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A VOZ DOS DIRECTORES DAS ESCOLAS

3. Implementação dos contratos de autonomia

3.2. Evolução do processo

No que respeita à implementação do CA verificamos diferentes abordagens à questão: uns referem-se ao percurso e dinâmica de escola face ao CA, outros ao grau de cumprimento dos compromissos, por parte das escolas, e outros ao grau de cumprimento dos compromissos assumidos pela Administração.

Relativamente à dinâmica de escola face ao CA referem três AE (AE5, AE6, AE7) que a implementação está a decorrer “devagarinho”, considerando que o primeiro ano foi o “ano zero”, porque à data da assinatura do contrato (10 de Setembro) já tinham procedido à organização do ano lectivo, e só muito tarde foi constituída a CAL (AE6) e, no 2º ano, o ímpeto reformista trouxe outras prioridades às escolas. Verificou-se também desmotivação da comunidade perante o facto dos compromissos do ME “se reduzirem a zero” (AE2).

Posições diferentes assumem outros directores. Os mais optimistas, referem que no 1º ano houve grande expectativa e verificou-se um grande envolvimento (AE3), que a implementação está “a correr mesmo muito bem”, embora no 1º ano de contrato, por início tardio, fosse difícil mudar algumas coisas e no 2º ano se tenha verificado uma conjuntura não favorável ao contrato de autonomia (AE12). Mas: “a implementação tem sido muitíssimo fácil. A comunidade educativa identifica-se com ele, considera-o “uma coisa de todos nós” (AE12).

Para outros (ES5, ES6, ES10, AE10, AE8, AE9) os CA vêm numa linha de continuidade do que já faziam: “isto é um bocadinho a continuidade, não foi inovador, foi a institucionalização daquilo que já se fazia” (AE9, ES5). Por esse facto “a implementação do CA está a decorrer com perfeita normalidade e naturalidade, porque a escola não necessitou de mudar muito para cumprir os compromissos (AE10, AE8, ES2, ES3). O contrato de autonomia “não alterou as nossas práticas, já tínhamos práticas de auto-avaliação, já tínhamos bons resultados. Éramos uma boa escola mesmo sem contrato, continuamos a ser uma boa escola agora com o contrato mas não é o contrato que está a fazer de nós melhor” (ES3).

Referindo-se ao cumprimento dos compromissos das escolas e à consecução das metas, alguns (AE1, AE4, ES4, ES5 AE10, AE8) afirmam que se verifica uma melhoria no combate ao abandono e ao insucesso escolar, estando os objectivos operacionais contratualizados, genericamente, a ser francamente atingidos. E, face à sua especificidade, alguns directores consideram positiva a avaliação anual do compromisso da organização do currículo por semestres (AE8). No entanto, quanto ao compromisso de melhoria graças à contratação por oferta de escola, embora se notem algumas vantagens, o seu efeito é mínimo porque só permitiu a fixação de 3 ou 4 professores contratados, mas poderia ser diferente a dinâmica e qualidade na organização da própria escola se tivessem fixado todos os professores.

Por sua vez o director do AE10, depois de salvaguardar o facto da direcção da escola ter mudado, referiu que a implementação do CA “está a meio gás”. Relativamente aos compromissos previstos no contrato, a escola deixou cair a utilização do POC Educação por ter havido transferência de competências para a Câmara Municipal. Também não implementou a organização pedagógica no 2º ciclo

porque a actual direcção não concorda com a alteração radical da organização do currículo prevista no CA aprovado.

Por fim, considerando a articulação entre o CA e os outros documentos organizacionais factores potenciadores da sua concretização e da melhoria dos resultados da escola, a directora da ES7 referiu ser “relativamente fácil concretizar os objectivos do contrato de autonomia quando PAAE, PEE e CA se cruzam e complementam”. Confessa ainda que, como o contrato tem metas a cumprir, o grande segredo da implementação do CA é a distribuição de serviço, tendo procedido a uma escolha criteriosa das equipas de trabalho e apostado na formação.

Aludindo ao cumprimento dos compromissos do ME a opinião dos directores não é consensual. Para uns (ES4, AE3), o ME está a cumprir. Esta opinião é partilhada pelo director da ES4 quando refere que, “embora haja uma ou outra coisa que não está a funcionar ou que podia estar a ser respondida com mais eficácia, a avaliação é positiva”, sendo igualmente salientado pelo director do AE3 que no 2º ano de CA a DRE cumpriu o compromisso relativamente à melhoria das infra- estruturas e aquisição de equipamentos para a escola.

Por sua vez, outros (AE10, AE11, AE9) salientam o não cumprimento de compromissos por parte do Ministério da Educação, nomeadamente “canalizar para a escola 60% dos ganhos de eficiência resultante da racionalização e reorganização dos recursos humanos (AE10, AE11), proceder à realização de obras da rede do gás natural (AE10), construir e apetrechar laboratórios, (AE10) autorizar a conversão do crédito horário em equivalente financeiro” (AE10). Demonstrou também o AE9 alguma insatisfação por não ter sido ainda construído o pavilhão multiusos mas evidenciou muita convicção na concretização desse objectivo. Em jeito de balanço avaliativo, o director da ES1 afirma: O processo está a decorrer bem no sentido em que eu estava desenganado. Já todos percebemos que a autonomia é um processo necessariamente lento, de habituação das escolas e da própria Administração. E, sentindo resistência, acrescenta:

A Administração não quer largar mão da mínima competência seja ela qual for e, portanto, sei que é uma luta constante, diária, lenta de persistência. Mas acho que é um caminho que deve ser perseguido, e devemos com calma ir avançando e, sermos ousados. O único problema

que tem surgido no âmbito da execução do contrato de autonomia é falta da ousadia das escolas na afirmação da autonomia.

Também o director do ES9 considera: “Penso que o terreno ainda não está preparado para estas medidas que constam do CA. O que está no contrato, às vezes, não vem acompanhado dos meios para o fazer”. E acrescenta:

Por esse facto, na prática, tem vindo a ser concretizado de uma maneira geral aquilo que já explorávamos antes, porque quando se passa para a implementação do que consta do contrato demora muito tempo a ser resolvido (gestão financeira, recrutamento da psicóloga, recrutamento dos docentes no ano lectivo 2008/2009 devido a um problema na aplicação informática originando que mais de trinta docentes fossem colocados em meados de Outubro). Na sua opinião, ainda há muito a fazer. O contrato de autonomia traz mais responsabilidades e mais obrigações para a escola, mas também traz mais meios para cumprir essas obrigações e atingir os objectivos que lá estão.

No entanto, o contrato inicial podia ser mais profundo do que aquilo que foi, mas neste momento, “já era preciso dar alguns passos” (AE8). Queríamos ir mais longe” (ES8). “Aspiramos, por uma oportunidade num futuro próximo, para fazer uma nova discussão e adequar o CA a novas realidades, a novas respostas” (ES10).

No que concerne à avaliação do CA uns directores salientam mais o processo, e outros mais os resultados, mas todos fazem menção ao papel da CAL. Valorizando o processo, as escolas referem ter desenvolvido mecanismos de avaliação contínua, verificando se os resultados que a escola se propôs atingir estão ou não a ser atingidos, vendo a distância a que estão da meta mensurável e encontrando estratégias caso haja um afastamento do desejado. Com esse objectivo existe uma equipa de auto-avaliação, que além de outras actividades tem a responsabilidade de elaborar documentos de recolha de informação e fazer o tratamento de dados que são vertidos para o Relatório Anual de Progresso. Com base na análise deste documento a CAL elabora um Parecer. Esses dois documentos são enviados para a DRE que por sua vez os remete para o Ministério da Educação. O AE7 refere ainda, a existência de uma equipa da DRE2 que em 2007/2008 monitorizou os contratos através do preenchimento de grelhas de avaliação da implementação do contrato.

Após alusão ao processo pouco pacífico de mudança do órgão de gestão que condicionou a constituição da CAL, referiu o director do AE11 não ter (Julho 2009) nenhuma equipa de auto-avaliação, salientando que até Dezembro iriam fazer formação e montar um sistema de auto-avaliação. Alertou também a directora do AE9 para um atraso em relação ao relatório de avaliação, sendo habitual ser solicitado pela DRE em Janeiro e até à data (fins de Fevereiro de 2010) ainda não tinha sido pedido.

Entretanto a Directora do AE4 como também é TEIP 2, além do processo normal de avaliação previsto na lei para as escolas com CA, diz ser alvo de observação/avaliação externa por parte de várias entidades: Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto, Observatório das Sociedades Educadoras, autarquia enquanto escola parceira do Porto Futuro e pelo Projecto Escolhas.

Por sua vez, dando maior ênfase aos resultados, os directores foram unânimes em considerar que estão a atingir ou até a superar as metas a que se propuseram, considerando o director do AE8 que “as metas são um incentivo e um indicador importante porque significam melhoria de qualidade de aprendizagem dos alunos, redução do insucesso e a possibilidade de criar metodologias acrescidas de intervenção, e de parcerias em sala de aula, tendo a escola a preocupação de traçar planos de melhoria anuais”. Consideram alguns directores (ES8, AE9, ES9) que, apesar dos condicionalismos a avaliação tem sido positiva a todos os níveis, inclusive a nível de resultados e a nível de atitudes”. Salienta: “A escola mudou muito. O contrato ajudou a pensar e a saber prestar contas. Está escrito no papel, há um compromisso que envolve a escola toda, os pais e a comunidade” (AE9).

Com uma visão mais pessimista, a directora da ES8 refere que “o ter contrato de autonomia não acresce nada à pouca autonomia que a escola já tinha”. A escola vai, no entanto, entrar em obras, em Julho (2010), embora considere que, “enquanto escola de autonomia, devia ter sido das primeiras e não entrar apenas na 4ª fase e na sequência de uma reunião que pediu à Sr.ª Ministra”.