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A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO APRENDENTE

4. Escola aprendente

A Lei de Bases do Sistema Educativo Português refere como princípios que: “o sistema educativo responde às necessidades resultantes da realidade social (art.º2 nº4), e “se organiza para desenvolver a capacidade para o trabalho e proporcionar, com base numa sólida formação geral, uma formação específica que permita ao indivíduo prestar o seu contributo ao progresso da sociedade art.º 3º e)”. E, face às rápidas mutações sociais, cada cidadão pode questionar: como aprende a organização escolar para se transformar numa escola melhor? É que a escola como organização também tem capacidade de aprender.

As teorias de “organizações que aprendem” têm a sua origem nos novos paradigmas de compreensão das organizações e de organização posfordista (descentralizada e flexível) do trabalho. Como provêm de organizações não educativas, é fundamental retomar os aspectos interessantes dessa teoria e prática, estar atento aos valores intrínsecos das escolas e do serviço público de educação que têm de prestar, reconceptualizá-los em função do contexto educativo, revitalizando os modos de pensar as escolas como organizações. A teoria das organizações que aprendem procura dar soluções organizativas para os problemas, propondo-se redesenhar de diversos modos as organizações, incluindo a descentralização e autonomia para transferir a responsabilidade da gestão para a escola (Bolívar, 2000, pp. 228-229). Valoriza-se a capacidade dos próprios implicados para se auto- organizarem. Como disse Handy, citado por Bolívar (2000, p. 230), “trata-se de gerir o sonho, de poder contar com organizações onde os indivíduos num clima de entrega, confiança e compromisso conseguem o máximo das suas capacidades com um mínimo de supervisão.” A organização é concebida como processos e relações em

que as transformações se iniciam internamente e são da responsabilidade dos professores. Estamos, conforme refere Rose (1992), perante o paradigma da “governabilidade dos indivíduos” em que os actores sociais são sujeitos que se auto- regulam e realizam no contexto da sua comunidade, inscrevendo-se esta nova forma de gestão numa nova forma de governo dos indivíduos que os fazem crer que são donos do seu próprio destino que eles próprios querem e desejam (Bolívar, 2000, p. 231). Em síntese, parafraseando Morgan (1996), “não se pode criar uma organização aprendente, mas pode incrementar-se a capacidade das pessoas para aprenderem e alinhar-se as suas actividades de forma criativa”.

Bolívar (2000, p. 9) refere que na última década foi consensual que as escolas devem configurar-se como unidade básica de formação e inovação, o que supõe que no seu seio tenha lugar uma aprendizagem institucional e organizativa, em que o meio e as relações de trabalho adquirem um carácter qualificante. A organização aprende a partir da memória acumulada, dos processos de interacção postos em jogo e do meio. E acrescenta que é assim possível integrar as actuais Teorias da Aprendizagem Organizativa para institucionalizar processos de inovação e desenvolvimento internamente gerados. Como estas teorias provêm do mundo empresarial, para poderem ser aplicadas na escola pública precisam de ser adaptadas ao mundo educativo. As “organizações que aprendem” como teoria vanguardista da mudança educativa, marco orientador para o desenvolvimento das organizações educativas, proporcionam ideias, processos e estratégias para orientar como as escolas podem fazer.

Refere Peter Senge que a ideia de “organizações aprendentes” não parte de uma ideia concreta mas aspira a gerar uma visão do que devia ser uma organização que se “mexe”. Os próprios proponentes do modelo consideram-no como um “tipo ideal” ou uma “visão” da organização que maximiza a capacidade de aprender. Como dizem Dalin e Rollf (1993, p. 146), “uma organização que aprende aponta a um ideal de desenvolvimento, que pode nunca alcançar, mas serve para marcar uma trajectória a seguir” (Bolívar, 2000, p. 10).

Em síntese, o modelo das “organizações aprendentes” sublinha as organizações como um ideal, uma visão e linhas orientadoras de acção e processos e estratégias

possíveis a percorrer pelas escolas como trajectória rumo à imagem antecipante de escola. É, então, uma forma de entender a escola como unidade de mudança, um modo de pensar as organizações educativas e de nelas trabalhar.

Watkins e Marsich (1993, p. 8) consideram que “a organização que aprende é a que aprende continuamente e se transforma a si mesma”.

Uma organização que aprende é uma comunidade humana que compartilha responsabilidades assumindo-se como comunidade de aprendizagem incrementando a sua capacidade de aprendizagem e considerando-a como um valor acrescentado para a organização, ou seja, uma escola aprendente assume-se como “organização de resolução de problemas, que encoraja o pensamento reflexivo entre professores e entre toda a comunidade educativa.” (Ainscow, 1991b, p. 222 cit. Morgado, 2004, p. 25). Morgado considera, também, que uma escola aprendente valoriza como sistema de relações um modelo de natureza cooperativa, verificando-se uma dinâmica de funcionamento assente na articulação e colaboração, estimulando os seus níveis de confiança, participação e satisfação (2004, p. 23).

Para Bolívar (2000) uma organização aprendente é a que “aprende por ter desenvolvido no seu seio estruturas e estratégias que incrementam e maximizam o desenvolvimento organizativo”. Quando uma escola se converte numa organização que aprende, produz-se uma aprendizagem institucional que se repercute na aprendizagem e educação dos alunos mas também dos próprios professores como agentes provocadores dessa mudança, adquirindo, também, uma função qualificadora para os que nela trabalham de modo a optimizar o potencial formativo das situações de aprendizagem. Uma escola que institucionalizou a melhoria como processo permanente, é uma escola que se desenvolve como instituição (Hollye Southworth, 1989) sendo a escola que aprende o processo e o produto do desenvolvimento da organização. Uma organização que aprende dá um valor acrescentado à aprendizagem natural dos seus membros numa tripla vertente: aumenta as capacidades profissionais e pessoais dos seus membros, incrementa novos métodos de trabalho ou saberes específicos e permite um crescimento de expectativas e desenvolvimento da organização para ter melhores resultados projectando a sua imagem na sociedade e adquirindo capacidade de adaptação ao meio em mudança.

Baseando-se em Dalin e Rolff (1993), Bolívar refere algumas condições e processos-chave que configuram uma escola como organização aprendente. Salientou como factores externos as mudanças do meio e da política educativa (descentralização e margens maiores de autonomia) e como factores intra- organizativos a experiência anterior de desenvolvimento e história e cultura de escola. Considera, então, como chave para o início do processo que a escola tenha programas de desenvolvimento integrados e partilhados, o que pressupõe uma aceitação partilhada da visão e das necessidades prioritárias de acção, o que origina mudança na cultura escolar (aprender uma nova teoria-em-uso). Segundo Bolívar poder-se-á falar de desenvolvimento organizacional quando se verificar a sua institucionalização, na sequência de projectos internos e conjuntos de auto-avaliação e planos de acção para o desenvolvimento, aproximando-se, nesse caso de uma organização que aprende – Ver Figura 4.

Figura 4. A escola como organização que aprende (Bolívar, 2000, p. 193) O processo requer tempo para desenvolver esta visão compartilhada, por meio de processos colectivos de auto-revisão que permitam dar lugar a um processo colectivo de aprendizagem, onde o processo de auto-avaliação institucional adquire,

Programas de desenvolvimento integrados e partilhados Mudanças na cultura escolar Institucionalização Aceitação partilhada de visões e necessidades Desenvolvimento da organização Mudanças do meio Experiência anterior de desenvolvimento História e cultura de escola Mudanças Políticas

por usa vez, potencialidades formativas para os agentes de mudança (Bolívar, 2000, p. 194).

Bolívar (2000, p. 68) acrescenta que há um conjunto de princípios comuns que caracterizam simultaneamente as organizações que aprendem e as estratégias de inovação e melhoria das escolas, nomeadamente: visão sistémica da mudança, relevância da autoavaliação como base do processo de melhoria, importância de criar normas de melhoria contínua, trabalhar de modo conjunto, aprender com o processo de trabalho, relevância dos processos de planificação e avaliação e uma liderança que conjugue visão e acções.

Em síntese, a expressão organização aprendente pode assumir dois significados complementares: por um lado, os responsáveis directivos e os docentes estão continuamente a aprender, a procurar manter-se actualizados e a aprofundar conhecimentos e competências; por outro, a aprendizagem ocorre na própria escola e abrange toda a instituição, em vez de ser desenvolvida apenas por cada um individualmente (Lima, 2008, p. 213).