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Qualquer forma existente contém a sua própria ordem de complexidade mas também contribui para a complexidade de alguma outra forma de ordem ou para a própria complexidade da desordem; cada coisa, qualquer que seja, decorre da combinação de outras coisas (pelo menos duas, podemos supor), sejam elas idênticas ou diferentes entre si; cada coisa, pelo modo como se forma ou por aquilo que a compõe, adquire uma individualidade passível de ser descrita (e por isso passível de ser nomeada no nosso mundo) e que se constitui na sua compleição informacional própria. Deste modo, qualquer forma de existência material parece depender de uma certa ‘constante fundamental’ – a

informação – que opera através do acaso, da seleção e conjugação de dados para

‘encaminhar’ essa mesma existência até a um certo estado descritível ou organizado37. Tal ‘encaminhamento’ poderá iniciar-se a partir da singularidade das partículas elementares (supondo-se, em si mesmas, desprovidas de complexidade estrutural mas, contudo, envolvendo informação capaz de as individuar) de onde se dará a formação de qualquer ordem ou estado de maior complexidade, passível de se observar a determinada escala e ser descrito na sua individualidade, isto é, ser entendido num certo ‘estado informado’ que corresponde à manifestação de cada parte num todo e do todo para além da soma das

partes.

No decurso dessa formação algum tempo é despendido, algum espaço é ocupado ou atravessado, alguma energia é trocada ou transformada e certas forças são exercidas numa qualquer conexão ou interação; no decurso dessa formação, tudo é processado de ‘modo informacional’, segundo algoritmos próprios das leis naturais da física que ‘computam’38 constante e simultaneamente, todo esse fluxo de dados fundamentais. Em última análise, tudo isso se vai indefinidamente combinando a partir de condições primordiais e de acordo com as leis fundamentais da mecânica quântica, o que significa que a complexidade,

37 “A informação não é um conceito-terminus, é um conceito ponto de partida. Apenas nos revela um aspecto limitado e

superficial de um fenómeno simultaneamente radical e poliscópico, inseparável da organização.” – Edgar Morin: Op.

Cit., p.40.

38 “De acordo com a perspectiva computacional as leis da natureza são algoritmos que regulam o desenvolvimento

temporal do sistema, à semelhança dos verdadeiros programas nos computadores. Os planetas, por exemplo, ao girarem em torno do Sol, estão a realizar computações analógicas das leis de Newton.” – Heinz Pagels, Os Sonhos da Razão, p.52.

resultante de tudo isso, conterá diversos níveis ou escalas de regularidades passíveis de a tornarem tratável, avaliável ou descrita. Esta possibilidade tornou-se uma ‘obsessão’ para eminentes matemáticos, tais como Warren Weaver, Norbert Wiener, Andrei Kolmogorov, Claude Shannon, James R. Newman, John Wheeler ou Gregory Chaitin (entre outros), que abordam a dimensão da informação como via para se processar, medir ou descrever a

complexidade. Ideias como quantidade de informação, comprimento da descrição, tempo de computação ou algoritmo passaram a estar diretamente relacionadas com a ideia de complexidade, aleatoriedade ou ordem.39

Murray Gell-Mann releva a questão da concisão inerente à descrição da complexidade, defendendo que “se a complexidade é definida em função do comprimento de uma descrição, então não é uma propriedade intrínseca da coisa descrita” 40. Para este físico “qualquer definição de complexidade depende necessariamente do contexto” e também dependerá “do observador ou do equipamento de observação” 41. Por outro lado, “o comprimento da descrição irá variar com a linguagem utilizada e também com o conhecimento ou a compreensão do mundo partilhados com o correspondente.” 42

Pelo que foi dito, pode perceber-se que a informação só é útil quando ela se torna

organizada. Podemos imaginá-la a revelar-se em todos os vestígios e indícios de tudo o que acontece e existe no universo, mas só quando ela passa a ser processada ou computada (por algum sistema neural ou computacional) é que ela se torna efetivamente relevante. Tal como sugere Edgar Morin (repercutindo Von Foerster), “as informações não existem na

39 James Gleick aborda este tema, da relação da informação com a complexidade, comentando alguns dos trabalhos

desenvolvidos por alguns do matemáticos acima referidos: “Kolmogorov introduziu uma nova palavra para aquilo que estava a tentar medir: complexidade. Tal como definia o termo, a complexidade de um número, ou de uma mensagem, ou de um conjunto de dados é o inverso de simplicidade e ordem e, uma vez mais, corresponde à informação. E, tal como Gregory Chaitin fez, Kolmogorov apoiou esta ideia em alicerces matemáticos sólidos ao calcular a complexidade em termos de algoritmos. A complexidade de um objecto é a dimensão de menor programa de computador necessário para o gerar. Um objecto que pode ser produzido por algum algoritmo pequeno tem pouca complexidade. Por outro lado, um objecto que precise de um algoritmo tão comprido como o próprio objecto tem a complexidade máxima.” – James Gleick: Informação – uma História, uma Teoria, um Dilúvio, p.399.

Também Jerôme Segal (coordenador do colégio doutoral de Historia e Filosofia das Ciências da Universidade de Viena) conclui que “o universo equivale-se a uma espécie de gigantesco computador”. Nesta afirmação, Segal põe em evidência algumas abordagens à concepção de informação no âmbito da física moderna, de onde destaca a posição dos seguintes cientistas: Rolf Landauer (1927-1999), que há mais de 20 anos afirmara que “a informação é física” e que seria um dado importante para a compreensão do mundo, tanto quanto o é a matéria, a energia, o espaço e o tempo; Gilles Cohen- Tannoudji que propôs a informação como uma constante fundamental a juntar às três já existentes (a da velocidade da luz c, a da gravidade G e a da constante de Plank h), e Vlatko Vedral, para quem “tudo é informação”, que investiga a exploração dos fenómenos quânticos como via para armazenar, tratar, codificar ou encriptar informação – La théorie de

l’Information Existe-t-ele?- Pour la Science, nº.424 - Fevrier, 2013, p.23. 40 Murray Gell-Mann – Op. Cit., p.58.

41 Ibidem.

42 “Na realidade, estaremos então a discutir uma ou mais definições de complexidade que dependem da descrição de um

sistema adaptável complexo, o qual poderá ser um observador humano. (…) É óbvio que se mantêm ainda muitos tipos de arbitrariedade e de subjetividade.” – Idem, p.59.

natureza. Extraímo-las da natureza; transformamos os elementos e os acontecimentos em signos, arrancamos a informação ao ruído a partir das redundâncias. Bem entendido, as informações existem desde que os seres vivos comunicam entre eles e interpretam os seus signos. Mas, antes da vida, a informação não existe.”43 Para Edgar Morin a noção de

computação é priorizada em relação à de informação.44