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Diferenças entre a versão proposta e a versão assinada

A VOZ DOS DIRECTORES DAS ESCOLAS

1. Génese da contratualização da autonomia das escolas

1.3. Diferenças entre a versão proposta e a versão assinada

Na sequência do processo conducente à assinatura do contrato decorreu uma negociação entre a escola que apresentou uma proposta e a Administração, verificando-se, mais nuns que noutros casos, diferenças mais ou menos marcantes entre a versão inicial e a versão final do contrato.

A opinião dos directores das escolas diverge. Para uns (ES3, AE8, ES2, AE1 AE12, ES9) havia uma grande diferença entre a primeira proposta e o formato final. Para outros (AE10, AE5, AE7) houve muitas coisas que ficaram mas houve outras que não” e outros ainda (ES9, AE11, ES5, ES6, AE3, ES4) referem que não houve alterações significativas. Foram ainda elencadas algumas competências pretendidas pelas escolas mas não concedidas.

Referem os mais pesarosos que havia uma grande diferença entre a primeira proposta e o formato final (ES3, ES2). As competências que foram reconhecidas foram muito menos do que aquelas que a escola propunha no contrato inicial (AE8). Para o director do AE12 “ É abismal, é abismal, é mesmo abismal, não tem nada a ver uma coisa com a outra”. E acrescentou: “Concordo que as nossas propostas eram um bocado arrojadas porque envolviam também questões políticas e/ou financeiras”. E especificou: a) Uma prende-se com a EMRC e no entendimento da escola não faz sentido ser uma área curricular, devia ser uma área extracurricular; b) Pretendia a escola que as actividades extracurriculares do 1.º ciclo fossem assumidas pelo Agrupamento, mas o Ministério entendeu que o que na altura era uma bandeira política do governo devia continuar a ser da responsabilidade da Autarquia; c) Na

constituição das turmas pretendia-se reduzir para 20 alunos mas não foi possível porque envolvia custos financeiros.

Por sua vez o director da ES10 afirma que “há diferenças muito significativas, a maior parte das coisas que nós propusemos não foram aceites”. Na elaboração da proposta do CA a escola apenas colocou como competências a transferir para a escola aquelas que iam contra o estabelecido em termos legislativos, pelo que chegou-se a um compromisso no final mas o contrato ficou reduzido a meia dúzia de situações. Ficou muito incipiente. Refere ainda a directora do AE1 que as escolas pretendiam ter autonomia a nível da gestão do orçamento da escola, no entanto, na primeira reunião a Sr. Ministra disse que, “nesse aspecto, não valia a pena pedir porque era impossível por causa da contabilidade pública”. Também foram apresentadas propostas a nível pedagógico e de recursos humanos, mas “aquilo foi sendo limado, limado, limado” até ficar muito pouco a nível do currículo, da contratação dos docentes e dos não docentes (AE1).

Duas directoras (AE5 e AE7) consideram que “houve muitas coisas que ficaram mas houve outras que não”. Para a primeira, embora tenham sido cortadas algumas pretensões, “efectivamente não houve muitas diferenças”. A segunda recorda que o contrato sofreu várias alterações, com o argumento da diminuição das despesas. Dizia um técnico da DREC “temos que emagrecer, temos de emagrecer. O agrupamento pretendia um autocarro, autonomia para a gestão do orçamento, mas não conseguiu. Pretendia, ainda, fazer o recrutamento de docentes, mas fruto da lei geral, só pode contratar após o concurso nacional dos professores”.

Por sua vez, os mais optimistas dizem que não houve alterações significativas entre a versão proposta pela escola e o contrato assinado. “Praticamente não houve diferenças” entre o proposto e o que ficou plasmado no contrato (ES5, ES6). “O contrato apresentado, no essencial, é aquilo que está plasmado no contrato homologado. Talvez 90% ou mais daquela redacção é da autoria da escola” (ES4). “ Houve uma ou outra situação de pormenor, mas nada significativo” apenas uma questão de percentagem (entre 50 a 60%) na racionalização do pessoal não docente (ES9).

Considera por fim outra directora que, “por ter valorizado a dimensão pedagógica e não a gestão financeira e a gestão de recursos, não se verificaram grandes diferenças entre o proposto e o contratualizado”. E acrescentou: “Pretendíamos alterações às estruturas de orientação educativa e estrutura curricular e conseguimos alguns sucessos” (AE3).

Contudo, “as diferenças mais marcantes entre a proposta de contrato e a versão assinada centram-se nos compromissos do Ministério da Educação, verificando-se, no contrato final, que são escassos e pouco específicos” (AE2). Prendem-se, na maior parte dos casos com a autonomia financeira, com a autonomia pedagógica e recursos humanos, sendo referidos nos diferentes âmbitos:

a) Organização Pedagógica: Critérios de selecção de alunos (ES1); Critérios para constituição de turmas (ES1, ES2); Alteração do calendário escolar (ES2); Continuidade dos alunos na mesma escola durante a escolaridade básica (AE5).

b) Gestão curricular: Organização diferente do currículo do 2.º e do 3.º ciclo, (Área do Projecto e Estudo Acompanhado), não possível porque contrariava o Decreto-Lei n.º 6/01 (AE8); Bolsa de professores (afectação de determinados recursos sem onerar muito o erário público) para implementar o projecto que se baseava numa lógica de construção/gestão do currículo (AE6); Oferta de novas disciplinas (ES1); Constituição de salas bilingues (ES2).

c) Recursos Humanos: Recrutamento de professores (AE4). Foi apenas autorizada a contratação na fase residual quando a expectativa das escolas era que a autonomia abria a possibilidade de conseguir “escolher os professores que queriam” (Todas); Autonomia na gestão de recursos humanos (contratação e/ou dispensa de alguns funcionários que não se adaptassem à organização) (ES3); Renovação de docentes contratados em exercício de funções na escola mediante parecer do Conselho Pedagógico” (ES6); Celebração de contratos inferiores a trinta dias (AE5); Bolsa de docentes para apoio ao 1.ºciclo e na educação pré-escolar (AE5); Uma nova forma de colocação/escolha de professores, ninguém ser colocado no quadro da escola, mas sim em regime de destacamento, um acompanhamento desses professores através dos coordenadores e, no final do ano, caso o docente se

identificasse com o projecto educativo, a escola faria a proposta para a sua integração no quadro da escola (ES9).

d) Gestão estratégica: Alterar a organização interna da escola, passando os coordenadores de departamento a serem designados em vez de eleitos; Criar a figura de sub-coordenador de Departamento, tendo o Coordenador de Departamento assento no Conselho Pedagógico e o sub-coordenador na Assembleia de Escola; Constituir o Conselho Pedagógico só com professores (ES3): Contrato tripartido, incluindo o poder autárquico como parte contratante, assumindo compromissos (AE10); Diminuir a carga burocrática na elaboração de candidaturas a mini-projectos (AE5).

e) Gestão patrimonial: Aquisição de autocarro (AE5, AE7); Realização de obras até um determinado valor [a DRE também não tinha autonomia nesse âmbito porque dependia de outros organismos] (AE5).

f) Gestão Administrativa e Financeira: Aquisição de bens ou serviços, a título de despesas de representação até ao limite de 3%, de 5% ou 1% das receitas próprias da escola. Não autorizado por envolver a revisão de normas da contabilidade pública (ES4); Gerir o dinheiro não “vivendo” por duodécimos (AE9); Gerir o orçamento num timing diferente, bianual, trianual, fazendo-o corresponder aos anos de duração do contrato (ES3).

Perante a não transferência de determinadas competências, dois directores aceitam e justificam: “Reconhecemos que há uma lei geral que tem de suportar os CA pelo que nem sempre é possível, por parte da Administração, dar o que precisávamos, tendo sido inevitável um ajuste entre as partes” (AE7). “Percebo também que a tutela por muitas vicissitudes que haja, não possa tomar as medidas porque se entram na esfera da Assembleia da República, na esfera do Ministério das Finanças e noutras esferas, também não tem, ela própria, aquela autonomia de que necessitaria” (ES12).