nossa, as pessoas eram mó educadas! É, educadas! Falavam com a gente, abraçava a gente e não tinha dessa não... Na sala de aula, o professor quer saber só a parte dele. Não quer saber da gente. Aí já na mediação, eles davam atenção pra gente, perguntava se você tava bem. Essas coisas. Todo mundo lá dava atenção para todo mundo. Lá todo mundo conversava e falava e pronto.

Assim, além da metodologia dialógica, o cuidado e a atenção dos participantes do “Projeto Estudar em Paz” causaram estranhamento positivo aos estudantes. Isso demonstra, de um lado, que essa não é sua realidade e, de outro, a necessidade de se sentir ouvidos e respeitados.

Outro fato que chamou a atenção nesta pesquisa foi a divulgação do “Projeto Estudar em Paz”, como no caso da reportagem do programa da TV Globo, “Fantástico”, que foca a resolução do conflito entre pares e entre estudantes e professores. A escola pesquisada conheceu o projeto por meio dessa reportagem, conforme explicam os relatos abaixo:

Um professor viu no Fantástico a reportagem e nós fomos conhecer (Meire. Profissional da escola).

Eu vi a primeira reportagem no Fantástico e um professor nosso ele também viu. Se eu não estiver enganada, essa reportagem era de São Sebastião. Então, ele viu e começou a buscar informações sobre esse projeto. Conseguiu. Foi lá fazer o curso e trouxe para a gente e implantou na escola (Luciana. Profissional da escola).

Nós vimos no Fantastico, um professor daqui entrou em contato e fomos um grupo conhecer o projeto em São Sebastião. Aí a gente viu, sabe, os alunos dizendo que antes causavam muita confusão e que depois mudaram o comportamento (Mariana. Profissional da escola).

A reportagem, no entanto, não apresenta as diferenças então existentes na escola em São Sebastião, alvo da reportagem, na qual o “Projeto Estudar em Paz” era apenas um entre pelo menos 40 projetos, realizados em parcerias com embaixadas, ONGs, ministérios e universidade, que envolviam desde atividades artísticas (aulas de circo) a políticas (fóruns, discussões, oficinas). Na escola pesquisada isso não acontece:

Atualmente projetos fora do currículo não existem. É só aqueles que estão vivos na secretaria e aqueles que a escola trabalha, mas nada que parta de um professor e a escola trabalhe a partir disso. Atualmente não há nada nessa área (Cristóvão). Não tem nada na escola. O ano todo assim teve tipo... Não teve nada, gente! Se teve um negócio foi uma feira de ciências. Não teve uma palestra, não foi trazido alguma coisa, coisas diferentes (Margarida. Estudante. Grupo focal).

[...] o CED São Francisco, era o que eu acho que desenvolvia mais ações. Eram muitos projetos que funcionavam lá, teve uma época que chegou a funcionar mais de quarenta projetos, de tudo quanto é área: eles tinham horta, costura, projeto de confecção de bonecos, de circo, de judô, de dança, de língua estrangeira. Nossa, era muita coisa: teatro, eles tinham o escola aberta, que fazia com que a escola funcionasse aos sábados com essas atividades, colônia de férias, acampamento... Então, eu acho que desenvolviam muitas ações que de uma forma, acho que direta, eles conseguiam lidar com essa questão da violência, profissionalizando, enfim, e fazendo, abrindo as portas da escola para a comunidade, pra tentar entender que comunidade era essa, quais que eram as demandas... Acabava fazendo a política da boa vizinhança! E [na escola pesquisada] eu realmente não me recordo de nada além de um projeto específico de uma professora que fazia a formação dos meninos em artes cênicas e eles chegaram até a apresentar uma peça em algum lugar. Mas pelo que eu me lembro essa professora também era contrato temporário. Então não era uma coisa da escola, era uma coisa dos professores (Letícia. Participante do Projeto).

Contudo, assim como anuncia Ortega e Del Rey (2002), um projeto de mediação de conflitos no contexto escolar vem complementar uma série de ações direcionadas a uma gestão democrática e participativa na escola, que impliquem, na realidade, numa efetiva transformação na escola e nos seus métodos institucionais. No entanto, na escola pesquisada, para os profissionais da escola a proposta seria mais uma ação de controle das ações dos estudantes, mas com a ausência de participação desses profissionais na transformação. A ideia era mesmo tentar controlar os estudantes como um “passe de mágica”.

Essa percepção pode ser observada a partir das dificuldades encontradas pelo “Projeto Estuda em Paz” durante a execução de suas atividades, mencionadas principalmente pelos estudantes e profissionais da escola descritos na Tabela 23.

Tabela 23- Dificuldades para a efetivação do Projeto Dificuldades do Projeto

Citadas pelos Estudantes

Dificuldades do Projeto Citada pelos Profissionais Falta de Espaço físico para a Mediação Falta de espaço físico para a Mediação Falta de continuidade do Projeto Falta de aceitação dos profissionais Falta de continuidade Falta de continuidade do Projeto Falta de horário específico para o curso de

Mediação

Falta de preparação dos profissionais Fonte: Dados da Pesquisa

No discurso, os entrevistados, tanto profissionais quanto estudantes e membros da escola pesquisada, mencionaram a falta de espaço físico, a falta de continuidade das ações e a falta de preparação dos profissionais da escola como dificuldades na implantação e efetivação do “Projeto Estudar em Paz”. Também foi mencionada a falta de aceitação por parte dos profissionais, o que já havia sido identificado em pesquisas anteriores realizadas por Gaspar (2012) e de Furtado (2011) bem como a falta de horário para a realização do curso de mediação.

É importante lembrar que os profissionais de uma escola têm um papel fundamental em toda e qualquer ação desenvolvida dentro de uma escola. Quando eles não aceitam, não consideram importante certa ação ou não acreditam na sua eficácia, tal ação corre o risco de fracassar. Não foi o que ocorreu com relação ao “Projeto Estudar em Paz” que teve um impacto positivo, pelo menos para os estudantes que dele participaram. No entanto, se houvesse maior engajamento de todos, principalmente dos profissionais, haveria a possibilidade de o “Projeto Estudar em Paz” apresentar resultados mais efetivos e se institucionalizar na escola pesquisa. O que não ocorreu.

Quanto ao fato de o “Projeto Estudar em Paz” ter trazido contribuição para seus participantes e (ou) para a escola, observou-se que todos os estudantes mencionaram contribuições positivas, enquanto nem todos os profissionais da escola perceberam tais contribuições. Entre estudantes e profissionais que as mencionam, elas teriam se dado na esfera pessoal dos participantes do curso de formação em mediação social.

A resistência dos professores ao “Projeto Estudar em Paz” parece fazer parte de um contexto que envolve a escola da atualidade. Sendo assim, não parece uma resistência que possa ser vencida com a simples alteração do programa do curso, tornando-o mais focado nos processos de resolução de conflito e menos na sensibilização. É uma resistência que vai permear a trajetória do “Projeto Estudar em Paz” enquanto ele atuar dentro do sistema de

escolas públicas tradicionais buscando, sozinho, a transformação de estudantes, profissionais e da própria escola, transformação essa que pode ser compreendida como possível dentro de uma proposta de educação para os direitos humanos.

Além da relação entre profissionais também foi considerada dificuldade na implementação do “Projeto Estudar em Paz” a falta de espaço físico na escola para a realização da mediação. Nesse sentido, duas são as questões levantadas: a ausência de um espaço e de um horário específico para o curso e a ausência de uma sala para o núcleo de mediação.

Quanto à ausência de espaço e horário específico, o curso para os professores ocorreu dentro das atividades da “coordenação semanal”, ou seja, reuniões administrativas da escola, com a reserva de 1h semanal para o curso. No entanto, conforme já visto, não houve uma presença efetiva dos professores e as reuniões aconteciam em meio aos procedimentos normais da escola e aos atendimentos a estudantes.

Em relação ao curso ministrado a alunos e alunas, as aulas aconteciam nos horários livres ou no contra turno escolar, mas sem um espaço ou local específico:

Às vezes a gente chegava e não tinha sala para realizar as atividades, a sala estava ocupada, era uma sala improvisada (Júlia. Integrante do Projeto).

Algumas vezes não consegui dar a aula porque não tinha sala (Marta. Integrante do Projeto).

A gente não tinha sala, aí a gente vinha pra escola e ficava caçando um lugar. Tipo assim: a professora faltou, a gente ia lá pra sala da professora que faltou. No dia que professor não faltava, a gente ficava na sala ao lado do laboratório, ficava do lado de fora sentado no chão no pátio. Não tinha espaço (Ana. Estudante. Grupo Focal).

A pesquisa evidencia, assim, que o “Projeto Estudar em Paz” atuou dentro de uma precariedade que pode impactar sua implementação e seus resultados. Não havia uma sala destinada ao desenvolvimento de suas atividades, as quais iam acontecendo na medida em que aguardavam a disponibilidade de sala no dia.

Há aqui uma situação estrutural da escola: seus espaços são previamente definidos e pode se tornar complicado ou difícil estabelecer espaços próprios para projetos e atividades externas. Contudo, há também um processo que dificulta ainda mais essa situação: a falta de colaboração dos profissionais da escola. Nesse sentido, Letícia relata sua percepção:

A gente tinha o apoio formal, mas não tinha as condições necessárias para desenvolver o trabalho (Letícia. Participante do projeto).

Mais uma vez, o desenvolvimento de projetos no contexto escolar, quais forem, depende do apoio dos integrantes da própria escola e da própria instituição. No caso da escola

saíra em 2013, sem que houvesse outra pessoa para assumir. Essa situação demonstrou a dificuldade do “Projeto Estudar em Paz” em aproximar-se desses profissionais. O apoio de um único profissional pode não significar o apoio da escola:

Tudo era pessoal. Se a gente precisava de algo, o Marcos diretamente ia e fazia e a gente achava que isso era um contato com a escola! Mas isso não era um contato com a escola, era um contato com o Marcos (Letícia. Participante do Projeto).

No entanto, cabe lembrar ainda que foi mencionado pelos entrevistados que muitos alunos que fizeram o curso em anos anteriores saíram da escola para continuarem seus estudos em outras instituições, já que a escola é de ensino fundamental. Da mesma forma, alguns dos professores eram novos e outros haviam saído. Letícia, uma das participantes do Projeto, relatou, em entrevista, que essa era uma situação comum: terminava-se a formação de uma turma, e ela saía da escola; conseguia-se a sensibilização de professores e eles trocavam de escola, o que também pode ter interferido no desenvolvimento das atividades do “Projeto Estudar em Paz”, o que justificaria a dificuldade de continuidade: está sempre recomeçando suas atividades.

Diante dessa situação, a pesquisa de campo verificou que o “Projeto Estudar em Paz” não resolve ou extingue conflitos no contexto escolar, mas oferece uma alternativa para se lidar com eles de uma forma mais dialógica e democrática. Contudo, isso só será possível quando todos os atores escolares atuarem conjuntamente num processo que visa à transformação da escola.

Nesse sentido, o “Projeto Estudar em Paz” possui impactos positivos junto aos estudantes participantes do curso de formação de mediação. Contudo, encontra dificuldades de institucionalização: os profissionais da escola não atuam como parceiros do “Projeto Estudar em Paz”. Essa dificuldade é encontrada também por seus membros, que não conseguiram estreitar relações com a escola. Como resultado, o “Projeto Estudar em Paz” enfrenta também dificuldades estruturais (ausência de espaço físico, de participação de professores) que impedem a expansão dos resultados positivos para além do grupo beneficiado, ou seja, para as pessoas que participaram desse projeto. Ainda assim, ele se apresenta como uma ferramenta de educação para os direitos humanos ao auxiliar na formação de sujeitos de direito, críticos e solidários com sua realidade.

CONCLUSÃO

O projeto de extensão e ação contínua da Universidade de Brasília “Estudar em Paz: mediação de conflitos no contexto escolar” possui o condão de promover a transformação individual dos estudantes que dele participam no que se refere às formas de gerir os conflitos do cotidiano. Ele não diminui os conflitos no ambiente escolar, nem busca tal meta ao adotar uma visão positiva do conflito. Assim, ele propicia sensibilização aos seus participantes quanto à possibilidade de se lidar com tais conflitos de formas não violenta, favorecendo o diálogo e a convivência na pluralidade, atendendo aos pressupostos da mediação social.

Observou-se ainda que ele não atua diretamente junto às violências duras, mas junto às incivilidades nos conflitos inter pares e na conscientização das violências estrutural e simbólica. Tal conscientização desenvolve-se por meio do curso de formação em mediação social e por meio da realização de mediações coletivas, que têm o potencial de se transformar em instâncias de discussão sobre os problemas da escola, favorecendo, assim, a participação social.

Diante disso, a pesquisa evidenciou que o “Projeto Estudar em Paz” é uma ferramenta importante num processo de educação para os direitos humanos, ao auxiliar na formação de sujeitos de direitos.

Contudo, os benefícios do “Projeto Estudar em Paz” são notados apenas entre