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A regulamentação dos contratos de autonomia

AUTONOMIA E GOVERNAÇÃO POR CONTRATO

7. A regulamentação dos contratos de autonomia

Entretanto, o XVII Governo Constitucional (2005-2009) no seu programa considera desejável uma maior autonomia das escolas, que garanta a sua capacidade de gerir os recursos e o currículo nacional, de estabelecer parcerias locais e de adequar o seu serviço às características e necessidades próprias dos alunos e comunidades que servem, salientando que maior autonomia significa maior responsabilidade, prestação regular de contas e avaliação de desempenho e de resultados. Garantia o Governo que estimularia a celebração de contratos de autonomia entre as escolas e a Administração Educativa, definindo os termos e as condições do desenvolvimento de projectos educativos e da fixação calendarizada de resultados.

De acordo com estes princípios norteadores de política educativa, a Ministra da Educação Lurdes Rodrigues, a partir de 2005, retoma o processo para a contratualização da autonomia das escolas, e em 2007 estabelece a matriz dos contratos de autonomia. A Portaria n.º 1260/07, de 26 de Setembro refere no seu preâmbulo que “o contrato de autonomia preconizado no Decreto-Lei n.º 115-A/98, de 4 de Maio, que implica compromissos e deveres mútuos nele acordados e consagrados, assume-se como um instrumento de gestão privilegiado no sentido da oferta de melhores condições para a realização pelas escolas do serviço público que lhes está confiado”.

O mesmo diploma clarifica os requisitos e preceitua que a celebração do contrato de autonomia está sujeita ao preenchimento das seguintes condições: a) Adopção por parte da escola de dispositivos e práticas de auto-avaliação; b) Avaliação da escola no âmbito do Programa de Avaliação Externa das Escolas; c) Aprovação pela assembleia de escola e validação pela respectiva direcção regional de

educação de um Plano de desenvolvimento da autonomia que vise melhorar o serviço público de educação, potenciar os recursos da unidade de gestão e ultrapassar as suas debilidades, de forma sustentada (art.º 3.º).

Salvaguarda como âmbito da autonomia que “as competências a atribuir com o contrato de autonomia, constantes do plano de desenvolvimento da autonomia dependerão dos objectivos e das condições específicas de cada escola”. Destaca que “a autonomia da escola ou agrupamento de escolas abrange as áreas a) Organização pedagógica; b) Organização curricular; c) Recursos humanos; d) Acção social escolar; e) Gestão estratégica, patrimonial, administrativa, financeira” (art.º 5.º).

Prescreve como cláusulas contratuais que “o contrato de autonomia deve mencionar a caracterização da escola, os resultados da auto-avaliação e da avaliação externa, os objectivos gerais e operacionais, os compromissos da escola e do Ministério da Educação, a duração do contrato e seu acompanhamento e monitorização através de uma comissão de acompanhamento” (art.º 6.º).

Neste âmbito prevê no seu art.º 7.º que “para cada contrato de autonomia será criada uma comissão de acompanhamento local (CAL), constituída por dois representantes da escola, um representante da direcção regional de educação, uma personalidade externa de reconhecido mérito na área da educação a nomear pela Direcção Regional de Educação, um representante da associação de pais e um elemento indicado pelo Conselho Municipal de Educação”, que dará um parecer sobre o Relatório anual de progresso elaborado pela escola no âmbito do processo de auto-avaliação (art.º 8.º). Compete a uma Comissão de acompanhamento nacional proceder à avaliação anual dos resultados dos contratos de autonomia (artº. 9.º)

Este normativo apresenta, em anexo, a “Matriz do contrato de autonomia” elaborada pelo Grupo de Trabalho do Projecto AUDE-Autonomia e Desenvolvimento das Escolas15 que “procurou, ajudar as escolas a dar uma forma

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Constituído por quatro investigadores do Centro de Investigação em Formação de Profissionais de Educação da Criança, da Universidade do Minho e três elementos da Administração Educativa. Por impossibilidade de participação do Director do Gabinete de Gestão Financeira do Ministério da Educação, o grupo funcionou só com os outros elementos: João Formosinho (Coordenador), António Sousa Fernandes, Henrique Ferreira, Joaquim Machado, José Verdasca, Margarida Elisa Moreira. O apoio técnico e logístico bem como as dotações financeiras necessárias ao desenvolvimento do projecto foi assegurado pela Direcção Regional de Educação do Norte.

simplificada e objectiva ao seu projecto de desenvolvimento a partir dos resultados da avaliação interna e externa e aos compromissos a assumir pela escola e pela direcção regional de educação e a garantir a individualidade e a especificidade de cada contrato, bem como a existência de estruturas de acompanhamento e monitorização de todo o processo” (Formosinho et al., 2010, p. 39).

Entretanto é publicado o Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de Abril (Regime de Autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos públicos do ensino não superior) que espelha a carta de intenções programáticas constantes do Programa do XVII Governo Constitucional, referindo no preâmbulo que as escolas são estabelecimentos aos quais está confiada uma missão de serviço público e que “é para responder a esta missão em condições de qualidade e equidade, de forma mais eficaz e eficiente possível, que deve organizar-se a governação das escolas”.

Refere que a necessidade de reforçar a autonomia das escolas tem sido reclamada por todos os sectores de opinião mas que a esta retórica não têm correspondido propostas substantivas, nomeadamente no que se refere à identificação das competências da administração educativa que devem ser transferidas para as escolas. Salienta contudo que “a autonomia constitui não um princípio abstracto ou um valor absoluto, mas um valor instrumental”, o que significa que “do reforço da autonomia das escolas tem de resultar uma melhoria do serviço público de educação” e que essa autonomia se exprime, em primeiro lugar, na “faculdade de auto- organização da escola”.

Este diploma dedica todo o Capítulo II ao Regime de autonomia. Define “a autonomia como a faculdade reconhecida à escola pela lei e pela administração edu- cativa de tomar decisões nos domínios da organização pedagógica, curricular, da gestão dos recursos humanos, da acção social escolar e da gestão estratégica, patrimonial, administrativa e financeira, no quadro das funções, competências e recursos que lhe estão atribuídos”. Salienta que “a extensão da autonomia depende da dimensão e da capacidade da escola e o seu exercício supõe a prestação de contas, designadamente através dos procedimentos de auto-avaliação e de avaliação externa”. Prevê que “a transferência de competências da administração educativa para as escolas observa os princípios do ”gradualismo e da sustentabilidade”.

Por sua vez, declara que o contrato de autonomia é um “instrumento de desenvolvimento e aprofundamento da autonomia das escolas” (art.º 9.º n.º 3), e descreve-o como o “acordo celebrado entre a escola, o Ministério da Educação, a câmara municipal e, eventualmente, outros parceiros da comunidade interessados, através do qual se definem objectivos e se fixam as condições que viabilizam o desenvolvimento do projecto educativo apresentado pelos órgãos de administração e gestão de uma escola” (art.º 57º, n.º 1º).

No art.º 56.º (Desenvolvimento da autonomia), este diploma prevê que “a autonomia das escolas se desenvolve e aprofunda com base na sua iniciativa e segundo um processo ao longo do qual lhe podem ser reconhecidos diferentes níveis de competência e de responsabilidade, de acordo com a capacidade demonstrada para assegurar o respectivo exercício”. Estabelece que “os níveis de competência e de responsabilidade a atribuir são objecto de negociação entre a escola, o Ministério da Educação e a câmara municipal, mediante a participação dos conselhos municipais de educação, podendo conduzir à celebração de um contrato de autonomia”, salientando que “a celebração de contratos de autonomia persegue os objectivos de equidade, qualidade, eficácia e eficiência”.

O mesmo diploma acrescenta os princípios orientadores da celebração e desen- volvimento dos contratos de autonomia: a) Subordinação da autonomia aos objectivos do serviço público de educação e à qualidade da aprendizagem; b) Compromisso do Estado através da administração educativa e dos órgãos de administração e gestão das escolas na execução do projecto educativo e respectivos planos de actividades; c) Responsabilização dos órgãos de administração e gestão, através do desenvolvimento de instrumentos de avaliação e acompanhamento do desempenho que permitam aferir a qualidade do serviço público de educação; d) Adequação dos recursos atribuídos às condições específicas das escolas e ao projecto que pretende desenvolver; e) Garantia da equidade do serviço prestado e do respeito pela coerência do sistema.

Estes princípios permitem distinguir a autonomia da soberania ou independência absoluta. Segundo estes princípios, a autonomia é uma forma de gerir interdependências, reforçando o papel dos órgãos e autores locais. A sua função é

instrumental, ele serve para a escola realizar melhor o seu projecto educativo (Formosinho et al., 2010, p. 33).