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Tratamento e análise da informação

CONTEXTUALIZAÇÃO E METODOLOGIA

6. Tratamento e análise da informação

Partindo de um quadro conceptual estruturador da planificação e orientação do nosso estudo e sabendo que as técnicas de análise de conteúdo, nas últimas décadas, foram evoluindo, quisemos utilizar software específico NUDIST ou NVIVO adquirido especialmente para a elaboração da pesquisa. Contudo, face ao grau de sofisticação desse software acabamos por optar pela construção de um relatório síntese (relatório secundário) sem ferramentas específicas, seguindo-se metodologias próximas das recomendadas na bibliografia de referência (Ghiglione & Matalon, 1992, Patton, 1980; Miles & Huberman, 1984, entre outros).

São grandes as exigências de tempo para registar dados, organizá-los, codificá- los e fazer a análise. É trabalhosa e tradicionalmente solitária a “tarefa paciente de ´desocultação´” (Bardin, 2008, p. 11). As respostas às 27 entrevistas foram transcritas nos relatórios (uma por cada entrevistado) e constituíram “matéria-prima” deste trabalho, dispondo o investigador, no momento da interpretação, de uma colecção de discursos individuais a partir dos quais foi necessário construir um discurso que coloca o duplo problema da agregação das respostas individuais e da sua generalização (Ghiglione & Matalon, 1992, p. 3).

6.1. Dos documentos de autonomia

A análise documental foi a técnica por nós utilizada para analisar os contratos de autonomia assinados, os relatórios de progresso relativos aos anos lectivos 2007/2008 e 2008/2009 e os pareceres das respectivas CAL, tendo em vista obter informação supletiva muito útil no momento da triangulação dos dados, permitindo a confrontação dos discursos dos actores entrevistados com os documentos consultados.

Para permitir o anonimato das escolas todos estes documentos foram previamente codificados e seguidamente objecto de leitura e análise.

A análise documental é “uma operação ou um conjunto de operações visando representar o conteúdo de um documento sob uma forma diferente do original, a fim de facilitar num estado ulterior, a sua consulta e referencialização” (Bardin, 2008, p. 45)

Enquanto tratamento de informação contida nos documentos acumulados, a análise documental teve como objectivo dar forma conveniente e representar de outro modo essa informação, por intermédio de procedimentos de transformação. O propósito a atingir foi o armazenamento sob uma forma variável e a facilitação do acesso ao observador, de forma a obter o máximo de informação (aspecto quantitativo) com o máximo de pertinência (aspecto qualitativo).

Para a análise dos documentos de autonomia (Contratos de autonomia, Relatórios anuais de progresso e Pareceres) procedemos a uma análise vertical e

depois análise horizontal procurando encontrar respostas para as nossas questões de partida. No caso concreto dos contratos de autonomia procedemos ainda à sistematização e quantificação dos objectivos gerais, objectivos operacionais, competências das escolas, compromissos das escolas e compromissos do Ministério da Educação por áreas (Organização Pedagógica, Gestão Curricular, Recursos Humanos, Acção Social Escolar, Gestão Estratégica, Gestão Patrimonial, Gestão Administrativa e Financeira), evidenciando dessa forma os mais frequentes.

6.2. Das entrevistas

Após a realização das entrevistas procedemos à sua transcrição minuciosa (depoimentos registados magneticamente) descrevendo a opinião dos entrevistados para proceder a uma análise descritiva e interpretativa o mais rigorosa possível utilizando, com esse objectivo, a análise de conteúdo. Para manter o anonimato dos entrevistados atribuímos um código a cada entrevista: DR1, DR2, (…), DR5, AE1, AE2, (…), AE12, ES1, ES2, (…), ES10.

Seguiu-se a análise de conteúdo, “uma operação intelectual, que consiste na decomposição de um todo nas suas partes, com o propósito de fazer a descrição e procurar relações entre as partes” (Hébert, 1996, p.137). A análise de conteúdo pretende lidar com comunicações frequentemente numerosas e extensas para delas extrair conhecimento que a simples leitura não conseguiria formar. A intenção da análise de conteúdo é a inferência (ou deduções lógicas) de conhecimentos, inferência essa que recorre a indicadores (quantitativos ou não).

Esta técnica implica um processo de selecção, centração, simplificação, abstracção e transformação dos dados brutos num sistema de categorias que o investigador induz a partir da leitura e análise do texto, procedendo à condensação dos dados.

A análise de dados qualitativos é um processo criativo que exige grande rigor intelectual e muita dedicação (Patton, 1989). Na organização da análise das entrevistas tivemos em consideração as fases da análise de conteúdo sugeridas por

Bardin (2008, p. 89): a) Pré-análise; 2) Exploração do material; 3) Tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

Subordinamos o tratamento e interpretação dos resultados da análise de conteúdo à procura da resposta às questões de investigação que formulámos, baseando-nos especialmente em Ghiglione & Matalon (1993, p. 245). Passámos por um longo processo de análise dos dados qualitativos das entrevistas, valorizámos a análise de conteúdo temática clássica (isolando os temas existentes num texto e comparando com outros textos tratados da mesma maneira), fizemos análises verticais e horizontais, encontrámos traços comuns às entrevistas mas também as diferenças. Seguimos os seguintes passos:

 Codificação das entrevistas tendo em conta o anonimato;

 Transcrição das entrevistas;

 Análise vertical – debruçando-nos sobre cada entrevista (cada sujeito individualmente separadamente e tentado uma síntese individual;

 Análise horizontal por temas – tratando cada um dos temas salientando as diferentes formas sob as quais ele é referido nas pessoas inquiridas;

 Identificação de traços comuns às várias entrevistas;

 Identificação de diferenças;

 Cruzamento do plano vertical com o plano horizontal seguido da teorização dessa relação.

Apresentamos, em anexo, as respostas dos entrevistados dispostas por itens, a que se seguiu o cruzamento geral, tentando construir uma síntese global das várias opiniões, percebendo se existe algum padrão comum de opinião ou se, pelo contrário, há divergências nas opiniões.

Após a agregação das análises das entrevistas, foi necessário fazer delas uma síntese, quer dizer, “obter do seu conjunto um discurso único” (Ghiglione & Matalon, 1993, p. 245). Mas, como no final da longa cadeia de operações diversas que constituem a análise completa de um conjunto de entrevistas, dispomos de um texto necessariamente muito afastado dos discursos iniciais porque procedemos a numerosas transformações e recorremos a interpretações, foi necessária uma última

verificação que consistiu em voltar aos discursos originais, ao próprio texto das entrevistas, e perguntar como é que cada um deles se situa em relação à síntese proposta, constituindo o regresso às entrevistas e a confrontação destas com a síntese uma precaução necessária (Ghiglione & Matalon, 1993, pp. 249-250).

Por último, procuramos estabelecer relações e interpretar os dados numa triangulação entre os dados documentais, a voz das escolas, a voz da Administração e a fundamentação teórica, conjugando as diferentes análises para encontrarmos, através da comparação e do confronto, um percurso exploratório mais objectivo e abrangente, permitindo-nos apresentar uma discussão dos resultados à luz dos objectivos a que nos havíamos proposto, bem como extrair conclusões.