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3.1 INTERPOLAÇÃO PROJETUAL e complexidade

3.1.2 A mesma complexidade, outros desempenhos

Recapitulando, aquilo que aqui se irá designar por ‘solução projetual interpolar’ refere-se a eventuais atributos de um artefacto técnico, os quais, em termos de complexidade técnica, se situarão entre as características de outros dois artefactos ou estados evolutivos

tecnológicos. Estes, previamente existentes, são selecionados como ‘referentes polares’, a fim de definirem o ‘espaço de exploração projetual’ em questão (com já foi dito). Importa, porém, referir que em termos de realidade temporal, para lá desta “experiência de

pensamento”, ambos os eventuais artefactos de referência serão, sempre, ‘ascendentes inspiradores’ do artefacto interpolar que se propõe desenvolver. Isto significa que apenas, e só apenas, em termos de referência conceptual (“experiência de pensamento”), será o teor de complicação deste artefacto que dita a sua condição interpolar, ou seja, que o coloca

depois do ‘mais simples’ e antes do ‘mais complicado’. Mas esta condição é meramente

um artifício conceptual para hierarquizar a relação de desempenhos e complexidades, já que, na realidade, em termos de hierarquia evolutiva, a inviolável seta do tempo obrigará a que o ‘objeto interpolar’ descenda de outros já existentes – neste caso, eles serão os dois artefactos (ou etapas tecnológicas) eleitos como ‘polos de inspiração criativa’ –. Em termos gerais, portanto, o conceito de ‘interpolaridade’ que aqui se propõe deriva de duas condições simultâneas: uma de ordem cronológica – que exige que o artefacto interpolar descenda de (pelo menos) dois artefactos preexistentes –, e outra de ordem ‘complicativa’ que exige que tal artefacto se encontre entre aqueles, sendo mais complicado que o mais antigo e mais simples que o mais recente.

Convém então clarificar que não é simplesmente a ‘relação progressiva’ entre menor e

maior complicação que aqui estabelece a condição de solução projetual interpolar, mas,

mais especificamente, a ‘relação integrativa’ do menos complicado com o melhor

desempenho. Pretende-se, na verdade, que os dois polos de inspiração criativa – através das

suas referências notáveis (cfr. Figura 7) – induzam a congregação de atributos num novo artefacto, ora convergindo para a menor complicação do artefacto mais antigo, ora para o

melhor desempenho do artefacto mais atual (procurando-se evitar incorrer no incremento

de complexidade que este último possa envolver).

Quando num ‘processo negocial’, nos termos da interpolação projetual, se pretende trocar

menos recursos por mais desempenhos, a procura de um ajuste resolutório torna-se, no

mínimo, desafiante. Para um resultado satisfatório, o produto que se obtém das

negociações no espaço interpolar não pode corresponder a um objeto cujo desempenho seja idêntico àquele do objeto menos complicado nem, tão pouco, corresponder a um objeto cuja complexidade se iguale à do mais eficaz. No entanto, se a complexidade resultar menor que a deste (mais recente e eficaz) e se o desempenho resultar superior ao daquele (mais antigo e simples), então estamos perante um ‘bom acordo’ – i.e., um

resultado que pode designar-se por solução interpolar –. O que significa que, em termos da sua conceção, uma solução interpolar tem ‘toda a liberdade’ para ultrapassar o próprio teor de desempenho que lhe serviu de inspiração, contanto que não ultrapasse o nível

complicativo que a restringe ao seu espaço interpolar.

Assim, em consonância com o teor de desempenho que uma solução interpolar possa vir a manifestar, esta poderá especificar-se segundo três tipos (ver Figura 8): como solução

interpolar intermedial, como solução interpolar equivalente ou como solução interpolar superante.

Em termos de probabilidade de ocorrência, a solução interpolar intermedial será

certamente aquela que tende mais facilmente a ocorrer, pois corresponde à expressão que correlaciona o aumento ou diminuição de desempenho com um espectável aumento ou diminuição da complicação de que depende. Já uma solução interpolar equivalente será aquela cujo desempenho se pode considerar estar ao mesmo nível daquele que o próprio referencial mais complexo proporciona. Neste caso, uma solução interpolar equivalente seria uma boa alternativa – menos complexa – a esse artefacto referencial. Por último, uma solução interpolar superante será algo mais raro de se obter, uma vez que se já não é fácil conseguir-se ‘trocar o mesmo por menos’, então, ainda mais difícil, será obterem-se

desempenhos superiores a determinado artefacto, prescindindo de certos recursos materiais e energéticos de que este depende. Um resultado deste tipo considerar-se-á, certamente, como solução ideal.

Figura 8 – Esquema representativo da ideia de Interpolação Projetual, ilustrando a possibilidade de ocorrência de três

tipos de solução interpolar: intermedial, equivalente e superante (a verde).

Notar que na comparação do tamanho das circunferências, indicativas dos teores de desempenho, a solução interpolar

intermedial ocupa um nível de complexidade consistente com o nível de desempenho localizado entre os dois polos b e d, balizadores do espaço interpolar, e em consonância com o sentido evolutivo geral (manifestado, dentro e fora desse

espaço, pelo aumento de complicação em correlação com o aumento de desempenho, desde a até e,). Notar que a

solução interpolar equivalente apesar de situada a um nível inferior do referente d, regista o mesmo nível de desempenho deste. Já o nível de desempenho da solução interpolar superante ultrapassa qualquer valor de desempenho verificável dentro do intervalo interpolar considerado. (esquema nosso, 2015)

4 INVESTIGAÇÃO PRÁTICA

Este é o capítulo que aborda os processos de exploração projetual que integram o presente trabalho e que, portanto, lhe conferem a dimensão prática complementária daquela que, pela teoria, acabou aqui de ser abordada. Trata-se de um capítulo essencialmente descritivo e relator dos processos conceptivos e produtivos (experimentais/ laboratoriais) que

redundaram na realização de alguns artefactos, cuja ênfase projetual leva a que aqui se considerem artefactos interpolares. Estes, ao mesmo tempo que vão sendo relacionados com certos aspetos abordados na vertente teórica, passam aqui a ser apresentados como meio de verificação e de exemplificação de uma teoria aplicada ou de uma prática teorizada. Neste capítulo, procura-se abordar a dimensão do observável e do experimentável, seja através da referência a alguns casos ilustrativos, seja pela apresentação de dados angariados em contexto desenvolvimentos projetuais

(experimentação prática) capazes de corroborarem as principais considerações teóricas discorridas acerca do conceito de interpolação projetual.

4.1 ‘Antes do Lápis Mecânico’