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PARTE II A SPECTOS T EÓRICO M ETODOLÓGICOS

5.2 A geração dos dados

5.2.1 O grupo focal

Grupo focal é uma “entrevista coletiva que busca identificar tendências” (COSTA, M.E.B 2005, p. 181), com “alto poder analítico” caracterizado pela:

[…] possibilidade de intervenção em tempo real no curso da análise e de confrontar as percepções de participantes em suas similitudes e contradições a respeito de um tema, ou grupo de temas, relacionados com o objeto de pesquisa. Enfatiza-se por meio dessa técnica não apenas as percepções individuais, mas também aquelas oriundas das interações do coletivo, expressas nas estruturas discursivas e na defesa ou crítica de temas e aspectos relevantes da pesquisa (RUEDIGER; RICCIO, 2004, p. 151).

Para Morgan (1997) ele é importante para aprofundar reflexões, verificar valores, princípios, motivações, compreender o que aconteceu e aprender lições para o futuro. Ele é também recomendado quando “a troca de impressões enriquece o produto esperado, quando se quer aprofundar o conhecimento de um tema” (COSTA, M.E.B 2005, p. 182) e perceber “nuanças pouco percebidas ex ante” (RUEDIGER; RICCIO, 2004, p. 154).

Além disso, para Morgan (1997), o grupo focal permite o acesso a dados e a conteúdos que não seriam permitidos de outra forma, num curto espaço de tempo, com profundidade, por meio da interação entre participantes e ainda dentro de certo controle por parte do pesquisador. Esse foi o motivo pelo qual esse método foi escolhido.

Diante disso, foi projetada a realização de três grupos focais, dois envolvendo profissionais e alunos da escola pesquisada e um terceiro com os integrantes do “Projeto Estudar em Paz”, constituindo-se num grupo focal segmentado por funções, isto é, formado por pessoas conhecidas entre si (MORGAN, 1997). Apesar disso, foi realizado apenas um dos grupos inicialmente previstos: com os estudantes da escola pesquisada.

Autores como Russel et al. (2008), Westpltal, Bogus e Faria (1996) e Morgan (1997) mencionam a necessidade de se unir o grupo focal a um outro método para se obter uma melhor avaliação da interação do grupo e também para contornar as fragilidades presentes. Esse método deve ser prévio à realização do grupo, tendo sido escolhida, para a presente pesquisa, a entrevista semiestruturada.

Compatibilizar a agenda com a dos entrevistados, contudo, mostrou-se mais delicado do que o inicialmente imaginado. Isso porque o meu contato com a escola só pode se iniciar em 1o de outubro de 2013. Além disso, o trabalho de campo só se iniciou 25 dias depois, após os procedimentos de autorização, tendo de ser encerrado em 19 de dezembro.

Nesse período, apesar de a escola se mostrar aberta à pesquisa, foi difícil conversar com professores e alunos em razão das faltas, justificadas ou não, dos professores.

Não desejo entrar aqui no mérito das ausências, mas no impacto delas para a pesquisa, pelo fato de tais ausências significarem a impossibilidade de entrevistar os faltosos (por óbvio), como também os professores restantes e os alunos. Quanto aos professores presentes, alguns precisavam “subir” aula, isto é, ficar responsáveis pelas turmas dos faltosos. Se a turma fosse liberada, por outro lado, era impossível conversar com os alunos, pois não aceitavam ficar mais tempo na escola. E, com os alunos liberados, os professores até então presentes também iam embora, caso não houvesse mais turmas para atender.

Essas situações fizeram com que o período de entrevistas fosse se prolongando até o último dia disponível, tornando inviável a realização do grupo focal com os profissionais da escola. Cabe esclarecer ainda que, apesar de eu estar presente até o dia 19 de dezembro de 2013 na escola, a semana que antecedeu a essa data foi uma semana infrutífera, direcionada mais a entrega de notas ou provas de recuperação.

Em relação ao grupo focal com os participantes do “Projeto Estudar em Paz”, o momento de encontro com eles era fixo: às terças feiras, à tarde, no Núcleo de Estudos para

a Paz e os Direitos Humanos (NEP), para reunião de coordenação. Meu planejamento inicial levou esse dado em consideração.

No entanto, só ocorreram duas reuniões do grupo no segundo semestre de 2013. Os contatos entre os membros do grupo se deram principalmente via rede social. Isso fez com que eu tivesse um número insuficiente de participantes para a realização do grupo focal.

Diante disso, foi realizado o grupo focal apenas com a participação de estudantes da escola pesquisada que participaram do “Projeto Estudar em Paz” durante o recorte temporal estabelecido. A reunião aconteceu com 05 alunas, de 13 a 14 anos. Dois alunos apareceram, mas, após as explicações, não desejaram participar.

O encontro ocorreu na escola pesquisada, numa sala de aula disponível. Apesar de não ser um “local neutro”, conforme sugerido por Morgan (1997), Costa M.E.B (2005) e Ruediger e Riccio (2004), era um local de fácil acesso e ponto de encontro de todos os participantes. Sua duração, descontados o período de explicação do processo, a solicitação de autorização para uso na pesquisa, os agradecimentos e as despedidas, foi de 1h30min e seguiu um roteiro semiestruturado, do tipo “funil”, ou seja, iniciado com perguntas gerais e indo aos poucos para perguntas fechadas e específicas à realidade que se quer estudar (MORGAN, 1997. RUEDIGER; RICCIO, 2004. COSTA, M.E.B 2005).

A opção pelo modelo semiestruturado, ou seja, aquele que segue um roteiro, mas permite que outras questões sejam incluídas conforme o debate desenvolvido, deu-se porque tal procedimento permite “elucidar e aprofundar a investigação em uma dialética com as respostas e opiniões emitidas” (RICCIO e RUEDIGER, 2004, p. 155). Assim, a primeira parte da seção teve como objetivos identificar a percepção dos participantes sobre a escola pesquisada, analisar os conflitos e as violências existentes; identificar as formas de tratamento que a escola dá a esses conflitos e violências. A segunda parte teve o objetivo de verificar a percepção sobre o objeto de pesquisa, em especial quanto a expectativas, impactos, dificuldades, pontos positivos e negativos e ainda a implantação e o desenvolvimento do “Projeto Estudar em Paz” na escola pesquisada.

Como toda técnica de construção de dados, o grupo focal possui fragilidades, centradas na interação do grupo e na atuação do pesquisador. Morgan (1997, p. 14) enfatiza que as respostas dadas dentro do grupo podem ser diferentes das respostas em entrevistas individuais, sendo possível que o pesquisador ou um integrante “mais exuberante” (Costa, M.E.B 2005, p. 182) influencie a interação do grupo e, assim, o próprio resultado da pesquisa.

Daí a importância de unir o grupo focal a algum outro tipo de método de coleta de dados bem como de planejamento e de preparação das pesquisas. Nesse sentido, os outros métodos utilizados foram as entrevistas, a análise documental e as notas.