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A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO APRENDENTE

1. A Escola como organização

As Teorias Clássicas das organizações – com Frederick Taylor (1911) defensor da organização científica do trabalho, Henry Fayol (1956) pai da organização administrativa do trabalho e Max Weber (1971) apologista da burocracia – são abordagens que visam criar organizações que com eficácia e eficiência alcancem os seus objectivos. Por sua vez, a abordagem das Relações Humanas vem acrescentar a necessidade da compreensão dos fenómenos que ocorrem entre os indivíduos e os grupos no seio das organizações. As organizações são sistemas sociais cooperativos e não sistemas mecanicistas.

Considerando que a sociedade moderna é uma sociedade de organizações, a Teoria Estruturalista, uma teoria de transição e mudança, concentra-se no estudo das organizações numa perspectiva múltipla e globalizante. Para os estruturalistas (Etzioni, Blau e Scott), uma organização é “uma unidade social grande e complexa, onde interagem muitos grupos sociais, dentro da qual as pessoas alcançam relações estáveis entre si, no sentido de facilitar o alcance de um conjunto de objectivos e metas” (Chiavenato, 1993, p. 525). Surge, então, o conceito de organização como “sistema social intencionalmente construído e reconstruído para atingir objectivos” e a concepção de homem como “Homem organizacional” ao mesmo tempo que se valoriza a estrutura interna (formal e informal), considera que as organizações são sistemas abertos e procura interrelacionar as organizações com o seu ambiente externo (Chiavenato, 1993, pp. 524-525).

Por sua vez, a Teoria Geral dos Sistemas concebe a organização como “um conjunto ou combinações de coisas ou partes, formando um todo complexo ou unitário” que se adapta através de um processo de retroacção negativa. Uma organização enquanto sistema aberto, interage com o ambiente:

é um conjunto de partes em constante interacção constituindo um todo sinérgico (o todo é maior que a soma das partes), orientado para determinados fins, em permanente interdependência com o ambiente externo. Essa interdependência deve ser entendida como a dupla

capacidade de influenciar o meio externo e ser por ele influenciado (Chiavenato, 1993, p. 762).

Esta abordagem adaptativa das organizações traz como consequência uma focalização não apenas no processo mas também nos resultados (output), dá ênfase à eficácia e não exclusivamente à eficiência. Cada organização além de ser um sistema social, criando a sua própria cultura e clima que reflecte tanto as normas e valores do sistema formal como a sua reinterpretação no sistema informal, é interdependente e está em contínuo equilíbrio dinâmico com o seu ambiente rearranjando as suas partes, em função da mudança (Chiavenato, 1993, pp. 756-757).

A Teoria Contingencial opõe-se ao “the one best way”, considerando que não há uma única melhor maneira de se organizar. Tudo depende (it depends) das características ambientais relevantes para a organização. Sendo a contingência uma relação do tipo se-então, a abordagem contingencial salienta que não se atinge a eficácia organizacional seguindo um único e exclusivo modelo organizacional. Defendem os autores da abordagem contingencial que o ambiente é a variável que produz maior impacto na organização. Num ambiente altamente mutável as complexas organizações para atingirem os seus objectivos precisam de ser sistematicamente ajustadas às condições ambientais. Também nesta abordagem está subjacente uma lógica sistémica: a organização é um sistema que depende da sua envolvente, o meio onde está inserida, e dos subsistemas que a compõem.

Uma escola como organização é também um sistema10 situado num meio/ambiente que compreende: um subsistema cultural (intenções, finalidades, valores, convicções), um subsistema tecnocognitivo (conhecimentos, técnicas, tecnologias e experiência), um subsistema estrutural (uma divisão formal e informal do trabalho), um subsistema psicosocial (pessoas que têm relações entre elas), assim como um subsistema de gestão (planificação, controlo e coordenação). Esta

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Sistema – conjunto integrado de partes, íntima e dinamicamente relacionadas, que desenvolve uma actividade ou função destinado a atingir um objectivo específico. Todo o sistema faz parte de um sistema maior (que constitui o seu ambiente) e é constituído por sistemas menores (subsistemas). (Chiavenato, 2004. p. 68).

organização, por sua vez, é ainda um subsistema da sociedade (Meio/Ambiente11) (Bertrand & Guillemet, 1988, pp. 12-14).

Também Hargreaves e Fullan (1998, p. 7) consideram que “as escolas não podem fechar portas e deixar o mundo exterior no degrau da entrada”. Uma escola é uma organização e uma organização é um sistema que interage dinamicamente com o ambiente, sendo essencial que, como sistema aberto, esteja atenta a quatro vectores complementares, que consideram particularmente importantes para uma escola que procura fazer o seu percurso de aprendizagem organizacional: o contexto social e político que redefine o papel da escola, a comunidade local onde está inserida, os alunos que a frequentam e redes cujo intercâmbio interorganizativo de conhecimentos e experiências com escolas e outras instituições (escolas, universidades, empresas) permite partilhar conhecimentos, experiências, recursos e

tomadas de decisão mais acertadas (Bolívar, 2000, pp. 98-99).

Neste sentido as organizações deixam de ser abordadas como organizações burocráticas que “têm dificuldades em adaptar-se a mudanças” e passam a ser concebidas como organizações adaptativas. São suas características: capacidade de aprender e de se adaptar às mudanças; flexibilidade na estrutura organizacional e poucos níveis hierárquicos; valorização da inovação e criatividade; ênfase nas pessoas, na capacitação e no conhecimento; estratégia voltada para o futuro; aceitação da diversidade, da tentativa e do erro; incorporação de novas ideias e sugestões; capacidade de aumentar ou diminuir seus funcionários em função das necessidades – É o conceito de “tamanho certo” ou “rightsizing” (Chiavenato, 2004, p. 361).

A metáfora das organizações orgânicas baseia-se na suposição de que a organização é uma entidade viva, em constante mutação, interagindo com o ambiente na tentativa de satisfazer suas necessidades. Uma organização orgânica, proporcionadora de inovação e mudança, tem as seguintes características: autoridade descentralizada e dispersa, poucas e consensuais regras e procedimentos, tarefas compartilhadas e inovadoras, muitíssimas equipas e coordenação informal e pessoal.

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Ambiente é tudo aquilo que envolve externamente uma organização. Inclui o microambiente (meio local) e o macroambiente que envolve condições económicas, tecnológicas, sociais, legais, políticas, culturais, demográficas, ecológicas (Chiavenato, 2004, pp.73-75).

Enfim, trata-se de transformar a escola de uma organização burocrática em comunidade de aprendizes (Bolívar, 2000, p. 91) - Ver Figura 1.

Figura 1. Organizações burocráticas e organizações orgânicas (Chiavenato, 2004, p. 357.)

Hampton também partilha de uma visão sistémica da organização: “uma organização é uma combinação intencional de pessoas e de tecnologia para atingir um determinado objectivo” (1992, p.123). Para este autor uma organização é um sistema em que as pessoas, as tarefas e a administração são interdependentes e, como sistema que é, uma mudança numa das partes infalivelmente afecta as outras Por sua vez, Ventura (2008) enfatiza na organização os “conjuntos de pessoas que, num meio ambiente, realizam tarefas de forma desejavelmente articulada e controlada,

Centralizada e única Descentralizada e dispersa Muitas e impostas Poucas e consensuais Especializadas e rotineiras Compartilhada s e inovadoras Raríssimas Muitíssimas Formal e impessoal Informal e pessoal

Organizações Burocráticas Organizações Orgânicas

Coordenação Equipas Tarefas Regras e procedimentos Autoridade

mobilizando eficazmente recursos sob a orientação de uma liderança unipessoal ou colegial, para atingir determinados objectivos”. Também Etzioni (1984) considera “as organizações são unidades sociais (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objectivos específicos”.

Greenfield (cit. in Bolívar, 2000, p. 87) valoriza as pessoas e a dimensão social, defendendo que “as organizações não são coisas”, mas “são realidades construídas socialmente” e “as pessoas são parte integrante das organizações, sendo as organizações expressão de como as pessoas exprimem, percebem e vivem a instituição”. A organização, como comunidade de aprendizagem, tem que ser construída pelas pessoas, o que tem subjacente uma nova visão da teoria administrativa baseada no comportamento humano nas organizações.

Importante é, então, a abordagem comportamental que surgiu a partir da década de 50, deu ênfase às pessoas, baseou-se na psicologia organizacional e preocupou-se com os processos e com a dinâmica organizacionais, ou seja com o comportamento organizacional, com o funcionamento e a dinâmica das organizações e o comportamento dos grupos e dos indivíduos dentro delas (Chiavenato, 1993, p. 576).

Foi, no entanto, na década de 60 que surgiu a Teoria do Desenvolvimento Or- ganizacional (DO), destacando as mudanças ambientais e o papel da cultura organizacional no processo de mudança organizacional e valorizando a capacitação pessoal e organizacional na "capacidade de desenvolvimento interno" (Hopkins, 1996) das organizações.